Os caminhos da TV Digital no Brasil

O SET Nordeste realizado no mês de julho, em Recife, discutiu o rumo da TV Digital no Brasil, os passos que ainda têm de ser dados para a realização do apagão analógico no País e quais os caminhos que terão de percorrer as emissoras, especialmente as do nordeste, para chegar à digitalização.

Nº 135 – Agosto 2013

Por Fernando Moura – © Foto: Redação

REPORTAGEM

Experimentando um novo formato de Congresso regional, com três dias de duração e palestras que se estenderam durante 26 horas, mais de 200 participantes no local e outros 400 seguindo as palestras pela internet participaram do Seminário de “Tecnologia de Televisão, Gerenciamento, Produção, Transmissão, Distribuição de Conteúdo Eletrônico Multimídia, Interatividade, Mobilidade”. O evento foi reaizado no auditório da TV Jornal do Commercio, em Recife, Pernambuco, de 10 a 12 de julho passado, promovido pela SET e denominado SET Nordeste 2013.
Em todas as apresentações, 26 ao todo, espalhadas pelos três dias do SET Nordeste 2013, palestrantes e participantes discutiram e analisaram fundamentalmente o apagão analógico, a implantação da TV Digital no Brasil e como as emissoras do nordeste podem alcançar a digitalização.
A conclusão é que estamos no meio de um processo longo, difícil e com um percurso muito sinuoso devido às modificações nos calendários para a realização do switch off, a falta de recursos de muitas emissoras para realizar a transição para emissões digitais e porque os próprios fabricantes de receptores afirmam não ter disponibilidade para fornecer ao mercado a quantidade suficiente de TVs com receptores ou set-top-box necessários para cobrir a demanda dos telespectadores.

Luiz Carlos de Melo Gurgel, diretor executivo da TV Jornal Recife e diretor regional nordeste da SET abriu o SET Nordeste 2013 afirmando que “a TV aberta e a TV por assinatura apresentam características de programação muito diferentes uma da outra, mas que o produto “TV por assinatura” caracterize-se, muito mais, como um produto concorrente da TV aberta e não como um “produto substituto”.

A abertura do SET Nordeste 2013 esteve a cargo de Luiz Carlos de Melo Gurgel, diretor executivo da TV Jornal Recife e diretor regional nordeste da SET, que apresentou o congresso e chamou a atenção dos participantes sobre o futuro da TV aberta no Brasil afirmando que esta é “uma das mais importantes questões que se colocam hoje em dia. Será que a TV por assinatura vai substituir a TV aberta num futuro próximo? Ou será que essas duas modalidades de distribuição de programas de televisão vão conviver, cada uma com sua fatia de mercado?”
Gurgel explicou aos presentes que a TV aberta tem perdido nos últimos anos telespectadores, mas que esta perda “tem sido explicada, pela maioria dos observadores, como consequência do surgimento das novas mídias, com novas opções de informação e entretenimento para o telespectador. É bem provável que essa seja uma das razões, mas certamente não é a única. E mesmo que fosse já deveria ser o suficiente para alertar as emissoras quanto à necessidade de se reinventarem, de investigarem mais os hábitos e desejos dos seus consumidores, enfim, de investirem mais na busca de adequação das suas programações ao gosto do telespectador”.
Assumindo, segundo Gurgel, que é necessário pensar que “o telespectador de hoje é o telespectador de amanhã” e sem este, sem acompanhar as mudanças do telespectador, “a TV aberta pode sofrer uma sangria muito grande”.
A seguir, José Raimundo Cristóvam, da diretoria de ensino da SET e diretor técnico da Unisat, explicou aos participantes do SET Nordeste as diferenças da TV Everywhere: “at home”, “out of home”, “out of town”, “on the go”, “out of country”. Afirmou que as múltiplas telas já se tornam realidade e que os conteúdos de TV e vídeos via Internet móvel com acessos Wi-Fi, 3G e 4G está avançando no País devido à expansão e melhoria de desempenho das redes Wi-Fi com 802.11ac Gigabit como catalisadores.
“Muitas formas de recepção e interação em Smartphones, Tablets e outros dispositivos móveis, ao mesmo tempo controles remotos e segundas telas, aplicativos móveis geram cada vez mais tráfego na rede: tiram audiência e receitas de quem?” questionou Cristóvam. Para ele é preciso que as TVs abertas criem “núcleos de pensamento” para que “pensem a TV” porque “o ser humano está mudando, e cada dia mais utilizando novas plataformas de comunicação para desta forma utilizar as novas ferramentas de comunicação que lhe entregam”.

