Além do HD!

Nesta segunda parte da cobertura do Congresso SET 2013 daremos destaque as tendencias e FoB TV (Future of Broadcast Television), o Broadband, aos desafios da rádio frente a digitalização e as mudanças que podem ocorrer com a migração da AM para o FM, segunda tela, e muitos outros temas nas 45 palestras em mais de 90 horas de debates realizados em São Paulo entre 19 e 22 de agosto passado.

Nº 137 – Outubro 2013

Por Fernando Moura e Francisco Machado Filho *

Reportagem – Congresso SET 2013 – Parte II

Um dos temas principais tratados no Congresso SET 2013 foi o FoB TV (Future of Broadcast Television), moderado por Liliana Nakonechyj. A iniciativa foi criada em abril de 2012 pelas principais organizações mundiais de TV, visando estabelecer para próxima geração um sistema de transmissão de televisão unificado.

O Comitê Técnico do FoB TV formou dois grupos de trabalho para delinear os objetivos do fórum: “Para estabelecer requisitos comuns para um novo padrão de transmissão terrestre, aplicável a dispositivos móveis e compatível com conectividade internet, Ultra HDTV e novos sistemas de codificação como HEVC”.

Na palestra ficou claro que o sistema Super Hi-Vision (SHV), que esta sendo desenvolvido pela emissora pública japonesa, NHK, tem como objetivo criar uma experiência mais intensa para o espectador devido a alta qualidade da imagem. O sistema possui uma resolução de 7680 X 4320 pixels, o que resulta em “imagens incrivelmente realistas”, além do áudio com sistema multicanal 22.2.
Yoshiaki Shishikui, da NHK afirmou que o sistema está sendo baseado na visão humana e sua capacidade de absorção de informações. Os testes estão em pleno desenvolvimento no Japão tanto que Shishikui apresentou um cronograma que chamou a atenção dos presentes. Espera-se para 2020 a primeira transmissão via satélite no sistema 8K.
Para Shishikui, o Super Hi-Vision desenvolvido pela NHK será o futuro sistema de transmissão e proporcionara aos telespectadores a sensação de realidade mais intensa. “O sistema de vídeo com 7680 x 4320 pixels proporciona imagens tão reais que os espectadores quase sentem que estão presentes nas cenas transmitidas e do sistema de som multicanal 22.2 produz um somem espaço tridimensional, que amplia a sensação de realidade e presença”.
No ano passado, a NHK apresentou uma grande amostra de SHV nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, em colaboração com a OBS e a BBC. “Reafirmamos que o sistema de audiovisual do SHV oferece ampla sensação de realidade para o público, de modo que se sintam como se estivessem nas instalações olímpicas, e que tem potencial de elevar a sensação do espectador a um novo nível. Após as Olimpíadas de Londres, as promoções para o início da realização de UHDTV foram aceleradas no Japão. Como uma força motriz, o Next generation Television and Broadcasting promotion Forum (NexTV-F) foi fundado em maio”.
Joe Seccia, da Harris, apresentou os estudos que estão sendo feitos para o desenvolvimento do sistema ATSC 3.0 com o mesmo objetivo do padrão japonês: “criar uma experiência ainda melhor que o HDTV para o telespectador. Essas novas possibilidades têm por objetivo agregar valor à transmissão broadcasting fazendo com que o negócio continue viável e seja estendido a toda cadeia de valor e uso eficiente do espectro”.
A moderadora da sessão, Liliana Nakonechnyj (SET/ TV Globo), disse à Revista da SET que na sessão “os presentes tiveram a oportunidade de verificar o que está sendo pensado e testado para a o futuro da televisão” e que as tecnologias estão estimulando este futuro a chegar bem mais cedo. Já que em definitiva, a questão parece ser: Qual o futuro da televisão? Será possível um padrão único de transmissão?

Os corredores do Congresso mostraram a importância do evento que reuniu em São Paulo 1270 participantes, a maioria brasileiros, mas com uma interessante presença estrangeira.

