A TV Cultura investe na preservação do seu acervo

 

PRÉVIA SET EXPO 2015 – Reportagem Especial

Nº 153 – Ago 2015

Por Fernando Moura, em São Paulo

Em tempos de transição para o digital, de muitos apuros pelo cronograma do apagão analógico e com as emissoras tentando recuperar espaço frente a outras mídias, a TV Cultura de São Paulo está desenvolvendo um trabalho hercúleo para restaurar e digitalizar um acervo com mais de 45 anos de história, porque segundo os seus diretores: ”a grande riqueza da TV Cultura é o seu passado”

No mundo das multiplataformas, antenas digitais, TV Digital, serviços Over-The-Top (OTT), Video On-Demand (VOD), triple play, TV Everywhere, e canais na internet cada dia mais fortes, a TV Cultura de São Paulo apostou na digitalização e preservação de seu acervo como forma de monetização do seu passado e para utilizar nos próximos tempos no serviço de multicast (multiprogramação) que fará parte de sua programação por ser um canal público.

Para avançar com um trabalho que se estenderá pelo menos até 2019, a TV Cultura firmou uma parceria com a Integradora AD Digital para a implementação de um novo ambiente de armazenamento (Nearline) e um sistema de arquivamento (Archiving) para o conteúdo audiovisual, assim como a implementação de uma nova fitoteca LTO, que tem por objetivo atender ao aumento da demanda e necessidade de espaço e performance (Bandwidth).
Com esse novo sistema, a emissora pública pretende realizar o gerenciamento e movimentação automática de dados em níveis de armazenamento, considerando o atual fluxo de trabalho baseado em arquivos. E ainda garantindo a eficiência produtiva na digitalização, arquivamento e resgate do material que se está fazendo de segunda a sábado, 14 horas por dia, em uma das dependências da emissora paulista.

Um grupo de homens experientes trabalha 14 horas por dia limpando, restaurando e digitalizando conteúdos históricos nas dependências da TV Cultura de São Paulo

Desta maneira, Gilvani Moletta, diretor de Engenharia e Tecnologia da Fundação Padre Anchieta, Centro Paulista de Rádio e TV Educativas, disse à Revista da SET nos escritórios da emissora no bairro de Água Branca, na capital paulista, que uma das apostas da emissora é obter a valia que o acervo tem. “A história da TV brasileira está na TV Cultura. Nossa emissora vive da história e do nosso acervo, que é muito grande, temos acervo ainda em “Quadruplex”.

Temos material preservado que quase ninguém tem no país, por isso estamos fazendo a sua digitalização para no futuro usá-lo em um novo canal de TV a cabo que será lançado. Iremos fazê-lo através do serviço de multiprogramação, ao qual temos direito por ser uma emissora pública, mas em caráter científico ”.
Moletta explicou que a ideia da emissora é lançar um canal de documentários e outro de música, com shows e espectáculos antigos com conteúdos anteriores a 1980. “Para isso necessitamos aproveitar o conteúdo e o conhecimento que existe na emissora e trabalhar para buscar soluções que se conectem com o gerenciamento atual da emissora, porque se não geramos a convergência entre o acervo antigo e o atual, nada será feito”, afirma.

Gilvani Moletta mostra a equipe da Revista da SET um equipamento Betacam utilizado para desmagnetizar as fitas e reutilizá-los