O presidente da SET, Olímpio Franco se demostrou preocupado com o futuro da implantação da TV Digital no interior do País e reflexionou sobre “Como as prefeituras farão para efetuar a transição ? Falta política pública do governo para motivação!”

Segundo Cristóvam, as TVs abertas precisam olhar para o crescimento exponencial dos conteúdos OTT – Over The Top – com mais e mais conteúdos provenientes de diversas fontes e de diferentes plataformas. “A chegada de TVs, mais SMARTs, mais conectadas e com interfaces mais simples e intuitivas” está mudando o universo da comunicação.
Por isso é preciso que “o despertar talvez tardio das operadoras de Telecom: “Dumb Pipes”, “neutralidade de redes”, “telcos TVs” e/ou “trabalho conjunto com as OTTs e emissoras de TVs abertas,” seja feito rapidamente porque o “Cord-Cutting” que vem provocando quedas nos Estados Unidos de mais de um milhão de assinantes “tem como chegar aqui e afetar as operadoras de TV por Assinatura no Brasil ”. Nesse contexto, é preciso entender como ficam as TVs abertas, “elas têm de começar a respeitar as novas gerações e os seus consumos porque hoje o que importa é que a produção de conteúdo vai transitar por diferentes formatos. “E nesse formato”, disse Cristóvam à Revista da SET em entrevista realizada no fim da sua apresentação, “pode estar a continuidade ou não das TVs abertas”.

J. M. Cristóvam (Unisat), Nelson Faria (TV Globo) e Armando Ishimaru (Leader Instruments), ouvem atentamente umas das 26 palestras proferidas no SET Nordeste 2013 em Recife.

“O radiodifusor precisa colocar nas suas emissoras núcleos de pensamento que estejam fora do eixo Rio de Janeiro/São Paulo para de esta forma começar a repensar a TV aberta e os seus conteúdos”, disse. Mas Cristóvam assume que o setor “tem falta de profissionais que possam repensar a TV aberta.”

Após um pequeno intervalo de confraternização nas instalações da TV Jornal de Recife, localizada no bairro de Santo Amaro no centro de Recife, foi à vez de Salustiano Fagundes, SET/HXD, explicar aos presentes os “desafios e oportunidades” da “televisão na era digital”. Para Fagundes, a “TV aberta não vai acabar, mas hoje existem outras formas de assistir TV já que houve mudanças na formação do consumidor de TV que fizeram com que estes fossem buscar outros conteúdos em outros dispositivos”.
O responsável da HXD explicou aos participantes do SET Nordeste 2013 que “estamos vivendo uma transformação na televisão que pode ser aferida diariamente por indicadores de mercado. O aumento da oferta de banda larga e do consumo de mídias digitais (que cresce em média 17% ao ano em todo mundo); e o fato de o Brasil já se configurar como um dos 10 maiores mercados internacionais de consumo de vídeos online (alcançando 43 milhões de espectadores em 2012), são alguns dos sinalizadores dessas mudanças. Todo esse movimento traz novos desafios e oportunidades para quem produz, distribui e entrega conteúdos”.

Mais de duzentos conferencistas assistiram as palestras realizadas no auditório da TV Jornal do Commercio em Recife e outros 400 seguiram o congresso via internet.

