Telefonia e emissoras de TV debatem problemas de interferência no sinal de TV Digital

Enquanto de um lado as empresas de telefonia buscam maior espaço no espectro, do outro as emissoras reclamam de interferência no sinal da DTV e falta de linhas de financiamento na radiodifusão.

A palestra “Normas & Regulamentações 700 MHz – Oportunidades de Compartilhamento da Banda Larga e da Televisão”, moderada por Fernando Ferreira (SET/ REDE BAND) abriu o dia de palestras na sala 11 da 26ª edição do Congresso SET, realizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).

A interferência que pode ocorrer entre a banda utilizada pelo sinal da TV Digital e a futura internet banda larga 4G no Brasil esteve no centro das discussões. De um lado um dos principais representantes de telefonia no Brasil, António Carlos Valente Silva, presidente da Telefônica Vivo Brasil, defendeu a integração dos serviços de telefonia e TV e ressaltou que o novo modelo de distribuição poderá possibilitar um compartilhamento de infraestrutura.

Do outro lado Walter Vieira Ceneviva, vice-presidente da Rede Bandeirantes, apontou experimentos já realizados que comprovaram que o uso da banda de 700MHZ pela telefonia móvel vai interferir no sinal da televisão digital. “A melhor experiência do consumidor pode estar ameaçada caso esses problemas não sejam resolvidos de maneira completa” destacou.

Segundo ele, a Anatel admite a probabilidade de interferência, uma vez que por isso criou as normas de mitigação, “chama mitigação, atenuação do problema porque não há hipótese de eliminação. Temos em torno de 60 milhões de aparelhos de TV que não estão preparados pra conviver com esse sinal 4G, o que iremos fazer com eles?”. O vice-presidente lembrou ainda que faltará espaço no espectro para a implantação do 4K no Brasil e ainda reclamou da falta de incentivo nas linhas de financiamento voltadas para os radiodifusores.

Antonio Carlos, da Vivo Brasil, lembrou que no ano da copa o país bateu recordes de tráfego de dados. “Foi a copa da selfie, a copa da imagem, e isso deixa claro pra onde estamos caminhando. É fato que sempre iremos precisar de mais espectro, de aumentar a capacidade de fornecimento de dados, então essa é uma questão que sempre teremos” destacou Antonio.

Patrícia Brito de Ávila, secretária dos Serviços de Comunicação (MINICOM) destacou os principais requisitos que devem ser preenchidos para que o sinal de televisão analógico seja definitivamente desligado no Brasil. “Dentre os critérios estabelecidos está o de que 93% da população em geral tenha acesso ao sinal da TV Digital. Esse monitoramento vai ser feito com base em pesquisa anual realizada pelo IBGE” explicou.

Além disso, Ávila lembrou que o governo vai fornecer um decodificador para que famílias cadastradas no programa Bolsa Família tenham acesso ao sinal digital. O vice-presidente do Grupo Bandeirantes, Antonio Carlos, pontuou que há também uma população que não faz parte do programa Bolsa Família, e que também precisará fazer aquisições de novos decodificadores de sinal, “isso representa gasto para essa parcela da sociedade”.

Patrícia Brito de Ávila – Secretária dos Serviços de Comunicação, fala sobre as prioridades para a digitalização da TV

O vice-presidente da Samsung Benjamin Sicsu, ressaltou que a distribuição de decodificadores para que a população capte o sinal digital não vai proporcionar ao espectador uma experiência completa que pode ser oferecida com a qualidade da DTV. “O que vai mudar essa experiência é o equipamento que ele assiste”, enfatizou.

Devido a publicação do edital para o leilão dos canais de 52 a 69, correspondente à faixa de 4G, as discussões percorreram esse assunto por várias vezes. Jarbas José Valente, Conselheiro e Vice-Presidente da ANATEL fez uma apresentação de alguns pontos do edital de leilão da faixa de 700MHz. Segundo Valente, todos os passos dados pelo governo para o fornecimento da concessão estiveram em pauta de importantes pesquisas desenvolvidas pela a agência reguladora.

“É uma quantidade muito significativa de aparelhos. Em torno de 400 radiodifusores, 1080 canais, 14 milhões de set-top-boxes, e mais uns 13 milhões de filtros a serem instalados nas casas brasileiras” argumentou Valente.

O Congresso terá 44 sessões e 220 palestrantes distribuídos em 4 auditórios simultâneos, em um fórum que congrega um grupo seleto de mais de 1.600 profissionais que discutem as questões mais relevantes do setor intensamente durante um período de 4 dias.

O evento reúne de 24 a 27 de agosto de 2014 no Pavilhão Azul do Centro de Convenções e Exposições Expo Center Norte em São Paulo, especialistas do Brasil, Estados Unidos, Japão, Europa e América Latina, que discutem os principais aspectos da produção, transmissão e distribuição em TV, além de temas relacionados a vídeo, cinema, rádio e internet. Entre os temas destacados está o switch-off da TV, as interações entre TV e Internet, os desenvolvimentos tecnológicos da Copa do Mundo e muitíssimos outros temas de atualidade da indústria.

* Por Antonio Araujo, mestrando UFSCar

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