Uma TV dois em um e, em breve, quatro em um
Parlamentares, jornalistas, engenheiros. Em 20 de outubro a Assembléia Legislativa de São Paulo reuniu estes e outros personagens para celebrar a histórica transmissão digital conjunta, em Standard Definition (SD) das TVs Câmara e Assembléia de São Paulo. Foi o primeiro passo rumo à Rede Legislativa de Televisão. O deputado estadual Vaz de Lima, presidente da Casa, coordenou a cerimônia e agradeceu a presença de Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara dos Deputados e um dos responsáveis pelo andamento do projeto que levou menos de quatro meses para colocar as TVs no ar. Da tribuna, Chinaglia afirmou que o povo ganha com a possibilidade de interagir mais rapidamente com o poder legislativo e também com a multiprogramação. “Podemos chamar de 2 em 1 porque teremos duas programações em uma estrutura de televisão”, alegrou-se. Na verdade serão quatro, pois outras duas programações devem entrar no ar no mesmo canal, o 61. Segundo Evelin, a TV das Câmaras Municipais e a TV Senado devem ocupar a outra parte do espectro. “Ainda não estreamos todas as quatro porque não temos encoders suficientes”, diz Evelin Maciel, gerente do Comitê de Gestão da TV Digital da Câmara dos Deputados. Já a Universidade Mackenzie está usando parte do canal para testar seu sinal digital. Em troca do compartilhamento do canal, a universidade se tornou responsável por acompanhar a instalação dos equipamentos, parte dos testes de campo e cobertura do sinal. Audiência Assim, a TV Câmara, que até então operava – com exceção de Brasília, onde o sinal é aberto -, via satélite e TV por assinatura, passou a digital, levando consigo o sinal da TV Assembléia. O modelo de compartilhamento do sinal digital foi desenvolvido pelo Laboratório da Mackenzie. Por meio dele se distribui os quatro canais dentro da freqüência de 6 MHz no canal 61. Basicamente, o sistema funciona assim: os sinais da programação da TV Câmara são gerados a partir dos seus estúdios, em Brasília, de onde o sinal é transmitido via satélite para a torre da TV Cultura em São Paulo. É ali que está instalado o sistema de transmissão digital experimental. Tal como a Câmara, a Assembléia também produz sua própria programação e envia o sinal de sua sede, no Ibirapuera, por microondas, “para um modulador na TV Cultura” explica José Chaves, diretor técnico da TV Cultura. A emissora é a responsável pela operação de captação e transmissão dos sinais digitais da Câmara e da Assembléia. Cada canal do padrão brasileiro de TV Digital suporta uma taxa de até 19 megabits por segundo. O ISDB-TB, o padrão digital adotado no Brasil, é flexível e permite diferentes configurações. Um canal de TV pode transmitir, por exemplo, uma programação em High Definition (HD) uma em SD e ainda sobra espaço para o sinal móvel (one seg). No modelo adotado pela TV Câmara, os sinais digitais dela e do canal da TV Asuma sembléia chegam do satélite com uma taxa de 5 Mbps, que poderá ser reduzida para quatro sem sofrer perda considerável de qualidade de áudio ou vídeo. Com isso será aberto espaço para mais programações digitais. Custos A digitalização da TV Assembléia exigia investimentos, mas o orçamento público paulista não previu recursos para a compra de equipamentos. “Em 2007 percebemos um investimento caro e a necessidade de parceria a fim de reduzir custos”, afirma Antônio Denardi, diretor de comunicação da TV Assembléia. “Já em 2008, conversando com a diretoria da TV Câmara, viabilizamos a parceria e, há quatro meses, assinamos o acordo”. É uma parceria de custo bem reduzido. Até o momento a TV Assembléia não desembolsou nada para montar a infra-estrutura que permite o sistema de transmissão. “Nosso custo por enquanto é nenhum”, disse Denardi. Mas isso se deve também a que a Câmara aproveitou o último Congresso da SET para negociar os empréstimos de antena, encoders, transmissores e todo equipamento necessário à transmissão experimental e compartilhada. A Mectrônica emprestou a antena de transmissão de fabricação Teracomm, sua parceira na Europa, e a Linear, o transmissor com potência de 250 Watts, a ser substituído por um de 1,2 KW de potência até o fim de novembro de 2008. Dois encoders H.264 foram cedidos pelo Mackenzie que, em contrapartida, vai usar um terceiro para testar a transmissão de sua própria TV Digital dentro do canal 61. Segundo Denardi, esse modelo de compartilhamento deverá ser replicado país afora. “Todas as TVs públicas vão seguir o mesmo caminho”. Todavia, todas terão de fazer licitações para a compra e instalação de equipamentos. Ainda segundo Denardi, no caso paulista, a compra do transmissor vai exigir um investimento de cerca de oito milhões de reais. “Nós também vamos pagar a manutenção, o custo de técnicos, engenheiros, aluguel da torre, o que deve ficar na faixa de 50 mil reais mensais”. TV Cultura A TV Cultura está em obras – uma alteração na torre foi projetada a fim de conceber um candelabro para o suporte de novas antenas; todo sistema elétrico foi reprojetado em função da carga destes novos transmissores, assim como o abrigo dos equipamentos está sendo readequado – para abrigar os equipamentos que vão chegar depois da licitação. “A idéia é tornar nossa torre da Sumaré uma torre de canais públicos, reduzir custos e facilitar a produção de outras emissoras públicas”, antecipa Chaves. |
|
Revista da SET – ED. 103 |