Congresso SET EXPO analisa o futuro da TV e o processo de desligamento analógico brasileiro

Congresso SET

Mais de 1400 congressistas e 200 palestrantes participam de mais de 50 painéis no maior congresso de engenharia e novas mídias de América Latina. Nesta edição da Revista da SET, começamos a apresentar um resumo dos principais momentos da 29ª edição do Congresso de Tecnologia do SET EXPO 2017 que debateu as novas tecnologias para mídia e assuntos regulatórios brasileiros,além de tentar vislumbrar o futuro da broadcasting no país e no mundo

por Fernando Moura* e Gabriel Cortez em São Paulo

A presidente da SET Liliana Nakonechyj disse, na cerimônia de abertura do SET EXPO, que “os broadcasters do Brasil precisam se unir impulsionando a indústria audiovisual”

O Congresso SET EXPO 2017 — realizado de 21 a 24 de agosto no Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte — discutiu as principais tendências tecnológicas para toda a cadeia de broadcast e audiovisual. Como acontece há três décadas, moderadores e palestrantes de referência no mercado e na academia, tanto nacional como internacional, debateram, analisaram e perspectivaram a indústria audiovisual brasileira e mundial.
“Este ano trabalhamos com oito temas principais como Tecnologias para TV e Rádio, Produção de Conteúdo, Inovação e Tecnologias Disruptivas, Novas Plataformas e Estruturas, entre outros. Há muito tempo não recebíamos uma audiência tão expressiva, e esse é o maior indicativo de que estamos no caminho certo. Evoluímos também nos workshops, demonstrações e masterclasses técnicas”, avaliou Olímpio José Franco, superintendente da SET.
O Congresso de Tecnologia reuniu 1400 congressistas em quatro dias de painéis com especialistas de empresas como a Globo, SBT, Record, Bandeirantes, O2 Filmes, Dolby Laboratories, Ericsson, Samsung, e mais de 40 entidades, tais como o SEBRAE — Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; ABRATEL — Associação Brasileira de Rádio e Televisão; ABERT — Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão; AESP — Associação das Emissoras Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, entre outras. O evento também recebeu o vice-ministro de Comunicações do Japão, Masahiko Tominaga, e representantes dos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina.

Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, afirmou que é preciso “pensar nos tipos de conteúdo, em uma equação em que a qualidade do conteúdo, os canais de distribuição, as possibilidades de monetização, os modelos de distribuição e as janelas de distribuição sejam diversos”

Na cerimônia de abertura do SET EXPO 2017, a presidente da SET Liliana Nakonechnyj afirmou que a entidade foi fundamental no “bem sucedido processo de desligamento analógico da TV. Os 10 anos traduzem o caso de sucesso do processo de digitalização da TV Digital no país. O desligamento encerra uma fase de cinco décadas do atual modelo de TV aberta. A questão que se abre é ver como irá ser agora e quais mudanças serão feitas”.
Liliana disse que a escolha do padrão ISDB-t, com sua estabilidade de imagens e boa cobertura, forma a base sólida de satisfação das pessoas. “O Brasil deve muito à TV aberta. Hoje fico feliz quando vejo ribeirinhos se expressando graças à difusão da língua pátria pela televisão. Nada como a TV aberta para transmitir notícias ao vivo”.
Para a presidente da SET, a TV passa por grandes transformações, “novos negócios surgem a cada dia, já em um ambiente 100% digital”, mas o que não muda é o objetivo que é o conteúdo, que “vem de qualquer lugar do planeta, em um mundo globalizado”, porque “o tráfico de vídeo pela internet está transformando espectadores em produtores. Hoje o que interessa é que esteja na tela com total convergência de mídias”.Nas palavras de Liliana, a SET segue, desde o início, sendo “um ponto de encontro para profissionais de diferentes bandeiras, deixando de lado as questões mercadológicas e focando nas soluções”, por isso, trabalhamos no “Projeto UHD Brasil, um estudo multissetorial” que visa olhar para o futuro da radiodifusão.
“Todos acreditamos que a união dos principais players em torno da tecnologia fortalecerá o estudo. Neste ambiente em transformação, cada um de nós precisa ser empreendedor. É impossível sobrevalorizar a importância da inovação. Se o seu sonho está inserido na cadeia audiovisual, a SET está aqui para apoiá-lo. Queremos permanecer como o ponto de encontro. O sucesso do SET Expo se deve a todos vocês”, finalizou Liliana.Na cerimônia, Fábio Coelho, presidente do Google Brasil, disse que “falar em transformação digital é um desejo, uma oportunidade e um privilégio.

