Projeto de TV 4D será testado com famílias do DF
No mês de fevereiro será realizada em Brasília a segunda fase do Projeto Brasil 4D. Desta vez serão 300 famílias as que participarão para ter uma segunda análise da experiência dos telespectadores e dar um impulso na implementação da interatividade através do ginga no país. O projeto poderá ser realizado no futuro em quatro países de América Latina – Uruguai, Peru, Equador e Costa Rica – e mais tarde no Paraguai, Bolívia, Chile e Botsuana, na África.
Nº 139 – Dez 2013 e Jan 2014
Por Redação
Reportagem
Apartir de 15 de fevereiro de 2014, 300 famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família no Distrito Federal poderão usar a televisão para acessar benefícios e serviços dos governos federal e distrital. Poderão fazer consultas a vagas de emprego, oportunidades de capacitação profissional; ter acesso ao calendário de vacinação, além de acessar conteúdos e serviços bancários e de aposentadoria. Tudo pelo controle remoto da TV.
As famílias farão parte do segundo teste no país do Projeto Brasil 4D, coordenado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A expectativa é de que em dez anos o projeto alcance as mais de 13 milhões de famílias beneficiárias do programa. O teste será acompanhado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que irá fazer uma pesquisa de campo e divulgar um documentário sobre o projeto.
O primeiro teste foi realizado em João Pessoa (PA), de dezembro 2012 até março 2013. Teve apoio do Banco Mundial, contemplou 100 famílias de beneficiários do Programa Bolsa Família, e revelou que essa audiência demonstrou, de maneira geral, um grande interesse em conhecer e interagir com as novas funções proporcionadas pela TV Digital.
O projeto Brasil 4D realizado na Paraíba foi a primeira experiência de interatividade na TV pública, aberta e digital brasileira com cidadãos de baixa renda e testou tanto a habilidade dos telespectadores em se relacionarem com os recursos interativos da programação, como outras funcionalidades do sistema digital. O Brasil 4D é uma iniciativa da Superintendência de Suporte da EBC e foi implementado em João Pessoa, pelo Núcleo Lavid/UFPB
Segundo o coordenador e idealizador do Projeto Brasil 4D, superintendente de Suporte da EBC, André Barbosa, na cidade de João Pessoa foi constatada economia de R$ 12 mensais por família. “As famílias economizaram por não ter que pegar ônibus e ir até os lugares para procurar emprego ou capacitação, conseguir informações. Fizeram tudo pela TV”, explica. Ele calcula que, quando o projeto estiver em vigor, a economia possa chegar, em dez anos, a um total de R$ 7 bilhões.
A intenção é levar os benefícios da internet a famílias de baixa renda que ainda não têm acesso a banda larga, explica Barbosa. O projeto funciona em parceria com empresas de telefonia, pela tecnologia 3G, usada em telefones móveis. Tudo deve ser custeado pelo governo.
O Projeto Brasil 4D deve ser testado na cidade de São Paulo entre abril e maio de 2014. Os temas oferecidos serão saúde e educação. Os usuários poderão agendar consultas no Sistema Único de Saúde. Participarão do teste 2,5 mil famílias no primeiro semestre e mais 2,5 mil no segundo semestre.
Entre os parceiros no projeto estão o Banco do Brasil, Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), a Caixa Econômica Federal, o DataSUS, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Totvs, HMATV, Oi, a Telebrás e Governo do Distrito Federal.
O Estudo do Banco Mundial
O Banco Mundial realizou pesquisas para avaliar os impactos socioeconômico e sociocultural do primeiro teste do Projeto Brasil 4D junto às famílias de três bairros da periferia que receberam a transmissão digital em seus lares, através de um Canal de Serviços exibido em multiprogramação pela TV Câmara de João Pessoa, o canal 61.3.
A programação ofertava três conteúdos sobre programas do governo Federal: um vídeo com opções de interatividade sobre programas do Sistema Único de Saúde (SUS), como aleitamento materno, e Bolsa Família; outro conteúdo com informações sobre cursos e empregos, com vagas de cursos gratuitos ofertados pelo Pronatec e vagas de emprego disponíveis no Sine de João Pessoa; o terceiro apresentava informações sobre benefícios sociais (cadastro único e prestação continuada). A programação também constava de um aplicativo do Banco do Brasil que ensinava a controlar o orçamento familiar.