O secretário-executivo interino do MiniCom, Genildo Lins, ressaltou que a atuação irregular das retransmissoras é um crime: “A qualquer momento, a Anatel pode verificar que existe um serviço clandestino, lacrar a estação e abrir uma ação criminal. Isso é um problema para a população, que corre o risco de ficar sem o sinal de televisão”.
Liliana explicou que hoje, o FoB TV conta com 66 membros, incluindo os seus 13 fundadores. Estes desenvolveram a partir de casos de uso, 12 cenários tentando criar um “padrão global de broadcasting”; onde seja possível a recepção móvel de conteúdo local HD em qualquer lugar com dispositivo móvel (smart phone, tablet etc) com a robustez suficiente para usufruir dos contéudos; um uso eficiente e flexível do espectro mediante a transmissão co-canal e em canais adjacentes, serviços distribuídos em mais de um canal de RF. Ainda é precisa a interoperabilidade de redes mediante uma combinação de broadband e broadcast com sincronização de conteúdos e chaveamento seamles A TV do futuro precisa suportar serviços interativos com estrutura de comunicações bidirecionais; e múltiplos tipos de exibição: 3DTV, Multi-View, e Multi-Screen.
Liliana explicou, ainda, que é necessário criar condições para a utilização de UHDTV com áudio imersivo e target advertising. Além de possuir serviços interativos e personalizados; e acessibilidade, segundo é definida pelo relatório ITU-R BT.2207-1 que descreve como o broadcasting deve prover serviços para pessoas com deficiências (ex. Deficiências auditivas, visuais, cognitivas, idosos etc). Finalmente, a TV do futuro precisa enviar aos seus telespectadores alertas de emergência como os enviados durante o Tsunami acontecido no Japão em 2011 para alertar as pessoas ante desastres naturais.
Resumindo, para Liliana, a “arquitetura do FoBTV deve suportar todos os padrões existentes de DTV, futuros padrões harmonizados e novas tecnologias, bem como interfaces flexíveis para a colaboração de Broadcast e Broadband e serviços interativos”.
A nível local, o painel: Consumo: qual será o futuro da televisão brasileira? TV aberta, TV por assinatura, TV Web, vídeo na internet…? Trabalhou as transformações do mercado, as suas tendências e possibilidades futuras.
O palestrante Marcelo Coutinho (Portal Terra), falou sobre como a empresa está saindo do modelo do broadcast e entrando no modelo de consumercast, no qual o consumidor quer guiar a sua própria experiência. “O consumidor hoje não quer mais estar submetido à engenharia do software ou seja lá o que for”, explicou.
De acordo com ele, o que “nós vendemos não é conteúdo, mas sim a atenção das pessoas atraídas por ele. Assim, a saída é encontrarmos formas de otimizar a atenção do telespectador”. Ele também lembrou que o consumo de conteúdo pela internet já é maior do que através de revistas e jornais, que o tempo das pessoas navegando na internet já é maior do que assistindo TV e que quem faz as duas coisas ao mesmo tempo volta sua atenção para a internet. “Não adianta a gente pensar um meio versus o outro. Acho que cada vez mais a gente vai ter que pensar um jeito que os meios se integrem”, finalizou.
Thiago Guimarães, pesquisador INPI-CNPQ, mostrou como pode ser o futuro do consumo de TV e de anúncios a médio prazo, considerando produtos já patenteados por grandes empresas de tecnologias. As multiplaformas e a segunda tela permearam as discussões do painel. Todas essas novidades e mudanças estão transformando as carreiras e áreas, e levando, cada vez mais, à microespecialização.
O moderador Luiz Gurgel (SET/ TV Jornal PE) falou sobre como a TV aberta ainda domina o setor de publicidade diante de outras mídias, mas que, ainda assim, será necessário usar a criatividade e descobrir como complementar seu conteúdo nas multiplataformas, desafio que também faz parte do futuro da TV por assinatura.

Broadband TV x Broadcast TV
O painel “OTTs e TVs conectadas: harmonização de conteúdo. Broadcast x Broadband” moderado por David Britto, coordenador do Módulo de Mercado do Fórum SBTVD (SET/ TQTVD) debateu os desafios e potencialidades de integração dos dois sistemas de entrega de conteúdo. Foram apresentadas as experiências em HBBTV, sistema híbrido de televisão desenvolvido na Alemanha e o Hybridcast sendo desenvolvido pela NHK do Japão.
Além destes cases, o painel contou com a participação de Aguinaldo Boquimpani, consultor DTV, que apresentou dados sobre o consumo dos dois sistemas por uma parcela significativa da audiência que já está fazendo uso tanto do sistema broadcast quanto broadband e ao mesmo tempo. Ou seja, para Boquimpani, a simultaneidade e harmonização já aconteceu por parte do consumidor. Falta, agora, a indústria se adaptar a este novo comportamento.
Para Boquimpani o “impacto da internet na TV, apenas uma promessa por muitos anos, avança aceleradamente e está desafiando todo o mercado. Os consumidores estão mudando seu comportamento e o modo como assistem conteúdo, criando suas próprias agendas e utilizando diferentes dispositivos para mergulhar no conteúdo quando e onde quiserem. Os autores e produtores de conteúdos e os prestadores de serviços de radiodifusão devem encontrar novas estratégias para gerenciar a crescente demanda pelo consumo de mídias em multi- -plataformas, incluindo novas soluções para descoberta e entrega de conteúdo, consistência na experiência de consumo e melhor engajamento do consumidor para o sucesso do objetivo final de monetização”.
Christoph Dosh, da IRT, apresentou os padrões da HBBTV e suas funcionalidades utilizando o html 5. Afirmou que ainda não existe uma ligação entre o broadband e o broadcast nas telas das novas TVs conectadas, mas que esse é o futuro da televisão.
O HBBTV já está sendo utilizado por vários países da Europa, tais como: frança, Suíça, Áustria, Alemanha, Polônia e Holanda. Outros territorrios como o Reino Unido, Portugal e Rússia, estão fazendo testes e países como Austrália, Japão, China e alguns do continente africano estão interessados em conhecer o sistema.

