Sinal digital por todo o país

*Por Pedro Lívio e Raphael Bontempo

Desde abril deste ano, o sinal digital de inúmeras emissoras espalhadas pelo Brasil foi ao ar. A digitalização das TVs brasileiras segue seu ritmo normal já que a data marcada para que seja desligado o sinal analógico é 2016. Os desafios para os radiodifusores são grandes e cada emissora tem suas próprias necessidades quanto a infraestrutura, cobertura e potência de equipamentos.
O certo é que as principais capitais das cinco regiões do país já contam com sinal digital, embora em boa parte dos casos seja apenas para retransmitir a programação digital produzida pelas cabeças-de-rede. Nesses casos, a produção de conteúdo é uma etapa a ser vencida mais adiante, porque exige uma série de novos investimentos em equipamentos de captação, edição ente outros.

TV Aliança vence atraso
O projeto de digitalização da TV Aliança Paulista, afiliada da Rede Globo na cidade de Sorocaba, estava em estudo desde 2007. Com algumas aquisições de equipamentos e a preparação da infraestrutura no ano passado, os planos da emissora eram iniciar as transmissões no começo deste ano, mas elas aconteceram apenas em julho, por conta da necessidade de decidir por determinados tipos de equipamentos. “Ocorreram atrasos até a decisão pela aquisição de alguns aparelhos do exterior”, conta o supervisor técnico, Paulo Roberto Andreo. Entre os produtos adquiridos destacam-se os distribuidores de vídeo com sinal HD, up/down converter da Miranda, e o pacote de encoders, transmissores de 1700 Watts, e parte dos holders da Crown Relay.
A emissora quer consolidar a produção high- definition, mas retransmite em alta definição apenas os materiais da rede, como futebol e novela. “Uma vez implantados os aparelhos da Avid, teremos uma estrutura favorável à produção sólida em alta definição”, afirma Andreo.
A TV Aliança Paulista não promoveu contratações para realizar a digitalização. As melhorias na infraestrutura e no sistema de áudio e vídeo ficaram por conta da própria equipe. O Inatel proporcionou treinamento geral sobre o conceito de HDTV. Quatro engenheiros receberam treinamento específico: dois para aprender como operar softwares para análise de cobertura, e dois para configuração dos equipamentos da Harris. O serviço de instalação de antena e sistema radiante foi terceirizado.

Estúdio HD é meta
As metas agora são passar o estúdio para HD, o que envolve aprimorar equipamentos como suíte, câmeras e o monitoramento. “A emissora consegue editar em alta definição, mas não para produção e transmissão do conteúdo editado”, explica. “Temos avançado bem: em três semanas, a partir do início das instalações, já transmitíamos com alta definição. Não encontramos problemas a partir daí”, conta o supervisor, comemorando o fato de também conseguir transmitir o sinal digital para outras cidades que a TV Aliança cobre.
A emissora superou os desafios sobre a sincronia das programações porque não podia parar de operar para introduzir o sinal digital. O próximo passo será trocar os suítes, bem como continuar focado em um sistema de captura de HD. Precauções necessárias para se manter um padrão de qualidade.

TV Amazonas, início há 12 anos
O embrião da TV digital apareceu cedo na região Norte do país. Na TV Amazonas, afiliada da Rede Globo em Manaus, o projeto de digitalização começou há quase 12 anos, quando da substituição das ilhas de edição. Em seguida, a Rede Amazônica inaugurou um sistema próprio de comunicação por satélite para distribuição de conteúdo entre as outras emissoras da Rede (Porto Velho, TV Acre, TV Roraima e TV Amapá) e a Rede Globo, com padrão de transmissão DVB-S e compressão MPEG- 2, também aderindo ao mundo digital.
O grupo conta ainda com o Amazonsat, o primeiro transmissor digital (2,5 kW) terrestre no padrão ISDB-TB foi instalado, atendendo à cidade de Manaus desde set/2008, com caráter de Pesquisa e Desenvolvimento. A iniciativa foi resultado de um convênio firmado em 2007 entre CTPIM, Fucapi, CIEAM e o próprio Amazonsat. “Em Manaus são produzidos os set-up boxes e televisores com receptores integrados no pólo industrial, daí a grande importância deste convênio”, lembra o engenheiro, Salvino Guerra, que acrescenta que o projeto não contemplou apenas a parte de transmissão, mas também o projeto do controle mestre (HD e SD). “O projeto de digitalização do Amazonsat proporcionou grande aprendizado, o que facilitou a elaboração do projeto TV Amazonas Digital”.
A iniciativa para atender o processo de digitalização teve início em novembro de 2007, com a construção da nova sala de transmissores digitais. Seis meses depois finalizamos a infra-estrutura (quadros elétricos, refrigeração, cabeamento e racks). Desde então, houve ativação de nobreaks 160 kVA, instalação do transmissores Harris (5 kVA)), reforma na sala Master SD e nova Sala Master HD. Para atender a nova demanda de energia, fizemos a substituição do transformador de 150 kVA para 300 kVA e do grupo gerador de 180 kVA para 450 kVA.
Na fase final do processo, houve a instalação, configuração e ativação dos equipamentos para controle mestre e a Central Técnica. Em agosto de 2009, aconteceu o treinamento técnico e operacional da equipe de broadcasting, e a inauguração do sinal digital no último dia do mês.

Aparato técnico
A lista de equipamentos para atender o projeto de digitalização da TV Amazonas é grande e inclui na parte de transmissão: 01 (um) transmissor digital Harris combinado 2,5 kW+2,5 kW, com refrigeração a líquido; 01 (uma) antena Dieletric 8 fendas, modelo TFU-8DSB/VP-8 com polarização elíptica (80% horizontal; 20% vertical). Na parte de energia há: 02 (dois) nobreaks Powerware, sendo 01 (um) de 30 kVA, modelo 9355 para atender os equipamentos da Central Técnica e Salas de Controle Mestre e 01 (um) de 160 kVA, modelo 9390, para atender a Sala dos Transmissores; 01 (um) gerador Stemac 450 kVA e transformador a seco ITAM de 300 kVA. Também foram adquiridos, sistema de controle mestre digital Harris com operação HD e SD independentes e redundantes; 02 (dois) time delays HD: Harris e Floripa e um time delay SD Harris; Sistema de monitoração de áudio TSL sendo: multicanal para Controle Mestre HD e estéreo para o Controle Mestre SD; linha de modulares, matrizes e servidores Harris. Equipamentos de monitoração AVM da Harris, para sinais em banda base e o MTM400A da Tektronix, para análise de transport stream.
Para a edição de jornalismo, estão sendo estudadas algumas hipóteses para a operação tapeless. Porém já foi fechado o pacote de câmeras com a Sony. Para captação externa adquirimos 10 (dez) XDCAM 35 Mbps (08 (oito) PDWF335L e 02 (duas) PDWF335L); 05 câmeras de estúdio (cinco) modelo HXC100K e 01 (um) switcher de produção MVS6000. “Com o novo projeto do Jornalismo os repórteres poderão editar seu próprio material”. A TV Amazonas ainda planeja a ampliação do sistema de arquivamento e a aquisição de um sistema de automação para facilitar a operação do Controle Mestre HD e SD. O investimento total até o momento está na casa de R$ 8 milhões. “Nossa estimativa é atingirmos R$ 10 milhões apenas com a TV Amazonas”, acrescenta Salvino, elogiando a maior robustez quando se utiliza polarização elíptica.

TV Cabo Branco em simulcast
Integrante de um grupo de comunicação que reúne TV Paraíba (afiliada da Globo em Campina Grande), Jornal da Paraíba, Rádio Cabo Branco FM e Rádio 101 FM (ambas na capital do estado), a TV Cabo Branco, afiliada em João Pessoa, também transmite agora o sinal digital, estreado oficialmente em julho. O projeto teve a mão de Josemar Cruz, ex-integrante da Cabo Branco, atualmente na sede da Globo no Rio de Janeiro. “Nós o convidamos para auxiliar no nosso projeto, com permissão da empresa”, informa o gerente técnico, Edinaldo Barbosa.
A necessidade de manter a transmissão simulcast levou à execução de muitas reformas no prédio e na torre de concreto de 103 metros. “Ainda temos uma torre metálica (sobre a de concreto) que precisou ser reforçada para suportar a antena de UHF (digital) de duas toneladas”, recorda Barbosa. A emissora também precisou trocar o grupo gerador por causa da duplicação de equipamentos das cadeias de transmissão digital e analógica, hoje com 450 kVA. A TV Cabo Branco investiu cerca de R$ 5 milhões no projeto iniciado em janeiro de 2008 e que levou pouco mais de um ano até permitir as transmissões iniciais – o sinal experimental entrou no ar em 20 de fevereiro de 2009. O cuidado, como sempre, era palavra de ordem. O próprio gerente técnico foi ao Japão fazer a aceitação do transmissor em julho de 2008 para evitar problemas futuros. Em outubro de 2008, Josemar Cruz foi à Alemanha, para aceitar a antena.

