Destinos e evolução da TV: BBC desenvolve sistema para substituir o sinal do ar pela banda larga

SET Sudeste 2017

por Gabriel Cortez e Fernando Moura

O conselheiro da SET, Fernando Bittencourt, na comunicação “Destinos e Evolução da TV”, apresentou dados do mercado norte-americano de mídia e mostrou o que viu de interessante no IBC 2017, realizado em setembro, em Amsterdã, na Holanda. Segundo o executivo, há uma previsão de que o consumo de vídeo nos dispositivos móveis cresça exponencialmente até 2020, de acordo com levantamento da BI Intelligence. “Este fenômeno já vem ocorrendo nos Estados Unidos, ainda que timidamente, com uma queda na audiência das mídias tradicionais em comparação ao consumo nas mídias digitais. Porém, o faturamento das mídias tradicionais se man-teve constante”, destacou. Outra previsão – apresentada pelo executivo com ressalvas – é que mais de 80% do consumo de mídia seja digital em 2030. “Interessante notar também que a Disney vai parar de disponibilizar os seus conteúdos no Netflix para ter o seu próprio canal de VoD. Além disso, algumas redes sociais como o Twitter, o Youtube e o Facebook também estão fechando contratos com eventos esportivos e canais de broad-cast tradicional para exibir conteúdos online”, pontuou.

Bittencourt lembrou ainda que a BBC está desen-volvendo um sistema para substituir o sinal do ar pela banda larga, o que eles chamam de streaming multicast. “O pesquisador que apresentou isso em Amsterdã, no IBC, mostrou preocupação com a briga pelo espectro, que está ocorrendo no mundo todo. A reação da BBC, meio que aceitando a hipótese de o espectro todo passar para as telecomunicações, é preocupante”, sinalizou. “Não tem sentido, no futuro, estarmos no ar e ter 0,1 ou 0,2 pontos de audiência utilizando espectro. Quem estiver no ar, é para ter audiência grande e fazer valer o espectro. O conceito que deve ser adotado é: Quem está no ar, deve ser de um para todos. Quem tem pouca audiência, deveria passar para distribuição por OTT. Ao mesmo tempo, ao contrário, a distribuição por banda larga para milhões é muito cara, então a tendência é que se acomode em segmentos. Outra coisa que se falou muito no IBC foi em utilizar 5G para distribuição de TV. Isso é preocupante para a radiodifusão, porque o modelo atual pode ser rompido”, acrescentou.

A TV Híbrida, o ATSC 3.0 e as infraestruturas IP se fortalecem neste cenário, na opinião do conselheiro da SET. A implantação do ATSC 3.0 na Coreia do Sul também foi comentada, utilizando broadcast e broadband para transmissão. “Na China também há um projeto de distribuição de TV híbrida, utilizando broadcast e broadband e buscando mobilidade, imersão e interatividade. Na Europa, também há essa discussão e, no Japão, a previsão é definir um sistema de transmissão de TV digital pelo ar até 2020, com a Olimpíada em Tóquio, também utilizando um modelo híbrido. Por lá, a TV 4K já vende mais do que a HD.”

Para a TV aberta, a tendência passa por conteúdos ao vivo, esportes e produções feitas para serem assistidas no mesmo instante, disse. “A operação na nuvem é outro aspecto disruptivo e que foi indicado no IBC, com virtualização da produção, distribuição e playout. Isso é algo que vai mudar completamente o perfil dos profissionais que trabalham nas empresas. Mas, apesar de todas as discussões que fazemos, previsões são sempre previsões. Há dez anos, discutíamos no Brasil se teríamos ou não UHD-TV. Havia uma polêmica brutal se ela seria adequada ao país ou não. Não podíamos imaginar, hoje, que todas as TVs vendidas aqui são UHD. Muitas vezes, discutimos o futuro, mas, no final das contas, as coisas acontecem até mais rápido do que imaginaríamos”, ponderou.

“Se vai haver necessidade de começarmos um novo sistema, ou se o 5G vai integrar tudo, é uma discussão complicada. No modelo de um para N, sempre haverá conteúdo para isso. A BBC, aparentemente, já entregou os pontos e está discutindo um modelo de distribuição via banda larga. Conteúdo nós vamos ter sempre. Não vamos deixar de saber produzir. A grande questão é se vamos continuar distribuindo ou se precisaremos entregar para outros distribuírem. Nos Estados Unidos, os radiodifusores estão pensando em se juntar e distribuir três ou quatro emissoras no mesmo canal, o que seria uma maneira de liberar espectro e fazer a transmissão para o ATSC 3.0 de maneira gradual”, encerrou Bittencourt.

A presidente da SET, Liliana Nakonechnyj, comentou que, nem nos Estados Unidos, nem em outros países, ninguém mais pensa em uma transformação apenas de conteúdos. “Pensa-se em uma transformação no modelo de negócios, fazendo com que o modelo seja muito mais personalizado. Seria uma transformação completa, baseada na personalização. Não é apenas uma mudança de qualidade de áudio e vídeo. A qualidade é um dado, é um pré-requisito. Mas, além dela, precisamos pensar em uma transformação completa por conta da mudança dos hábitos”, afirmou.

Na palestra “Indústria em transformação – a busca por uma fundação digital”, a diretora de marketing da SET, Daniela Souza, ressaltou que estamos passando por uma transformação global, não só da indústria de mídia, mas do mundo todo. “A automação, a inteligência artificial e a personalização dos conteúdos com dados direcionados são fundamentais nesse ambiente. A ascensão das ‘Fang’s’ (Facebook, Amazon, Netflix e Google), a interação entre pessoas e máquinas, e o empoderamento das pessoas em relação aos conteúdos também devem ser considerados pelos broadcasters nesse mundo digital. Um a cada cinco vídeos compartilhados no Facebook, por exemplo, já são ao vivo”, lembrou.

Os pilares da transformação para o digital no broadcast, na opinião de Daniela, têm a ver com uma transformação nos negócios, uma mudança na percepção da experiência dos clientes e uma digitalização da operação das emissoras. “Isso é o que vai permitir aos broa-dcasters que façam o shift para o digital. A Comcast, por exemplo, a maior operadora de Pay TV dos Estados Unidos, entendia o Netflix como um inimigo, mas, percebeu que o ideal seria trazer o ‘inimigo’ para o seu set-top-box, oferecendo conteúdos do serviço de VoD em sua plataforma de TV paga, a X1. A Disney também, como o Fer-nando Bittencourt já disse, anunciou a saída de seus contratos da Netflix a partir de 2019. Vivemos um paradoxo. Ao mesmo tempo em que a Comcast quer se aproximar do ‘inimigo’, a Disney se afasta. De todo modo, do ponto de vista da operação, a transformação para o digital acontece quando pensamos em uma mudança do SDI para o IP, no uso da virtualização em nuvem com uma troca de modelo de CAPEX por OPEX, desmaterializando a infraestrutura, e, por último, no que talvez seja a mudança mais difícil de todas, que tem a ver com uma ‘reimaginação’ de formatos que serão entregues para públicos distintos”, concluiu.