Inteligência artificial e microsserviços na nuvem avançam na indústria audiovisual

A edição 2019 da maior feira  de tecnologia do mercado audiovisual mostrou, mais uma vez, que a nuvem e a inteligência artificial serão fundamentais  na nova forma de produção, distribuição e consumo de conteúdos

por Fernando Moura*, em Las Vegas

Nesta edição da Revista da SET avançamos como alguns insights e aproximações de uma feira desafiante, e de  uma indústria em plena transição e disrupção. A frase até parece repetitiva, mas estamos frente a mudanças estruturais e paradigmáticas.
Na última década, com a chegada da Revolução 4.0, mudou basicamente a forma de produção, distribuição e consumo de TV. Toda a cadeia de produção da indústria audiovisual mudou, ou se encontra no processo. Passamos de uma experiência de consumo em grupo, coletiva, para uma experiência cada vez mais individual e solitária. Mudou a forma de consumo audiovisual e se transformou. Hoje o consumo audiovisual é multicast. Ou
seja, podemos assistir em diferentes plataformas, diferentes espaços, e de forma complementar.
O consumo audiovisual, seja o tradicional com uma TV na sala – TV aberta, a cabo, ou TV conectada –, ou em dispositivos móveis, permite interações. As novas formas de entrega e distribuição de vídeo, com destaque para o streaming para diferentes dispositivos, sejam fixos ou móveis, permitiu que  o (tel)espectador assuma, em certo sentido, o controle. Com isso, mudou
o conceito de emissor e receptor. O sinal já não é unicamente linear, quando este segue uma sequência espaço temporal definida pelo programador, ou seja, a emissora avança para uma forma de olhar não linear, na qual o usuário escolhe onde, como e quando assistir a um determinado conteúdo.
Por isso, e porque a forma de consumir conteúdos audiovisuais está em uma etapa de transição e mudança de hábitos, os modelos de negócios tradicionais das emissoras de TV têm lutado nos últimos tempos contra os serviços OTT, VoD e TV Everywhere oferecidos por streaming para não perder audiência.

Gordon Smith, presidente e CEO da National Association of Broadcasters (NAB,) afirmou que a NAB trabalha ativamente com montadoras e provedores de serviços de Internet de todo o mundo para desenvolver a próxima geração de rádio que combina transmissão com conectividade à Internet para criar novas experiências de usuário no carro conectado e além

Nesse ponto, a NAB faz a diferença porque continua englobando todos os setores, e abrindo os braços para novas formas de produção, distribuição e consumo, com dois objetivos. Primeiro, abrir o guarda-chuvas para todas as áreas da indústria; e, segundo, para não deixar de ser relevante. Exemplo disso são os expositores e a forma como a feira os distribui em seus enormes pavilhões. Assim, e de novo, que a NAB Show está mudando não é novidade, e que o Google é o maior conglomerado de mídia do mundo tampouco. Mas uma das principais novidades desta edição é que a empresa e as suas parceiras montaram um estande que ofereceu serviços e microsserviços para todo o workflow da indústria audiovisual, com produtos para produção, pós-produção, edição, codificação, playout, distribuição, nuvem e monetização de conteúdos audiovisuais.
Outro ponto que vislumbra a mudança é um espaço enorme dedicado os eSports, onde em edições anteriores dezenas de empresas mostravam equipamentos para emissão de sinais como transmissores, codificadores e analisadores. O “eSports Experience” destacou empresas e soluções para este mercado, e realizou inúmeras demonstrações de jogos, e claro, jogos transmitidos por streaming com câmeras Panasonic AW-UE150 em formato 4K.
Nesta edição tentaremos mostrar algumas das principais disrupções de uma edição 2019 que levou até o Las Vegas Convention Center 91.460 profissionais, 24.096 vindos de 160 países, um público um pouco menor que o de 2018, mas que cumpriu as expectativas dos organizadores que esperavam superar os 90 mil visitantes. A exposição teve mais de 1.600 expositores e a configuração dos espaços voltou a mostrar as mudanças e nuances de uma indústria em transformação. Menos drones, mais telas gigantes, menos hardware e mais, muito mais, espaços de conversa onde os expositores mostram suas soluções baseadas em nuvem e software em pequenas telas e mesas redondas de conversa.

