Entenda a migração do rádio AM para o FM

O Brasil passa atualmente por um grande processo de migração das rádios, do AM para FM. Buscando responder algumas perguntas e explicar melhor o processo, a SET conversou com seu Diretor de Rádio, Eduardo Cappia (SET/AESP/EMC), e o Vice-Diretor, Marco Tulio Nascimento, que vêm ministrando painéis a respeito do tema nos encontros regionais e no SET EXPO.

Em poucos tópicos, a SET explica a seguir o que é a migração das rádios do AM para o FM, em que estágio o Brasil se encontra no assunto e experiências que vêm acontecendo em outros países.

 

Diretor de Rádio da SET, Eduardo Cappia - Arquivo SET

Diretor de Rádio da SET, Eduardo Cappia – Arquivo SET

A Migração:

A migração do AM para o FM no Brasil surgiu em 2009, com a necessidade dos radiodifusores preservarem as emissoras que estão ou estavam em AM, e que sentiram a necessidade de aprimorar seus serviços pleiteando a faixa FM. Em linhas gerais, a Faixa FM (Frequência Modulada) possui melhor qualidade de som e tem menos chiado e interferências.

Historicamente, as rádios em AM (Modulação em Amplitude) têm longo alcance (dependendo da faixa e horário de transmissão) e frequentemente sofrem mais interferências eletromagnéticas, com comportamentos distintos entre dia e noite e com alta degradação imposta pelo ruído elétrico urbano. Já o FM tem comportamento de cobertura mais uniforme entre dia e noite, sendo sensivelmente menos afetado por interferências radioelétricas.

Dados oficiais dos Ministérios das Comunicações, dão conta de que existem em torno 1,7 mil rádios em AM no Brasil, das quais mais de 70% (1.381) optaram por fazer seus processos de migração. “Esta migração não é obrigatória, segundo regulamenta o decreto nº 8.139, de 7 de novembro de 2013, mas a maioria das emissoras acredita na migração como uma maneira de preservarem seus conteúdos”, explica Cappia.

 

Estágio atual no Brasil

No dia 10 de maio de 2016, o Brasil fez a primeira grande audiência pública para conceder outorgas de faixa FM para as emissoras que optaram pela migração. Nesta primeira ação, 55 emissoras assinaram seus contratos de adaptação de outorga e iniciaram suas implantações de sistema transmissor.

“Depois desse período, algumas emissoras fizeram seus contratos individualmente com o Ministério. Mas foi só em 7 de novembro de 2016, quando houve outra grande solenidade pública, que mais de 200 emissoras assinaram seus contratos, resultando em mais de 300 emissoras migrantes ou em fase de assinatura de contrato após pagarem os boletos pela Adaptação de Outorga”, explica o diretor da SET.

As rádios que optaram por continuar na faixa do AM têm de se adequar a algumas normas, tais como terem de migrar das potências menores para um mínimo de mil watts, ou ainda terem de fechar suas portas e encerrar atividades caso permaneçam com baixa potência, caracterizando o perfil do AM local.

No último SET Norte, realizado nos dias 9 e 10 de novembro, em Manaus (AM), Cappia demonstrou exemplos de rádios que não optaram pela migração em Manaus, e contou o caso do Pará, onde todas as emissoras migraram. A matéria completa você lê aqui.

 

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Vice-Diretor de Rádio da SET, Marco Tulio Nascimento – Arquivo da SET

A Migração no mundo e a Digitalização na Noruega

Cappia destaca dois grandes exemplos de migração no mundo, o do México e da Noruega. A convite da SET, ele esteve recentemente na Feira do Broadcast México, onde conheceu de perto os resultados da migração naquele país.

“A grande diferença é que lá a migração foi compulsória. Todas as emissoras deveriam estar no FM de acordo com um cronograma, que ainda não está finalizado. O resultado é que uma grande parte da população, que não estava preparada para esta migração, ficou sem o sinal das rádios”, detalha.

Já a Noruega, Cappia considerado um “caso à parte”, por ser um país de aproximadamente 5 milhões de habitantes, e no qual o governo afirmou haver 70% da população pronta para receber o sinal.

“Com isso, impôs a recepção exclusivamente de maneira digital – Digital Audio Broadcasting (DAB) -, excluindo a grande massa que ainda utiliza o rádio pelo dial analógico, como no carro ou em casa, no aparelho de rádio. São casos que o Brasil precisa se atentar para não cometer o mesmo erro, e a SET, por sua vez, vem acompanhando essas discussões e exemplos”, afirmou.

O Vice-Diretor de Rádio da SET, Marco Túlio Nascimento, pondera o outro lado da questão norueguesa, onde ocorre a digitalização. “Sendo um pouco especulativo, me parece que há ainda um componente político nessa decisão. O funcionamento em paralelo do DAB e do FM por tanto tempo é também um sinal de fragilidade do digital. Assim, para os defensores da tecnologia, o switch-off do analógico serviria para reafirmar que a decisão de migrar para o DAB foi acertada. Ao mesmo tempo, seria uma forma de (supostamente) alavancar as vendas de receptores. A evolução da base de receptores DAB no mundo tem sido relativamente lenta. Daí, talvez, a decisão de fazer o switch-off agora, a despeito de todas as outras questões”, detalhou.

“Até onde apurei, apenas a rede nacional de rádio está seguindo este caminho, por enquanto. As FMs locais permanecerão em funcionamento por pelo menos mais cinco anos. Assim, o avanço digital está sendo feito, porém, até certo ponto, de forma cautelosa. Ou seja, é apenas o início do fim”, observa o Vice-Diretor.

 

O papel da SET na migração

A SET vem, por meio dos seminários regionais e do SET EXPO, se dedicando ao assunto da Migração AM/FM desde a sua concepção, em 2009. Atualmente, o SET EXPO dedica um dia de seu Congresso de Tecnologia exclusivamente com o tema rádio. “Para este ano, programamos três painéis: um para tratar da Infraestrutura, outro para falar da tecnologia, e o terceiro para abordar a mobilidade e internet, e a recepção via smartphone, na modalidade híbrida”.

Os temas das palestras ainda estão sendo fechados, mas já se sabe que o primeiro painel trará, entre seus assuntos, a canalização FM na faixa estendida, de 76 a 88 MHz.

“A SET tem cumprido seu papel de maneira bastante efetiva quanto à cobertura de todos os setores no processo de migração. Como prova disso, o dia do rádio está sempre cheio, com painéis lotados, do início ao fim do dia, o que torna o nosso trabalho anda mais gratificante”, finaliza o Diretor da SET.