Inteligência Artificial na televisão: a verdadeira revolução começou

NAB 2018 “O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”

NAB apresenta o futuro da televisão mundial que pela primeira vez se baseia no relacionamento com o telespectador

por Francisco Machado Filho

Desde 2012, aqueles que participaram das edições da NAB, puderam perceber a evolução que a indústria está experimentando. Vimos chegar o 4K e 8K, a televisão por IP, som em 3D imersivo, sistemas baseados na nuvem, câmeras e workflows de baixo custo, HDR, aparelhos tela grande, conteúdo on demand, aplicativos, TV social, sistemas digitais de transmissão e outras tecnologias que tinham como objetivo fazer com que o telespectador não cedesse à tentação de abandonar o velho hábito de assistir TV. O modelo de negócio da TV ainda permanece o mesmo: audiência = a investimento publicitário. Com as idas e vindas da economia, comum a qualquer país, essas estratégias apresentaram bons frutos. A televisão ainda é uma indústria muito forte no Brasil e mesmo nos Estados Unidos a audiência tem retornado para a programação televisiva. Contudo todas estas tecnologias e estratégias deixam de fazer sentido em um ato muito simples e que fazemos todos os dias: o momento em que desligamos a TV. Toda a evolução que o meio tem experimentado objetiva entregar um conteúdo melhor, mais relevante e com mais qualidade, mas quando desligamos a televisão nada disto pode ser monetizado. Não podia, agora vai poder: vem ai a Inteligência Artificial na televisão.

Na NAB 2018 empresas apresentaram soluções avançadas de reconhecimento facial, na foto solução da KeyWall que detecta pessoas, objetos e movimentos em tempo real

Se toda indústria esta sujeita ao desligar ou não da TV, por que desligá-la? E isto que a inteligência artificial irá proporcionar para todos os usuários. Um aparelho que nunca mais irá ser desligado e não apenas isso irá aprender cotidianamente quais são os padrões do nosso comportamento oferecendo não somente conteúdos específicos, mas se tornando o aparelho central da casa, se comunicando com todos os outros aparelhos pela Internet das Coisas e gerenciando nosso consumo e lazer.

A Inteligência Artificial é algo que esta sendo perseguido desde a revolução industrial. Essa busca está relacionada à capacidade das máquinas agirem como seres humanos, ou seja, deterem o poder de aprender, raciocinar, perceber, deliberar e decidir de forma racional e inteligente. O conceito foi criado em 1956 por John McCarthy, um professor universitário, que criou o termo para descrever um mundo em que as máquinas poderiam “resolver os tipos de problemas que hoje são reservados para humanos”. Com a revolução do Big Data, da computação na nuvem e baixo custo das máquinas a IA está se tornando uma realidade cada vez mais presente na nossa vida. O mercado que envolve a IA mostra um crescimento nas receitas mundiais de US$ 8 bilhões em 2016 para US$ 47 bi em 2020. Além disso, de acordo com o estudo IDC FutureScape prevê que, até 2020, as empresas devem economizar cerca de US$ 60 bilhões por incorporar serviços cognitivos a suas operações. A IBM foi pioneira no uso de computação cognitiva, em 2011, através do seu supercomputador Watson, que hoje é a plataforma de cognição IBM Watson, capaz de interagir de forma altamente complexa, com reconhecimento visual e conversação com voz natural.

Se na computação e outros sistemas a IA (Inteligência Artificial) já é uma realidade, faltava levar para o aparelho de televisão este sistema, capaz de interagir com o usuário onde as outras tecnologias não podiam, ou seja, no seu padrão de comportamento. A primeira aplicação da IA na TV que vem à mente é a publicidade. Os anúncios personalizados baseados no consumo de programas, buscas na internet ou curtidas em redes sociais permitirão que as empresas ofereçam recomendações personalizadas de conteúdos para os usuários. Estudos já apontam que em breve, aqueles telefonemas de telemarketing serão realizados por maquinas inteligentes que estabelecerão conversas naturais com as pessoas e identificarão as oportunidades de negócio. Além disso, com a IoT (Internet das Coisas) a televisão poderá nos avisar que certo produto está acabando na geladeira. Poderá ligar o ar condicionado do seu quarto enquanto você está a caminho de casa depois do trabalho.

