Futuro da mídia: tecnologia e hábitos de consumo

SET EXPO “O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”

Este tracking está sendo realizado há ao menos cinco anos, buscando identificar como as tecnologias afetam os hábitos de consumo. Como o consumo de mídia varia de acordo com a idade, geração, região, classe social? Quais inovações tendem a se perpetuar e quais são apenas hypes?

por Tom Jones Moreira

Melissa Vogel, CEO da Kantar IBOPE Media no Brasil afirmou que hoje convivem cinco gerações ao mesmo tempo e cada uma delas com comportamentos e valores diferentes

Melissa Vogel, CEO da Kantar IBOPE Media no Brasil afirmou que hoje convivem cinco gerações ao mesmo tempo e cada uma delas com comportamentos e valores diferentes

Capitaneada por Roberto Franco (Head de Assuntos Institucionais e Regulatórios do SBT, Ex-presidente da SET e do Fórum SBTVD) a palestra do 31º Congresso SET EXPO esteve composta por Melissa Vogel — CEO da Kantar IBOPE Media no Brasil; Anwar Nassar — CEO Lotier International, que é uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções de ponta em mídia, vídeo e telecomunicações, nos mercados Latino-americano, Europeu e Indiano, que tem em seu portfólio parceiros que incluem líderes mundiais como Amdocs/Vubiquity, Gracenote, Comcast, Verizon, Intel entre outros. Completando o time de especialistas, Georgia Jordan — Analista de Mercado da Kagan que é analista de mercado desse grupo de pesquisa de mídia e telecomunicações da S&P Global Market Intelligence, focando nos mercados de TV paga e banda larga na América Latina.
O Painel foi pontuado por uma visão muito assertiva a respeito dos meios de comunicação disruptivos, e introduziu um questionamento relevante, de que se o conteúdo é o REI, quem seria a Rainha desse sistema? Seria a distribuição a Rainha? Ou seria a tecnologia?
Na verdade conteúdo, distribuição e tecnologia são governados por uma entidade muito mais importante que todos eles juntos, essa entidade, disse Roberto Franco em seu discurso de abertura, seria o consumidor, pois é o consumidor que determina o que vai ser sucesso ou o que vai ser fracasso, por que é o consumidor que cada dia mais está no controle, é ele o verdadeiro Rei que se apresenta neste novo cenário. Concordando com essa tese, Melissa Vogel complementou afirmando que, atualmente, temos cinco gerações convivendo ao mesmo tempo e cada uma delas com comportamentos e valores diferentes. O tipo e o formato de conteúdo que cada uma delas consome, impacta no desenvolvimento de novos tipos de programação e modelos de distribuição. E, desse ponto de vista, todos os panelistas concordaram que estratégias precisam ser montadas onde o consumidor esteja no centro dessa atenção. Isso pode ser feito tentando-se mapear toda a chamada “jornada do consumidor”, para conhecer seus hábitos, gostos e costumes, e dessa forma conhecer como ele toma suas decisões, e até mais, se existe um padrão que possa ser reutilizado para outros comportamentos semelhantes. Assim a chamada Jornada do Consumidor tornara-se não uma ferramenta, mas sim um entendimento das motivações que fazem um produto ser consumido ou não. Pois é através do conhecimento das motivações que se podem engajar as pessoas por meio de conteúdos relevantes, que façam sentido para elas. Pois não adianta, ter volume, ou qualidade subjetiva, se o conteúdo não tem relevância para o publico que deseja atingir.

Assista no SET TV a entrevista de Leire Bevilaqua (TV Unesp) a Roberto Franco, head de assuntos institucionais e regulatórios do SBT, para falar sobre o painel Futuro da Mídia — tecnologia e hábitos de consumo

É nesse ponto que a tecnologia deve entrar, como responsável por fazer chegar esse conteúdo relevante até o consumidor final, com uma experiência de qualidade (o chamado QoE). Pois de nada adianta ter-se um conteúdo relevante se a experiência for frustrante, se a imagem travar, se o som tiver interferências. Dessa forma a qualidade da experiência deve ser assegurada pela tecnologia de distribuição. E assim chegamos aos dados, são os dados captados que vão dizer o que realmente é ou não relevante, se a experiência está sendo entregue com qualidade ou não.
Desta forma vemos que o consumidor está no centro das atenções, envolto em todo um aparato tecnológico, com um único objetivo, capturar dados, armazena-los para que esses possam ser analisados posteriormente, e que venham a alimentar esse circulo virtuoso de produção de conteúdo relevante com alta qualidade na experiência.
Porem aqui, o painel de forma corajosa, abriu-se para uma pergunta: Até onde vão os limites éticos para a captura desses dados? Uma vez que não existe hoje legislação que regulamente esses limites. E das palavras do próprio Roberto Franco, que chegou a resposta: “quanto mais necessitarmos dos dados, mais éticos devemos ser para com eles”.
Assim, uma vez tratados esses dados com ética, e extrairmos deles sua relevância, podemos então ter todo um processo de conhecimento do consumidor, pois é a vontade deste que determina o sucesso ou o o fracasso de um produto. São esses mesmos dados que vão possibilitar a oferta de produtos Premium, de qualidade e relevância, com um diferencial a mais, sem intermediários nesse caminho. E porque sem intermediários? Por que quando se têm intermediários os “dados do consumidor” ficam retidos não no produtor do conteúdo, fazendo com que a emissora não conheça seu consumidor, e dessa forma, quebra-se o ciclo positivo de oferta de qualidade e relevância. Dessa forma cada vez mais quem produz conteúdo procura entregar diretamente para o consumidor final, para que em troca possa conhecer também cada vez mais quem é seu cliente.

Skip Pizzi, VP de Educação Tecnológica e Outreach da NAB analisou os novos hábitos de consumo audiovisual e como eles provocaram mudanças na cadeia de produção

E, por fim, o grande desafio talvez seja abandonar o discurso da alta tecnologia, e pensar no discurso da alta experiência, pensar no discurso de tocar o consumidor com mais intensidade com mais adequação. O painel Futuro da Mídia, nos lembrou quais são os potencias que precisam ser abraçados: Alta definição, redes de alta capacidade, realidade aumentada, conteúdo inteligente, conteúdo interativo, tudo isso, são desafios e oportunidades para quem está lidando com o consumidor, mas eles não são os mais importantes. O mais importante é responder a pergunta: O que o consumidor quer?
Ele quer entretenimento, informação e inclusão. Esses desejos devem ser traduzidos em atributos como: encantamento, imersão, relevância e valor agregado. Para assim chegarmos a quais são as demandas que devem ser atendidas? Como, por exemplo: Mais qualidade, maior poder de escolha, capacidade de ver quando, onde e como quiser. Ubiquidade para qualquer dispositivo, e por fim, o engajamento, ou seja, que tenha relevância para ele. Abandonar o discurso da tecnologia é antes de tudo lembrar que na vida as pessoas tendem a adaptar a tecnologia a seus interesses, e não subordinar seus desejos a tecnologia, ou seja, quem comanda o que vai dar certo ou errado é quem consome e não quem oferta!


Tom Jones Moreira de Assis é especialista em Sistemas digitais, experiência de 20 anos no mercado de Telecom. Coordenador do departamento de Engenharia de Aplicação da Tecsys do Brasil. Membro do Fórum SBTVD: Módulo de Promoção e Módulo Técnico, e membro da Diretoria de Ensino da SET. Contato: [email protected]