Masahiko Tominaga, vice-ministro das comunicações do Japão, agradeceu à SET pelo trabalho realizado no switch-off brasileiro. “O desligamento analógico no Brasil encoraja outros países da região da América Latina. O país obteve sucesso no desligamento em São Paulo. Compartilhar as experiências com os outros países latino-americanos nos permite adotar o padrão ISDB-T em toda a região. O Japão e a América Latina têm uma cooperação valiosa nesse processo”

Como diria Caetano Veloso, a mente apavora o que não é mesmo velho. O Google quer colaborar para um Brasil melhor”.
Para Coelho “nada mudou, mas tudo mudou. As nossas motivações cotidianas continuam as mesmas, mas o que mudou realmente são nossas expectativas. O nosso usuário está muito mais impaciente, querendo reduzir fricção. Por isso, buscamos oferecer eficiência e uma melhor tomada de decisões. Hoje temos São Paulo como a cidade que mais usa o Waze. Temos também o iFood, o Google Maps, soluções que melhoram a eficiência. Estamos diante de um consumidor muito mais impaciente. A revolução digital tem um papel de inclusão maravilhoso, mas precisamos saber como nós trabalhamos nesse conceito novo”.
“A transformação não acontece quando adotamos novas tecnologias, mas sim novos comportamentos”, afirmou o executivo da Google, “porque o mais importante para as pessoas é que elas sejam incluídas, o mais importante é estar incluído. O novo comportamento não só muda o comportamento de negócios, mas também uma transformação social porque conseguimos ter acesso ao conhecimento que nos levará a ser uma sociedade melhor”.
Assim precisamos entender “os novos padrões de consumo de TV e vídeo com uma velocidade de circulação de conteúdos cada vez maior que leva a ideia de criar curadorias de conteúdos em uma indústria que se expande, mas de forma diferente. Agora a TV é assistida de maneira fragmentada, em diversas telas, e em diversos horários e devices”, com mudanças nos modelos de monetização.
Os novos comportamentos também chegam ao mercado audiovisual, afirmou Coelho ante uma plateia atenta. “As pessoas consomem conteúdos o dia todo, geram conteúdo e o conceito de diversidade começa a virar realidade. Empresas como a Rede Globo, que são capazes de unificar o país, são complementadas por paixões diversas. Existem novos padrões de consumo. As pessoas começam a passar o final de semana todo assistindo séries e filmes. Manter a relevância dos conteúdos passa a ser necessário. A indústria aumenta e se expande de uma maneira diferente”.

200 palestrantes e mais de 1400 congressistas participam dos mais de 50 painéis no maior congresso de engenharia e novas mídias de América Latina

O Youtube e o GNT, por exemplo disse o executivo, são parceiros para alavancar audiência. “Não há uma só maneira de fazer. Experimentar faz parte desse momento atual. A TV em multiplataforma é complexa. O nosso trabalho é entender como simplificar esse modelo, para que ele se torne o mais simplificado e seemless possível. Precisamos trabalhar para termos um sistema de normas que permita que esse mercado evolua e as empresas que trabalham nesse mercado possam ser devidamente remuneradas”. Na sua alocução final disse que “em 2014, tínhamos 10 milhões de celulares no Brasil. Hoje, são mais de 50 milhões. Esta evolução exigiu também do Google uma reorientação completa, para que pudéssemos nos tornar relevantes e nos ajustar às transformações. Continuamos buscando o tempo todo o conceito de relevância. O Google é outra empresa desde 2014. A manutenção da saudabilidade das empresas passa por fazer todos os ajustes possíveis à realidade. Quando deixamos de aprender e de nos ajustar, corremos o risco de nos tornamos irrelevantes. A irrelevância é o primeiro passo para a extinção”, finalizou.