Tudo porque, segundo Moletta, a TV Cultura tem uma história ligada a seu próprio nome, a cultura brasileira. “Durante todos estes anos a emissora ganhou prêmios no Brasil e no mundo por ser um canal educativo para a população brasileira. Na emissora, costumamos dizer que com 45 anos de vida, a história da TV brasileira está na TV Cultura”.
Rodrigo Galafati, coordenador do acervo da TV Cultura, disse à Revista da SET que com tanto material, muitas vezes era impossível usufruir rapidamente dele por estar em diferentes formatos e, às vezes, com problemas de catalogação. “Isso gera um tempo para sua disponibilização, o que inviabilizava a sua colocação nos jornais da emissora ou em programas especiais. Às vezes, o material demorava muito a chegar em nossas ilhas de edição para ser tratado e editado. Demoramos até dias inteiros para conseguir resgatar um vídeo do acervo com condições de ser editado e colocado online para ser utilizado.”
Sonia Poloni, diretora de Marketing da AD Digital, afirmou à Revista da SET que com esse novo workflow de trabalho “as aplicações de pós -produção trabalharão através de soluções de armazenamento Disk Nearline e LTO Library (disk to disk to library – D2D2L), tornando-se mais fácil do que nunca criar este tipo de montagem de vídeo de forma eficiente e flexível sem que a audiência de hoje tenha que esperar longos períodos de produção e pós-produção”.

Na TV Cultura, cada passo é feito com “tranquilidade e paciência” afirmam os experimentados homens que trabalham na digitalização de um pedaço da história da TV brasileira

Para Sonia, com este novo sistema “os produtores, jornalistas e pesquisadores da emissora terão acesso rápido aos arquivos compartilhados, e esses arquivos poderão ser encontrados rapidamente sobretudo os arquivos que são procurados independentemente do estado de conservação em que esteja”.
Tudo porque, segundo Sonia, em um grupo de mídia como a TV Cultura, “o conteúdo de vídeo muitas vezes inclui uma mistura de clipes de vídeo recém ingestados com imagens mais velhas ou parte de um acervo (CDOC). “Isso significa que estão misturando vídeos feitos esta semana com clipes criados semanas ou meses ou anos atrás e tudo isso tem de ser catalogado e arquivado de uma forma que possa ser rapidamente encontrado e disponibilizado”.

MAN
Uma das decisões mais difíceis da carreira de Gilvani Moletta foi a determinação de qual sistema de gerenciamento utilizar para realizar o armazenamento do acervo da TV Cultura, e como trabalhar os conteúdos que se geram no dia-a-dia da emissora. “Já foi feito um investimento enorme em outro momento e acabou por não dar certo. Nossa missão era avançar para a melhor solução e não podíamos falhar”, confessa o executivo.
Ele explicou que na primeira digitalização o material ficou digital, mas obsoleto. “Agora estamos no timing certo para fazer a digitalização em definitivo do acervo. Nós temos mídias em Quadruplex, Umatic, uma polegada (1”), em Beta analógico tem muita coisa, além de VHS, Beta max, tudo no acervo e tudo com um valor muito grande para a emissora. Mas a maior riqueza está entre os três primeiros”.

Um dos maiores acervos da TV Cultura é guardado em fitas de 1 polegada utilizadas na década de 1970 na indústria da televisão

Moletta disse que a decisão passou por um sistema de produção totalmente online, que pudesse ser expansível e com uma integração agnóstica que dependendo do fluxo. “O mundo ideal seria um desenvolvimento de software interno na emissora que nos garantisse o que queremos porque seria desenvolvido nos moldes da TV Cultura. Assim, buscamos um sistema de acervo que esteja sempre online. De uma empresa saudável, ou seja, que pelo menos no horizonte próximo não venha a falir, e que operasse com as estações de edição que existem na emissora.”
A decisão foi difícil, disse o executivo, pois seria preciso unir as necessidades da emissora ao orçamento e à estratégia da Fundação. “Adquirimos um sistema totalmente online, que permite que enquanto se faz a ingesta dos materiais diários tudo fique online para produção e edição. Mas isso é normal, o nosso diferencial é a parte de nearline, que é a parte de acervo porque é mais barato aumentá- lo que movimentar os arquivos de ida e volta para LTO. Queríamos avançar, mas tendo claro que precisávamos definir claramente o esquema de expansão do arquivo”, explica.