“O fato é que a TV está chegando nas nuvens, por isso hoje em dia quando o radiodifusor planeja entre gar o seu conteúdo tem de pensar em um universo que abrange todos os devices conectados que o consumidor pode ter e onde pode assistir a sua programação ou acessar on-demand ao seu conteúdo”, disse Fagundes. Assim, nesse novo cenário, reforçou Fagundes, a “TV precisa se reposicionar com uma estratégia de integração porque a nova TV passa por estar em todos os suportes possíveis, e avançar para a interatividade entre eles”.
A seguir, Mayrielle Abreu, coordenadora de projetos de engenharia de rádio e TV da TV Gazeta do Espírito Santo, explicou o árduo trabalho de implantação do “MAM – Mídia Asset Management” na sua emissora em Vitória (ES). Para Mayrielle, o mais importante do processo é ter conseguido “digitalizar o acervo pensando em arquivar e preservar o passado” e com ele começar a gerar uma nova “visão do passado” na empresa. Mayrielle explicou que para isso acontecer foi preciso criar uma nova forma de armazenamento dos conteúdos e uma nova “cultura” entre os funcionários da empresa que não só precisam saber como funciona o sistema senão, também, “saber a importância que este acervo tem para a emissora” e como com ele o fluxo de informação se agilizou.
Após o almoço, João Paulo Querétte, diretor da Imagenharia, se debruçou sobre redes SAN de armazenamento centralizado com fluxo de mídia gerenciada (MAM). Para Querétte, estes “são considerados o workflow ideal de produção de jornalismo, sendo usados cada vez mais” apresentando novos produtos, conceitos e tecnologias que, segundo ele, “podem tornar os ambientes SAN+MAM ainda melhores” e mais rápidos.
Para Querétte, a função principal de um software de MAM é o gerenciamento das informações sabendo que estes são arquivos separados. Para ele, todo software permite catalogação e pesquisa, mas atualmente se espera muito mais porque hoje é preciso que estes cataloguem, pesquisem e tenham arquitetura cliente- -servidor que permita o acesso ao banco de dados através de diversas máquinas e ao mesmo tempo.
A seguir, Beatriz Ivo, diretora de jornalismo e entretenimento da TV Jornal, e Lucio Poncioni, gerente de projetos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, apresentaram um case, “Cidade Viva”, um programa que segundo os palestrantes “vai além do multimídia. Une o jornalismo colaborativo com a distribuição simultânea multiplataforma: TV aberta, web, redes sociais e aplicativos”.
Para Beatriz, o mais importante do projeto é gerar um “jornalismo colaborativo multiplataforma” que gere “uma sensação de presença mais afetiva com os cidadãos de Recife”. O projeto é mais do que um “programa ao vivo”. Com ele estamos “democratizando o conteúdo e criando uma nova estética de produção. Não fazemos um programa de TV, fazemos jornalismo com centenas de mãos, e criamos as ferramentas para ter um Fórum permanente de debate na sociedade”, disse. Poncioni explicou que para isso ser possível a TV Jornal teve de pensar o projeto desde diferentes ângulos e com um conceito de “multiplataforma”, já que o “Cidade Viva” acontece através das diferentes plataformas de internet – site da emissora, facebook, twitter, email etc. – e todas eles conversam. “O que tivemos de fazer foi adequar as narrativas da TV para a Internet e assumir que é importante a integração da tecnologia da informação com a da engenharia de TV para enfrentar estes novos casos. Hoje a TV não é só o que o telespectador vê no televisor, nós criamos as ferramentas para que esses telespectadores interagissem desde as diferentes plataformas da Internet”.
Para finalizar o primeiro dia de Congresso, Roolaid Stein, da Progira Radiocommunications AB (Suécia), explicou o funcionamento do GiraPlan, uma ferramenta de planejamento de rádio modular especialmente focado em soluções de transmissão e redes de TV móveis, desde TV analógico e FM até sistemas de transmissão digital incluindo DVB-T/H, DVB-T2, DTMB, ISDB-T e T-DAB/DMB.

Mayrielle Abreu, coordenadora de projetos de engenharia de rádio e TV da TV Gazeta do Espirito Santo explicou como a afiliada da Rede Globo no Estado realizou o arquivamento do seu acervo numa rede MAM que lhe permite navegar, adicionar metadados, marcadores e scripts para desencadear uma ação e meios de transferência de e para vários servidores de produção remotos.

Apagão Analógico e futuro da TV
O segundo dia do SET Nordeste 2013 começou com uma nova apresentação de Luiz Gurgel, desta vez chamando a atenção dos presentes para as novas tecnologias 4K e como estas irão entrar nas emissoras brasileiras, e como será possível, “aos poucos e lentamente”, começar a “produzir em 4K no País”.

A seguir, Aguinaldo Silva, diretor do centro de pesquisa e desenvolvimento R&D e membro da SET Norte, agitou o auditório da TV Jornal do Commercio de Recife explicando as consequências que pode trazer o apagão analógico para os broadcasters, telespectadores e fabricantes de receptores de TV.
“Se o apagão analógico seguir o cronograma, até final de 2015 137 milhões teriam acesso a TV digital. Entretanto nós vemos um problema bastante sério pensando do lado da indústria e pensando no mercado. Fizemos um levantamento da indústria desde 2001 chegando até 2018. Segundo a Anatel e o MiniCom, responsáveis pela proposta de apagão analógico, percebemos que precisamos produzir, (…) se fosse a partir de 2015, pelo menos 30 milhões de TVs por ano e mesmo assim não conseguiremos produzir a quantidade necessária para cobrir a demanda”, disse Silva.
Isso porque, segundo o responsável da Envision, “hoje nosso parque instalado de televisores ronda os 14 ou 15 milhões por ano e precisaríamos produzir pelo menos 60 milhões nos próximos dois anos, o que é impossível. Temos um problema muito grande e estamos discutindo dentro do Fórum de TV Digital para tentar achar uma alternativa a este problema para ver como se resolve. Mesmo que começássemos hoje a produzir não íamos conseguir substituir o parque de televisores analógicos”.
Silva falou ainda do futuro da TV e assumiu que é preciso realizar “convergências” e que no futuro o aparelho de TV vai desaparecer “para se converter em um display que sirva como central de entretenimento”.

