UM CONGRESSO PARA NINGUÉM BOTAR DEFEITO

XX CONGRESSO DA SET
UM CONGRESSO PARA NINGUÉM BOTAR DEFEITO
Revista da SET – Edição 102

O XX Congresso da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, a SET, o primeiro da era da TV Digital  terrestre, foi um sucesso de público mais de 1.400 pessoas inscreveram-se para participar das 37 palestras proferidas, um crescimento de 17% sobre as 1.200 do congresso passado e de crítica, pois a imensa maioria elogiou o temário, os palestrantes e tudo o mais que diga respeito ao evento.

Aberto no dia 27 de Agosto com a presença do ministro das Comunicações Hélio Costa na mesa estavam ainda Lisandro Salas, secretário de Comunicações da Argentina; Liliana Nakonechnyj, nova presidente da SET; Ara Apkar Minassian, diretor da Anatel; André Barbosa, representante da ministra Dilma Rousseff; Tadaaki Yokoo, da ARIB; de Ale­xandre Annenberg, presidente da ABTA; Amilcare Dallevo, presidente da ABRA; Daniel Slaviero, presidente da ABERT e Manoel Rangel,  presidente da Ancine,  o Congresso terminou dois dias depois e marcou o final do mandato da diretoria presidida por Roberto Franco.

Muito emocionado, Roberto Franco, que dedicou seis anos à SET em três mandatos, disse esperar ter deixado uma pequena marca, “ao menos uma pegada nessa apaixonante jornada”.

Marca
Deixou, sim. A marca é a da digitalização da TV aberta. Sem sombra de dúvidas, sob o comando de Franco a participação da SET no processo de digitalização da TV terrestre no Brasil foi decisiva para a escolha do padrão adotado.

No discurso de despedida, o ex-presidente historiou as grandes mudanças ocorridas no mundo nos últimos 20 anos para recontar, em paralelo, a história da SET entremeada com as mudanças políticas e econômicas que alteraram a face  do país.

Para tanto, Franco fez um apanhado desde o nascimento da entidade em 1988, mes­mo ano da promulgação da atual Constituição, até os dias atuais. “Nascer sob a égide de uma nova Carta Magna não foi uma coincidência, o país se reconciliava consigo mesmo”, lembrou Franco. “Era preciso retomar a velha prática das discussões, do choque de idéias, das divergências e do entendimento”.

A SET, mostrou Franco, sempre promoveu o debate e o entendimento e soube se transformar num fórum importante e num centro de desenvolvimento profissional para o setor. “0 debate franco e democrático não afasta; agrega. Ele transforma a diversidade de idéias em poderoso ativo, pois conduz à melhor solução em benefício da maioria”.

Depois de historiar também a  importância adquirida pela entidade por meio de estudos técnicos e participações na NAB, incluindo o pavilhão brasileiro em Las Vegas, o ex-presidente afirmou que a convergência das tecnologias de informação e das comunicações trouxe consigo as convergências das plataformas e dos serviços, provocando sobreposição e indefinição de papéis, “gerando desconhecido e selvagem ambiente de competição”.

Amada aqui e odiada acolá, desejada por uns, temida por outros, a convergência é algo inexorável. Mas, se não pode ser ignorada, não quer dizer que não possa ser pensada e planejada. “Este é o desafio atual da SET. Não podemos permitir que a convergência sirva apenas como uma sigla para os conhecidos monopólios”, disse Franco. “Devemos trabalhar para que ela sirva melhor o consumidor, além de reduzir as desigualdades e criar maiores oportunidades para todos”.

Rádio e Cinema
Antes da peroração de Franco, Daniel Slaviero, da Abert, enalteceu o papel das emissoras no processo de digitalização, pois elas têm cumprido rigorosamente com a sua parte. “Na avaliação da Abert, a evolução da implantação tem sido muito positiva. Afinal, mais quatro ou cinco capitais terão TV digital até o fim do ano”.

Na sua vez, Manoel Rangel, da Ancine, disse que ainda neste semestre entrará em vigor uma decisão do governo dando às emissoras de televisão um benefício fiscal em troca do apoio delas às produções independentes. “Fará bem à indústria e ao mercado”.

Por sua vez, André Barbosa afirmou a sua crença numa TV ainda mais forte com a digitalização: “aqueles que preconizam a morte da TV aberta, substituída por outras plataformas digitais, ou estão enxergando o mundo sob o ponto de vista corporativo ou não têm a visão certa”.

De acordo com Barbosa, receber a informação não é exatamente igual a procurar a informação. Quem não pensa assim não entende e não compreende o hábito humano de chegar em casa, ligar o rádio e a TV e ter uma companhia. “Isso muito dificilmente vai mudar. Se há qualidade, se há interatividade, provavelmente haverá mais acesso a esse veiculo maravilhoso, a televisão”. Para ele, se houver mudança ela se dará pela soma do comportamento das futuras gerações e da tecnologia oferecida, nunca apenas pelo lado tecnológico.

Puxão de orelhas
Já o ministro Hélio Costa mandou um recado aos proprietários de emissoras de rádio sobre a digitalização do setor, que virá mais dia, menos dia. “Digitalizar é crescer. Ficar no analógico é desaparecer”, afirmou.

O ministro aproveitou a oportunidade para dar um puxão de orelhas nas geradoras de televisão. Ele cobrou a divulgação dos atrativos da televisão digital. “Eu não estou vendo a TV brasileira vender a TV digital. Tem seis meses que eu não vejo um anúncio”.

Antes mesmo da fala do ministro o presidente da Associação Brasileira de Rádiodifusão-(ABRA), Amilcare Dallevo, já chamara a atenção para este ponto: “é responsabilidade nossa planejar uma divulgação melhor em termos de TV digital e eu penso que devemos aproveitar este congresso para encaminhar o assunto”.

Balanço
Imediatamente após a sessão de abertura começaram os painéis e o Congresso propriamente dito. O balanço da iniciativa é altamente positivo. “Tivemos mais estrangeiros, tanto palestrantes quanto ouvintes. Tivemos também um recorde na oferta de call for papers. Foram praticamente cinco vezes mais ofertas de papers que no ano passado”, diz Olímpio José Franco, vice-presidente da SET. “0 nosso sonho tem sido aproveitar todos e que todos os interessados nos façam chegar uma proposta formal e não em invited papers”.

A programação das palestras foi um dos motivos do êxito do Congresso de 2008. “Uma olhada na grade das palestras mostra que ela contemplou o nosso sistema de TV Digital em todos os seus aspectos”, elogia Euzébio Tresse, consultor e membro do Fórum SBTVD.

Outro ponto ressaltado por Tresse é que a grade ainda inseriu dois workshops para o pessoal “aprender fazendo”: um ensinava como configurar o Multiplexer, o coração da transmissão, e outro mostrava como medir os sinais que carregam os conteúdos criados pelo mundo artístico.

A grade, lembrou ainda Tresse, não esqueceu o futuro do setor e trouxe a TV em 3D para o debate. Quem assistiu o painel viu que HD em 3D mistura Cinema e TV e é uma nova mídia que a sociedade terá à disposição. “Só nesse ramo deverão surgir várias profissões novas para o mercado”.

Em 2008 o Congresso da SET trouxe para a discussão o assunto “Lixo eletrônico – o que fazer?”. Já existem várias empresas reciclando esse tipo de lixo. “Melhor ainda foi tomar conhecimento das tecnologias envolvidas para reciclar placas de circuito impresso, pilhas, DVDs, etc. Essa reciclagem chegou em boa hora”, afirma Tresse.

Mais um bom motivo do êxito: neste ano havia cinco salas em paralelo onde ocorriam palestras simultâneas. No ano passado eram quatro. Portanto, este foi mais um desafio vencido pela organização, pois houve a necessidade de arregimentar mais coordenadores e mais palestrantes. “Crescemos em salas, em painéis, coordenadores e apresentadores. E logicamente tivemos mais público”, afirma Olímpio.

Segundo ainda Olímpio, a SET, para o ano que vem, pretende uma mudança. Trata-se de abrir o Congresso um dia antes da Feira e terminá-lo ou na manhã do dia em que terminar a Feira, ou, no dia anterior. “No atual formato, o último dia é um risco grande para a organização, pois as pessoas ou estão querendo ir à feira ou estão voltando”.

Rodinhas
Com um temário composto por 37 palestras, e com tanta gente participando, o Congresso fervilhou. Após as palestras, não raro se formavam animadas rodinhas de discussão entre os participantes, com cada um expondo uma ou mais facetas do assunto em pauta. Aqui, um extrato delas:

O vice-diretor da Rede Record, José Marcelo, mostrou-se cauteloso em relação ao advento da interatividade na TV brasileira. “Nós temos que ser conservadores, porque esse é um paradigma novo para nós”. Já o diretor da HXD, Salustiano Fagundes, recomendou que os líderes experimentem o novo. “Se em dois anos não tiver interatividade, o setor de software vai perder o timing”.

Um dos pais do middleware Ginga, o pesquisador da PUC-RJ Luiz Fernando Soares, assistiu à demonstração das primeiras interfaces que foram ao ar pelas emissoras de TV e se disse satisfeito. “A qualidade ultrapassa a expectativa inicial. E isso porque nós demoramos só dois meses para criá-las”. Carlos Fini, da TV Globo, lembrou que nenhum middleware virou padrão mundial, e concluiu: “Se o nosso for bom, vai virar o padrão”.

Rádio Digital
Mas nenhum outro tema parece ter gerado tantas opiniões e troca de informações quanto a digitalização do Rádio. Para Carlos Goya, da Eletros, o rádio digital deve trabalhar com premissas para sua efetivação no Brasil. Uma delas é  a “criação de mercado” onde “o plano principal nesta cadeia de valor seja o consumidor”. Outra é qualidade no produto e um marco regulatório seguro: “se não estivermos atentos às essas premissas, o impacto será negativo na implementação do rádio digital”.

Depois de dizer que a indústria automotiva é conservadora e, por isso, a implementação do rádio digital no Brasil precisará ser acompanhada de qualidade na transmissão e na recepção. Ari Miranda, da Visteon, afirmou que a sintonia analógica é crítica em alguns pontos de São Paulo e Belo Horizonte e o rádio digital deverá suplantar estas dificuldades, se quiser obter sucesso: “para receptores fixos o problema é menor mas para portáteis a dificuldade é enorme”.
Para Slaviero, da ABERT, o DRM não é a opção. “Não há lugar no mundo em que  isso funcione. O desafio é o IBOC ou permaneceremos no analógico. Ou se digitaliza com IBOC ou ficaremos no analógico”.

Por sua vez, John Scheineder, da iBiquity, desenvolvedora do padrão IBOC, disse que as inovações no sistema HD Radio estão tornando os receptores mais interessantes ao público por causa de serviços diferenciados como informações gráficas sobre trânsito por dispositivos GPS acoplados, gravação digital de toda grade multicasting, disponibilidade de iPod docks e rádio por assinatura: “O IBOC está em desenvolvimento. Os problemas não são razão para não seguirmos adiante”.

