Por Gilmara Gelinski
O encontro para brasileiros oferecido pela organização da conferência IBC foi além do esperado e superou em termos de conteúdo, organização e espaço as edições passadas. Os palestrantes eram profissionais gabaritados e reconhecidos mundialmente e as palestras foram pertinentes à realidade atual do mercado de radiodifusão e de conteúdo no Brasil.
Na opinião do diretor de interatividade da SET, David Britto, o encontro representa uma significativa participação do Brasil no evento, bem como um estreitamento dos laços com a SET. A evolução destes anos de encontro mostrou o reconhecimento do papel do Brasil como elemento formador de opinião, gerador de tecnologia e liderança na evolução do padrão de TV digital aberta.
O encontro contou a apresentação da presidente da SET Liliana Nakonechnyh e do ����presidente do conselho da IBC Peter Owen. Após a abertura do encontro, começaram as apresentações dos tópicos em três sessões. Os representantes da TV Fifa, Niclas Ericson, e da Deltatre, Jim Irving, falaram sobre a Copa do Mundo de 2014, na palestra “. Na sequência Dr Katoh, da NHK Science & Technical Research Laboratries, e Peter Owen abordaram o tema sobre TV híbrida, no painel “. E por fim, o tema espectro de radiofrequências foi abordado por Bernard Pauchon, presidente da Broadcast Networks Europe, e Michael McEwen, presidente da Media Asset Capital.
Cerca de cem brasileiros participaram do “Brazilian Meeting”, que aconteceu no dia 10 de setembro. “Foi possível assistir à palestra sobre sistema Hybridcast, que mesmo em um estágio muito embrionário, possui a chancela da NHK, que por si só desperta o interesse na audiência do evento”, explica Britto. Após o painel a delegação brasileira foi conduzida ao estande da NHK para ver a demonstração de UHDTV. A outra palestra considerada por todos de grande importância foi sobre a preparação da Fifa TV para a organização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O tema da Copa do Mundo enfatiza o momento único pelo qual passa o Brasil, que está recebendo cada vez mais atenção da mídia mundial para a organização dos grandes eventos esportivos assim como o desafio para a transmissão dos jogos pela Fifa TV.
Pelo evento IBC podemos afirmar que o mercado mundial está apostando no Brasil, não só em função dos eventos esportivos de 2014 e 2016. O Brasil está se destacando frente à conjuntura econômica mundial contrastante com o momento econômico brasileiro. “A TOTVS participou do painel “Hybrid Broadcast Broadband – Convergence and Convenience for the Consumer”, juntamente, com a rede NHK do Japão e a HISPASAT da Espanha, onde mostrou a possibilidade do uso do padrão de interatividade Ginga para a implementação de uma solução de convergência para TVs conectadas usando o modelo híbrido broadcast/ broadband para distribuição de conteúdo OTT. No Brasil já temos, em estado de produto, uma iniciativa similar. Podemos liderar mundialmente este processo, basta querer”, completa Britto.
O engenheiro brasileiro, Aguinaldo Boquimpani foi um dos palestrantes deste painel e o tema escolhido por ele foi “Ginga: An Open, Inclusive Platform for Content Distribution On Connected TV Infrastructure”. Boquimpani descreveu o grande potencial do uso do Ginga no ambiente das TVs conectadas para a distribuição de conteúdo OTT pelos radiodifusores, seja para aplicações de catchup TV, seja para divulgação de conteúdo original ou mesmo complementar à grade linear do radiodifusor ou da operadora de IPTV. “Foi surpreendente ver a platéia muito interessada no tema e na experiência brasileira do padrão Ginga. Respondi a perguntas bem diversas de participantes de países como a Coréia, Rússia e França.
Foi a primeira vez que o engenheiro participou do encontro da SET na IBC. Para ele é muito bom ver que a SET começa a ter a mesma tradição que já existe na NAB há alguns anos com grande sucesso. “Também foi uma grata surpresa ver uma apresentação sobre o sistema Hybridcast da NHK, que nada mais faz do que propor praticamente o mesmo tipo de solução híbrida broadcast-broadband que foi apresentada em nossa palestra”.
A importância da IBC
O vice presidente da SET, Olimpio Franco, gostou muito do evento este ano, que para ele, tem crescido muito e a diversidade de empresas e temas têm sido marcantes. Tinham três painéis destinados para o que eles chamam de What caught my eye! (O que chamou minha atenção!). Neles foram demonstrados os principais produtos da feira. Em sua maioria proveniente de pequenas empresas com idéias criativas.
Olimpio descreve um produto da empresa Vericorder que possui uma solução para usar I-Pod e I-Phone como câmera, gravador e editor de vídeo e áudio. É uma pequena carenagem que possui bateria adicional, encaixe para pequenas lentes de entrevista e outra de maior zoom. O produto possui um software próprio que permite editar as matérias no campo, com o próprio aparelho. Depois basta gravar para um pen drive ou enviar via 3G do próprio dispositivo. Outro ponto é a uma pequena luminária LED que se encaixa na parte superior desta carenagem e tem bateria separada e própria. Esta solução custava US$300,00. Está foi apenas uma solução, entre tantas outras interessantes para diferentes aplicações apresentadas no espaço.