Para Aguinaldo Silva, se o apagão analógico acontecer nos moldes propostos pelo governo, para suprir a demanda que se gerará, os fabricantes terão que “multiplicar a produção de receptores em mais de três vezes durante os próximos 2 anos”

Na sequência, Vanessa Lima, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Hitachi Kokusai Linear, explicou o conceito de Redes de Frequência Única (SFN), as suas diferenças entre SFN e Gap Fillers, alguns cuidados para se dimensionar uma rede SFN, medições e casos práticos, além de se explanar sobre o uso de SFN no Brasil e no mundo.
Para Vanessa, as redes SFN são uma tecnologia capaz de aumentar a eficiência no uso do espectro e a probabilidade de recepção, desde que bem compreendida e implementada.

Loudness, já e agora
Após um pequeno intervalo, Eliesio Silva Júnior, gerente de vendas da Tektronik, falou das novas tecnologias de Loudness e como a qualidade da experiência de áudio é um novo “paradigma” na TV devido “à mudança do espectador”.
Para explicar isso, Silva falou dos problemas de qualidade do sinal nas diferentes plataformas e alertou os participantes do SET Nordeste que a partir de 12 de julho entraram em vigência punições muito severas para as emissoras de televisão que desrespeitem a nova lei, por isso “no mundo digital precisamos verificar as métricas e assim evitar punições por parte do Estado de uma forma fácil e acessível”.
Seguindo com o loudness, Armando Keiiti Ishimaru, da Leader Instruments, explicou detalhadamente o por que da definição de uma medição e como, desde o dia seguinte à sua apresentação, 12 de julho de 2013, a Anatel passaria a fiscalizar a intensidade média subjetiva de áudio(-23 LFKS). Para Armando, uma boa solução seria aplicar um conversor no playout e produzir conteúdos dentro da norma estabelecida por lei para evitar sanções.
Para Ishimaru, um dos grandes desafios da implantação da nova lei que os radiodifusores enfrentam é “uma mudança cultural, mais do que técnica, pois todo o controle e medição dos níveis de áudio serão subjetivos” e assim, é impreterível entender quais as novas especificações, normas, recomendações e formas de medição e controle na cadeia produtiva de áudio.

Inovando na TV
Nelson Faria, vice-presidente da SET e responsável do projeto i9 da TV Globo, apresentou o conceito i9 (alusão ao verbo inovar) e mostrou aos participantes do SET Nordeste o que a emissora está realizando em termos de inovação e como essa inovação ajuda no desenvolvimento de projetos. “Mais do que um desafio tecnológico, inovação aberta é uma mudança de atitude”.
Faria explicou que o i9 é “uma comunidade voluntária de profissionais de diferentes áreas que pensam em inovação para melhorar a produtividade e qualidade da TV Globo”, tendo como objetivo “gerar aprendizado contínuo para a cultura da inovação, através de conceitos e métodos num espaço de trocas de informações, reflexão e experimentação aplicados ao desenvolvimento de ideias para a melhoria da qualidade e produtividade”.
O projeto, disse Faria, começou em 2008 com apenas 9 pessoas e hoje tem 1400 voluntários e mais de 470 iniciativas de inovação desenvolvidas. “Precisamos construir a TV do futuro e, para isso, o i9 é fundamental”, explicou ele salientando que o projeto “gerou uma espécie de rede social na empresa” que ajudou o desenvolvimento de novos projetos e criou um “sentido de pertença” muito maior nos empregados da TV Globo.
Na parte da tarde, José Carlos Morães, gerente da Opic Telecom, explicou como com “novas tecnologias é possível criar novos “layout” nas emissoras de TV e rádio” e como estas mudanças na estrutura das empresas podem criar benefícios, já que estes trabalham como implantações que geram soluções para as empresas de radiodifusão.
Juan Carlos Ortolan, da Ross Vídeo, apresentou uma série de soluções da empresa em termos de switcher, Resumo Inception, Social Media Management e outras inovações da empresa em termos de workflow para uma emissora no contexto das novas tecnologias. Para finalizar o dia, Guilherme Castelo Branco, da Phase Eng, explicou as novas tendências na “era do jornalismo HDTV” e como, após a digitalização dos estúdios e transmissores, chegou a vez do jornalismo. Para isso, Castelo Branco explicou algumas definições de ondulações digitais, recepção diretiva, recepção em diversidade, latência, novas tecnologias de transmissão como redes 3G/4G além de alguns cases de projetos de sistemas de ENG para emissoras de TV.