Polarização circular
O sistema de transmissão digital da TV Cabo Branco usa dois transmissores NEC – com potência de 1,25 kW cada e codificadores também da NEC. A antena, da alemã Kathrein, é de polarização circular e omnidirecional (cobre na mesma amplitude todas as direções em um raio de 360 graus). A central técnica (usada para o recebimento, análise e gerenciamento dos sinais) e o controle mestre usam equipamentos da Harris.
O cálculo da cobertura foi feito por meio de um software, cedido pela cabeça de rede, que acusa qual a amplitude e a eficiência do sistema de transmissão. “Ele diz qual a área de cobertura da antena, depois de coletar os dados do sistema”, explica Barbosa.
Não foi necessário para a TV Cabo Branco investir recursos com o envio de pessoal ao exterior para treinamentos e cursos. Os próprios fornecedores de equipamentos e outras emissoras foram os responsáveis por repassar informações quanto à montagem e operação dos novos equipamentos e tecnologias.

TV Joinville, menos de um ano
Geradora da Rede Globo em Joinville, Santa Catarina, a TV Joinville do Grupo RBS começou a esboçar o projeto de digitalização em dezembro de 2008 e em outubro desse ano deu início à transmissão digital que é híbrida. Isto é, a programação é transmitida tanto no sinal digital quanto no analógico é a mesma.
O engenheiro Áureo Oliveira conta que 29 profissionais estiveram envolvidos no processo de digitalização – dos quais, cinco eram engenheiros. Para essa primeira etapa, foram adquiridos uma antena Ideal, transmissores Linear 600 + 600 (1200 Wats) e para comunicação estúdio morro o NetVX da Harris. O engenheiro explica que são suficientes para condição atual de transmissão, mas que novos equipamentos devem ser adquiridos ao longo dos próximos anos.
Até agora foram investidos valores em torno de R$ 3 milhões e Oliveira lembra que a implantação do sinal digital em Joinville foi tranqüila. “Parecia que a chuva iria atrapalhar as instalações, mas não chegou a gerar atrasos em nosso cronograma”. O primeiro programa transmitido em HD foi o “Jornal do Almoço” no dia 9 de outubro. O telejornal teve uma apresentação diferenciada, em que os apresentadores trocaram a gravação do estúdio por locais que mostravam a história de Joinville e de seus habitantes.

O upgrade da TV Jornal
A TV Jornal, afiliada da SBT em Recife, decidiu se antecipar e também levou ao público da cidade imagens e sons digitais em abril deste ano. “Não se podia esperar mais tempo para fazer esse upgrade na qualidade da televisão brasileira”, argumenta o diretor executivo, Luis Carlos Gurgel. A TV Jornal tem geradoras em Caruaru e Recife, mas consegue cobrir quase todo o estado de Pernambuco – inclusive Fernando de Noronha – por meio de um sistema com 85 retransmissoras, que cobrem cerca de 100 municípios.
Diante da complexidade do projeto e do elevado custo dos investimentos, a empresa optou pela segmentação do projeto adotando soluções completas em cada uma das etapas de implantação, que envolvem equipamentos de um mesmo fabricante principalmente para “reduzir o impacto desse desembolso e evitar problemas de interface”.

As etapas
A primeira fase, já finalizada, envolve o sistema de transmissão (antena e transmissor) e o de codificação (codificadores, multiplexadores e monitoração), cuja solução foi feita quase inteira pela Harris – a exceção é a antena, da RFS. Depois foi feita a montagem do controle-mestre, sistema que integra os controles analógico e digital, opção da própria emissora. O sistema de monitoramento da programação digital foi instalado no mesmo período da implantação dos sistemas de transmissão e codificação, segundo Gurgel, para diminuir os custos. “Reconstruir o controle mestre, foi muito complicado, porque o canal analógico precisava continuar funcionando”, recorda Gurgel. “Fizemos uma instalação temporária para abrigar o controle do analógico até que o novo controle mestre estivesse pronto”.
A emissora pretende adaptar os estúdios para produção de programas no formato HD (1920x 1080) em uma segunda etapa do projeto, uma exigência do sinal digital. A terceira fase, voltada para as produções externas, terá uma “adaptação das unidades de geração, principalmente os carros”, a ser implantada em 2010. Todo o investimento foi de US$ 6 milhões. “Como a TV digital já ‘ameaçava’ chegar há muito tempo, numa reforma anterior deixamos o topo da torre livre para receber a antena do sinal digital”, explica Gurgel. Uma sala para abrigar o transmissor também tinha sido preparada. O sistema de no-break e de alimentação de energia também teve que ser readaptado, porque o transmissor digital, embora de menor potência para cobrir área equivalente à do analógico, acaba tendo um consumo de energia semelhante.