O painel “o espectro e os serviços futuros” foi uma das sessões que abriu os trabalhos no primeiro dia do Congresso SET EXPO 2017

Futuro do Espectro

André Trindade (ABRATEL) destacou que os broadcasters precisam ficar atentos à situação da faixa dos 600 MHz

No painel, “o espectro e os serviços futuros”, André Felipe Seixas Trindade, engenheiro de comunicação da ABRATEL, moderou a sessão e introduziu as apresentações destacando que os broadcasters precisam ficar atentos à situação da faixa dos 600 MHz. “A faixa dos 600 MHz já está sendo debatida em vários fóruns internacionais e a radiodifusão tem que estar atenta para não perdermos espectro. Devemos, sobretudo, buscar o apoio dos países que fazem fronteira com a gente para não ceder essa faixa para a banda larga. Do contrário, teremos problemas em toda nossa região fronteiriça, o que pode acabar prejudicando o Brasil”, afirmou. O representante da ABRATEL frisou ainda que os órgãos reguladores têm o desafio de equacionar as necessidades de espectro de diferentes setores.

Hiroyuki Ogawa, diretor de broadcasting e tecnologia do ministério das comunicações do Japão, lembrou que o país completou a ASO em março de 2012 e ressaltou que, ao término do processo, algumas bandas VHF e UHF usadas pela TV analógica foram atribuídas a outros serviços. “O objetivo é ter, em 2020, uma frequência de 2.700 MHz”, relatou. O palestrante apresentou também os problemas enfrentados pelos japoneses na alocação do espectro para o lançamento do sistema móvel 5G e lembrou que o Ministério das Comunicações do Japão recomendou estudos para a aplicação e melhora da frequência 5G no país. “Também estamos pesquisando novas tecnologias para o 4K e 8K de transmissão terrestre, com foco nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020”, acrescentou.
Leonardo Euler de Morais, conselheiro da Anatel, ressaltou o trabalho desenvolvido no switch-off analógico brasileiro. “A transição para o sinal de TV Digital no Brasil está sendo feita acertadamente, apesar da complexidade do processo. É uma medida estruturante tanto ao setor de radiodifusão, quanto ao setor de telecomunicações. O timing do leilão foi bastante acertado também. Foram 8,5 bilhões de reais movimentados, sendo 3,5 bilhões destinados à EAD. Foi uma política extremamente adequada por olhar para uma parcela vulnerável da sociedade.”

Leonardo Euler de Morais mostrou quais são as faixas atualmente destinadas para a radiodifusão de sons e imagens no Brasil e também se mostrou preocupado em relação à questão do segundo dividendo digital

O palestrante mostrou quais são as faixas atualmente destinadas para a radiodifusão de sons e imagens no Brasil e abordou a proposta de revisão do regulamento dos SARC (Serviços Auxiliares de Radiodifusão e Correlatos, como as reportagens externas) em andamento na Anatel. “A ideia seria destinar a faixa de 285 MHz ao serviço móvel do SARC, nas faixas: 2025-2110 MHz, 2200-2300 MHz e 3300-3400 MHz. Considerando-se canais de 10 MHz, que são utilizados para videolinks digitais, tem-se um total de 28 canais de 10 MHz. Essa proposta ainda vai ser submetida ao conselho diretor da Anatel”, explicou.
O espectro, segundo ele, é escasso em algumas das maiores regiões metropolitanas do país. “Existe pouco espaço disponível para a outorga de novos players, tanto para TV quanto para FM. Nessas regiões, pode não ser possível o pareamento de todas as outorgas analógicas de TV em caráter secundário, como por exemplo em Belo Horizonte e no Oeste do Paraná. Em contrapartida, existe bastante espectro disponível em regiões remotas”, lembrou.
Em relação à migração AM-FM, Euler destacou que aproximadamente 70% dos pedidos foram atendidos e afirmou que as demais solicitações poderão ser contempladas com a extensão da faixa de FM aos canais 5 e 6. O representante da Anatel comentou ainda o que pensa sobre o futuro da televisão no Brasil em meio à saturação do espectro e afirmou que o órgão tem acompanhado as discussões sobre as novas tecnologias de radiodifusão nas Comissões de Estudos da UIT. “A implementação de novas tecnologias limitadas à transmissão no mesmo canal de 6 MHz já utilizado é uma necessidade, uma vez que não existe disponibilidade espectral para um novo simulcast nos moldes do realizado na transição analógico-digital. A revisão da regulamentação técnica também é uma maneira de melhorar a eficiência do uso espectral para os serviços de radiodifusão por meio da revisão das relações de proteção”, frisou.
Euler também acredita que há um ânimo muito grande dos norte-americanos para disponibilizar a faixa de 600 MHz para banda larga. Em sua opinião, seria importante que tivéssemos, no Brasil, uma posição que demonstrasse a necessidade de os países latino-americanos terem cautela nas discussões internacionais a respeito dessa faixa.