O painel “Consumo: qual será o futuro da televisão brasileira? TV aberta, TV por assinatura, TV Web, vídeo na internet…?” trouxe ao congresso um discussão importante no contexto atual do mercado.

Até dezembro de 2012, disse Dosh, havia 1.4 milhões de dispositivos no mercado capazes de receber a HBBTV, e 59% destes dispositivos estavam conectados a internet. Para 2013, espera-se fechar o ano com 12 milhões de aparelhos aptos para a HBBTV e que destes, 8,5 milhões estejam conectados a internet.
Por fim, Masaru Takechi, apresentou a experiência da NHK na utilização do Hybridcast, que também faz a integração dos sistemas broadband e broadcast usando o html 5. Takechi apresentou experiências interessantes que o sistema permite em segunda tela ou conteúdo interativo e on demand via o sistema broadband, totalmente integrado ao conteúdo broadcast.
Segundo Takechi, a NHK sempre considerou que esse sistema hibrido era mais do que simplesmente um tocador de conteúdo, assim a emissora entende o sistema hibrido como uma prestação de serviços integrados ao broadcast. Com isso, vários modelos de negócios podem ser constituídos para monetizar os aplicativos. O lançamento da versão hibrida ocorreu no dia 2 de setembro de 2013, e esse serviço teste poderá ser acompanhado pelos receptores já disponíveis no mercado.

Televisão: oportunidades e ameaças
Fernando Bittencourt (SET/ TV Globo) moderou o painel “Radiodifusão: oportunidades e ameaças”, e contou com a participação de Gordon H. Smith, CEO e presidente da NAB. A sessão de perguntas e respostas moderadas pelo repórter da TV Globo, Álvaro Pereira Júnior, esteve direccionado para que os presentes pudessem ter a possibilidade de comparar a atuação do setor broadcasting norteamericano frente aos desafios que a radiodifusão brasileira está enfrentando.
Os temas abordaram desde a experiência de switch-off nos Estados Unidos e as políticas adotadas pelo governo americano até o posicionamentos das emissoras de TV quanto aos novos players de distribuição de conteúdo como Google TV, Apple TV e os serviços OTT, como Netflix.
Na opinião de Smith, a grande força do sistema de radiodifusão é o seu conteúdo e este conteúdo é grátis. Esse é um argumento muito forte que deve ser usado pelas emissoras, pois a TV como um veículo de massa, pode atingir um público que o broadband não pode alcançar ou se tentar alcançar terá um investimento muito grande a ser feito. “A transmissão para os brasileiros é grátis, mas o broadband você paga. Você realmente vai pedir que cada um pague pela televisão? De graça para as massas e muito melhor do que pago para as massas”, afirmou Smith.
Na sequência Bittencourt corroborou esta ideia afirmando que o ”modelo broadband não pode substituir tudo que o broadcast entrega para a audiência. É importante que a gente entenda qual a vocação de cada plataforma. O sistema broadband e um conteúdo sob demanda com um número limitado de usuários, investindo conforme aumento de usuários. No broadcast o conteúdo é massificado. [É entregue] para um número ilimitado de usuários. Um investimento independente do número de usuários”.
Ponto comum entre os dois mercados é o debate pela taxação do must carry. Nos Estados Unidos as emissoras negociam diretamente com as operadoras de TV por cabo o valor do conteúdo capturado por elas. Bittencourt lembrou que na TV Digital essa possibilidade está aberta para as emissoras. Um tema que ainda será bastante discutido no Brasil.

(Der a esq) Gordon H. Smith, CEO e presidente da NAB; o repórter da TV Globo, Álvaro Pereira Júnior e Fernando Bittencourt (SET/ TV Globo) participaram do painel “Radiodifusão: oportunidades e ameaças”.

Para Smith, estamos em um tempo de mudanças. “Claramente a internet é uma tecnologia que destrói, é o génio que sai da lâmpada, ele esta aí, então as emissoras tem de pensar no cenário e entender o poder que eles tem. O primeiro é o valor do nosso conteúdo que vale muito dinheiro porque é muito caro produzir uma TV muito boa, e isso é algo que as emissoras fazem sozinhas e a internet faz só em parte. Por isso, o conteúdo vale. Digo às emissoras que se alguém quer o seu conteúdo, tem de pagar por isso, é preciso negociar para obter recursos e por isso é preciso negociar para coabitar com elas”.