Gilvani Moletta se confessa e afirma que a emissora tem “ansiedade para que o apagão chegue logo para termos um padrão sinal de transmissão e reduzamos os custos, mas nós preocupa saber se vamos cumprir ou não com os requisitos impostos pelo governo para o apagão”

Ainda era necessário tornar o acervo fácil de manusear. Por isso, afirma Moletta, “utilizamos um dos codecs mais comuns do mercado para não ficarmos isolados e, se em algum momento surgissem mudanças importantes na codificação, pudéssemos ter ferramentas para fazer a mudança sem prejudicar o material ou ter de voltar a realizar o processo de digitalização, uma situação pela qual já passou a emissora”.
Diante disso, disse o diretor de engenharia e tecnologia da TV Cultura, “definimos que não queríamos aumentar a gestão em cima do MAN, senão através de interfases mais próximas do utilizador, um trabalho que já fizemos e nos permitirá ter uma gestão fácil e escalável do acervo. Primeiro digitalizamos o acervo, depois acedemos ao material através do front- end, e simplificamos a operação, sabemos que nosso maior problema era a otimização de tempo e do material”.
Na TV Cultura, a AD Digital instalou um sistema Quantum StorNext, que realiza desde a gerência do metadado até soluções de Cloud, Archiving e Deep Archiving, somados a uma nova fitoteca de armazenamento em fitas LTO-6 e storage em disco, que “permitem à TV Cultura um acesso mais rápido a arquivos compartilhados, com mais eficiência produtiva na digitalização, arquivamento e resgate do material”, afirma Samuel Baccin, gerente geral da Quantum no Brasil.

Em um mundo digital, com redes IP e multiplataformas, o passado contínua presente, e nele, as mãos são fundamentais no manuseamento das mídias e os seus conteúdos

Baccin disse que o StorNext é um sistema de armazenamento compartilhado de alto desempenho concebido para acelerar fluxos de trabalho de informação complexos. Inclui armazenamento primário; um armazenamento online prolongado mediante o sistema Lattus de baixa latência e altamente escalável, com colocação de dados em camadas; arquivos de fita com software iLayer para fitas LTO; e arquivo Q-Cloud permitindo acesso sob demanda ao armazenamento na nuvem.
Rodrigo Galafati afirma que “o storage nearline da Quantum facilitou muito o acesso das ilhas para os materiais de acervo, tornando a edição dos vídeos muito mais rápida que antigamente.” Moletta afirma que “a solução Quantum atendeu o nosso sistema e às nossas necessidades que passam por melhorar cada vez mais a disponibilidade dos arquivos, do acervo da emissora e saltar para um melhor nível de segurança através da replicação desses arquivos em outros sites, em outros lugares que nos dê maior segurança da integridade desses conteúdos”.

A TV Cultura espera lançar no futuro dois canais com alguns dos materiais digitalizados, um canal de documentários e outro de shows e espectáculos

Apagão Analógico
Moletta afirma que o processo de digitalização da emissora é uma consequência natural dos tempos, porque os oito estúdios e o teatro já tinham sido digitalizados. “O que precisamos fazer foi organizar a forma de emitir o sinal digital que já produzíamos internamente. Saímos diretamente do analógico composto PAL-M para o HD SDI entre 2005 e 2006.”
Ele disse que o maior problema é fazer o telespectador interno e externo entender que o sinal digital está no ar e pode ser usufruído por eles.
“Tanto que realizamos uma campanha interna na emissora para difundir a TV Digital”.
Para o diretor Técnico da TV Cultura, a implantação e o sucesso da TV Digital no Brasil passa não só pelo investimento em infraestrutura das emissoras, mas também por uma campanha de conscientização dos telespectadores para que estes entendam os benefícios que o sinal digital oferece. Ele disse ainda que o sinal da TV Cultura já está digitalizado no satélite através de um sinal BTS comprimido.