A feira e a visão da NAB do mercado audiovisual
Na cerimônia de abertura, Gordon Smith, presidente e CEO da National Association of Broadcasters (NAB), afirmou que o evento permite aos seus visitantes e participantes ter uma visão geral das inovações que “contam a história da indústria de mídia e entretenimento por meio de exibições de produtos. Estamos apresentando a próxima geração de tecnologias, como inteligência artificial, computação em nuvem, próxima geração de tecnologias WiFi, eSports e carros conectados. Há um ditado que diz: “Todo mundo tem uma história para contar”.
Para Smith, as rádios e emissoras de TV não estão perdendo espaço com o avanço das novas formas de distribuição de conteúdo, pelo contrário, “as estações de rádio e televisão locais hoje são mais relevantes, mais vitais e mais confiáveis do que nunca. E é por isso que a história do heroísmo cotidiano dos radiodifusores que eu compartilhei há 10 anos ecoa, ainda hoje, mais verdadeiro. Como seus defensores na capital de nossa nação (Congresso), a NAB está garantindo que os legisladores (Deputados e Senadores) e o resto da América do Norte realmente entendam as muitas maneiras com que o radiodifusor retribui. De fato, o seu desejo de estar sempre presente nas suas comunidades é o que incentiva o radiodifusor a inovar constantemente”.
Nesse sentido, e no fim da feira, o balanço da organização foi positivo. Dennis Wharton, VP executivo de comunicações da NAB, agradeceu os presentes e disse que, mais uma vez, a NAB mostrou ser “a principal vitrine dos mais recentes avanços que estão remodelando o mundo da mídia, entretenimento e tecnologia. Agradecemos aos nossos expositores, parceiros do programa e palestrantes por fazer do NAB Show o evento obrigatório para criadores de conteúdo, produtores e distribuidores de todo o mundo”.
Finalmente, o presidente da NAB afirmou que o futuro passa por apostar na nova geração de TV (Next Gen TV) que “incluem vídeo de alta definição 4K, som imersivo, semelhante ao do cinema, aplicativos interativos e mobilidade”, assumindo que os dispositivos móveis são essenciais para a sobrevivência da indústria. “Com este dispositivo (referindo-se ao seu smartphone), estou conectado a uma lifeline (linha de vida) que pode me avisar de uma tempestade iminente e me alertar para outras emergências com avisos públicos direcionados que sejam interativos e móveis, mas também, pode me brindar entretenimento e informações.”
Para Wharton, a NAB Show é o melhor espaço para encontrar soluções que transcendem a transmissão tradicional e alimentam o storytelling na nova economia digital. “Da criação ao consumo, em múltiplas plataformas e inúmeras nacionalidades, o NAB Show é onde os visionários globais se reúnem para dar uma nova forma ao conteúdo”.
Em 2020, a NAB terá um novo formato. Começará no domingo, 19 de abril, e vai até a quarta-feira, 22. Os horários de exibição, também mudam. Isto porque “a medida que a indústria passa por enormes mudanças e interrupções, continuamos empenhados em evoluir para oferecer o melhor valor para expositores, participantes e parceiros”, afirmou Chris Brown, Vice-Presidente Executivo de Convenções e Operações de Negócios da NAB. “Mudar as datas dá aos profissionais a oportunidade de comparecer o NAB Show fora dos dias da semana enquanto se alinham aos nossos programas e congresso.”

*Fernando Carlos Moura é professor dos cursos de Design Digital, Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro de Linguagem e Comunicação (CLC) da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCC)