TV por Assinatura continua gerando valor na indústria

Reportagem ABTA 2016

pag40-1O número de assinantes de TV Paga recuou no último ano, mas, a audiência dos canais de Pay TV dobrou no último triênio, chegando a dois milhões de pessoas conectadas por minuto no Brasil

por Fernando Moura, em São Paulo

Na cerimônia de abertura da 24ª edição da Feira e Congresso ABTA, da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), o presidente da entidade, Oscar Simões, apresentou dados do desempenho do setor nos últimos três anos e afirmou que, apesar dos efeitos da crise econômica no Brasil, a TV paga atingiu, no primeiro trimestre de 2016, a maior audiência de sua história, superando a marca de dois milhões de pessoas conectadas por minuto. Com isso, a audiência dos canais pagos dobrou no período, segundo Simões.
O executivo apresentou, ainda, os resultados de uma pesquisa encomendada pela ABTA junto à empresa Plano CDE. O estudo, denominado “A importância da TV por assinatura para os brasileiros”, ouviu opiniões de famílias de classe média sobre como os canais pagos influenciam em suas vidas.

Oscar Simões, Presidente da ABTA afirmou que a TV por Assinatura dobrou a sua audiência nos últimos três anos

A TV por assinatura é uma das principais fontes de lazer para 74% dos entrevistados. 79% apontam que este veículo oferece opções culturais para a família e 52% afirmam que os canais pagos ajudam na educação. 47% disseram ter adquirido hábitos mais saudáveis acompanhando programas da TV paga, enquanto 64% dizem ter aprendido a elaborar novas opções alimentares.
Na opinião de Simões, “a pesquisa demonstra que a TV por assinatura preenche uma importante lacuna deixada pela falta de opções de lazer e cultura em muitos bairros e em milhares de municípios. Para essas famílias, a TV por assinatura é uma janela para o mundo, com um impacto social que nenhum outro meio provoca. Os nossos programas contribuem para hábitos de vida mais saudável, para a educação dos filhos, para melhorar o padrão cultural e até a autoestima de quem transforma a realidade à sua volta”.
O presidente da ABTA lembrou, também, que a TV por Assinatura vem atingindo cada vez maior relevância, uma relevância não só cultural, mas também “econômica, uma vez que gera empregos e uma enorme cadeia de valor”. No entanto, ressaltou, “estamos vivendo os momentos mais desafiadores da nossa história, com mudanças de hábitos dos consumidores, mudanças muito maiores que os novos modelos de negócios com os que temos de concorrer”.
“O setor sente o impacto da crise econômica. Pela primeira vez, o número de assinantes teve recuo”, mas isso, disse o presidente da ABTA, é um efeito da situação econômica; um efeito que se expande devido ao aumento do ICMS em muitos Estados (aumentos que chegam a 45%), “um duro golpe que atingiu em cheio os que consomem TV por Assinatura e as operadoras. Com esses aumentos, desenham-se aumentos de custos e, ainda, maiores problemas na cadeia de valor”, complementou.
Enquanto o PIB nacional caiu 5,75% entre abril de 2015 e abril de 2016, segundo índice prévio divulgado pelo Banco Central, o número de assinantes de TV paga apresentou um recuo de 4,3% no mesmo período.

A cerimônia de abertura da 24ª edição da Feira e Congresso ABTA contou com a presença de Manoel Rangel (Ancine), Oscar Simões (ABTA), Marcelo Calero (Ministro da Cultura), André Borges (Secretário de Telecomunicações) e João Rezende (Anatel)

A ABTA, pelo contrário, afirmou Simões, tem como maior desafio a ampliação do acesso à TV Paga e não restringi-lo, esperando que “as agências desregulem e trabalhem para ter menos regras e menos intervenções. Para as famílias, a TV paga é uma verdadeira janela para o mundo e torna-se um veículo essencial para os brasileiros”.
“O nosso trabalho transcende o negócio e possui uma dimensão social muito importante. Além de lazer, fornecemos conhecimento. O nosso desafio é levar a TV por Assinatura para outros milhões de brasileiros. São fagulhas que podem inspirar a milhões de pessoas”, acrescentou.
Para Roberto Nascimento, VP de Vendas da Discovery e coordenador do Comitê de Publicidade da ABTA, o recorde de audiência se produz porque a “TV paga tem programação diversificada e de qualidade, variedade de canais e conteúdos relevantes para a vida das pessoas, que permitem com que elas ampliem seu reportório e se sintam mais conectadas com o mundo todo”.