Ilham Ghazy, da UIT, participou da sessão “O espectro e os serviços futuros via streaming”

“A regulamentação de uso do espectro está em andamento na Anatel e estamos abertos à contribuições. Precisamos analisar o uso eficiente do espectro considerando a nossa realidade. Existem outras faixas, como a de 1800 MHz, que já está com as operadoras de telefonia celular e que pode ser utilizada por elas. O espectro é sempre uma questão delicada, já que todos querem. Como presidente do Comitê de Uso do Espectro e Órbita da Anatel, eu quero convidar a todos da SET a contribuírem. Em termos institucionais, eu gostaria, por fim, de parabenizar a SET pelo auxílio na divulgação do Sistema Mosaico, implantado pela Anatel. É um sistema que vai nos ajudar bastante ainda. É um ganho para toda a sociedade”, concluiu.
Paulo Henrique Balduíno, diretor de espectro da ABERT, ressaltou a parceria da associação com o IBOPE para fazer pesquisas domiciliares de recepção do sinal de TV no Brasil, as quais, em sua opinião, são importantes ferramentas para combater o cerco ao espectro nas reuniões internacionais. O palestrante explicou no que consiste o conceito de Pentry Check, uma pesquisa de campo domiciliar que se realiza na casa dos consumidores finais. Os técnicos do IBOPE fazem uma vistoria nas residências e elaboram questionários, checando os dados e as respostas oferecidas pelos consumidores.
“Nós precisamos combater o cerco ao espectro independentemente da agenda regulatória. As projeções de demanda devem ser específicas para o Brasil, com definição explícita da metodologia e dos critérios, os quais devem ser tornados públicos. Estamos nos preparando para enfrentar uma ofensiva de países que são a favor da banda larga. A divisão da faixa proposta por Estados Unidos, Canadá, México e Colômbia em 614-698 MHz nos complica. Vivemos um contexto de preocupação internacional que, francamente, ainda não sabemos como proceder. As próximas discussões nas reuniões da CITEL em 2017 e 2018 e na CMR de 2019 serão pedreiras. Mas ainda temos tempo até lá para pensarmos no lobby da radiodifusão”, destacou.
Balduíno lembrou ainda que não existe uma decisão sobre o que seria o 5G no Brasil. “Não se sabe ainda qual será a demanda por espectro. A discussão da eficiência do uso das faixas já atribuídas passa por um desconhecimento intencional. Muito do que o 5G se propõe a fazer já é realizável com o 4G, desde que houvesse apetite das operadoras. Existe todo um romantismo científico em volta do 5G. Existem dúvidas quanto à viabilidade do plano de negócios, em relação ao investimento que as operadoras precisariam fazer. Enfim, existe um cabedal de dúvidas e, sem dados e metodologias definidas, fica ainda mais difícil delimitar o espectro. O que se sabe é que o apetite da banda larga é infinito, por isso, devemos estar atentos.”
O representante da ABERT encerrou a sua participação agradecendo a parceria estabelecida com a Anatel nos últimos anos e ressaltando aos broadcasters brasileiros “a primeira providência para quem quiser espectro novo e já for usuário do mesmo seria demonstrar que está utilizando a faixa que já possui com eficiência. Sem essa demonstração, fica inviável”, pontuou.
O conselheiro da Anatel Leonardo Euler de Morais concordou com Balduíno em relação às posições divergentes do Brasil no cenário internacional. “A questão do segundo dividendo digital, isto é, a questão da faixa dos 600 MHZ, está gerando realmente uma preocupação muito grande. Não é novidade que o Brasil tem posições diferentes das dos Estados Unidos em relação ao espectro, assim como a Coreia do Norte, por exemplo. Nisso, eu compartilho a preocupação com o Balduíno, uma vez que, no Brasil, os serviços de radiodifusão são essenciais pelas características sociais e demográficas do país. Além do que, a própria UIT mostra que somos o país da América Latina que mais destina faixa ao 4G”, ponderou.
Ilham Ghazy, chefe do serviço de espectro da UIT (International Telecommunication Union), apresentou a estrutura de trabalho da entidade e lembrou que a missão da UIT é, justamente, gerenciar o espectro de radiofrequência e a órbita satelital em nível mundial, assegurando as operações de radiocomunicação sejam livres de interferências. A expositora apresentou a proposta de frequência coordenada para utilização da banda VHF (174-216 MHz) e da banda UHF (470-790 MHz) para a região da América Central e do Caribe. “O objetivo do processo é facilitar o processo de transição do sinal de TV analógico para o sinal de TV digital (DTT), realizando a alocação do Dividendo Digital e prevenindo a ocorrência de situações de interferência”, afirmou, em participação via streaming.