Rádio: futuro e potencialidades
O Congresso SET 2013 dedicou muito espaço ao fenómeno da rádio, a migração proposta pelo governo para a FM e a cobertura dos grandes acontecimentos esportivos que estão chegando ao País, e o futuro das emissões de rádio.
No painel, “modelos de produção no rádio: Copa do Mundo, externas e estúdios IP”. O debate levantou questões sobre infraestrutura, questões técnicas, cobertura de eventos e uso de novas tecnologias nas transmissões.
Na área técnica e de infraestrutura, as discussões abordaram o uso de codecs, modelos de transmissão, medidores de volume de áudio e outras transformações surgidas com a mudança do sinal analógico para o digital. Tomaz Alonso, do Sistema Globo de Rádio, alertou que a rede não cresceu só em sinais, mas também em pontos de distribuição com as novas plataformas.
Tomaz explicou que trabalha em um projeto que tenta “revisitar utilização dos ambientes de produção; reformar e ou reconfigurar conforme necessidade; estudar distribuição de sinais dentro do centro de produção; e escolher novas consoles de áudio”.
Para Tomaz é necessário estabelecer um padrão de interoperabilidade entre dispositivos de áudio IP, e realizar avaliação dos equipamentos das emissoras, que permitam trabalhar com consoles padrão broadcast: barramentos e fades; diversos sinais na planta de produção; outras plataformas de distribuição ao vivo; sinais dinâmicos (Estúdios X Emissoras X Programas); e roteamento.
No jornalismo, o celular se tornou um equipamento fundamental durante as coberturas, pois proporciona ao repórter mobilidade, torna possível que o jornalista esteja presente onde os fatos estão ocorrendo. Depois, se o assunto for relevante ou tiver desdobramentos, é possível mandar uma equipe de externa.
As coberturas da Copa das Confederações deste ano e da Copa do Mundo em 2014 foram destaque nas discussões. Segundo Michele Nali, do Comitê Organizador da Copa de 2014, as únicas exigências da FIFA, além da estrutura dos estádios, foi em termos de cobertura. Assim, o 3G insatisfatório é um ponto que preocupa a organização. “Não há, e não há mesmo, nenhum pedido da FIFA em relação à infraestrutura do país. Agora, as telecomunicações são outra coisa”, esclareceu. Apesar do 3G ser um problema, isso deve afetar diretamente apenas os jornalistas, mas não irá influenciar nas transmissões.
Cláudio Carneiro, da Rede Itatiaia, disse aos presentes que na Copa da África do Sul, em 2010, a cobertura se realizou com a combinação entre conexão por IP (2 MBps) e circuito V.35 (circuito Digital 128Kbps) via Embratel; e que nos Jogos Olímpicos de Londres 2012 foi realizada com uma combinação de conexão por IP (50 MBps) e linha ISDN. O que se fará na Copa da 2014 esta ainda por se definir, porque no País há muitos condicionantes.

Neste painel foram discutidos os desafios que existem em uma cobertura de Copa do Mundo, desde a definição do escopo da cobertura, passando pelas etapas de contratação das facilidades com a empresa que gerencia todo o processo de transmissão (HBS), até a execução da cobertura propriamente dita.

Isso porque, segundo Carneiro, existem “limitações para cobertura no Brasil” devido a “baixa qualidade de 3G; qualidade e preço de ADSL, IP Connect; disponibilidade e preço de acomodação para acreditados e não-acreditados; e dificuldade de transporte aéreo, rodoviário e urbano”.
Pela sua parte, Cauê Franzon, do Grupo RBS explicou como realizar externas e que tipo de conectividade, mobilidade e modelos de operação são utilizados pelo grupo. Para ele, a melhor solução em esporte quando existe conexão com estádios é “fibra óptica, rádio enlace e IP” porque esta garante que o sinal chegue aos ouvintes.
Em outro painel foi discutido o contexto das rádios on- -line e terrestres, e nele os palestrantes mostraram como os modelos novos e tradicionais de rádio podem coexistir.
Mediado por Marco Túlido, do Sistema Globo de Rádio, o painel discutiu o contexto atual das rádios terrestres e das suas concorrentes on-line no Brasil, e contou com a presença destacada de Gordon H. Smith, presidente e CEO da NAB.
André Freitas, da Comscore, fez uma grande contextualização de como o Brasil se insere no mercado on-line. Sendo a sétima maior audiência no mundo, as possibilidades para aqueles que querem investir nesse setor são muitas.
“O Brasil hoje tem a sétima maior audiência de internet do mundo. Está à frente da França, do Reino Unido e é o líder da América Latina, seguido do México”, disse Freitas, para quem “o forte do brasileiro é a mídia social. Não só na internet. Isso pode ser observado desde o áudio, com a grande participação dos ouvintes em programas de auditório. Isso apenas se intensifica pelas possibilidades da internet. O Google é a maior propriedade on-line do Brasil, seguido pelo Terra e UOL. Os brasileiros estão altamente envolvidos em conteúdo social. O Orkut ainda é a segunda rede social mais utilizada. O twitter fica em terceiro. Facebook em primeiro. Ask.FM em quarto lugar. Por isso a rádio pela internet pode ser um caminho”.
Sérgio Percope (.mobi) mostrou que a rádio encontra suporte nessa plataforma, surgindo via streaming e com muitas possibilidades para smartphones e tablets. Enquanto as rádios via streaming estão diante de muitas opções inovadoras de transmissão de conteúdo, aquelas tradicionais que ainda transmitem por sinal terrestre enfrentam alguns problemas.
Segundo Gordon Smith, um dos maiores problemas enfrentados pelas rádios tradicionais é não estar nos smartphones e tablets, que “são as plataformas do século XXI”. As rádios tradicionais ainda são a forma mais confiável de comunicação devido a sua possibilidade de se manter no ar em situações de crise. Nos Estados Unidos, a NAB está trabalhando para que os celulares voltem a ter receptores de rádio terrestre. “Como política pública, a inclusão de um chip de rádio nos celulares e tablets é muito importante. É uma forma de segurança pública e garantia à informação”, afirmou.

