REGIONAL SUDESTE – SET Debate de alto nível

Encontro Regional Sudeste da SET, que aconteceu em Belo Horizonte entre nos dias 6 e 7 de março, foi marcado por apresentações de novas soluções e tecnologias, e grandes debates sobre os temas centrais que assombram os broadcasters brasileiros.

Nº 131 – Março 2013

Por Flávio Bonanome Foto: Divulgação

Sob clima de muita polêmica, foi realizada nos dias 06 e 07 de março, em Belo Horizonte, a etapa sudeste dos eventos regionais da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão), que foi coordenado pelo diretor regional Geraldo Melo e sediado pela TV Alterosa. Tendo como sede o já tradicional teatro Alterosa, no centro da capital mineira, o evento reuniu engenheiros e demais profissionais de todos os segmentos do mundo da radiodifusão e mercado de equipamentos para produção televisiva.
A polêmica em questão, deu-se por conta dos assuntos que tem habitado os principais meios de discussão do mercado, como a transposição da faixa de 700 MHz da TV Aberta para a banda larga móvel, anunciada pelo governo no começo do ano. Como não podia ser diferente, além dos diversos temas e novidades debatidos no palco do teatro, o espaço foi usado para discussão do assunto em mais alto nível, com representantes de todos os segmentos do broadcast.

Outros dois assuntos também ganharam bastante destaque durante o evento, criando verdadeiros grupos de discussões informais após a realização das respectivas apresentações. O primeiro foi a questão do Loudness. Seja pela dificuldade de compreender o tema, seja pela rigorosidade exigida pela legislação brasileira, muitos dos profissionais do mercado de televisão buscam informação sobre o assunto e equipamentos para realizar medições e controle.
Já no campo mais complexo, o tema da transmissão por satélite atraiu bastante atenção dos presentes. Com as duas apresentações sobre o tema conquistando um grande volume de perguntas e profissionais interessados, os palestrantes terminaram por atender um grande número de interessados no assunto nos corredores do evento após sua exposição.

Muito barulho
Sabe quando a programação da televisão vai para os comerciais, ou muda de um programa para outro e o volume parece explodir? É exatamente esta variação de volume percebido que é designado Loudness. Desde o decreto da Portaria 354, em Junho de 2012, que em seu Artigo 8º estipula a obrigatoriedade do controle de Loudness e as sanções para quem não a cumpre, que os profissionais de radiodifusão passaram a tentar entender este complicado assunto e dominá-lo em tempo recorde.

Como já era de se esperar, dois representantes de fabricantes de equipamentos focados na monitoração e controle de Loudness aproveitaram o evento regional da SET para debater o tema e apresentar suas soluções. Foram eles a Japonesa Leader Instruments e a Alemã Junger Audio.
O primeiro a subir ao palanque foi Armando Ishimaru, da Leader. O representante começou sua palestra apresentando alguns conceitos básicos de Loudness, apresentando o histórico da criação do conceito e do formato de medição adotado para os presentes. Em seguida, abordou as normativas das recomendações ITU e EBU, falando dos padrões de medição e fiscalização e finalmente apresentou os produtos que podem ajudar os radiodifusores a cumprir as exigências da lei 10.222. Já a Junger Audio foi representada mais uma vez pela figura de Marc Judor, que buscou não repetir os conceitos apresentados anteriormente pelo representante da Leader Instruments. Para tanto, Judor focou seu discurso nas dificuldades de medição e controle de pico de Loudness, área onde Junger Audio tem tentado mostrar sua expertise em cada um dos eventos de mercado que tem acesso.

Seguindo com os assuntos que levantaram maior participação do público, Rodrigo Ramponi, da Telesat, fez a primeira das apresentações sobre frota satelital. O palestrante começou abordando um breve histórico da empresa, explanando a fusão da Loral Skynet com a Telesat em 2008, criando a quarta maior operadora de satélites do mundo. “Ao todo hoje temos 13 satélites nossos, mais 11 de terceiros que são operados por nós”, contou.
O restante da apresentação do engenheiro abordou os temas concernentes ao novo Anik G1, que deve estar operacional ainda neste primeiro semestre de 2013. O novo satélite tem cobertura projetada para todo o Brasil e grande parte da América Latina. “Por hora, o Anik G1 coabitará com a unidade F1, e começaremos aos poucos uma migração para que os clientes do modelo atual para o novo, que deve durar até 2012”, explicou Ramponi.