Na opinião de David, a IBC é o mais organizado e importante evento do setor, que procura tratar os temas de tecnologia, regulamentação, novas oportunidades e ameaças que surgem, pela convergência tecnológica, de forma transparente e educativa.
Para a diretora de eventos da SET, Daniela Souza, a IBC possui um diferencial em relação a NAB. A conferência de Amsterdã tem uma abordagem mais institucional e de discussões amplas, já o NABShow é focado nos negócios. “Sinto que o objetivo principal é a transferência e debate de informações, que em algum momento será revertido em novos negócios. Este é o quarto ano que participo da IBC e a impressão se mantém a mesma. Os painéis são de nível elevado e muito bem estruturados”.
“Creio que ainda mais do que na NAB, que é muito voltada para equipamentos e tecnologia para grandes cadeias de radiodifusão, a IBC se preocupa mais com os aspectos de conteúdo e tecnologia e isso tem certamente um grande impacto no momento que estamos vivendo no Brasil com as questões sobre a ameaça ou oportunidade das TVs conectadas e as imensas dúvidas sobre como será a melhor maneira que os produtores de conteúdo podem encontrar para engajar os usuários da internet e dos dispositivos como tablets e smartphones”, opina Aguinaldo.
Diversidades dos temas O destaque principal do evento foi o uso da TV em múltiplas telas dentro da casa, principalmente, com a disseminação dos tablets e smartphones. A tendência se tornou realidade e a distribuição de conteúdo em múltiplas telas recebeu o foco e atenção geral. Outro destaque foi o Super Hi-Vision. A tecnologia de 3D começa a mostrar que o caminho é o 3D glassless (sem o uso dos óculos).
“Em minha área de atuação (interatividade), mais uma vez tivemos a oportunidade de revisitar os temas mais sensíveis e avaliar a evolução mercadológica dos mesmos. A convergência entre internet e TV, representada pela TV conectada e pelas soluções híbridas, é um caminho sem volta para o futuro da indústria de entretenimento. Foi muito importante acompanhar a evolução do IPlayer (BBC) e do projeto HBBTV”, conclui David.
A exposição mostrou uma clara disseminação de soluções 4K e até 8K. Os departamentos de P&D da NHK e BBC desenvolveram e expuseram transmissões e tecnologias de display em 8K. O Super Hi-Vision da NHK ganhou o cobiçado “Conference Award” pelo melhor paper do evento. A rede mostrou o Super Hi-Vision com exibições em telas gigantes de 6 metros de altura e com um sistema de som com 22.2 canais de áudio. A BBC planeja uma estréia para o público desta tecnologia durante as Olimpíadas de 2012 em Londres.
Durante o evento o tema sobre conteúdo – programação – distribuído através das diversas mídias de comunicações foi discutido e defendido por toda a comunidade. “Os profissionais falaram sobre o novo conceito chamado D-consumer (from tape, to tablet). Ou seja, em função da melhor malha de distribuição de cobertura de banda larga em suas regiões, a Europa e a América do Norte têm possibilitado a expansão das novas maneiras de distribuição, sejam através de Tablets, BroadbandTV, Mobile, entre outros”, lembra a diretora.
O impacto das redes sociais na televisão convencional também foi discutido em um painel exclusivo. Os números apresentados durante a palestra impressionaram os participantes. Existe um grande debate sobre como a audiência pode interagir com o conteúdo e com as redes sociais, e as soluções que compartilham recomendações para a programação ganharam destaque. “Há muito tempo, os radiodifusores são proprietários de “redes sociais” instantâneas que se formam ao longo da grade de programação e é necessário usar a tecnologia para adaptarem-se a este momento. Os radiodifusores não devem perder esta oportunidade”, afirma David.
Além das conferências
O evento conta com palestras, exibição de equipamentos e workshops em menor escala. Havia áreas de exposição com estandes menores dedicados a pequenas empresas e a novos projetos, pesquisa e desenvolvimento, com alto nível e de valor científico.
Havia 13 áreas distintas de feira. Nas áreas de 10 a 12 estavam os fabricantes e provedores dedicados na criação de sistemas de estúdios, produção de conteúdos, telecine, filmes e áudio. Nas áreas de seis a nove encontravam expositores dedicados a integração de sistemas, servidores e sistemas de automação, aplicações, gerenciamento de acervos e pós produção. Os pavilhões de um a cinco e 13 abrigaram os sistemas de distribuições de conteúdos, como os móveis, cabo, satélite, provedores de serviços, Broadcasters, ITV, IPTV, sistemas domésticos e banda larga
Uma parte dos fabricantes está tanto na NAB como na IBC, porém, o público deste último é bastante diferente, pois é freqüentado pelos profissionais da Europa central e leste, africanos, árabes e asiáticos e russos. Com relação às empresas de pequeno e médio portes muitos não participam da NAB.
IBC 2012
Para David Britto, é fundamental para os brasileiros a repetição do evento da SET na conferência IBC, assim como a escolha de temáticas significativas para o mercado brasileiro e em consonância com os destaques do próprio evento IBC 2012. Com as Olimpíadas de Londres sendo uma memória recente, certamente o tema dos eventos esportivos, principalmente, de 2014 e 2016 deverá ter ainda maior destaque. Mas, os radiodifusores e membros da SET devem continuar a destacar as soluções de convergência.