O painel “Cobertura eficiente: a posição da antena de transmissão na torre causa deformação no diagrama de (ir) radiação: mito ou verdade?”, moderado por Valderez Donzelli (SET/ ADTHEC) debateu como será feito o compartilhamento das torres que será o ponto chave nas instalações de TV Digital.

Smith ainda acrescentou que as estações de rádio precisam estar cientes de que estão sendo desafiadas. Os legisladores estão tão focados nos novos recursos on-line que se esqueceram da importância do rádio tradicional. Fica a cargo dos próprios comunicadores trabalharem em conjunto com os políticos na busca por soluções. “Parte da função de um comunicador é se reunir com legisladores para deixá-los cientes do que você está fazendo para educar e informar a população, e convencê- los a investir na sua área. Não presuma que eles valorizam o que vocês fazem porque eles não sabem o que vocês estão fazendo”, alertou o presidente NAB.
Para Smith, “os grandes desafios do rádio nos Estados Unidos estão relacionados com a internet” já que no país muitas rádios “se estão voltando para a prática do streaming via internet ao invés do rádio tradicional. A grande pergunta para as emissoras de rádio é: “devemos fazer streaming ou não”.
Outra grande questão para o rádio é, segundo o CEO da NAB, tentar conseguir chips de rádio introduzidos em aparelhos como o celular. A maior parte das pessoas nos Estados Unidos têm acesso a rádio em casa ou no carro. “As estações de rádio precisam estar cientes de que estão sendo desafiadas. Pelos celulares, é possível ter rádio através de streaming, mas não rádio terrestre. Eles (smartphones) são a plataforma do século XXI. Por isso, nos Estados Unidos, a NAB está trabalhando para que os celulares tenham receptor de sinal de rádio terrestre nos celulares”.
Durante a tarde de quarta-feira, 21 de agosto, o Congresso SET 2013 promoveu o painel “Alta performance na produção e distribuição de rádio: qualidade de áudio e cobertura eficiente” moderada por Eduardo Cappia (SET/ EMC Projetos).
O consultor José Cláudio Barbedo fez uma crítica à falta de qualidade de áudio no rádio atual. As pequenas, porém inúmeras, alterações no áudio (clipping) que se tornaram possíveis com os estúdios digitais estragam a qualidade do áudio. “E no final, o que sai não é som”, afirma.
Outro assunto tratado foi a acústica para estúdios de broadcast, que precisa levar em consideração fatores estéticos e comerciais além do fator acústico. Renato Cipriano (WSDG) lembrou que cada usuário tem uma demanda, mas que tudo é possível, desde que seja feito com base em critérios. “É muita coisa que você tem que pensar. E quando você começa a fazer isso dentro de um critério acústico, você não pode errar, porque é tudo muito caro”, explica.
O assunto final do painel foi a migração das AMs para FM. Como pontos centrais da discussão, a necessidade de fortalecer o setor e a importância do conteúdo das AMs. “Nós queremos preservar isso, queremos que isso não se perca, queremos preservar a informação regional”, esclareceu Monique Curvinel, gerente de Tecnologia da Abert.
Para Monique, o maior problema é a “desconsideração da diferença de propagação entre canais no início e no fim da faixa” é no momento em que as novas plataformas avançam no mercado de mídia, a transição das emissoras de Ondas Médias para a faixa de FM deve ser encarada como uma oportunidade de fortalecimento do setor.
“Temos que criar um ecossistema saudável no setor para que o mercado consiga absorver a migração. Queremos que essa mudança fortaleça o Rádio. Queremos que todos saiam ganhando”, disse a gerente de Tecnologia da entidade para quem a necessidade de preservação de conteúdo é a principal razão pela qual a Abert e as entidades estaduais de radiodifusão defendem a migração das rádios AM, prejudicadas cada dia mais por ruídos e interferências. “Seja nos grandes centros ou no interior, precisamos salvar as informações locais produzidas pelas rádios de Ondas Médias”, advertiu.