A pesquisa socioeconômica, coordenada pelo economista Rodrigo Abdalla, demonstrou, por exemplo, que 100% dos entrevistados consideraram que as vagas de cursos gratuitos, divulgadas pelo Canal de Serviços, contribuíram para torná-los mais informados sobre como obter melhor qualificação para ingressar no mercado de trabalho. Um total de 89% afirmou que o aplicativo sobre “Cursos e Empregos”, desenvolvido pelo Núcleo Lavid/UFPB e TV UFPB, “ajudou bastante ou muito na busca de informações por vagas no mercado de trabalho”.
Esses dados foram editados pela professora Cosette Castro, da Universidade Católica de Brasília (UCB), em um livro que sistematiza os resultados das pesquisas patrocinadas pelo Banco Mundial. O documento, chamado “Brasil 4D: Estudo de Impacto Socioeconômico sobre a TV Digital Pública Interativa”, foi lançado em Brasília, no dia 30 de agosto 2013, no IV Fórum Mundial de Mídias Públicas (Ver edição 137 da Revista da SET). No Fórum, Cosette disse que uma vantagem do projeto para as famílias participantes foi conhecer a televisão pública com qualidade de imagem e de som, na TV aberta terrestre. “Isso faz muita diferença para quem somente vê chuviscos e fantasmas e não consegue escutar direito”, pondera. O estranhamento que houve, segundo a pesquisadora, é que eles desejavam um maior fluxo de conteúdos. “O fluxo televisivo tem novidade o tempo inteiro e, nesse caso do Canal de Serviços, não tinha muitas novidades, havia atualizações sobre empregos e cursos, mas não novos conteúdos. É natural que estranhem, pois as pessoas lidam com a lógica de ter sempre informações e entretenimento na programação televisiva”, explicou.
Ainda no que se refere aos benefícios percebidos pelo público, de acordo com Cosette, um total de 82% dos entrevistados avaliou que o aplicativo sobre programas do SUS, desenvolvido pela equipe da Universidade Católica de Brasília, ajudou muito e bastante a obterem conhecimentos em saúde. Com relação ao aplicativo que disponibilizou informações sobre “Benefícios Sociais”, como o cadastro único e prestação continuada, 71% dos entrevistados declararam que este ajudou bastante ou muito a conhecerem mais sobre direitos e deveres sociais. Esse conteúdo foi produzido pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Em termos de facilidade de uso dos aplicativos, o de “Cursos e Empregos” foi o que, na visão dos entrevistados, obteve os melhores indicadores, alcançando o índice de 81% de classificações como muito fácil e fácil. “Isso não é de estranhar, já que o conteúdo audiovisual interativo foi desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba com linguagem local, e contou com a participação de um popular comediante da Paraíba”, avaliou a professora Cosette Castro. “Isso comprova algo que os estudos de Comunicação têm mostrado e falado, que é a questão da regionalização. A localização dos conteúdos é um fator essencial para a identificação, para as pessoas gostarem do que estão vendo e participarem”, continuou.
Em segundo lugar ficou o aplicativo “Saúde”, com 79% dos entrevistados declarando que era muito fácil ou fácil. Seguindo o mesmo critério, o aplicativo sobre “Benefícios Sociais” ficou em terceiro lugar, com 67% dos entrevistados declarando que o uso do aplicativo era muito fácil ou fácil. Já o aplicativo de “Educação financeira” teve 53% de indicações de que era muito fácil ou fácil.
A pesquisa sociocultural, coordenada pela professora de Antropologia Social da UFPB, Luciana Chianca, evidenciou que, em termos de escolaridade, 57% do universo pesquisado têm ensino fundamental incompleto, 14% têm ensino médio incompleto e apenas 2% tem ensino médio completo. A pesquisa levantou ainda dados como ocupação das famílias no mercado de trabalho e hábitos de lazer. Ficou demonstrado que a maioria dos entrevistados está ligada a dois tipos de atividades: construção civil e serviços domésticos. Como grande parte das ocupações se configura como trabalho precário, estas não são necessariamente entendidas pelos entrevistados como emprego. Conforme revelou a pesquisa, o desemprego se afirma e existe negação da atividade precária realizada.
+ Com Agência Brasil e Deisy Feitosa
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