O sistema exato de coabitação, as simulações de enlace e vazio de sinal de 15 min durante a migração de um satélite para o outro, foram os temas que mais levantaram perguntas durante e depois da apresentação do engenheiro. “Confesso que fiquei até surpreso tamanho o interesse que este assunto gerou”, nos contou no final da palestra. Quem também se surpreendeu com a quantidade de perguntas e reação da platéia, foi André Luis Malvão, da Starone, segmento da Embratel no mercado satelital. A palestra do especialista foi focado no novo StarOne C3, um novo satélite da empresa, já lançado, e que deve abrigar as transmissões em banda de radiodifusão e militar. “Nossa cobertura se dará em todo o Brasil, mais a área coberta pelo Pré-Sal, Territórios Andinos e Miami”, explicou Malvão.

Tema central
Com toda a polêmica sobre a migração da faixa dos 700 MHz da TV Aberta para a banda larga móvel, dois palestrantes usaram o espaço da Regional da SET para abordar o tema de forma mais aprofundada. O primeiro deles foi Ademir Lourenço, da Fucapi (Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica). O engenheiro foi à fundo na polêmica, apresentando alguns porquês. “Se foi feito um leilão para a faixa dos 2,5 GHz em 2012, por que outro para a faixa dos 700 MHz agora? Simples, pois o custo de implantação de internet 4G na faixa dos 700 MHz, custará 5 vezes menos do que no modelo anteriormente, e exigirá muito mais antenas”, explicou o engenheiro.
Além disso, Lourenço explicou que a situação se complica ainda mais, quando, mesmo ainda com todo o assunto em pauta, tanto Exército Brasileiro quanto a Polícia Militar do Estado de São Paulo, já mostraram interesse em reservar parte da banda 4G para uso corporativo. “A medida que está em consulta pública agora, prevê que as companhias telefônicas serão responsáveis por todos os custos necessários para manter a TV Digital em perfeito funcionamento, mas elas estariam dispostas a pagar”.

Jogando ainda mais lenha na fogueira, Lourenço terminou sua palestra com dois questionamentos. Segundo o engenheiro, só para cumprir a determinação da FIFA de haver 4G nas cidades cede da Copa do Mundo, seriam necessários emitir 9566 licenças para instalação de ERBs. Ou seja, mais de 30 por dia. “Fora isso, estamos criando este problema no Brasil, que será replicado em toda a América Latina que também usa ISDB-T . Como faremos?”, concluiu.
Em seguida, tomou o microfone o engenheiro Aguinaldo Silva, da Envision/TPV, que entre outras marcas é proprietária da fabricante de Televisores AOC. Com o tema focado em apresentar o funcionamento de um receptor de radiodifusão, Silva aproveitou o tempo para debater o tema da faixa de frequência sob o ponto de vista do fabricante de receptores.
De acordo com o engenheiro, como os televisores hoje são preparados com receptores que captam os canais localizados na faixa dos 700 MHz, com a vinda do 4G e seu imenso volume de dados, estes componentes devem se saturar e simplesmente parar de funcionar. “Estamos falando de sucatear grande parte de todo o parque instalado de receptores no Brasil. Quem vai pagar por isso? As Teles?”, questionou o engenheiro.

De tudo um pouco
Abrindo o primeiro dia de palestras, Antonio Filho, da Fabricante Harris, aproveitou seu tempo para falar um pouco do futuro tecnológico dos routers. O representante passou um vídeo institucional apresentando a fabricante americana à quem quisesse entender um pouco mais o trabalho da empresa. Em seguida, o executivo falou das principais características que um bom equipamento de router precisa ter: flexibilidade, compatibilidade, confiabilidade e segurança.
De acordo com Filho, a Harris trará um novo produto para o mercado, a ser lançado na NAB 2013, que deve seguir estes quatro conceitos. “O futuro dos routers exige um software intuitivo, placas que podem ser inseridas em qualquer ordem, capacidade de trabalhar com placas de qualquer geração e em rede, além de possuir baixa densidade para evitar perda de sinal, possuir gerenciamento de informações e sistema com múltiplos firmwares”, afirmou durante apresentação.
De acordo com o representante da empresa, outra tecnologia que necessita estar presente nos novos produtos são matriz já com capacidade de entregar em IP Streaming e outros formatos atendendo novos padrões. Além de trabalhar sempre em projeto com redução de tamanho de hardware, garantindo ocupar menos espaço nas unidades móveis.
Quem também aproveitou o espaço do evento para apresentar novos produtos foi Juan Ortolan da Ross Vídeo. Em um primeiro momento o representante falou um pouco da Linha XPression, um sistema de grafismo 3D em tempo real que, segundo Ortolan, tem como grande chamariz imensa capacidade de gestão de conteúdo em todas as dimensões.
Além deste produto, o executivo aproveitou para falar também dos novos modelos de switchers da fabricante. “Os nossos novos produtos neste segmento vêem de um feedback de mercado. Conversamos muito com o pessoal da ESPN que tinha uma demanda de fazer uma programação de alto nível, sem necessariamente ter operadores 100% preparados para tal”, explicou. Além desta aplicação, Ortolan explicou que há uma crescente procura dentro do mercado das igrejas por produtos do tipo, já que, na maioria dos casos, as equipes dos templos são formados por voluntários não necessariamente profissionais.