O painel Beyond HD, tratou sobre o novo formato de produção, o 4K que será utilizado durante a Copa do Mundo de 2014 a realizar-se no Brasil para a transmissão da Final a ser disputada no Estádio do Maracanã..

Na palestra, a engenheira detalhou as principais premissas legais e técnicas em negociação com o Ministério das Comunicações. Uma das mais importantes é que a migração será facultativa. “Essa é uma decisão de business. Em primeiro lugar, a rádio deve saber se a mudança irá ou não beneficiá-la. Já sabemos que nem todos vão querer migrar”, explicou.
Segundo ela, a adaptação da outorga estará condicionada ao pagamento do valor correspondente a diferença entre os preços mínimos da concessão na respectiva localidade; à regularidade fiscal, tributária e trabalhista; e à viabilidade técnica. “É uma mudança de serviço e não sabemos ainda quanto será esse valor”, disse.
A mudança de enquadramento deverá proporcionar à outorgada cobertura equivalente em Ondas Médias, ressalvadas situações de inviabilidade técnica. “Ninguém espera que a FM atinja a mesma cobertura que o radiodifusor tem hoje em AM, mas vamos tentar ao máximo equivaler essa cobertura”, destacou. Ela acredita que essa correlação seja determinada com base no enquadramento de classe da emissora.

Fibra óptica na TV Digital
A palestra “Sistemas de recepção de DTV: antenas” moderada por Eduardo Bicudo (SET/EBC) discutiu a utilização de fibra óptica na distribuição da TV Digital em antenas colectivas. Nesta sessão, foram abordados a recepção e distribuição de canais adjacentes digitais, filtros, conversores amplificadores. A palestra apresentou de forma prática, a fusão, a emenda mecânica, a medição, a conectorização, entre outros conceitos.
Ainda, em relação a fibra óptica se discutiram as suas vantagens, desvantagens, princípios de funcionamento, tipos, construção e tipos de cabos ópticos. Ainda, atenuação e dispersão na fibra óptica. Nesse sentido, os profissionais debateram os tipos de luz: LED, laser, comprimento de onda. Os conectores com seus respectivos tipos e polimentos. As emendas de limpeza, decapagem, clivagem, emenda por fusão, mecânica, conectorização. E a instalação de fibra óptica explicando os cuidados, DIO, DGO (caixas de passagem).
Ainda, os palestrantes trouxeram ao Congresso os principais sistemas de recepção utilizando a antena parabólica em grandes condomínios, onde a TV Digital ainda não chegou, sistemas com antena Log periódica com conversores para locais onde a TV Digital já esta operando. Aplicações em edifícios e o problema do desligamento do sistema analógico.
No painel “Cobertura eficiente: a posição da antena de transmissão na torre causa deformação no diagrama de (ir)radiação: mito ou verdade?”, moderado por Valderez Donzelli (SET/ ADTHEC) tentou esclarecer aos participantes como depois das estações de grande porte, dentro do cronograma do switch-off da tecnologia analógica, os profissionais no Brasil terão nos próximos anos o desafio de projetar e instalar um número superior a 5000 estações de médio e pequeno porte, entre retransmissoras e geradoras locais. Em paralelo, aconteceram também os projetos e implantação para a rede de frequência única (SFN) e Gap Filler.
Para Valderez, “um dos principais componentes do sistema de transmissão para TV Digital é a antena de transmissão, que determina a geometria da área de cobertura. A escolha do tipo de antena é fundamental, porem a sua instalação na torre é tão importante quanto para garantir a cobertura e a confiabilidade do que foi projetado”, assim, segundo ela, o “compartilhamento das torres será o ponto chave destas instalações. Como decidir: utilizar a torre existente; rearranjar a disposição das antenas na torre existente ou dimensionar uma nova torre para as novas antenas”.
No painel, Mario Lensing (Kathrein) defendeu que enquanto nos preocupamos com os transmissores e outros equipamentos técnicos, não gastamos o devido tempo pensando na antena, sendo que é através dela que todo o gasto da transmissão vai sair. Outro fator relevante é a vida longa de uma antena, ou seja, é preciso projetá-la pensando a longo prazo. A importância da antena passa pela preocupação com o serviço que você quer prestar e o que o cliente espera de você. “O projeto junto com a antena é muito importante, senão você vai investir na transmissão e não vai adiantar”, explicou.
Os palestrantes falaram sobre a localização da antena na torre e sua influência no diagrama de irradiação. Também foram abordados temas como a imprevisibilidade da antena e o tabu que é dividir o topo da torre com outras emissoras que não sejam do mesmo grupo no Brasil. Encerrando, Tomasz Borodo (RFS) trouxe exemplos de antenas e torres adequadas para cada tipo de transmissão e para números variados de broadcasters. Além disso, questionou sobre a necessidade de investir em novas estruturas de torres.