A TV Cultura espera lançar no futuro dois canais com alguns dos materiais digitalizados, um canal de documentários e outro de shows e espectáculos

Moletta explicou que o calcanhar de Aquiles da emissora não é a transmissão digital desde a capital, mas sim desde as retransmissoras de televisão. “Temos uma das maiores redes de retransmissoras em São Paulo, já que o modelo das outras emissoras é de afiliadas, e o nosso é de 208 retransmissoras espalhadas pelos diversos municípios. Essas retransmissoras alcançam mais de um município cada, chegando a mais de 400 no Estado. Isso é, em termos de cobertura analógica, de 88%. Mas isso não corresponde ainda ao digital, para o qual temos todos os estúdios feitos, mas ainda falta muito para digitalizar as retransmissoras.”
Para o executivo, as contas não fecham.
“O custo é muito alto, precisamos entre R$ 35 e R$ 40 milhões para digitalizar a rede, e isso nos assusta porque temos um cronograma e uma legislação que prevê que o sinal digital chegue a 93% da população. O desafio é realizar o investimento, que é altíssimo, e conseguir a qualidade técnica que permita que cheguemos à população do Estado de São Paulo.”

“Subimos esse sinal utilizando a multiprogramação. Ou seja, temos a TV Cultura HD no canal principal com one-seg; a Univesp TV, que é a universidade virtual do Estado de São Paulo; e a Multicultura Educação, que é uma parceria firmada entre a Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura) e a Fundação Roberto Marinho e Globo. Assim, temos esse BTS comprimido com todo esse pacote enviado ao satélite, que é tomado pelas operadoras de TV a cabo que transmitem o nosso sinal em Alta Definição H.264, mas precisamos emitir, também no satélite, o sinal MPEG2 para o line-up analógico das operadoras e para as nossas retransmissoras analógicas, o que gera um custo altíssimo de convivência. Ele dobra”.Outro ponto importante na gestão, afirma Moletta, é que hoje se trabalha com duas emissões, uma analógica e uma digital, o que provoca despesas importantes. “Fizemos, após a última atualização do controle mestre da emissora, com que o sinal analógico fosse emitido mediante um down converter do sinal digital. Claro que ainda cuidamos nas capturas de imagem de jornalismo e produção da área de segurança em 4×3, o que nos faz ficar com um legado neste formato, e não nos permite aproveitar todo o campo que o HD disponibiliza.”
Assim, a TV Cultura hoje transmite um sinal analógico pelo canal 2 e um sinal digital pelo canal 24, explica Moletta, sendo que o canal 2 é virtual.


A TV Cultura incorpora seis câmeras LDX da Grass Valley para reforçar a produção de Jornalismo

Março passado, a TV Cultura adquiriu seis novas câmeras LDX Flex da Grass Valley com estações de base XCU que permitirão oferecer melhor qualidade de imagem e flexibilidade para o futuro.
“Estas novas câmeras vão se encaixar perfeitamente com o nosso sistema GV STRATUS para fornecer uma solução robusta de estúdio de notícias, com um novo nível de qualidade e eficiência de produção”, observou Gilvani Molleta, diretor de engenharia e tecnologia na TV Cultura. “Saber que podemos atualizar as câmeras com uma simples instalação de software é ideal. Estaremos preparados para todas as oportunidades que surjam no futuro, e sabemos que este é um investimento seguro para o longo prazo”.
A câmera LDX Flex, para aquisição de formato único 1080i ou 720p, permite uma fácil atualização conforme a evolução das necessidades do cliente. A série de câmeras LDX garante que os clientes sempre estarão preparados para o futuro, e serão capazes de atualizar facilmente de modelo para modelo, até a câmera mais avançada disponível.
As estações de base XCU (eXchangeable Control Unit) podem ser pré-montadas e pré-cabladas no rack, oferecendo uma conexão mecânica e elétrica segura, que permite aos usuários inseri-las e removê-las facilmente sempre que necessário. Cada XCU vem com um berço, mas é possível usar berços adicionais para estender a usabilidade em ambientes diferentes, como unidades móveis, estúdios ou em qualquer outro local.