Segundo Schneider, hoje, nos Estados Unidos são oferecidos 60 modelos de receptores HD Radio, alguns a menos de 100 dólares. Seu colega de iBiquity, Scott Stull, complementa: “não há razão para não imaginarmos a redução de 100 para 49 ou 29 dólares nos próximos anos”.

Se prosseguir proporcionando palestras, opiniões e informações valiosas como essas, também não há nenhum motivo para acreditar que os congressos da SET não continuarão a interessar cada vez mais radiodifusores, engenheiros, estudantes e outros públicos.

OPINIÃO
Por João Bráz Borges, diretor de marketing da SET

No XX Congresso da SET, o primeiro na era da digitalização, tivemos três dias de palestras e debates sobre os caminhos
do Rádio e Televisão Digital. Foram dias de aprendizado com a comunidade que fez acontecer junto à comunidade científica e governo o melhor padrão de TV Digital do mundo, um sistema que sem nenhuma dúvida permeará a América Latina, abrindo mercado para a indústria brasileira de equipamentos e receptores digitais, gerando empregos e popularizando a nova TV em função do volume de vendas e conseqüente queda nos preços.
Cumprir com o papel de informar com clareza aos participantes do XX Congresso da SET sobre a digitalização da TV Aberta e Rádio foi um ponto positivo. O debate sobre os direitos autorais com a distribuição de conteúdos digitais foi o que mais me chamou a atenção, pois temos uma legislação recente sobre Direitos do Autor e esta não está sendo observada pela mídia. Não de forma generalizada, mas incluem-se aí as cabeças de rede nacionais, o que é um péssimo exemplo como frisou o diretor de programas e filme Roberto Faria. Se o veículo de comunicação burla a legislação, com qual legitimidade este veículo busca uma nova legislação para se proteger? Ou será que teremos que seguir o modelo japonês de esvanecimento do conteúdo após determinado número de cópias? O exemplo deve ser dado pelos distribuidores de conteúdo, caso contrário estará sob a régia “do levar vantagem em tudo” que deve ser banido totalmente de nossa nação.
Vimos uma Broadcast and Cable diversificada este ano, mostrando novos equipamentos de produção, transmissão e contribuição externa (micro-ondas) digitais, mas tivemos a presença de fabricantes de conversores e set-top boxes, que de certa forma interessa ao radiodifusor, pois quanto mais se fabricar e vender estes produtos menor será o preço, beneficiando as duas pontas do negócio: emissoras de TV e telespectadores.
Acreditar no cinema digital como forma de produção poderá ser uma das grandes saídas para as emissoras de TV, pois serão muitos os fornecedores de conteúdo com qualidade em HDTV (alta definição), onde serão privilegiados a experiência e credibilidade dos produtores independentes que já atuam no mercado.
Já na questão do cinema digital e salas exibidoras: existem empresários apostando no cinema 3D (tridimensional). Até o final deste ano serão dezessete salas preparadas para este modelo de negócio. Muitas nuances foram apresentadas no workflow de trabalhos já realizados como o show do “U2-3D” e o filme “Viagem ao Centro da Terra”. Neste negócio de alta tecnologia a decisão mais difícil foi a escolha dos óculos que complementa a tecnologia 3D em função de custos e possibilidade de desgaste junto ao cliente, que eventualmente não devolvesse este acessório.
Estudar, trabalhar e aprender sempre é a receita para continuar neste mercado de radiodifusão que promete continuar crescendo muito, pois hoje o Brasil não é uma ilha de importação de tecnologia, mas sim um grande mercado pronto para exportar tecnologia de ponta e conhecimento.

O XX Congresso da SET proporcionou aos que assistiram as palestras uma incrível quantidade de informações e uma oportunidade sem par de dirimir dúvidas. Os painéis, com suas palestras e workshops, começaram já no final da manhã da quarta-feira, 27 de agosto. Veja o que de mais importante rolou:

“O fim da era analógica e os futuros usos do espectro” teve como moderadora Liliana Nakonechnyj. O painel contou com os palestrantes Mark Richer, presidente da ATSC, Koji Osaki, da NHK, Osamu Yamada, da Pioneer e Gerard Faria, da Teamcast.

Em sua intervenção, Liliana reafirmou que, no mercado americano, as transmissões analógicas devem ser, de fato, encerradas no dia 18 de fevereiro de 2009, mas a grande notícia é que, para as famílias carentes de recursos, o governo americano faz doações em dinheiro para a compra de conversores digitais. Todavia, os americanos estão deixando para comprar os conversores na última hora (leia mais na seção ONE SEG).

Como o tema pedia, as maneiras como as diferentes formas de transmissão do sinal de TV se comportariam com o canal de retorno logo começaram a ser debatidas. As vantagens do cabo, que permite o tráfego do canal de difusão de sinal e do canal de retorno, foram ressaltadas, mas a desvantagem de permitir o uso apenas a localidades ligadas fisicamente ao transmissor do sinal é um tiro no pé para quem deseja integrar o máximo possível de lugares do imenso território brasileiro. Ficou claro que o sinal terres­tre deve assumir a missão de levar as maravilhas da TV digital para todo o Brasil nos próximos anos.

HD Rádio
Enquanto isso, em outra sala, Daniel Pimentel Slaviero (ABERT) moderava uma quente discussão de fabricantes de receptores de rádio que apontavam os desenvolvimentos dos aparelhos, as formas como estão sendo reduzidos os preços para que a maior parte da população tenha acesso aos produtos e, claro, qual o cenário do Rádio nos próximos anos.

Ary Miranda, da Visteon, fez um retrospecto da história dos aparelhos de recepção de rádio. Miranda afirma que meios como a fita cassete, o cd e mp3 player devem entrar em desuso em 2010. E multimídia cai até 2012. Por isso ele defendeu o raciocínio de que a tendência é das pessoas procurarem todo tipo de entretenimento eletrônico dentro dos automóveis e outros veículos.

O diretor da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Carlos Goya, citou os expressivos números da indústria no ano de 2007, em que foram vendidos, por exemplo, 11,3 milhões de aparelhos de TV. Ele frisou que o padrão do HD Rádio a ser desenvolvido deve ter o menor custo de royalties possível e não pode “matar” o analógico, ou seja, digital e analógico devem coexistir har­monicamente.

Ponto de vista diferente de Moris Arditti, da Gradiente e do Fórum SBTVD. “Evolução precisa resultar em benefícios”, disse ele, mostrando que o rádio fez isso até agora, com aparelhos cada vez menores, melhores e mais baratos. Arditti disse também que, se em outros ramos do consumo o digital está substituindo o analógico por ser mais evoluído, não há razões para que o caso do rádio seja diferente.
Scott Stull, da Ibiquity, abriu sua apresentação mostrando a popularidade do rádio digital nos EUA, onde há mais de 60 modelos de receptores à venda por menos de 100 dólares. Entre as vantagens do IBOC desenvolvido pela Ibiquity – Stull apontou a possibilidade de ver informações, por exemplo, de postos de gasolina e seus preços na região onde se está dirigindo, e também o multicasting, que permite às emissoras veicularem programas com espaço entre 96 kbps e 120 kbps.

Outro painel sobre Rádio mereceu muita atenção do público. Moderado por Ronald Barbosa, diretor de Rádio da SET, “Status do HD Rádio” discutiu a  digitalização com participações de Scott Stull e John Schneider, também da Ibiquity. De acordo com Schneider, o Rádio digitalizado afetará a forma como o brasileiro ouve rádio, e isso será uma resposta às demais tecnologias que competem com a mídia.

Os participantes tomaram conhecimento dos resultados dos testes realizados pela Universidade Mackenzie a pedido da ABERT. Os estudos apontaram que se pode transmitir em digital e analógico ao mesmo tempo e que não se precisará usar um espectro “novo” nem desligar o sinal analógico.

Conteúdos e infra-estrutura
A maneira de gerenciar o conteúdo agregando valor por meio da catalogação, da interoperabilidade entre os sistemas e da integração das empresas foi o tema do painel conduzido por Leonel da Luz (SET e Organização Jaime Câmara). Os palestrantes foram o português Ernesto Santos, da MOG Solutions, Johny Murata, da Lineup e Fábio Tsuzuki, da Videodata.

Uma das possíveis respostas foi dada por Santos. Ele apresentou o MXF-Material Exchange Format, uma tecnologia que permite a interoperabilidade de aplicações em diversos formatos, inclusive vídeo HD sem compressão.

A grande sacada da tecnologia MXF são os metadados que, incorporados a arquivos de áudio e vídeo, dão à ca­deia de produção de TV uma estrutura reformulada, desde a criação até os processos de edição, publicação e arquivamento dos conteúdos. Com os produtos arquivados no formato MXF (vídeo, áudio e metadados), o tempo de busca de um material audiovisual é sensivelmente reduzido.

A seguir, Tsuzuki falou sobre as soluções da Videodata para o arquivamento digital de conteúdo por meio de seu direcionamento nos ambientes virtuais. O palestrante apresentou o caso prático da Traffic (atual patrocinadora do Palmeiras). A empresa detalha os melhores lances dos jogadores do time para assim agenciá-los aos interessados em negociar os passes dos jogadores.

Johny Murata, da Lineup, mostrou transparência ao apresentar a solução Enterprise de gerenciamento de conteúdo até porque, além das vantagens, apontou também as desvantagens. Para o palestrante, investir em uma solução com ampla capacidade de expansão futura, adaptável ao perfil do cliente e que pode ser interfaceada com outros aplicativos existentes, supre o alto investimento na tecnologia.

A infra-estrutura do conteúdo das emissoras merece cuidado especial e, pensando nisso, o Congresso da SET criou o painel “Emissora Digital: Central técnica” para discutir o assunto sob a moderação de Luis Eduardo Leão (SET e TV Alterosa)e com os palestrantes Sok Won Lee (TV Iguaçú), Kalled Adib (RedeTV) e Marcelo Blum (Videodata).

Meios para aferir a qualidade do conteúdo em um ambiente tapeless é uma necessidade das emissoras e foi a principal questão levantada na exposição de Marcelo Blum.

Diógenes Rodrigues (Rede Massa), falou sobre o workflow de edição, que usa as informações arquivadas no Storage central, acessado pela conexão Fibre Channel.

Normas
A transição de emissoras de rádio e TV para o digital teve os aspectos legais e normativos deste processo tratadas no painel “Normas e procedimentos: Como se adequar ao período de transição de tecnologia analógica para digital”. Valderez Donzelli (SET e AD & TEC) moderou os palestrantes Jayme Carvalho Neto, do Ministério das Comunicações, o Minicom, Yapir Marotta, da Anatel, e Ronald Barbosa (SET e Abert).