As novas tendências da mídia
O painel moderado por Cláudio Eduardo Younis (SET/ Eletro Equip), mostrou as tecnologias disponíveis, como as empresas de broadcasting estão trabalhando para trazer inovação aos seus consumidores e quais as tendências no futuro próximo da mídia digital. Participaram do painel os palestrantes Salustiano Fagundes, HXD Solutions; Hugo Marques, da Cisco; Fernando Albuquerque, da RTP; João Padilha, da Net e Maurício Vieira, da Civolution.
Entre as principais novidades de inovações para o futuro, os aplicativos para conteúdo on-demand e as plataformas de Segunda Tela parecem ser as opções mais próximas e promissoras. Segundo Fernando Albuquerque (RTP), a tendência é que o usuário peça cada vez mais das empresas de broadcasting. A experiências de assistir à TV deve se tornar cada vez menos passiva. Assim, as tecnologias que permitem uma maior participação do usuário na experiência de assistir TV devem fazer sucesso com os telespectadores. “O consumidor mudou de perfil. Eles têm um nível de engajamento maior agora”, concordou Salustiano Fagundes (SET/HXD Solutions).

O painel moderado por Cláudio Eduardo Younis (SET/Eletro Equip), abordou as tendências tecnológicas e comportamentais associadas a mídia digital.

Enquanto Hugo Marques da Cisco mostrou o Videoscape, seu novo aplicativo de convergência de conteúdo em telas de TV, smartphones e tablets, Maurício Vieira (Civolution) explicou um bom exemplo de empresa engajada nos trabalhos com tecnologias de Segunda Tela. Essas plataformas permitem que as empresas tenham uma relação one-on-one com a audiência.
Para Vieira é importante ter em conta que o “fenômeno da social TV está crescendo em todo mundo” o que esta gerando, em países como os Estados Unidos, onde o Facebook e o Twitter dominam Social TV, se crie uma maior “fragmentação das plataformas de Segunda Tela” que podem gerar através de sincronismo e interação com a Segunda Tela, “novas oportunidades de negócios e entretenimento aprimorando a experiência do telespectador”.
Assim, a entrega de mais conteúdo e a possibilidade de engajamento permite a fidelização do telespectador e, assim, o aumento da audiência. “Foi feito um aplicativo de Segunda Tela de “The Walking Dead” na Inglaterra e observou-se um aumentou na audiência do programa na TV em 75%”, exemplificou Vieira para quem “reconhecimento automático de conteúdo” na Segunda Tela que permite através da sincronização da Segunda Tela com a televisão uma “monetização e interactividade em tempo real” dos conteúdos produzidos.
Ainda, o painel “Mídias e Conectividade: como a internet, as redes sociais, a simultaneidade e a convergência das mídias estão definindo um novo cenário?, foi realizado em forma de debate com a moderação de Roberto Franco, presidente do Fórum SBTVD e diretor de assuntos regulatórios do SBT discutiu como a internet, as redes sociais, as novas tecnologias e as convergências destas mídias estão definindo um novo cenário no setor.
Assim, segundo Franco, cada vez mais pessoas estão conectadas e interconectadas, opinando, intervindo, participando, produzindo e compartilhando conteúdos, num patamar de interação nunca antes imaginado.
“Há maior voracidade na busca de informação e entretenimento e, ao mesmo tempo, uma dificuldade crescente em identificar o que é relevante e acreditável no emaranhado de meios e abundância de informação. Os hábitos estão mudando. A forma com que se relacionam e se conectam entre si, com as marcas, conteúdos e meios não são mais os mesmos”.
Juliana Sawaia (IBOPE) aportou dados referentes a uma ampla pesquisa que o Instituto realizou com o objetivo de conhecer o padrão de comportamento da audiência e sua conectividade com outras plataformas e ferramentas de compartilhamento. E os números impressionam já que 55% dos brasileiros consomem TV e internet simultaneamente e muito dessa simultaneidade está no crescente acesso aos tablets, smartphones e outros celulares com acesso à internet.
“Simultaneidade e convergência são palavras-chaves no novo contexto mediático, onde os meios são consumidos nas mais variadas combinações e formas”, afirma Sawaia. O cenário atual é “favorável à simultaneidade” porque a maioria das pessoas “habitualmente consomem dois ou mais meios ao mesmo tempo” pelo que o desafio de hoje é captar a atenção desse público e traze-lo pelos conteúdos.

