Nos extremos da rádiodifusão
Finalizando o ciclo de eventos regionais da SET, o SET Centro-Oeste e o SET Norte trouxeram ambientes bem diferentes. O primeiro por ser o mais próximo do poder, o que atrai sua boa leva de assuntos políticos e polêmicos, e o segundo sendo o ponto mais afastado do eixo econômico central do país, mas com um dos mais altos índices de evolução tecnológica.
Nº 138 – Novembro 2013
Reportagem – SET Regional
Até por uma óbvia questão geográfica, é comum que eventos que busquem propagar e debater conhecimento com caráter regional sempre se tornam grandes centros de discussão e instrução. Em um país de proporções continentais com um eixo de desenvolvimento tecnológico periférico, como é o caso do Brasil, a busca por tal aprendizado nos centros não óbvios, como os fora do tradicional Rio-São Paulo, passa a ser ávida e constante.
No caso dos eventos regionais da SET a situação é exatamente esta. Grandes centros distantes de onde acontece os principais congressos de conteúdo e radiodifusão, possuem uma grande quantidade de profissionais atuantes que precisam se atualizar e adquirir um aprendizado contínuo, inerente do trabalho com áreas tecnológicas, que só pode ser conseguido quando os principais nomes do mercado vão até estas regiões.
Nestes dois últimos regionais de 2013, Centro Oeste no final de Outubro e Norte no começo de Novembro, esta máxima adquiriu tonalidades diferentes. Com dois eventos com bastante relevância, levando em conta o número de presentes e a quantidade de palestrantes, os mini-congressos fecharam o ano imprimindo suas características ainda mais fortes para 2014.
Primeiro em Brasília a sensação foi de uma importância ainda maior do que o normal. Apesar do regional ser pensado para levar conhecimento até profissionais de lugares mais “distantes”, muitos dos que foram buscavam também trazer informações novas do distrito federal, sobretudo no que diz respeito à Políticas e Novas Regulamentações, levando em conta que Agências e Governo tomam sede na cidade.
Já Manaus coloca o próprio conceito do regional em cheque. A capital do Amazonas, apesar de ser o ponto mais distante do eixo Rio-São Paulo em que há eventos da SET, é ao mesmo tempo um polo tecnológico que abriga muitas instalações de fábricas, inclusive de equipamentos para broadcast. Então, ao mesmo tempo se depara com um público que raramente tem a oportunidade de se deslocar para acompanhar congressos no sudeste mas que estão envolvidos diariamente com o que há de mais avançado em tecnologia.
Com estes dois eventos a SET encerra o ciclo de eventos de 2013 com o entendimento da importância de seus trabalhos locais e o aprendizado de que ainda há muito o que ser melhorado.
Na Capital Federal
Realizado nos dias 15 e 16 de outubro no auditório da Anatel, o SET Centro-Oeste foi o que mais se aproximou da origem do poder. Não só literalmente, estando dentro da Agência Reguladora que rege toda a Telecomunicação no país, mas principalmente pelas presenças que esta localização privilegiada permitiu.
Graças a realização na cidade de Brasília, o evento pode contar com nomes como Marconi Maya, superintendente de outorgas e recursos da Anatel, do presidente da SET Olímpio José Franco e de Emerson Weirich, moderador de evento gerente executivo de engenharia da EBC. Com um painel de abertura destes, não é de se espantar que o auditório esteve lotado durante toda a parte da manhã do primeiro dia de evento.
Como já era esperado, e de fato nem havia como fugir do assunto, o grande tema que rondou a cerimônia inicial foi a questão dos 700 MHz. Após um ano que começou pautado na polêmica decisão do governo em ceder a faixa para os serviços de banda larga móvel, o que poderia gerar interferências nas transmissões de TV Digital Aberta, uma extensa consulta pública, bates e rebates de testes e pesquisas, era a hora do governo apresentar quais seriam as diretrizes que pautariam o processo de transferência.
Dando início ao assunto, Marconi Maya subiu ao palanque para defender a estratégia do governo. O discurso do superintendente da Anatel começou com um panorama base da questão, provando a alta demanda por serviços de banda-larga e como a faixa de 700 MHz poderia ser uma solução de grande porte. “É claro que esta transferência precisa acontecer sem que nenhum prejuízo seja assumido pelas emissoras de televisão que operam nas faixas afetadas por interferência”, afirmou.
Em seguida, Maya apresentou um primeiro cronograma do governo para a transferência. Esta agenda levava em conta um trabalho de estabilização e recanalização das emissoras que hoje operam em frequências críticas. “Vamos colocar em consulta pública um replanejamento dos canais de cada uma das regiões brasileiras para que possamos transferir gradativamente a faixa dos 700 MHz sem gerar grandes danos”, afirmou.