A mesa ressaltou que, até o digital conseguir atingir as mais remotas antenas de TV, o sinal analógico ainda estará operando e deu aos participantes orientações e esclarecimentos sobre os procedimentos técnico-legais desta transição, pela qual o rádio também passará em breve. Houve grande participação do público, que pôde dirimir várias dúvidas sobre, por exemplo, o conceito de cobertura e o que muda do sistema analógico para o digital.

A abordagem das mais recentes especificações do Módulo Técnico do Fórum SBTVD foi responsabilidade do painel “Normas SBTVD”, moderado por Paulo Henrique Castro, da TV Globo. A palestra trouxe questões sobre o próprio módulo técnico, transmissão do sinal, multiplexador e receptores.

Vanessa Ramos, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, alertou os presentes sobre a existência de uma documentação atualizada contendo as especificações. Ana Eliza Faria (SET e TV Globo) mostrou um balanço dos documentos concluídos até o momento. Gunnar Bedicks (SET e Universidade Mackenzie) discorreu brevemente sobre os principais aspectos do Guia de operações de transmissão e das medidas de cobertura realizadas pelos pesquisadores.

Carlos Fini, também da TV Globo, levantou os principais aspectos do Guia, mas destacou os cuidados de implementação que os radiodifusores devem tomar. De olho no mercado consumidor, Aguinaldo Silva, da AOC Envision, colocou os principais desafios enfrentados para se conseguir lançar receptores digitais compatíveis com as normas.

Transmissão, Cinema digital e 3D
As novas tecnologias disponíveis para o cinema digital foram tratadas no painel moderado por Alex Pimentel (SET e Teleimage), com a presença de Carlos Klachquin, da Dolby Film, Nacho Mazzini, da Assimilate Inc. e José Eduardo Ferrão, da Rain.

O conceito de projeção e produção em 3D foi tratado por Klachquin como algo que provoca ganho de audiência pela experiência mais próxima da vida real que a tecnologia provoca. Já Mazzini e Ferrão marcaram presença com a apresentação de workflows do show do U2 e do filme “Viagem ao Centro da Terra” em 3D.

José Dias, da TV Globo, coordenou o painel “Estereoscopia na TV – A Nova Onda”. Os palestrantes foram Hans Hulmer, da Absolut Technologies e Renato Secco, da Philips.

Hans contou a história da sua empresa, que desde 1998 produz displays 3D. Iniciou em 1998 e hoje é referência em monitoração 3D para área de petróleo.

Secco enxerga o B2B, o Digital Signage e a propaganda como os principais usuários para TV 3D no curto prazo. Também explicou a tecnologia da Philips, que dispensa os óculos anaglíficos, e mostrou o televisor 3D da empresa no qual o espectador precisa mexer a cabeça para achar a terceira dimensão; a resolução também é reduzida. Em no máximo 2 anos esses televisores deverão começar a chegar às residências.

“Transmissão Digital: Planejamento e canalização de TV Digital” teve André Cintra, da ALUC, como moderador das apresentações de Gregory Zancewicz, da Microtune, Koji Osaki, da NHK, Mauro Soares Assis, da Universidade Federal Fluminense, Geraldo Tasso, da Anatel e Fábio Fonseca, do Minicom.
Resumo da ópera: segundo informações anteriores da Anatel, o planejamento já foi concluído em todas as capitais do Brasil, em grande parte de São Paulo e em parte do Estado de Minas Gerais. “As próximas cidades dependerão principalmente do “Índice de Potencial de Consumo” para ficar no começo da fila dos planos de canalização”, informou Geraldo Tasso.

IP ou não IP?
Fernando Bittencourt (SET e TV Globo) procurou ser provocativo ao moderar o painel “IP ou não IP? Eis a questão”, que discutiu as tendências das mídias tradicionais em conseqüência do crescimento da internet. Sua intenção era mostrar que a convergência das mídias é real, mas o modelo de negócio no futuro é imprevisível.

“TV Aberta, por Assinatura, telefonia móvel e fixa, banda larga, 3G e qualquer outra plataforma que surgir terá sua tecnologia completamente dominada, mas o conteúdo que ela vai transportar dependerá sempre de muita negociação” notou o consultor Euzébio Tresse. Com a difícil tarefa de prever o futuro dos modelos de negócio para mídias fixas e móveis, palestraram Mario Baumgarten, da Nokia, Antônio Maia (SET), Marcelo Bechara, do Minicom, Juarez Queiroz, da Globo.com e José Felix, da NET.

Baumgarten demonstrou que a digitalização, aos poucos, exterminará as fronteiras existentes nas telecomunicações, devendo atingir sua plenitude com os serviços via IP. Para tanto, as redes terão de subir a velocidade em 100 vezes sem que o custo aumente. Mas o palestrante defendeu que somente o IP ubíquo poderá permitir a mobilidade dos serviços prestados, do acesso do usuário, do terminal e também a flexibilidade dos negócios.

Félix apostou no Triple Play, mas a tecnologia já mudou duas vezes em apenas um ano. Agora aposta em Conteúdo digital, Interativo e em Alta Definição.

Bechara prevê que a computação pervasiva ubíqua ela permite ao usuário entrar na rede de forma natural (não mais com necessidade de uma ferramenta como, por exemplo, o próprio PC), o tempo todo, ou a qualquer hora é a tendência e deve dominar o mercado entre 2010 e 2030.

Maia descortinou o cenário internacio­nal do mundo convergente, onde o vídeo na web cresce assustadoramente, com experiências diferentes e de forma facilitada. A TV Digital, segundo ele, vai ser a catalizadora.