Novos Padrões

Skipi Pizzi (NAB) deu detalhes sobre o padrão ATSC 3.0, que vem sendo desenvolvido nos Estados Unidos

O painel Evolução dos Padrões de TV, realizado na tarde do dia 21 de agosto, abordou as próximas gerações de transmissão broadcast que vem sendo desenvolvidas no Brasil e no mundo. O professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie Cristiano Akamine moderou a sessão, que contou com palestras de Kenichi Murayama (STRL/NHK), Skip Pizzi (NAB), Lisa Hobbs (Ericsson) e Sidnei Brito (SDB Multimidia).
Kenizhi Murayama, pesquisador sênior na NHK, mostrou o sistema de radiodifusão UHD 8K que vem sendo implantado e testado no Japão desde agosto de 2016. A emissora pública japonesa, em parceria com a Globo, realizou com êxito experiências de transmissão terrestre 8K durante a Olimpíada Rio 2016. “Foi a fase um desse nosso projeto”, explicou Murayama. A fase dois envolve fabricantes de TV e universidades e será finalizada com testes de transmissão em 8K via satélite durante a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Uma terceira fase do projeto envolve transmissões em 4K e 8K entre as cidades de Tóquio e Nagoya, para que, durante a Olimpíada de Tóquio, em 2020, o sistema de broadcasting terrestre esteja operando. “Ainda não sabemos qual será a próxima geração, mas acreditamos que passe pela transmissão terrestre de sinal de TV em 4K e 8K. Oferecer conteúdo atrativo é fundamental para a disseminação do broadcasting UHD”, concluiu Murayama.
Skip Pizzi, vice-presidente de educação tecnológica da NAB (National Association of Broadcasters), introduziu o padrão ATSC 3.0, que vem sendo desenvolvido nos Estados Unidos. “É o primeiro sistema de transmissão de televisão capaz de trabalhar com um core IP, gerando imagens em 4K e High Dynamic Range. A nossa capacidade de transmissão também aumenta em cerca de 30% com o ATSC 3.0, indo de 19Mbps para 25 Mbps. Pode ser com sistema SISO, que pode ser melhorado com o tempo utilizando-se múltiplas camadas. Oferece mais flexibilidade nos pontos de operação do que a de qualquer outro sistema desenvolvido até hoje e, ao mesmo tempo, permite configurar diferentes pontos de operação em camadas físicas, oferecendo também robustez e flexibilidade. As camadas físicas de vídeo e de áudio podem ser configuradas também separadamente”, explicou Pizzi.