TV Digital vs 700 Mhz
O último dia do SET Nordeste, o primeiro a ser realizado em três sessões, começou cedo com mais um questionamento do Luiz Gurgel afirmando que é preciso prestar atenção não só aos switch-off das emissões de TV aberta analógica senão também ao “switch-off do engenheiro analógico” e as consequências que isso pode trazer para a industria da TV do País que, segundo o diretor executivo da TV Jornal Recife e diretor regional nordeste da SET, nem sempre estão preparados para essa mudança tão importante no fluxo de uma emissora (leia artigo “O switch Off dos técnicos e engenheiros analógicos” nesta edição).

Beatriz Ivo, diretora de jornalismo e entretenimento da TV Jornal de Recife apresentou um case de sucesso da emissora, a criação de um programa multiplaforma denominado “Cidade Viva” realizado em parceria entre o portal NE10 ( www.ne10.uol.com.br) e a TV Jornal e os demais veículos do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação pretende dar “democratização de conteúdo” e criar “uma nova estética” de produção.

A seguir, Ademir de Jesus Lourenço, da Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos, com quase três décadas de estudos na região Amazônica, realizou uma análise sobre a utilização da faixa de 700 MHz do espectro radioelétrico, pelas empresas operadoras de telecomunicações e radiodifusão no Brasil.
Lourenço explicou o espectro radioelétrico, as diferenças e peculiaridades entre as faixas de 2,5 GHz e 700 Mhz, e como este processo está avançando devido às competições esportivas internacionais que estão chegando no País nos próximos anos. Ainda mostrou recentes estudos no Brasil e no Japão sobre as possíveis interferências do 4G nos sistema de TV Digital, os recursos para tentar mitigar este problema, as consequências para o consumidor, as emissoras, as operadoras e a indústria de receptores.
Dos testes, Lourenço disse aos presentes que “verificou- se que há algum nível de interferência desde o canal 51 [698 MHz, no limite entre o plano para TV e 4G] até o canal 46 [662 MHz]. Os japoneses recomendam uma banda de guarda de 8 MHz a 10 MHz – como propõem os radiodifusores brasileiros na consulta pública da Anatel sobre a canalização dos 700 MHz, além de filtros nas ERBs e também nos aparelhos de TV. O relatório japonês ainda indica que não pode ser descartada a necessidade de redução da potência das ERBs.”
Assim, segundo Lourenço, está claro que o “Ministério das Comunicações e a Anatel pretendem transferir para sistemas de banda larga digital 108 MHz da faixa de 700 MHz atualmente atribuídos à televisão aberta” pelo qual os radiodifusores devem “estar vigilantes e preocupados com o sucesso da implantação da TV digital no País, que está em pleno curso, e também com o seu desenvolvimento,” porque é fundamental que exista “harmonia entre as decisões de Refarming para implantar os sistemas de banda larga no País, sem ferir os compromissos assumidos” como é o da implantação da TV Digital.

Soluções na era digital
A diretora de AD Digital, Daniela Souza, afirmou que o “Broadcast não para de se recriar, mas um tema em particular, apesar das mudanças, nunca deixa de ser uma prioridade: reduzir custos”. Isso porque em um “mundo baseado em multiformatos transforma cada vez mais o modo tradicional de se fazer televisão, o que teoricamente, gera mais gastos”.

Salustiano Fagundes, SET/HXD explicou aos presentes que “estamos vivendo uma transformação na televisão que pode ser aferida diariamente por indicadores de mercado” pelo que os radiodifusores precisam estar atentos as mudanças.