Ginga
Luiz Fernando Soares, da PUC-Rio, um dos pais do Ginga, apresentou as características deste middleware desenvolvido pela PUC-Rio e Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O painel também contou com Rob Glidden e Calinel Pasteanu, da SUN, sob a moderação de David Britto (SET e TDSTV).

Soares delineou as principais diferenças entre as linguagens procedurais e declarativas utilizadas no desenvolvimento de aplicações interativas para TV Digital, feitas por meio do Ginga, segmentado em três subsistemas principais: Ginga Common-Core (Ginga-CC); Ginga-J e Ginga-NCL. O Ginga-CC dá suporte tanto para ambientes declarativos (Ginga-NCL) como para procedurais (Ginga-J).

Para atender às demandas do mercado, as universidades dividiram os trabalhos. A UFPB desenvolveu o Ginga-J. Já a PUC-RJ se incumbiu de trabalhar no Ginga-NCL.

De acordo com Soares, as três linguagens foram desenvolvidas para que variadas aplicações interativas possam ser atendidas, dependendo de seu grau de complexidade. Em português claro: no caso de um aplicativo interativo, é possível fazê-lo com o Ginga-NCL, puramente declarativo. Se o grau de complexidade da aplicação for um pouco ou muito maior, pode-se utilizar as linguagens LUA ou Java.

“Várias coisas para TV Digital têm um futuro brilhante”, disse Soares acerca das aplicações interativas da TV Digital, principalmente nos mercados de entretenimento, informação e publicidade.  Além de se poder escolher o tipo de linguagem, as aplicações podem ser locais executadas apenas no set-top box ou até mesmo plenas, abrindo um canal de comunicação entre o telespectador e um banco de dados, um servidor, ou mesmo entre dois ou mais usuários.
Nelson Faria (SET e TV Globo) moderou um Painel sobre Cinema Digital tendo como palestrantes Dhanendra Patel, da Sony americana,  Nacho Mazzini, da Assimilate Inc. da Argentina, Vlade  Lisboa, da Assimilate do Brasil, Celso Araújo (SET e TV Globo), Tuca Moraes, da Rede Globo, e David Stam, da ASC/USA.

O representante da Sony detalhou as características das novas câmeras da empresa destacando o acréscimo do espaço de cores e a boa resposta de preto.

Mazzini  deu o Data sheet das câmaras RED (CMOS) que começou nos Jogos e agora chegou ao cinema. Lisboa demonstrou como usar o SCRATCH, cuja saída pode ser cine ou vídeo.

Stam focou no uso das RED. Araújo comentou os resultados dos testes feitos com a câmera Sony e Tuca explicou como são iluminadas as cenas para os testes.

Teoria igual à prática
As emissoras fazem propaganda das maravilhas da nova tecnologia. Mas os objetivos estão sendo alcançados? A qualidade do sinal é realmente boa? Sob a moderação de Gunnar Bedicks (SET e Universidade Mackenzie), Maria Eloisa Santos, do SBT, Liliana Nakonechnyj (SET e TV Globo), José Frederico Rehme, da Rede Paranaense de Comunicação e Ricardo Franzen, da Rede Canção Nova, palestraram no alentado painel “Transmissão Digital: Cobertura Digital e visão das emissoras”.

“Os resultados obtidos comprovaram que a teoria está coerente com a prática, uma vez que os valores de intensidade de campo obtidos na teoria são praticamente os mesmos observados em campo”, apontou Eloisa Santos. Segundo ela, as poucas regiões que recebem sinal inadequado têm relevo desfavorável às transmissões.

A TV Globo testou a recepção do sinal digital com antenas externas em São Paulo e Belo Horizonte. Não houve surpresas: a qualidade do sinal chega com perfeição às antenas.

No entanto, Liliana Nakonechnyj mostrou que, no caso das antenas internas, a simulação é mais difícil e menos precisa. Mesmo assim, o sinal chega a alguns lugares com um percentual de sucesso superior a 70%. Liliana ainda falou dos excelentes resultados nos testes de cobertura de One Seg em São Paulo.

Educação
“Receptores: A Face digital do consumidor” tratou dos aspectos de preços, tecnologia, mercado e desenvolvimento dos produtos inclusive para One Seg. O painel foi moderado por Carlos Capellão (SET e Phase), que coordenou as palestras de Domingos Stavridis e Benjamin Sucsu, da Samsung, Carlos Goya, da Eletros, Haroldo José Onisto, do Instituto de Pesquisas Eldorado e Chris Purdy, da Tektronix.

Para Goya, as empresas representadas pela Eletros construíram uma sólida relação com os consumidores, que devem ser os principais responsáveis pelo sucesso das transmissões digitais no país. A qualidade dos produtos, o preço e os benefícios reais são os fatores que podem conquistá-los, o que, segundo o representante da Eletros, são também os maiores desafios até porque os consumidores ainda não foram “educados” para aderir ao digital, coisa que só pode ser conquistada por meio de um trabalho conjunto entre governo, emissoras e indústria.

HDTV móvel e portátil
O mapeamento de aplicações bem-su­ce­didas para os serviços de TV móvel e portátil foi o tema do painel “TV Móvel e TV Portátil: Conteúdo, aplicação”, moderada por Ana Eliza Faria (SET e TV Globo), com os palestrantes Mark Richer, da ATSC, Patrick Bodun, da Access Systems Americas, Ian Locke, da Envivio e Gerard Faria, da Teamcast.