Segundo o superintendente, este trabalho de recanalização já foi projetado para as regiões do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Goiás , Espírito Santo, Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina. “Com este trabalho, também estamos levando em conta uma harmonização com os demais países do Mercosul, pois regiões de fronteira podem acabar sofrendo de interferências de frequências emitidas de outros países”, explicou.
Após o tempo usado por Maya, foi a vez do presidente da SET tomar a palavra. Colocando contraponto e uma atmosfera mais elucidativa, Olímpio José Franco trouxe à público os resultados de duas fontes de estudos sério sobre a questão dos 700 MHz. A primeira tem a ver com o relatório elaborado pelo Ministério das Comunicações(MIC) do Japão que relata como a interferência agiu por lá e a solução da instalação de filtros em todos os receptores atingidos no país, gerando uma conta bilionária para as Teles.
Este relatório, que chegou a ser chamado de “terrorista” por membros do governo, é a prova cabal de que o tema é assunto seríssimo e não pode ser levado com a leviandade que alguns setores estão fazendo. Em seguida, Olímpio apresentou os resultados de outro estudo, já do caso brasileiro, que foi encomendado pela SET junto ao laboratório de TV Digital da Universidade Mackenzie no início do ano.
O trabalho acadêmico, que ainda está em andamento, traz uma série de testes utilizando diferentes modelos de aparelhos televisivos (receptores) em diferentes condições de interferência. Resumindo os números apresentados, o relatório foi pensado para trazer a problemática japonesa para a realidade brasileira, onde as bandas de guardas de frequência e o modelo de canalização é um pouco diferente. A conclusão porém, é bastante similar.
No relatório SET-Mackenzie, a interferência rede LTE X ISDBT existe em diferentes graus dependendo do modelo e geração de receptor e casos de emissões ( por saturação ou por frequencia imagem), mas em nenhum deles ela é nula. O relatório foi ainda mais além, utilizando o filtro aplicado no caso Japonês nos receptores para concluir que é uma solução viável também no Brasil. E o resultado confirmou-se no desaparecimento da maioria das interferências.
Disse também que a Anatel pode até não confiar em nossos testes, mas poderia referenciar nos relatórios japoneses, que possuem cerca de 1000 páginas, com muitas informações consistentes.
A questão Loudness
Seguindo a rotina de polêmicas, chegou o momento do segundo assunto mais polêmico de 2013, a questão do Loudness. Desde que o governo brasileiro decidiu que adotaria uma normalização para acabar com os problemas do Nível Percebido do áudio das transmissões televisivas, uma espécie de discussão sem fim se iniciou: Como seriam as medições? Quais normas seriam adotadas? Quais seriam as sanções? O quão severa seria a legislação?
Apesar da lei do Loudness ter entrado em vigor no meio de 2013, muitas destas questões continuaram obscuras, sobretudo no que diz respeito à fiscalização empregada pela Anatel. Desta forma, a organização do Regional Brasilia tratou também de trazer um painel para a discussão do tema direto com quem representa o assunto, no caso Octavio Penna Pieranti, secretário substituto de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações.
O secretário fez uma espécie de panorama geral da questão do Loudness e uma explicação do embasamento da legislação em normativas internacionais.
Apesar das inúmeras dúvidas surgidas durante a apresentação, o tempo limitado de Pieranti impediu que a maioria dos questionamentos fosse respondida. Questões como o trabalho de fiscalização da Anatel e se haveria alterações na severidade com que a lei prevê as sansões, mais uma vez ficaram para a posteridade.
Multiplataforma em Destaque
Após o acalorado debate gerado pela cerimônia de abertura, foi a vez dos paineis entrarem em outro tema “do momento”, mas desta vez sem tanta polêmica e com uma dose um pouco maior de futurologia. Impulsionado pelo crescimento monstruoso do mercado Mobile, os conteúdos multiplataforma se tornaram uma obsessão de quem trabalha dentro do setor de conteúdo para broadcast.
Seja por uma questão de sobrevivência ou por uma aptidão com as novas mídias, são os responsáveis pela criação de conteúdo de produtoras e emissoras que mais tem se destacado quando o assunto envereda para a distribuição para multi-meios. Seja por meio de aplicativos de segunda- -tela, ou por conteúdos exclusivamente construídos utilizando- se da interatividade e experiência do usuário, ninguém discorda que é ai que mora o futuro da televisão.
