Disputa por espectro é um problema global

Demanda inflacionada nos Estados Unidos, congestionamento no Japão, indefinições na Europa. Todos aguardam a conferência da UIT em 2015 em relação ao uso do espectro para a televisão terrestre.

A palestra “Transmissão e distribuição – SPECTRUM: panorama mundial”, moderada por Ana Eliza Faria e Silva (SET/TV GLOBO) movimentou o terceiro dia da 26ª edição do Congresso SET, realizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).

Eliza iniciou a sessão lembrando que de um importante acontecimento que irá ocorrer em 2015 e que impactará todo o mercado de radiodifusão mundial: a conferência da UIT. A demanda por espectro para oferta de banda larga móvel tem levado a indústria Broadcast e as Telecom a disputarem a já congestionada faixa destinada aos serviços de radiodifusão. Esta decisão da UIT é muito importante, pois poderá afetar até mesmo os serviços de satélite da Banda-C

Masahiko Fujimoto, Vice diretor geral da ARIB (Association of radio industries e businesses) entidade responsável pelos relatórios e padrões técnicos no Japão demostrou sua preocupação no atual momento da radiodifusão do Japão no que diz respeito às demandas do espectro. Fujimoto apresentou uma extensa gama de dados que comprovam a situação delicada de seu país. A faixa de 470-698 possui hoje 1200 transmissores e o espectro está congestionado, esta faixa está destinada a TV terrestre e pode ser destinada ao serviço móvel, em especial as faixas de baixa frequência”, disse.

A Faixa 698-710 também está aloca para DTTB, que segundo Fujimoro é necessária, principalmente no fornecimento do serviço On-seg. O palestrante relatou um acontecimento ocorrido durante o Tsunami de 2011 que salvou 40 mil vidas durante o desastre. Policiais que estavam acompanhando as informações pelo sistema On-seg retiraram os passageiros das composições dos trens de uma estação antes que as ondas chegasses. O sistema terrestre em países com essas características é essencial para a população.

Logo após, Roland Beutler (EBU) apresentou um panorama histórico do que está se passando na Europa, a partir de 2006 tratando dos dividendos digitais e a visão dos radiodifusores sobre as demandas do espectro em território europeu. Bleutler chamou a atenção para que as discussões iniciais não contemplaram a oferta de 4G na faixa destinada a TV terrestre, porque naquele tempo o sistema ainda não estava disponível, o que gerou novas normas posteriores. Atualmente, muitos países que já adotaram a faixa de 8MHz com canais alocados para a TV terrestre entre em conflito com a oferta do LTE. A EBU espera a conferência em 2015 e não sabe o que virá.

Tim Farrar, analisou os dados que serviram de base para as tomadas de decisão nos Estados Unidos. Dados inflacionados, segundo Farrar, que estão permitindo que as empresas de Telecom justifiquem a necessidade cada vez maior de faixas, o que resultou na tentativa de uso compartilhado pelos dois setores que afirmou ser impossível de ser operado. Mesma opinião de Bleuter e Paulo Balduino (SET/Abert), que tratou do cenário brasileiro. Balduino lembrou que o plano de compartilhamento é na verdade uma armadilha, pois cada vez mais as empresas de Telecom vão pressionando a radiodifusão até que acabe por vez com o uso pelo setor. “Essa decisão dos Estados Unidos e Canada na verdade se trata de uma readequação do uso da faixa. Uma política pública e já anunciada específica do caso americano”, afirmou Balduino.

Ao final da sessão a moderadora Ana Eliza, afirmou que de tudo que foi dito o setor “precisa se envolver mais e estar mais ativo nessas discussões que envolve o espectro, pois decisões importantes serão tomadas em apenas 1 ano.

O Congresso terá 44 sessões e 220 palestrantes distribuídos em 4 auditórios simultâneos, em um fórum que congrega um grupo seleto de mais de 1.600 profissionais que discutem as questões mais relevantes do setor intensamente durante um período de 4 dias.

O evento reúne de 24 a 27 de agosto de 2014 no Pavilhão Azul do Centro de Convenções e Exposições Expo Center Norte em São Paulo, especialistas do Brasil, Estados Unidos, Japão, Europa e América Latina, que discutem os principais aspectos da produção, transmissão e distribuição em TV, além de temas relacionados a vídeo, cinema, rádio e internet. Entre os temas destacados está o switch-off TV, as interações entre TV e Internet, os desenvolvimentos tecnológicos da Copa do Mundo e muitíssimos outros temas de atualidade da indústria.

* Por Francisco Machado Filho, Unesp