A visão do governo
A Feira da ABTA também serviu para os integrantes do governo interino presidido por Michel Temer se apresentarem à indústria. Em uma coletiva de imprensa, o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação, Gilberto Kassab, pronunciou- se sobre uma antiga reclamação da Associação, a isonomia tributária entre as operadoras e os serviços de OTT, e garantiu que a regulamentação dos serviços de streaming é uma prioridade do Ministério.
“Precisamos oferecer condições de igualdade. Não é justo que empresas que geram empregos no Brasil, que entregam serviços de qualidade para o consumidor, não tenham as mesmas condições de igualdade com as OTTs”, afirmou Kassab.
“Não quero criminalizar ou parecer que sou contra as OTTs, mas, como ministro, não posso deixar de expressar a minha posição, e precisamos sim ter uma discussão muito profunda e, o mais rápido possível, tomar posições de governo no campo da regulamentação e no campo da tributação.

O novo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação, Gilberto Kassab, afirmou que a Lei Geral de Telecomunicações será muito importante para facilitar novos investimentos em banda larga. “Acredito que qualquer lei é importante e a LGT é uma das mais importantes do país”

Precisa haver paridade, condições de igualdade e oportunidade. Senão, vai haver uma quebradeira geral”, complementou o líder da pasta.
Na abertura do evento, o Secretário de Telecomunicações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Informação e Comunicações, André Borges, havia avançado sobre o tema e manifestado, em seu discurso, que os serviços Over-The-Top chamam a atenção do governo. “A Lei Geral de Telecomunicações (LGT) define os serviços de OTT como serviços de valor adicionado e como tal, não sujeita à regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Se não é possível entrar com regulação nas OTTs, a nossa ideia é discutir com a Anatel para que seja reduzido o ônus das operadoras de telecomunicações. Devemos fazer isso para que, com o tempo, o SeAC (ou Lei do Serviço de Acesso Condicionado) possa competir com as OTT. A questão tributária será discutida com os colegas nos próximos tempos”, afirmou.
João Rezende, presidente da Anatel foi mais esperançoso e argumentou que “temos uma quantidade imensa de domicílios que desejam a TV por Assinatura e ainda não tem. Por isso, é fundamental que tenhamos capacidade de superar a crise”, que existe e é preocupante, porque a Agência sabe que o aumento na carga tributária compromete o serviço no longo prazo.
O presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel, coincidiu com a análise de Rezende. Para ele, a crise existe, mas, em longo prazo, o Brasil conseguirá superá -la: “há turbulências, mas, nos últimos cinco anos, a TV paga dobrou o tamanho da sua operação”.
Rangel afirmou, ainda, que as políticas públicas de fomento deram resultados positivos. “Aumentou o acesso ao cinema e à banda larga. A crise vai ser superada porque o Brasil é maior do que ela. O salto de construção de uma economia de massa, a elevação da renda permitindo que os brasileiros entrem no mercado de massas e assim possam entrar ao mercado audiovisual permitiu a integração de milhões de consumidores. Todas essas conquistas civilizatórias são imprescindíveis para a construção do cidadão”.

Fonte: Kantar IBOPE Media-Brasil 15 mercados — audiência absoluta (rat#) — All Day (0600-3000) – todos os trimestres de 2001 até o primeiro trimestre de 2016 – Universo Total (Pessoas 4+ anos com e sem Pay TV) – 2001 e 2002 (2 mercados), 2003 até 2008 (6 mercados), 2009 até 2011 (8 mercados), 2012 até 2013 (9 mercados), 2014 até 2016 (15 mercados)

A Feira
A cada ano, a ABTA serve para diferentes players da indústria lançarem os seus produtos e para as operadoras de TV por Assinatura mostrarem as suas principais inovações. A maior feira de TV paga da América Latina contou, em 2016, com um espaço total de 8 mil metros no Transmérica Expo Center, em São Paulo, nos quais se espalharam mais de 100 empresas, incluindo delegações internacionais vindas de países como Alemanha, China e Taiwan, Estados Unidos, Coréia, França, Inglaterra, Japão, Eslováquia, Ucrânia e Emirados Árabes.
A Irdeto, empresa especializada em segurança para plataformas, apresentou- se na feira. Gabriel Ricardo Hahmann, diretor para a América Latina e Caribe da companhia, compartilhou com a Revista da SET a visão da marca e mostrou como enxergam as crescentes mudanças no mercado de distribuição de conteúdo, e quais medidas podem ser tomadas para garantir o sucesso nos próximos cinco anos.