Aguinaldo Boquimpani, consultor DTV disse aos presentes que “a indústria de radiodifusão em todo o mundo corre para absorver e se ajustar a essa revolução que é a internet e começar a explorar mais intensamente os novos caminhos da integração”.

A pesquisa também demonstra que o consumo de mídia tradicional ainda é muito superior ao de mídia digital. Porém, o rápido e constante crescimento da primeira é que tem chamado a atenção, além do alto consumo de vídeos.
Segundo Juliana, a “experiência e relacionamentos são palavras-chave. A internet atua no processo de decisão como facilitadora da interação e provedora de informação”, hoje “a opinião das pessoas se tornou mais forte por causa da união promovida pelas redes sociais”.
Por outro lado, o painel “WebTV – Como as novas plataformas de tecnologia redefinem nosso consumo de vídeos”, mostrou como esta mudando o consumo de vídeos com as novas tecnologias.
Segundo os palestrantes, as multiplataformas dominam as discussões já que as pessoas estão consumindo cada vez mais conteúdos em mídias em duas ou mais telas. Esse consumo acontece de forma descontrolada, pois surge de acordo com a evolução de acesso das pessoas às tecnologias, como aparelhos, banda larga e internet móvel.
Esse uso fragmentado torna cada vez mais difícil manter a atenção do usuário e lança a necessidade de desenvolvermos novas ferramentas para alcança-lo. “Essa é a nossa realidade e nós precisamos preparar o nosso conteúdo para essa realidade”, comentou Sandra Gimenez (Youtube).
O contexto em que a pessoa está inserida influencia a escolha do aparelho que será usado, bem como a atividade a ser realizada influência na escolha da tela. Os novos aparelhos impulsionaram as mudanças de hábito de consumo dos telespectadores: a TV é a tela mais consumida de forma simultânea, as atividades mais comuns enquanto uma pessoa assiste TV é usar a segunda tela para fazer buscas e comentar nas redes sociais o que está assistindo.
Os consumidores multitarefas querem ter uma experiência personalizada e adaptada ao seu estilo de vida. Segundo Sebastiano Fagundes (HDX), um novo ecossistema está sendo formado, um ecossistema onde TV e internet começaram a se misturar. “Mas não é a morte da TV como alguns previam, é o início da nova era de ouro da TV e essas tecnologias é que vão ajudar”, afirmou.

Beyond HD
O painel Beyond HD, tratou sobre o novo formato de produção, o 4K que será utilizado durante a Copa do Mundo de 2014 a realizar-se no Brasil com a transmissão da final a realizar-se no dia 12 de julho de 2014 no Rio de Janeiro.
“Vídeo é fácil, áudio é difícil e comunicação é impossível”. Com esta pequena brincadeira, Peter Symes, da SMPTE, iniciou sua palestra durante a sessão. O investigador discorreu sobre a produção e distribuição do sistema 4K que já desponta como a evolução do sistema HD de televisão.
Durante a Copa das Confederações 2013 realizada no Brasil e notíciado pela Revista da SET (Veja edição 134), 4 jogos de futebol foram gravados no sistema 4K como tese para a realização da Copa do Mundo em 2014. Contudo, como afirmou Symes, o sistema de captação e produção em 4K vem atendendo a indústria de forma satisfatória, mas a distribuição deste conteúdo por meio da radiodifusão ainda requer uma padronização que impede que as emissoras invistam neste novo formato aguardando os padrões standard para a radiodifusão.
“Quanto melhor a imagem, mais sensível e perceptível fica o que não está correto”, afirmou Symes e várias definições como codecs, hertização, e principalmente, definições de áudio ainda dependem de testes para que possam ser adotados.
Em seguida, Wilson Almeida, da TV Globo, disse que acredita que o mesmo salto que a TV analógica foi obrigada a dar em termos de produção, cenário etc. também deverá ser dado em relação ao HD para o 4K, obrigando os profissionais de televisão a rever novamente as regras de produção de TV, não apenas para o esporte, mas também, para o entretenimento.
Para Raymundo Barros, também da TV Globo, dois objetivos da sessão foram alcançados. Primeiro o status dos processos dos padrões de 4K que estão sendo estabelecidos pela indústria e, segundo, compartilhar com os radiodifusores estas experiências em 4K e 8K e quem em breve se tornarão o novo padrão da indústria televisiva.

Fernando Moura
Revista da SET.

Colaboraram nesta reportagem:
Lucas Hidalgo Esteves e
Marcela Elisabete Malossi Antunes