Para Daniela, o “grande desafio nos dias de hoje é a entrega de conteúdos nas multiplataformas, com a máxima eficiência e um controle de qualidade”. Ela explicou como conduzir um projeto para melhorar a produtividade e gastar menos num fluxo de trabalho de uma emissora.
Enio Arruda, da Sony Brasil, disse aos presentes que estamos “na era do HD e o além da definição” pelo que se torna necessário nas emissoras ter uma visão clara de novas tecnologias e soluções de captação. Desta forma, entender o que permitiu o desenvolvimento e aplicação dessas tecnologias em High Frame Rate e “até mesmo para produção além da definição convencional 2K ou 4K”, e como fazer com que isso tenha “custos mais acessíveis”, ao encontro do explicado anteriormente por Daniela.
Arruda falou ainda sobre uso dos novos sensores 35mm em diversos níveis de produção e como as novas tecnologias permitem o uso com melhor eficiência e custos para a produção ao vivo, utilizando-se de transmissão por redes IP.
Leonardo Teixeira, da Avid, voltou a insistir na necessidade de tomar providencias frente às grandes mudanças que enfrenta o setor broadcast no País e para isso entender “as maiores exigências de qualidade e conteúdo”, pelo que, segundo ele, “o grande desafio é produzir mais em um prazo cada vez menor e com orçamento reduzido, sem perder a qualidade”.
Para isso, Teixeira mostrou alguns exemplos de ambiente compartilhado que “auxilia na busca por essa eficiência e agilidade, com gerenciamento dos processos para pesquisa e distribuição em multiplataforma de maneira automatizada, assim é possível reduzir o prazo de entrega e aumentar o ganho na produtividade das empresas”.

Desafios da TV Digital
Após o intervalo da tarde, Olímpio Franco, presidente da SET, se apresentou aos presentes, explicou brevemente o funcionamento da SET e avançou sobre algumas preocupações da Sociedade. Entre elas, o “desligamento da TV Digital” no País que é, para Franco, um dos maiores desafios a serem travados na implantação definitiva da TV Digital.
“O maior desafio é cobrir as cidades médias e pequenas, o nosso País é um continente e as redes que lá existem foram montadas ao longo de 40 anos ou mais. Não é de um dia para o outro que se troca tudo”, disse. O Presidente da SET reforçou que “não é só trabalho, é investimento. A TV Digital é uma melhora tecnológica, mas não significa que traga dinheiro novo às emissoras, pelo contrário, estamos gastando dinheiro para transitar do analógico ao digital. Esta é uma transição e investimento novo. Eu acredito que quem está ganhando dinheiro com a TV Digital são só os fabricantes, eles atendem não só a TV Digital Terrestre como a quem assina pelo cabo, pelo satélite etc.”
Em outra parte da palestra com os associados no auditório da TV Jornal do Commercio, Olímpio Franco explicou as conversações e preocupações da SET com a implantação da faixa de 700 Mhz no País e os problemas que ela poderá acarretar na TV Digital, afirmando que a SET acha que haverá prejuízo na interferência de recepção da TV Digital. “O que resta saber é quanto custa essa interferência, quem paga essa conta? O que o Japão tem dito é que as operadoras de Telecom devem pagar essa conta calculando-a em 3 bilhões de dólares baseadas em números de antenas instaladas, mas será que no Brasil isso vai acontecer?”, questionou ele.
Franco finalizou dizendo que os “receptores de TV sofrem interferências: independentemente de marcas, modelos e gerações”, com as frequências de LTE e por isso a situação “é critica” e merece continuar a ser discutida no futuro.
Na sequência, Antônio Nilson da Rosa Filho, da Harris Broadcast, apresentou algumas soluções sobre o futuro tecnológico dos routers nas grandes emissoras e como as suas potencialidades e benefícios de roteamento de sinais podem ser utilizadas nas estações de TV e assim expandir de forma quase ilimitada o roteamento dentro das emissoras.
Assim, disse o responsável da Harris, mediante gerenciamentos de software e roteadores com diferentes matrizes interligadas é possível ter múltiplas entradas e saídas de fluxos de informação para agilizar os fluxos de trabalho.
Cristiano Barbieri, da Grass Valley, falou sobre a convergência de tecnologias de produção e como estas têm trazido benefícios específicos para o ambiente operacional, onde a criatividade é cada vez mais explorada sem complexidade, simplificando processos de produção e utilizando sistemas existentes e inovadores.
Ramón Allem, da AllComm, trouxe ao congresso um estudo de caso explicando como se realiza a validação de um estúdio de cobertura de uma emissora usando medidas de campo já que, segundo Allem, “são muitos os esforços para conhecer a real cobertura de uma estação de televisão e muito difíceis de estabelecer os parâmetros”.
Para isso, Allem mostrou alguns procedimentos de validação de predição e sugeriu aos presentes formas de medição. Encerrando o ciclo de palestras, André Luis Malvão Silva, da Star One, apresentou o Satélite Star One C3, novo transmissor da maior provedora de segmento espacial da América do Sul, mostrando as suas características técnicas, coberturas em Banda C e Ku e sistemas avançados de monitoração de comunicações disponíveis.
Após três dias intensos e 26 palestras, o SET Nordeste 2013 deixou claro aos participantes que o futuro da TV Digital e a implantação definitiva são temas fundamentais no País e que ainda falta muito caminho por percorrer para que o Brasil seja coberto pelo sinal digital.