Gabriel Hahmann, da Irdeto, afirmou que a empresa não só protege os conteúdos disponibilizados nas plataformas de vídeo por streaming, mas, também “identifica e monitora os conteúdos para determinar os vazamentos e as suas causas”

Para Hahmann, é indispensável que provedores, proprietários de conteúdo, empresas de telecom / ISPs e operadoras de TV paga construam um mecanismo rigoroso de segurança. “Uma parte fundamental dessa premissa é estabelecer uma estratégia de segurança da informação que não só proteja o conteúdo premium, mas que também tenha um custo eficiente e seja adaptável aos requisitos futuros do negócio. Dessa maneira, operadores de mídia paga ficam livres dessas preocupações e podem focar no que eles fazem de melhor: criar serviços de qualidade que agradam ao consumidor”.
O executivo da empresa holandesa afirma que o desafio é grande. “O foco está na segurança. Hoje, ela deve fazer parte do produto, do serviço, não pode estar dissociada. Um dos nossos diferenciais é que colocamos uma marca d’agua forense no conteúdo. Já não adianta só proteger os conteúdos, é preciso monitorá- los, porque, se houver uma falha, o cliente quer saber onde ocorreu para poder corrigir. Com essa marca forense, se houver uma distribuição ilegal desse conteúdo, nós podemos rastreá-lo até o usuário ou a empresa onde esse conteúdo foi distribuído”. A YouCast, integradora de soluções para geradores e provedores de conteúdo digital de vídeo, dados e voz esteve presente na ABTA, levando aos visitantes as suas soluções de vídeo e streaming. Em entrevista à Revista da SET, o CEO da YouCast, Raul Faller, afirmou que a empresa trabalha em novos desenvolvimentos de produtos que se adaptem aos novos hábitos de consumo e que permitam desenvolver novos modelos de negócios. “Hoje, um integrador precisa pensar em soluções integradas. As soluções devem ser funcionais ao cliente, assumindo que a importância da integração passa pela criação de ecossistemas integrados”. Para Faller, já não se se trata simplesmente de transmitir vídeos pela internet, mas fazer com que o usuário possa interagir com estes vídeos com o mesmo prazer e facilidade que o faz na TV, de maneira intuitiva, social e colaborativa. Assim, o executivo afirma que o objetivo da Youcast é se tornar “a maior integradora de soluções para geradores e provedores de conteúdo digital de vídeo, dados e voz do Brasil”.
A companhia dirigida pelo executivo está desenvolvendo uma nova plataforma de distribuição de vídeo baseada em um Data Center na nuvem que realizará a distribuição mediante um Backbone que possa gerar valor agregado aos serviços de VoD, no qual a integradora agregaria conteúdo e serviço a uma rede existente, “agregando valor mediante à introdução do VoD nas redes ISP. O outro potencial é mostrar aos provedores ISP que podem trafegar vídeo porque não tem investimento e capacidade de entrar no mundo do vídeo, um segmento ainda inexplorado e que tem muito potencial para entregar novos serviços”.
O mais relevante da plataforma, afirma Faller, é que ela poderá ser rentabilizada pelos provedores de ISP (Internet Service Providers) mediante investimentos baixos (OPEX) que possibilitem entrar “no mercado de PayTV oferecendo um serviço de distribuição o qual permita que o provedor tenha tanto a capacidade de oferecer um serviço de IPTV dentro da sua rede, como, também, entregar um serviço de OTT sobre a sua rede IP em um website ou fora da rede – se o utilizador estiver fora da rede, por exemplo, viajando com acesso remoto”.
Outra das empresas que mostrou algumas das suas soluções foi a Kaltura. Edmar Moraes, Country Manager da empresa no Brasil, afirmou à Revista da SET que as empresas devem apostar em aumentar a monetização dos seus conteúdos audiovisuais e ver como, “até mesmo deixando gravações de conteúdo na nuvem (Cloud DVR) , com personalização e aplicativos para TV, podem- -se rentabilizar os investimentos”.
Moraes anunciou, ainda, que a Kaltura se associou à NexTVision para atuarem juntas no Brasil e na América Latina e disse que, nos próximos tempos, farão o lançamento de uma solução de baixo custo e de alto valor agregado para plataformas de vídeo OTT. “A solução foi desenvolvida pensando em empresas que produzem ou têm direito a conteúdos com alto grau de interesse de um grupo específico de usuários. A ferramenta que a Kaltura e a NexTVsion estão viabilizando é baseada em nossa plataforma OTT com experiência de uso e facilidade de navegação, similar a que hoje é oferecida pela Netflix”.
A Nagra lançou no mercado brasileiro a intuiTV, uma solução que segundo Thierry Martin, vice-presidente da NAGRA para a região sul na América Latina, simplifica a experiência de consumir TV por Assinatura e conecta o usuário de maneira mais intuitiva ao conteúdo predileto. O IntuiTV permite que os provedores de TV paga ofereçam a uma nova geração de assinantes uma experiência inovadora de entretenimento, visualização e navegação em 4K,com maior variedade e opções.
“O cenário da TV paga atravessa uma verdadeira transformação e o Brasil não está imune a essa mudança. Apesar da situação econômica desafiadora, o desejo dos consumidores de ter acesso ao melhor dos serviços tradicionais e de OTT está em crescimento, e os provedores de serviços precisam ter, cada vez mais, soluções adequadas para oferecer o que os consumidores desejam: o seu conteúdo favorito, em todo momento e lugar, e em qualquer tipo de tela”, afirmou Martin.

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