Locke apresentou os produtos 4Stream (transporte via IP) e o 4Caster Mobile Encoder, tecnologias que permitem, segundo o palestrante, uma boa distribuição de conteúdo para TV Móvel, Internet TV e, claro, IPTV. Locke demonstrou as soluções de acordo com a arquitetura DVB-H, que usa uma taxa de compressão de sinal inferior à do ISDB-T.

Depois de apresentar as linhas gerais do ATSC padrão focado nas transmissões digitais terrestres Mark Richer apresentou os “planos avançados” para a TV Digital dos EUA, que inclui a meta de transmitir 3DTV em breve. Richer destacou ainda que o ATSC-M/H, padrão que permitirá a distribuição do sinal em mídias móveis (celulares, laptops) já deve estar pronto para ser usado em fevereiro do ano que vem.

Áudio
O áudio foi o centro das atenções na palestra “Áudio digital – Surround: monitoramento e produção”, moderada por Regis Rossi Faria, da USP. O público assistiu e participou da exposição de Tomas Lund, da TC Electronics, que falou principalmente dos desafios enfrentados pelas emissoras para entregar multicanais de áudio aos consumidores.

O assunto áudio rendeu: a força da publicação da Portaria 310, pelo Ministério das Comunicações ela obriga emissoras e retransmissoras de TV a disponibilizarem o recurso da áudio-descrição, por meio do qual os deficientes auditivos e visuais poderão ler e ouvir as descrições de imagens e outras informações motivou a criação do painel “Áudio descrição – Deficiência Visual. No ar, uma nova obrigação das emissoras”. Gabriela Campedelli, da USP, Lara Valentina, da Lavaro Produções e Luis Eduardo Leão (SET e TV Alterosa) palestraram sob a moderação de Roberto Barreira, da TV Globo, RJ.

HDSat
Enquanto isso, numa outra sala se   apresentava ao público um consórcio que afirma distribuir o sinal digital via satélite a praticamente todo o Brasil. “Contribuição e Distribuição do sinal de TV Digital via satélite, através do sistema HDSat Brasil” reuniu Alfonso Aurin, da Speed Cast, Gunnar Bedicks, da Universidade Mackenzie, Frederico Nogueira, da TV Bandeirantes e Amilcare Dallevo, da Rede TV! moderados por Kalled Adib, também da RedeTV.

Aurin apontou como principais preocupações dos parceiros a manutenção das características do ISDB-T, a otimização da ocupação do espaço do satélite e a possibilidade de que o atual parque de antenas parabólicas estimado em 18 milhões receba o sinal digital desde que um conversor seja usado. O empresário é o responsável pela subida do sinal, a partir do teleporto da Speed Cast, em Alphavile (SP), e o Mackenzie, pelas pesquisas.

Segundo afirmam as emissoras, elas criaram o serviço com o objetivo de contribuir com as afiliadas com um sinal digital que elas não teriam condições de transmitir por diversos motivos. Dallevo e Nogueira defendem a distribuição via satélite como uma necessidade em um país continental como o Brasil.

Linearização
Nomes da indústria da cadeia de transmissão de sinal também tiveram espaço, por meio do painel “TV Digital – Transmissão: visão da indústria”, moderado por Assis Brasil (SET e Videocom). Palestraram Carlos Fructuoso, (SET e Linear), João Paulo Ribeiro, da STB, Eduardo Huemer, da Kathrein e Rafael Leal, da Harris.

A defesa da linearização digital que pode corrigir erros de amplificadores e compensar distorções lineares e não-lineares e do uso de gap fillers usados para preencher áreas de sombra deram o tom da apresentação de Fructuoso.  Huemer e Leal falaram da simulação de coberturas de TV Digital e analógica em Brasília com diferentes equipamentos na tentativa de obter ganho e potência mais adequados.

Academia
A criatividade dos brasileiros no campo acadêmico-científico ficou para o final, com dois painéis divididos na manhã e na tarde de sexta-feira, ambos moderados por Gunnar Bedicks.

Haja sede de informação e raciocínio rápido para processar todo o conhecimento passado neste espaço! Lauro Henrique de Paiva Teixeira apresentou seu trabalho de programação interativa em Televisão Digital. Em seguida, Marcello Azambuja e Rafael Silva Pereira, ambos da Globo.com, explicaram as mirabolantes arquiteturas que permitem a distribuição de vídeos pela web.

Uma eficiente forma de avaliar a qualidade de vídeo em HDTV foi apresentada por Roberto Nery da Fonseca e Miguel Arjona Ramirez, ambos da USP. Fábio Casotti e Marcos Paulo Carozza, da Anatel, falaram sobre o padrão de rádio digital DRM. O passo a passo da Modulação hierárquica e da modulação segmentada em TV digital foi explicado em detalhes por Renato de Mendonça Maroja, do CPqD. Depois, Célio Lúcio Vasco apresentou, junto com sua equipe de sete profissionais, os ensaios de transmissão e recepção de TV digital terrestre na região metropolitana de Curitiba (PR).

Esse foi apenas o primeiro tempo da maratona acadêmico-científica. Bedicks mostrou fôlego quando Fujio Yamada, Cristiano Akamine, Luis Tadeu Raunheitte e Francisco Sukys, todos do Mackenzie, apresentaram trabalhos sobre Rádio Digital. A interessante arquitetura de um set-top box híbrido foi destrinchada por Ademir Lourenço e Humberto Ribeiro, da FUCAPI. José Eduardo Bertuzzo, Haroldo José Onisto, Rodrigo Sales Teixeira todos do Instituto de Pesquisas Eldorado (SP) e Valdiney Pimenta, da Idea!, mostraram um esquema de recepção de sinal de TV digital móvel de baixo consumo de energia.