Kenizhi Murayama ( NHK) apresentou a evolução do sistema de radiodifusãoUHD 8K que vem sendo implantado e testado no Japão

 

“O surgimento do 4K, do 8K e a necessidade de transmitir com cada vez menos bits faz com que o processo de inovação no algoritmo de compressão seja cada vez mais necessário”, afirmou Sidnei Brito (SDB Multimidia), na sessão moderada por Cristiano Akamine

O ATSC 3.0 também oferece multiplexação LDM (Layered Division Multiplexing) e a transmissão pode ser feita por SFN ou MFN, a partir de redes de força média e altura média que podem ajudar na cobertura. Os protocolos IP utilizados no ATSC 3.0 são, em sua maioria, os que já existiam no mercado, como o DASH, o TCPIP, além de dois sistemas unidirecionais, feitos tanto para broadcast quanto para broadband. “Em relação à camada de apresentação, melhoramos a qualidade do vídeo e do áudio. O padrão oferece ainda recursos de acessibilidade e de alertas de segurança, além de uma convergência real entre a internet e a televisão com aplicação no padrão HTML 5.0”, destacou o representante da NAB.

Lisa Hobbs (Ericsson) afirmou que a nova definição de TV está vindo do crescimento no uso dos dispositivos móveis

Em relação à camada de vídeo, o ATSC 3.0 oferece resolução 4K UHD (2160p), HDR, WCG e HFR. O sistema de áudio é totalmente imersivo, oferecendo possibilidades de personalização. “Em resumo, os objetivos do ATSC 3.0 são melhorar a qualidade de áudio e vídeo, ter múltiplas transmissões tanto de áudio e vídeo quanto de captação, conteúdo customizado, uma gama maior de escolhas para o consumidor e para o transmissor, interatividade via internet, alertas avançados de emergências e novos recursos de acessibilidade”, concluiu Pizzi.
Em sua palestra, a VP da Ericsson Lisa Hobbs acrescentou que o ATSC 3.0 consiste em uma série de padrões projetados para que os radiodifusores distribuam conteúdo “a qualquer hora e em qualquer lugar. O padrão já é adotado por provedores de conteúdo e operadores de cabo, satélite e telecomunicações, permitindo que eles forneçam conteúdos diferentes com base nas preferências do espectador”, afirmou.
A capacidade de fazer alertas de emergência de uma maneira bem mais focada e personalizada também é algo que a executiva ressaltou como um diferencial do padrão. “A nova definição de TV está vindo dos dispositivos móveis. O tempo total de visualizações de vídeos cresce com o massivo aumento das visualizações em dispositivos móveis. Os hábitos dos consumidores desses dispositivos evoluem com a percepção de que as transmissões de vídeo são ilimitadas”, acrescentou Lisa.
Sidnei Brito, diretor de vendas da SDB Multimidia, explorou as novas plataformas de encoding e apresentou as novas tecnologias e tendências que poderão auxiliar na redução das taxas de compressão, no suporte aos diferentes formatos de HDR e de redes de transmissão para a distribuição dos sinais 4K/8K. “Com o advento da cloud, a preocupação passou a ser como entregar conteúdo, mas sem se falar em hardware, MPEG ou transportstream. Hoje, com processadores baseados em software, conseguimos entregar um produto ao mercado em um tempo menor do que quando tínhamos chipsets dedicados. O tempo de atualização do chipset costuma a ser de três a cinco anos, quando comparamos QoS e Densidade. O software based encoding vem ganhando espaço neste contexto, com processadores COTS. O surgimento do 4K, do 8K e a necessidade de transmitir com cada vez menos bits faz com que o processo de inovação no algoritmo de compressão seja cada vez mais necessário”, ponderou.

 

Com colaboração da equipe de comunicação da SET
Fernando Moura é professor Doutor do Curso de Jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi