Destinos e evolução da TV

Congresso SET

Painel moderado por Fernando Bittencourt, abordou o futuro da televisão em um contexto de transformação nos hábitos do consumidores

Uma das principais hot sessions do Congresso de 2017, o painel Destinos e evolução da TV, moderado por Fernando Bittencourt, abordou o futuro da televisão mundial em um contexto de transformações dos hábitos de consumo da audiência e de mudanças tecnológicas e infraestruturais como o OTT, o HDR, o 4K, o 8K e o IP. Lisa Hobbs (VP da Ericsson), Masayuki Sugawara (Digeb) e Simon Fell (CTO da EBU) participaram da sessão.
Bittencourt introduziu o debate com alguns dados referentes ao consumo de mídia nos Estados Unidos. A maior transformação, segundo ele, é o crescimento do consumo a partir de plataformas digitais e, sobretudo, via mobile (por tablets e smartphones). De 2014 para 2016, o tempo gasto por adultos norte-americanos, por dia, consumindo mídia digital aumentou de 28% para 39%, enquanto houve decréscimo no tempo gasto consumindo TV ao vivo (de 47% para 39%), segundo estudo da Nielsen apresentado pelo conselheiro da SET.
O painel também discutiu a penetração do broadband e dos serviços de vídeo on demand nos Estados Unidos, país em que o número de casas que só tem acesso à banda larga cresce vertiginosamente desde 2012, quando 9.2 milhões de residências se enquadravam nessa categoria, chegando a 14.8 milhões em 2016 e com uma expectativa de que sejam 21.9 milhões de casas em 2020. Bittencourt também mostrou números sobre o decréscimo do mercado Pay TV em relação ao VoD no mercado norte-americano. A previsão é que, até 2020, o consumo se iguale. Hoje, 80% das residências ainda possuem TV Paga, enquanto 61% possuem serviços VoD. “Os gastos da Netflix com SVoD devem dobrar entre 2015 e 2020. A tendência é que cada produtora de conteúdo abrigue os seus canais OTT via broadband”, acrescentou.

Em 2030, mais de 80% do consumo de mídia será digital e se realizará a partir de smartphones, tablets, computadores e notebooks, de acordo com pesquisa da Ofcom apresentada por Fernando Bittencourt

Após a apresentação dos dados, o diretor internacional da SET introduziu a sessão questionando o que os palestrantes acreditavam ser a definição de “televisão” no contexto atual: multichannel cable TV? Broadcast TV? Linear Content? OTT? Mobile? Ou todos esses formatos juntos? O moderador questionou então como os palestrantes enxergavam a televisão aberta daqui a dez anos.
Lisa Hobbs, da Ericsson, não acredita em um decréscimo da audiência. “Eu não acho que a audiência do broadcast tradicional vá cair nos próximos dez anos por conta do uso do mobile ou do OTT, o que pode ocorrer com a TV paga, por conta também do impacto da utilização dessas novas soluções pelos millennials. Eu acredito, porém, que teremos mais programas ao vivo, mais esportes, mais notícias, mais novelas na TV aberta. Esse tipo de conteúdo continuará a atrair as pessoas”, ponderou. Simon Fell, da EBU, também acredita no poder de atração dos conteúdos ao vivo para as audiências do broadcast tradicional. “As pessoas gostam e esperam coisas que as surpreendem”, disse, em participação via streaming. Os palestrantes também comentaram as razões pelas quais os consumidores (especialmente os jovens) estão assistindo menos TV tradicional e indicaram o que pode ser feito para reverter este quadro. “Os broadcasters precisam entender que deverão estar onde a audiência quiser estar”, afirmou Lisa. “Esta geração não liga se às 17h tem novela. Eles não consideram a grade de programação”, pontuou Fell. Fernando Bittencourt lembrou que “as assinaturas de TV paga também estão caindo no Brasil nos últimos anos. O número de horas que uma pessoa consome TV aberta, contudo, está aumentando, assim como o consumo de conteúdo online. Precisamos descobrir como fazer para atraí-los”.
Os palestrantes também foram questionados sobre quais seriam as características mais importantes da próxima geração do Sistema Broadcast de Televisão Digital (Broadcast Television Digital System).
Sugawara acredita que a mobilidade de acesso e a qualidade dos conteúdos devem ser priorizadas. Simon pontuou que o High Dinamic Range, o 4K e o 8k também são tecnologias fundamentais. “É preciso ser mais flexível”, em sua opinião. Bittencourt questionou Lisa Hobbs, então, sobre como a Ericsson enxerga o 5G em meio a essa discussão. A representante da multinacional sueca acredita que a maior vantagem dessa nova banda ao mercado será a sua aplicabilidade à IoT (Internet of Things). “Quando o 5G chegar, será muito mais fácil levar conteúdo aos consumidores. Em países em que a infraestrutura broadcast não for tão avançada, o 5G será ainda mais vantajoso”, pontuou.
As redes IP e as novas tecnologias de infraestrutura também foram discutidas. Lisa enfatizou que há uma transição gradativa ao IP nos Estados Unidos. “Já temos broadcasters buscando formas de implantar as suas infraestruturas IP, mas é algo que está começando apenas agora e está realmente muito no início.” Simon afirmou que na Europa há muitos broadcasters planejando as suas redes IP.
As receitas com publicidade digital estão crescendo nos Estados Unidos, segundo a representante da Ericsson, mas o que ainda oferece mais alcance de público é o broadcast tradicional. “A ESPN, por exemplo, mantêm uma rede de assinantes, buscando aumentar as suas receitas com publicidade digital”, ponderou, lembrando ainda que a inteligência artificial pode auxiliar as empresas a identificarem o que os seus consumidores buscam assistir exatamente. Em relação à compressão de vídeos, Lisa ressaltou a importância de tecnologias de compressão de vídeo como o Bit Rate Adaptativo e afirmou que o desafio é trabalhar com taxas de compressão menores que sejam capazes de distribuir conteúdo em alta qualidade, fazendo com que a transmissão de vídeo em 4K e em 8K para dispositivos móveis seja factível.
Bittencourt encerrou o painel com previsões para o consumo de mídia em 2030, também da Ofcom. Os dados mostram que mais de 80% do consumo será digital, a partir de smartphones, tablets, computadores e notebooks. “O millennials estão definindo a TV como algo que eles possam assistir de qualquer dispositivo”, concluiu.