TV DIGITAL

Apagão analógico: Sonho ou realidade?

Um dos temas mais importantes do SET Nordeste 2013 foi a TV Digital, o apagão analógico e as consequências que este pode provocar no mercado de radiodifusão no País e, especialmente, no Nordeste. Para isso a Revista da SET conversou com palestrantes e participantes do congresso para tentar entender a realidade da região e quais os próximos passos a seguir rumo à digitalização completa da TV brasileira.
Para Olímpio Franco, presidente da SET, o maior desafio na transição para a TV Digital são as pequenas e médias cidades “já que o Brasil é um continente” e o processo de montagem dessa rede “demorou 30 ou 40 anos”. “Não é de um dia para outro que troca tudo. A TV Digital não trouxe benefícios econômicos, pelo contrario, os que estão ganhando dinheiro são os fabricantes de equipamentos”.

Para França Filho, da Rede TV, o futuro da TV são “as multiplataformas e a TV aberta terá de mudar e se acomodar a nova realidade”

Para Franco, os que terão maiores dificuldades na transição serão as prefeituras das pequenas cidades do interior do País. “A pergunta que nós [SET] nos fazemos é como elas farão a transição porque estas têm dificuldades de toda ordem e falta política pública do governo para motivação da transição e de alguma compensação que permita que as prefeituras façam o investimento para a transição a TV Digital”.
Será possível que analisados os prós e os contras da implantação da TV Digital no País e o governo federal crie uma política pública diferente para a implantação definitiva do sistema no País e assinação de espaço para os canais públicos abertos? Ante a pergunta da Revista da SET, Olímpio Franco disse que “essa é uma resposta muito complexa e a SET sabe de reuniões do governo e dos seus organismos, mas está claro que esses canais pertencem à União e não ao governo, pelo que alguém terá de resolver isso. Está claro que eles terão de migrar a não ser que o governo estabeleça que a banda de 700 Mhz seja melhor para conciliar o espaço que estes canais precisam e, de alguma maneira, os acomode. Talvez tenha que haver uma nova consulta pública para resolver essa questão”.
Esdras Miranda de Araújo, vice-presidente da SET Nordeste e gerente técnico do Sistema Jangadeiro de Comunicação, com duas geradoras de TV (afiliadas ao SBT e BAND localizadas no Ceará) e do Sistema Jangadeiro de Rádio, pensa que a transição das emissoras para a TV Digital “pode ser possível para a legislação, mas para nós radiodifusores é muito difícil porque a realidade do nordeste mostra que hoje só as capitais conseguiram se digitalizar e ainda tem algumas emissoras que precisam fazer o investimento de infraestrutura para a transição digital nas próprias capitais”.
“Os Estados brasileiros são muito grandes, no Ceará, por exemplo, há 184 municípios, a nossa rede está presente em cerca de 85% dos municípios e só alguns estão digitalizados. No Ceará, só a capital [Fortaleza]. Se for pensar na população do Estado, com a capital e a área metropolitana cobertas, penso que atingimos 40% da população com TV Digital”, disse Miranda de Araújo e reforça, “o outro desafio é, uma vez digitalizada a cidade, como se leva esse sinal digital para lá, porque para quem tem rota terrestre ainda existe uma infraestrutura que talvez possa suportar isso, mas para a grande maioria que tem a cobertura via satélite aí vem outro grande investimento. É muito difícil para os radiodifusores, e mais, penso que é pouco provável que se consiga seguir o cronograma do jeito que está feito e por isso terá de haver flexibilidades”.
Antes o pedido de flexibilidade, a Revista da SET perguntou de quanto tempo teria de ser esse prazo. “Não há tempo. Varia de situação para situação. Talvez para o Sul e Sudeste esse tempo possa ser mais curto, já que o mercado é mais forte. Para Norte e Nordeste penso que pelo menos de 5 a 10 anos permitiria que as emissoras fizessem o investimento”.
Diante da hipótese de desligamento, o vice-presidente da SET Nordeste afirmou que a única forma de evitar que as pessoas fiquem sem receber o sinal da TV aberta em casa “é que haja algum tipo de subsídio porque se as emissoras fossem fazer investimento para a transição, hoje todo o seu patrimônio não chegaria para isso”. Miranda de Araújo ainda reforçou que “se tivermos que começar a desligar a TV analógica em 2015 vai ser um verdadeiro caos. É preciso pensar no que vai ter que ser feito com os telespectadores para estes terem acesso à TV Digital e não ficar sem TV em casa”.
Robinson Oliveira, engenheiro da TV Tambaú, da Paraíba, concorda com Miranda de Araújo na necessidade de pensar nos municípios do interior e como desenvolver um processo de desligamento do sinal analógico de acordo com as necessidades e capacidades das pequenas emissoras do País. Para o técnico da afiliada da SBT em Tambaú, a viabilidade do apagão analógico nos moldes determinados pelo governo Federal serão difíceis de cumprir. “O desligamento deve ser pensando de forma diferente. Deve planejar-se de outra maneira, até porque hoje nem o analógico chegou a muitas localidades do interior da Paraíba e do Brasil”.
“Na Paraíba o problema não é que o telespectador tenha uma TV que possa receber o sinal digital. Para nós o problema é a chegada do sinal digital, como eu digo e friso novamente, em muitas localidades do nosso Estado nem o sinal analógico chegou. Por isso, o desligamento tem de ser gradual, de uma forma bem elaborada e pensada. Os equipamentos de transmissão digital são muito mais caros e as emissoras não têm orçamento para isso”, disse Oliveira à Revista da SET.
Para Oliveira, o apagão analógico segundo o cronograma do governo “é impossível. Até hoje foram vendidos 45 milhões de receptores analógicos e muito poucos set-top-boxs” por isso, “pedimos às autoridades que visitem as localidades, venham ao campo e vejam as condições reais das emissoras para esta transição”. Ainda, o técnico da TV Tambaú concorda com o presidente da SET sobre a dificuldade das Prefeituras em realizar a transição. “Elas não só não têm recursos econômicos senão tampouco técnicos e humanos para realizar esta mudança tão radical na sua forma de emissão”.
Romildo França Filho, gerente técnico da Rede TV no Recife, faz outra análise. Para ele, a transição para a TV Digital é uma transição natural porque aos poucos todo o sistema de emissão e captação da empresa avançou para o digital. “Se hoje se fizesse o desligamento, pode ser que uma fatia ainda tivesse dificuldade, mas até onde nós sabemos nas grandes cidades, as pessoas poderiam receber o sinal devido ao barateamento dos receptores”.