Mas, a verdadeira revolução não será aquilo que o televisor poderá te oferecer, mas sim o que ele irá se tornar para cada um de nós. Sendo uma máquina que nunca será desligada, capaz de aprender como nos comportamos e tomar decisões a televisão deixa de ser uma janela para um mundo distante e passa a ser uma companhia. Algo que irá conversar conosco, sem julgamentos, apenas com a inteção de nos servir. Exatamente como o cinema já predisse há muito tempo atrás. Não por acaso a Samsung lançou no Brasil uma TV com tela sempre ativa. Os televisores da linha QLED de 2018 mostrarão informações enquanto estiverem desligadas. Os novos aparelhos contam com um sensor para captar a cor padrão da parede onde estão instalados e se “camuflar” no ambiente. Além disso, os aparelhos contam com a assistente pessoal Bixby. A assistente pode ser usada para exibir programas ou para controlar aparelhos compatíveis.

Durante a NAB um espaço que chamou atenção dos visitantes da feira foi a área experimental da Amazon com sua apresentação de IA para indexação de vídeos, geração automática de legendas e áudio descrição e interação com as redes sociais. Estes serviços fazem parte dos sistemas Amazon Lex, Amazon Polly e Amazon Rekognition, todos baseados em IA por meio de computação cognitiva que permitem aos aplicativos, ver, ouvir, falar, compreender e interagir com o mundo ao redor. A ferramenta Rekognition pode “identificar objetos, pessoas, texto, cenas e atividades, bem como detectar qualquer conteúdo inadequado. Além disso, o Amazon Rekognition também oferece análises e reconhecimento facial altamente precisos”. É possível “detectar, analisar e comparar faces para uma grande variedade de casos de uso de verificação de usuários”. Além disso, o sistema permite o reconhecimento das ações que estão acontecendo na tela e é capaz de fazer uma áudio descrição automática, bem como a criação de legendas, aspectos fundamentais na inclusão de pessoas com deficiência.

Inteligência artificial para controle da Akami avança para soluções virtuais integradas, o denominado Broadcast Operations Control Center (BOCC)

Pode parecer que este seja um futuro ainda muito distante para a realidade brasileira. Afinal, para que IA possa realizar todas essas promessas é preciso que o maior número possível de pessoas esteja conectado à internet, com aparelhos aptos a oferecer a tecnologia e um padrão de transmissão mais avançando que o atual. É o que foi apresentado no pavilhão Norte da NAB na área Broadcast 3.0. Mas, esse é um caminho sem volta. Em breve mesmo um mercado ainda forte como o brasileiro verá o modelo de negócios tradicional da televisão ser desafiado ainda mais. A televisão por certo não acabará, mas somente aquelas que imaginarem e concretizarem esse cenário futuro é que irão sobreviver. E as pessoas já estão dando sinais que é isso que elas querem. Em recente pesquisa do IBGE fomos surpreendidos pelo fato das pessoas se conectarem a internet mais pela televisão do que pelos tabletes. “A pesquisa constatou um aumento do número de domicílios com acesso à internet, que passou de 63,6% em 2016 para 70,5% em 2017. O percentual de acessos via TV (10,6%) ultrapassou a proporção dos que acessam via tablet (10,5%). Em 2016, os tablets eram usados para acessar a internet em 12,1% dos domicílios, enquanto 7,7% usavam a TV para este fim”.

Com a Inteligência Artificial nos aparelhos de TV, certamente veremos a maior revolução que esta indústria terá experimentado em sua história. Até agora…

Colaborou
Rosiene Cristine Tondelli Mestranda de Pós Graduação de Mídia e Tecnologia da FAAC-Unesp

Referência
http://www.meioemensagem.com.br/home/marketing/ 2016/12/06/digital-vai-superar-tv-em-2017.html

 

 

 

Francisco Machado Filho Francisco Machado Filho
Prof. Dr. Francisco Machado Filho, é jornalista, professor do curso de Jornalismo e Rádio e TV da Unesp/ Bauru e diretor da TV Unesp/Bauru. Contato: [email protected]