SET Norte 2018: “Acertamos em apostar no IP”

Emissoras e players do mercado explicam as vantagens da implantação de workflows IP

O segundo dia do SET Norte 2018 começou, em Manaus, falando sobre o status da tecnologia de IP. A moderadora Carolina Duca, gerente sênior de Tecnologia da TV Globo Recife, situou os presentes que, “há dois anos, quando a tecnologia foi adotada, seu futuro era muito incerto e hoje vemos que acertamos e temos que apostar nele (IP)”, disse.

José Antônio de Souza Garcia, coordenador do Grupo de Estudos de IP da SET e gerente de engenharia da EBC, versou sobre o estado da arte das normas e regulamentações para infraestrutura de estúdios em IP. Garcia explicou que o adoção do padrão surgiu porque houve a necessidade da captação e de gravação em 4K.

“O fato das caixas do vídeo UHD serem muito maiores ,não dava para continuar com a mesma estrutura que conhecíamos. Algumas interfaces foram desenvolvidas para sustentar a conexão em 12 giga para UHD. Isso resolveu um problema inicial, mas não atendeu às necessidades que tínhamos. Hoje, fabricantes lançaram transmissores de 400 megabites e não temos como acompanhar sem ser com o IP”, explicou.

O IP permite características avançadas com workflow muito mais dinâmico. É um caminho para a maior eficiência  e diminuição de custo, bem como a virtualização em nuvem, gerando flexibilidade e eficiência para o processo e produção de mídia. “Sem contar a diminuição de cabeamento, em consequente uma instalação mais simples”, afirmou.

Os formatos mais utilizados dão o 2022-6, o Sony NMI Essence Independent Mapping, e o ASPEN Packet Format 2022-2. O SMPTE 2110 surgiu como uma sugestão que pudesse carregar qualquer padrão, em 4K ou 8K, e que atendesse a diferentes tipos de decodificação. “As normas para este padrão estão sendo publicadas e o padrão está 95% concluído. Ele possibilita interconexão entre fabricantes diferentes desde o empacotamento da mídia até a sua transmissão”, explicou Garcia.

A seguir, o Status da tecnologia e do formato 2110:

Por fim, o palestrante questionou se é possível trabalhar com o ST 2110 sem o NMOS IS 04/05 e respondeu que sim, a pratica é feita hoje, “mas sempre há o risco de um fabricante atualizar um protocolo e invalidar o driver”, disse.

O especialista em Tecnologia da Sony Brasil, Erick Soares, apresentou uma visão dos desafios e benefícios da adoção da tecnologia IP na infraestrutura para produção ao vivo. Soares apresentou alguns exemplos de casos reais de implementações e possibilidades de aplicações. “No advento do uso do 4K foi necessária uma infraestrutura mais complexa, pois é necessário multiplicar por quatro o que já se tinha. O SDI teve esse desafio. O mercado de teve um crescimento de escala muito maior que o mercado broadcast. Na medida em que se sobe a velocidade de quadros da produção, sobe também a velocidade de trabalho, quantidade de banda e quantidade de cabos SDI”, refletiu.

Num mercado de produção de eventos ao vivo ou alta performance, explicou, a banda tem que ser grande para suportar a transmissão dos grandes pacotes de dados. Por causa disso, a capacidade vem aumentando conforme se aumenta a qualidade do vídeo, chegando a até 200 giga.

Para o representante da Sony, os maiores problemas do IP são a busca de um padrão e o tempo para aprovação destes padrões. “Mas, nos últimos 2 anos a indústria percebeu a relevância do IP e a padronização está mais próxima. O NMI da Sony em 2015 saiu de 10 para 20 fabricantes adotando o formato. No ano seguinte já éramos mais de 50 fabricantes, e aí vimos que não tinha volta. No IBC de 2017 já eram mais de 70 fabricantes, e aí começaram a ser publicadas as primeiras normas de padronização do 2110”, detalhou.

Mas existem outros aspectos a serem resolvidos, desse Erick Soares: a questão de redundância da rede, sincronismo de vídeo, mapeamento de áudio e vídeo, identificar, reconhecer e controlar o dispositivo. para citar alguns. O NMI foi a base para que essa padronização chegasse.

O padrão 2110 vem seguindo o mesmo caminho que o NMI teve. Hoje ele esta maduro para transmitir o UHD. “No SET EXPO 2018 montamos um estúdio completo em menos de 24 horas, e isso é a maior prova de que o IP está pronto com o 2110, pois não houve problemas de conexão. O que está pendente ainda é a questão de Tally, e o IS 07 trará essa recomendação de padrão”, complementou.

Próximos passos: Na Europa já se faz a produção remota para transmissão de jogos ao vivo.  Na Austrália, a NEP faz o mesmo, com a transmissão por fibra ótica e equipes com mais de 4 mil metros de distância. “O 2110 é o padrão de fato , e temos a certeza disso”, finalizou”.

O case do Estúdio em IP de Recife

“A oportunidade apareceu há três anos, e a Rede Globo resolveu adotá-la. Foi do zero, construímos uma infraestrutura nova. A dúvida era se seria em SDI ou em IP. Tivemos questionamento de custo, pois não sabíamos aonde a tecnologia iria. Mas aí o Raymundo Barros (Diretor de Tecnologia da Rede Globo) voltou do IBC (em Amsterdã) e nos alertou que se não fossemos para o IP estaríamos errados”, contou a moderadora do painel, Carolina Duca. “Tivemos medo de a infraestrutura não ficasse pronta a tempo, ou se iria funcionar. Havia o caso da Televisa no México, que não conseguiu operar a tempo”. Ela lembra que, por um tempo, as equipes focaram nos problemas “a gente sempre pensa no sistema novo como ele trabalharia no sistema antigo, e aí surgiram dificuldades desnecessárias. Mas aí entendemos que o funcionamento era diferente e hoje colhemos os frutos da tecnologia nos trouxe”, relembrou.

Na ocasião, o padrão 2110 ainda não existia e foi adotado o padrão 2022 e, na parte de produção, os RFC 4175, AES 67 e IETF. “Ainda estamos aprendendo com o IP e principalmente sobre a segurança na rede. Hoje a rede multicast está isolada e controlada, mas entendo que o próximo passo para conseguirmos ter o ganho na troca de conteúdo teremos que colocar a rede com controle compartilhado, mas aí são quebra de paradigmas. É obvio que teremos que fazer isso, senão não teremos ganho no sistema IP trabalhando em banda base”, concluiu a moderadora.

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Captação de som e imagem pela Rede Amazônica.

Por Tainara Rebelo em  Manaus (AM), e Fernando Moura em São Paulo (SP)