Um dos temas mais discutidos entre os palestrantes e participantes do SET Nordeste 2013 foi a transição para a TV Digital e os problemas pelos que, ainda, deveram passar os broadcasters da região.

Para França Filho, o “desligamento é possível. A Rede TV tem 18 emissoras no ar, 9 são geradoras e as outras são transmissoras. Nós já temos 7 emissoras em HD/ SD. Sabemos que como toda mudança radical vai trazer problemas, mas essa mudança é possível, pelo menos aqui em Recife. Pode ser que nas cidades pequenas a situação seja mais complexa, mas cá na capital a mudança é possível”.
Finalmente, para o diretor executivo da TV Jornal Recife, Luiz Gurgel, o desligamento analógico é uma política do governo e será realizado, mais tarde ou mais cedo. Para a emissora, o gargalo é ter de custear duas transmissões, uma analógica e outra digital. “Hoje se vive no pior dos mundos. Nós temos de estar cuidando e investindo na transição digital enquanto nosso dinheiro e nossos anunciantes enxergam a TV analógica. Para a TV Jornal sair desse momento de transição seria ótimo. Do ponto de vista empresarial foi ruim entrar no mundo de transmissão digital há quatro anos porque foi preciso um investimento muito grande sem uma perspectiva de retorno pelo menos imediato”.
“Acreditamos que foi ruim a entrada no mundo digital, mas é como um remédio amargo, precisamos sair o mais rápido possível dele. O switch-off é bem-vindo, mesmo o adiantamento proposto pelo governo sabendo que é por um motivo menos louvável que são os 700 Mhz, mas no fim será um beneficio para todos”, disse Gurgel.
Com transmissão digital há um pouco mais de 4 anos em Recife, o diretor da TV Jornal Recife afirma que “30% da população assiste a TV digital, pelo que a emissora entende que só com o desligamento do analógico iremos conquistar o 70 % restante do mercado”, disse. Inquirido sobre se o governo e as suas políticas públicas para o setor estavam de acordo com a realidade do mercado, Gurgel foi categórico: “Brasília vive em outro planeta, totalmente dissociados, por isso às vezes as realidades diferem muito”.

Flávio Bonanome
Revista da SET.