Apesar disso, o primeiro a subir no palanque para tratar do tema foi Aguinaldo Silva. Representante da indústria de fabricantes de receptores (aparelhos de televisão), o engenheiro fez uma apresentação introdutória sobre a importância que a capacidade de trazer diferentes fontes de conteúdo para o espectador.
A priori Silva apresentou uma série de dados sobre o uso de dispositivos móveis e internet simultaneamente à experiência televisiva. “Uma pesquisa realizada em 2012 revela que cerca de 70% dos brasileiros acessam a internet pelo celular, tablet ou notebook enquanto assistem TV, e este número é cada vez mais crescente”, afirmou.
Em paralelo entre as funcionalidades das Smart TVs e as utilizações de segunda tela, Aguinaldo Silva entrou no mérito do uso individual dos sistemas. “A Televisão será uma experiência diferente para cada um de nós, aproximando-a dos dispositivos informáticos, que são de uso individual”, explica.
Em seguida foi a vez de Emerson Weirich tomar a palavra. O moderador do evento também trouxe o tema da multiplataforma, mas desta vez sob o ponto de vista da recente aproximação sentida pelos profissionais de broadcast ao mercado de TI e seus agentes atuantes. “É cada vez mais patente as figuras do Social Media, Mobile, Information e Cloud”, começou Weirich.
De acordo com o moderador, a quantidade de informação que a era do TI traz para o broadcast gera o problema do Big Data. “Hoje, o fluxo de dados da internet está se aproximando de 1 Exabyte (1 bilhão de Gigabytes) por dia”, explicou. Só no fluxo de vídeos assistidos no Brasil por ano, este número equivale a informação armazenada em 5 bilhões de DVDs.
Com este crescente fluxo, o desenvolvimento de tecnologias de armazenagem de dados evolui a uma velocidade grande. “Assim, podemos dizer que com o passar do tempo, cada vez mais teremos o custo de armazenamento tendendo a zero por byte”, explica.
Todo este cenário gera um ambiente propício e fértil para a produção de conteúdo digital, seja por meio de VOD e OTT e até mesmo com os web-producers. “Acontece então uma metamorfose no modelo de negócio do broadcast, onde a audiência deixa de estar focada e passa a estar dispersa”, conclui.
Calor Amazônico
Já o Regional SET Norte trouxe um clima mais “ameno”, se é que pode ser fazer um trocadilho. Em meio as famosas temperaturas equatoriais de Manaus, o evento transcorreu como um dos mais tranquilos do ano, sem tantas polêmicas e com o cronograma sendo cumprido a risca pelos palestrantes. “Acho que como é o último, já pegamos tanta experiência em fazer nossa apresentação, que tudo sai mais redondinho e rápido”, brincou João Quérette, da Imagenharia.
De fato a brincadeira tem um fundo de verdade. Após outros quatro regionais, onde cada um dos patrocinadores apresenta o mesmo tema/solução e faz basicamente a mesma apresentação, fica mais fácil trazer aos presentes a informação necessária. No regional Norte foi assim, apresentações objetivas e um público extremamente interessado.
Realizado no espaço de convenções do Shopping Studio 5 nos dias 7 e 8 de dezembro, o evento iniciou com as devidas formalidades realizadas pelo modera-dor do evento Nivelle Daou, da Rede Amazônica. Em seguida recebeu somente um painel ministrado por Josemar Cardoso da Cruz, da TV Globo. Cardoso aproveitou o espaço para falar dos dispositivos de RF utilizados em reportagens externas.
A ideia por traz da palestra de Cardoso é a mesma que permeia todo o desafio da produção jornalística pra televisão: a velocidade com a qual o conteúdo sai do repórter in loco e chega até a emissora. “Em um tempo de televisão em altas definições, é preciso não só alcançar a celeridade, mas também conseguir manter a maior qualidade de sinal possível”, explicou.
Para tanto, o palestrante abordou o papel das tecnologias Wireless de DSNG, LTE e transmissão IP. Cardoso traçou um paralelo prático e teórico das qualidades e problemáticas de cada uma das tecnologias, deixando claro as virtudes que ainda precisam evoluir para alcançar a demanda necessária.
Finalmente, abordou também as diferenciações da operação destes sistemas em SD e a transição disso para o HD. “É preciso conciliar a robustez e qualidade do sinal com as soluções de compromisso para links fixos e links móveis”, afirmou. Para concluir, abordou a delicada questão do lotado espectro RF de alguns pontos e o trabalho por trás de gerenciar e coordenar as frequências de links em grandes eventos, como os que estão por vir ao Brasil.
Com o fim do painel, começou o ciclo de palestras de patrocinadores e convidados, tratando de novidades e tecnologia, como tem sido praxe em todos os eventos da SET.