A incógnita sobre o futuro do espectro
Congresso SET Expo
“O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”
por Paulo Esperante
O Congresso SET EXPO passa, a cada ano, por renovações, e notamos nas últimas edições que deixou de ser apenas Broadcast & Cable e se tornou Content & Media Technology Trade Show and Conference. Por meio de diversas palestras em diferentes áreas e tipos de conteúdos, como Cloud Computing, Big Data, Câmeras 360º e Drones, o evento passou a representar um congresso de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Aproveito para compartilhar alguns assuntos relevantes com relação ao tema Regulatório e Normatização.
O processo de switch-off
da faixa dos 700 MHz no Brasil está acelerado com expectativas do desligamento das demais capitais para o fim do próximo ano, de modo que o foco do espectro mude para a faixa dos 600 MHz. Banda que em outros países, como por exemplo, os Estados Unidos, já foi leiloada e destinada aos serviços de telefonia móvel.
Existe uma forte pressão e tendência no mundo para que essa faixa seja destinada à telefonia, entretanto, o Diretor de Planejamento de TV/Espectro da ABERT Paulo Ricardo Balduino questiona a real necessidade da utilização e demanda excessiva da banda pela telefonia móvel (Figura 1).
Um detalhe importante é que não existem estudos que indicam a necessidade de ocupação dos 600 MHz para futuras tecnologias. No resto do mundo, os serviços da faixa 470-960 MHz serão tema no encontro WRC-23 organizado pelo ITU-R, restando cinco anos para definição dos serviços que serão mantidos na faixa da região 1 (Europa, África e Austrália). O ITU-R também tem promovido a utilização de outras faixas do espectro para os atuais e novos serviços, sendo que será abordado no encontro WRC-19 (Figura 2).
Na palestra realizada pelo Superintendente de Outorga e Recursos da Anatel Vitor Elísio Góes De Oliveira Menezes (Figura 3), o processo de regulamentação técnica de radiodifusão passa, no momento, por processos de revisão. Assim como a destinação de radiofrequência da faixa para o SARC está prevista para o primeiro semestre de 2018 e a Regulamentação para utilização do espectro ocioso (White Spaces) de forma dinâmica nas faixas VHF e UHF tem previsão para o segundo semestre de 2018 além da atualização da norma dos serviços de TV.
Apesar do sistema Mosaico da Anatel ter apresentado melhorias, ele ainda não possui solução para os casos de projetos que apresentam a altura do nível médio do terreno (HNMT) superior a 400 metros. O Superintendente comentou que irá estudar e propor uma solução para o caso.
Com relação ao processo de migração do AM para FM foi apresentado no congresso o indicador de 70% concluído a inclusão de canais no plano básico (Figura 4). Segundo o Diretor de Rádio da ABERT, André Cintra, uma solução alternativa para inclusão de canais de rádio na faixa atual seria a redução da classe de certos canais, o que possibilitaria a alocação de novos canais. No entanto, em alguns casos, dificilmente os radiodifusores irão aceitar a redução da classe de seus serviços.
A questão da harmonização das classes ou mesmo potências de operação talvez possa ser um dos temas abordados por meio da SET ou ABERT, para proporcionar segurança e garantias aos empresários da radiodifusão. É importante ressaltar que esse grupo de estudos não tem relevância apenas para os serviços de rádio, mas também pode atuar em outros serviços dentro da Radiodifusão utilizando o espectro de modo mais eficiente.
Outro assunto discutido nas palestras da Migração do Rádio AM e a Revisão do Regulamento Técnico foi a faixa do FM estendido. A banda visa operar de 76 – 88 MHz, no entanto, segundo André Cintra a mesma ainda não foi atribuída, pois necessita passar de seis ações da Anatel para destinação da faixa estendida as quais estão descritas a seguir:
- Criar um processo de alteração de regulamentação;
- Com base no decreto presidencial e na portaria do Ministério fazer um informe detalhado expondo os motivos pelos quais o uso da faixa atual de FM tem que ser alterada. Preparar uma resolução;
- Esse processo vai para a Procuradoria para ser avaliado judicialmente;
- Em seguida, segue para o Conselho da Anatel que vai aprovar a Consulta Pública de alteração da regulamentação;
- Depois dos comentários, essa Consulta Pública volta ao Conselho da Anatel, passando antes pela Procuradoria;
- Destinação da Faixa.
Todavia, alguns dispositivos já possibilitam a recepção da faixa estendida, alterando a região de operação do radio FM, como por exemplo, Japão (Figura 5). Segundo o palestrante Caue Franzon, Gerente de Projetos da RBSTV/Rádios, também foram apresentadas uma minoria de receptores do mercado que possuem a faixa implementada. Isto se deve ao fato da faixa ainda não estar regularizada, de modo que a indústria de receptores realize investimento e comercialização.
O espectro é sempre um tema que gera curiosidade, pois é por meio dele que é possível viabilizar ou não muitas tecnologias ou serviços. Até o momento, muitas questões ainda são incógnitas, mas não se pode deixar de manifestar ideologias, mesmo que sejam contrárias a algumas tendências, pois a cada batalha são obtidas novas conquistas e conhecimentos, seja com a vitória ou perda.