A Sony também usou o espaço do regional para abordar o tema de tecnologia voltado para seus produtos. A empresa, que foi representada por Erick Soares, fez a abertura de sua palestra falando sobre a nova era de alta definição, “a era em K”, segundo o palestrante. De acordo com Soares, a popularização da tecnologia doméstica de exibição em alta resolução gera uma demanda para quem trabalha na produção de conteúdo, puxando ainda mais o patamar tecnológico para resoluções de 4K e 8K.

Com este contexto, Soares aproveitou para apresentar a tecnologia do novo sensor CMOS, que deve acompanhar os próximos lançamentos da marca. Além deste novo componente, o executivo falou bastante do novo formato XAVC, que vai permitir gravações em 4K com 60 fps à12 bits. Finalizando sua apresentação, Soares falou da mídia óptica como o futuro do armazenamento de grandes quantidades de informação.
Ainda falando da capacidade de atender seus clientes, mas desta vez com serviços além dos produtos , José Moraes, o Cipó, proprietário da Opic Telecom, apresentou um verdadeiro portfólio das soluções que sua empresa comercializa. De acordo com o empresário, a sua marca fornece soluções completas para quem deseja montar uma emissora de rádio ou televisão, desde o layout de instalação, até equipamentos e até mesmo mobília.
Durante sua apresentação, Moraes mostrou diversos cases de sucesso em instalações, sobretudo em emissoras de rádio. Além das diversas fotos dos estúdios prontos, o empresário falou um pouco de produtos em mobiliário acústico e eletrônica para broadcast.

Ideias e projetos
Houve também quem usou o espaço para destacar novos conceitos e ideias em cima de produtos que as fabricantes apresentam como novidades. Um exemplo disso foi a apresentação de Alex Santos, da AD Digital. Durante todo o tempo de dedicado à sua palestra, o engenheiro falou sobre o futuro do segmento de broadcast, abordando temas como a necessidade de produzir em multiformato e distribuir em multiplataforma e a interação entre televisão e redes sociais.
“Uma estatística de 2011 mostrou que 70% das pessoas com perfil em redes sociais, navegam nestes sites ao mesmo tempo em que assistem televisão. Hoje, este número deve ser ainda maior”, afirmou.
Já sobre o ponto de vista mais técnico, Santos falou sobre a implantação de gestão em Tapeless Workflow, televisão por demanda através das redes sociais e a criação de sistemas de SOA (System Oriented Architecture), que são sistemas modulares de software para atender diferentes demanda apenas acoplando novos pedaços de código.
Por fim, o executivo apresentou soluções da Grass Valley e Amber Fin, ambas representadas pela AD Digital, que serviram como bom exemplo deste conceito. Outra apresentação que se baseou em novas tecnologias foi a de Nelson Faria da Rede Globo, que falou sobre o Projeto I9. “Normalmente dentro das empresas vemos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimentos fechados em si mesmos, ignorando a ideia de que uma boa ideia pode acabar vindo de um setor que não é de engenharia”, explicou. No programa, as equipes de engenharia são incentivadas a buscar soluções fora do convencional.

O projeto todo culmina num evento onde são demonstrados, não só as inovações, mas também diversas tecnologias que não necessariamente foram criadas para broadcast, mas que podem ser usados profissionalmente. A palestra seguiu com diversos exemplos destas aplicações, retirando olhares e perguntas curiosas dos presentes.
Outra palestra com caráter extremamente científico, foi a de Vanessa Lima da Hitachi Linear. Com foco extremamente técnico, a engenheira falou sobre sistemas de SFN (Single Frequency Network), e como sua utilização pode ser uma alternativa para suprir o uso de Gap Fillers.

Uma nova estrutura

Danilo Garcia, Diretor Regional da Avid para o Brasil, comenta sobre a mudança de postura da empresa para o segmento broadcast

Dentre as empresas que trouxeram maior “comitiva” ao Regional Sudeste da SET, estava a fabricante de sistemas audiovisuais Avid. Com a equipe brasileira praticamente toda presente, a marca apresentou uma palestra sobre suas novas soluções para a gestão e produção de conteúdo jornalístico dentro de suas emissoras, e circulou pelo evento muito interessada nos potenciais clientes pr esentes. Aproveitamos a presença de Danilo Garcia, Diretor Regional – Brasil da Avid, e o chamamos para um bate-papo sobre as recentes mudanças na estrutura da empresa, bem como a importância de um evento como este para a fabricante.

Revista da SET: O que está achando desta etapa sudeste dos Regionais da SET?
Danilo Garcia: As minhas experiências com os regionais da SET sempre foram muito boas e interessantes. O legal é que estamos vindo com a equipe nova, trazendo a Sonia Reese como palestrante, que está mais acostumada com eventos muito grandes, para ver eventos menores e as pessoas entenderem que a Avid também está nas Regiões, não só no eixo Rio-São Paulo como era o estereótipo. Queremos estar mais perto dos Broadcasters além dos produtores de conteúdo em todos os níveis. A Avid tem capacidade tem atender todos os níveis de broadcasters, não só as cabeças de rede.

Revista da SET: No Congresso SET/Broadcast & Cable de 2012, a Avid anunciou uma grande reestruturação, dividindo o mercado Sul Americano em países Hispânicos e Brasil. Passados seis meses, quais são os primeiros frutos desta nova organização?
Garcia: Antes de tudo, com a minha entrada, começamos a montar uma equipe efetivamente para a Avid no Brasil, incluindo a Sonia Reese que está dando palestra aqui hoje que veio dos EUA, e estamos objetivando e colhendo os frutos de uma ramificação maior, ou seja, atingindo outros mercados onde a Avid não estava presente. A própria presença num evento regional da SET é um exemplo disso. Estamos efetivamente mais próximos de todos os clientes de B roadcast no Brasil.

Revista da SET: Podemos dizer então que esta nova estrutura foi uma mudança para melhor?
Garcia: Sem dúvida. Eu sou suspeito para falar disso, pois minha contratação foi justamente querendo o foco no Brasil, afinal minha experiência é toda focada no mercado brasileiro. Acredito que desta forma temos um entendimento melhor quando você tem pessoas que moram aqui e que entendem o nosso mercado. Isso foi acertado, pois você consegue efetivamente atender os clientes da forma como estão acostumados., da forma como o brasileiro tem a percepção do bom atendimento. É diferente do Chile, da Argentina e do México. Estamos fazendo isso e trazendo pessoas que entendem do trato com o brasileiro e com o mercado brasileiro.

Revista da SET: Durante a Broadcast & Cable surgiu um novo relacionamento com os distribuidores, abrindo as portas para a Quanta revender para o mercado broadcast…
Garcia: Isso, a Quanta sendo especialista em Áudio, já tinham uma atuação bem forte na área de Live Sound, estudio, locadoras de som ao vivo, etc. Nosso objetivo era atingir mais o mercado broadcast de pequenas emissoras, que justamente é esta a experiência que nós trouxemos, pois tínhamos muita experiência em vídeo, mas não tanto em áudio. Trouxemos a Quanta justamente para fazer esta parte, mas é claro que não é um processo rápido, pois não é da noite pro dia que você conhece o Brasil todo, então eles ainda estão num trabalho de mapeamento de mercado.

Revista da SET: Podemos dizer que esta abertura foi também uma recompensa à Quanta pelos sucesso alcançado no segmento do áudio?
Garcia: Sem dúvida, como eles fizeram um trabalho muito bom e nós estamos ampliando e objetivando um crescimento, temos que encontrar nichos diferentes para se atuar. Isso em todas as empresas, a hora que você quer passar de um crescimento máximo com as mesmas pedras que você tem, você precisa atingir outros mercados.

Revista da SET: Vemos muitas empresas, sobretudo importadoras, da existência de um mercado cinza por meio dos países hispânicos para o Brasil. Esta divisão de mercados também teve esta preocupação, ou, pela Avid ser uma empresa mais ligada ao software, isso é menos pr esente para vocês?
Garcia: Efetivamente eu não tenho muitas comparações para dizer se é menos ou mais. Mas eu tenho experiências anteriores, vindo da Sony, onde trabalhei por muitos anos, e posso dizer que este “contrabando” acontece sim. A Avid sofre menos com isso não exatamente por sermos baseados em software, mas sim por sermos baseados em sistemas. Temos muito hardware também, mas nosso hardware sozinho não faz nada. Então é complicado ter um Mercado Cinza para um equipamento nosso. Até existe, mas é muito difícil de controlar, seja pelas fronteiras ou sem fronteiras, pois o software não tem fronteira física.