Silvio Renato Messias e Paulo Beghini, da EPTV, e Rangel Arthur e Yuzo Iano, da Unicamp, compararam diferentes métodos de obtenção do delay profile em sistemas de transmissão de TV Digital. Oripide Filho, da Ponto BR, falou do esgotamento dos blocos de endereçamento IPv4 e do protocolo IPv6. Questões relacionadas à distribuição de sinais para o SBTVD foram levantadas na apresentação de Carolina Duca Novaes, do Mackenzie. Encerrando o intenso e instigante espaço destinado aos acadêmicos, Danillo Ono e Thiago Petrone, da Globo.com, ajudaram Carolina Duca a demonstrar um sistema de atualização de receptores via ar para o padrão brasileiro.

Lixo eletrônico
Euzébio Tresse moderou o delicado pai­nel batizado de “Tecnologia e Ambiente: Lixo eletrônico – o que fazer?”. Cinco palestrantes falaram de atividades distintas cujos objetivos são tentar minimizar a agressão do lixo eletrônico ao meio-ambiente. Sem tom de bronca, Antônio de Castro Bruni, da CETESB, Edgar Héctor Garcia, da Ativa Reciclagem, Vanderlei C. Meneguetti e Simone Kendo, da Lorene, e Fátima Santos (FAARTE) explicaram suas experiências no enfrentamento do recorrente problema.

Por meio do projeto Produção + Limpa (trabalho que incentiva empresas a, entre outros, prevenir seus gastos com recursos hídricos e uso da terra a fim de reduzir o desgaste do ambiente físico) e das Câmaras Ambientais (canais de interação entre governo e sociedade civil criados em 1995, com caráter consultivo, para promover discussões de questões ambientais), o representante da CETESB explicou como funciona o seu sistema criado para resolver o problema do lixo eletrônico.

O trabalho árduo da Lorene é recolher sucatas digitais de produtos de informática, eletroeletrônicos, centrais telefônicas, catalisadores, entre outras e reciclá-las a fim de obter metais ferrosos e não-ferrosos. Depois, os metais são separados, homogeneizados, purificados, moídos, ensacados e comercializados. Atualmente, 100% da produção da empresa é destinada à exportação.

Por sua vez, Fátima, da FAARTE, discorreu sobre a reciclagem de pilhas, baterias, CDs e DVDs.  Já a Ativa Reciclagem, de Guarulhos, reutiliza lâmpadas, reatores e produtos de CRT, mas a palestrante explicou apenas a reciclagem de CRT, que abrange os monitores de TV. Até o momento, a empresa têm tido muito trabalho na reciclagem das telas que usam tubos de raios catódicos (25% de sua composição é chumbo, metal danoso ao meio-ambiente), mas a gradual substituição destas telas pelas de LCD e Plasma deve dar ainda mais trabalho à Ativa em decorrência do aumento de produtos com tubos catódicos jogados na natureza.

América Latina
A discussão sobre o decisivo momento de transição por que passam emissoras de rádio e TV da América Latina teve um merecido espaço na tarde de sexta-feira. Sob a moderação de Olímpio José Franco (vice-presidente e coordenador temático do Congresso da SET) palestraram André Barbosa, assessor da Casa Civil da Presidência da República, Eiji Roppong, da ARIB, Luis Valle, da Universidade de Palermo, Argentina, Luís Silva, da Chilevision, de Santiago, no Chile, Osamu Yamada, da Pioneer, Japão e Manuel Pirgo, da Comissão do Ministério de Transportes e Comunicações do Peru.
O sucesso das transmissões digitais e o rápido desenvolvimento de aplicativos e novos mercados no Brasil foram salientados na apresentação de André Barbosa, que fez questão de frisar a “inclusão social digital” que o país certamente promoverá. “Até 2010, deve cobrir todas as capitais e principais cidades brasileiras e até 2013 devem cessar as concessões para TV analógica”, afirmou.

A Argentina deve escolher seu padrão ainda neste ano. E provavelmente adotará o nosso modelo: os governos dos dois países já acertaram um protocolo de intenções para que o nosso padrão seja replicado por lá. O pequeno Equador ainda confronta os padrões que estão no mercado e deve se decidir no ano que vem. O Peru testa o ISDB-T e o DVB-H para o segmento móvel, mas parece que o ATSC vai mesmo tomar conta das transmissões terrestres do país. O comprido e montanhoso Chile parece ter as maiores dificuldades geográficas da região e, apesar do andamento dos testes, sequer anunciou uma data prevista para divulgar o sistema e o padrão adotado. Bom para o Brasil, que pode ter mais tempo para fazer o gol.

Cidadãos
Apesar de não ser o público-alvo do evento, o consumidor ganhou seu espaço em grande estilo, no último painel do Congresso. “Recepção da TV Digital: casas, prédios e veículos” contou com o moderador Eduardo Bicudo (SET e EBCOM), os palestrantes Edson de Tal, Eliezer Carlos Bueno de Oliveira, da Wadt e Valmir de Almeida Câmara, da Ampliservise, e mostrou casos individuais de recepção de sinal nas três ocasiões.

Terminados os painéis, mostradas as novidades, esclarecidas muitas dúvidas, o XX Congresso da SET acabou deixando no ar um misto de satisfação dos visitantes com um espírito de dever cumprido por parte dos membros da entidade. E muito bem cumprido.