Pensar digital
De acordo com o diretor da emissora, a preparação para “pensar digital” foi mais complicada comparada às alterações na estrutura da emissora. “Antecipamos o que aconteceria por meio de palestras e seminários, mas a mudança é muito grande e os próprios paradigmas da TV analógica dificultam a assimilação dos novos métodos”, justifica. “Teremos que conviver durante muito tempo com os dois procedimentos. Certamente, equívocos vão ocorrer em função disso”, antecipa Gurgel, que aponta a TV digital como um ‘outro veículo de comunicação’ e alerta: “Quem internalizar logo essa verdade vai ‘sofrer’ menos e ganhar mais”.
O investimento na equipe de mais de 100 funcionários – sem contar os terceirizados – ainda vai durar muito tempo. Até o momento, três deles viajaram aos EUA para treinamento e várias palestras foram proferidas. A emissora buscou dimensionar a potência com a combinação de dois transmissores de 5 kW e o ganho das antenas feito de modo a obter a máxima cobertura e evitar gastos com gap fillers. “No analógico, operamos com 30 kW e discutía mos a necessidade de instalar o digital com 5 kW ou 10 kW. Cinco seriam suficientes, mas optamos por uma potência um pouco maior e uma antena com menos ganho”. O levantamento da cobertura ainda está sendo feito, mas a emissora já pôde constatar que a recepção do sinal do one seg falha em algumas áreas. Mesmo com a topografia plana do Recife, Gurgel conclui, os gap fillers serão inevitáveis.

Equilíbrio na TV Morena
Os investimentos da TV Morena, geradora de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, integrante da Rede Matogrossense de Televisão – e afiliada da Rede Globo – são bem equilibrados na balança. “Investimos algo em torno de R$ 8 milhões na infraestrutura, transmissão, equipamentos e instalação de controle mestre, central técnica, ilhas de edição em HDTV e em câmeras HD para captação externa”, revela Luis Botelho, gerente de engenharia da rede. O arquivamento digital e estúdio serão implantados no ano que vem.
Três sinais digitais em SD já chegam, desde maio, às cidades de Ponta Porã, Corumbá e Campo Grande, sendo que a capital do estado também transmite o sinal em alta definição. “Até agora está acima das nossas expectativas e não temos mapeada nenhuma situação em que será necessário o uso de gap filler em Campo Grande”, diz o engenheiro.
Os transmissores e codificadores são da Harris e as antenas da Transtel. As câmeras HD, controle mestre, matriz, vídeoservidores e o time delay para programação SD e HD foram fornecidos pela Grass Valley. O modelo de distribuição, chamado de MCPC (Multiple Channel per Carrier), concentrou os três sinais digitais do estado na torre de Campo Grande, de onde são transmitidos para o satélite que, por sua vez, os distribui para Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã. “O modelo MCPC foi adotado pela engenharia da Rede Matogrossense de TV por apresentar a melhor relação custo/benefício, facilidade de gerenciamento e menor custo de manutenção”, justifica Luís Botelho.

Solução via satélite
A extensão dos estados do Mato Grosso – o modelo MCPC também foi adotado em Cuiabá, de onde são transmitidos quatro sinais – e do Mato Grosso do Sul pediu uma solução via satélite porque, segundo os engenheiros, seria inviável, em termos de tempo e dinheiro, uma cobertura terrestre para toda a região. “Sairia 10 vezes mais caro do que o sinal via satélite”, estima Botelho.
O projeto já preparou a emissora para produção em HD, trabalho feito pela própria equipe técnica, de 13 engenheiros e técnicos, um deles treinado no exterior e os demais no Brasil. Com a digitalização, dois operadores de controle mestre e dois engenheiros foram contratados.

Verdes Mares cobre 13 cidades
A TV Verdes Mares, afiliada da Globo que cobre 13 municípios da região metropolitana de Fortaleza, nem digitalizou todo seu workflow e informou já ter investido perto de R$ 5,5 milhões “Fizemos parte do controle mestre. Já temos o projeto de transmissão local, mas ainda não compramos nada”, informa a equipe técnica da emissora. Como a cabeça-de-rede necessita ter a retransmissão da programação em digital pelas afiliadas, no momento em que é transmitida a novela das oito, produzida no Rio de Janeiro em HD, por exemplo, a Verdes Mares precisa ter a capacidade de retransmitir no mesmo formato. E isso agora já é possível.
A transmissão iniciada em maio é tão boa que equipamentos de redistribuição de sinal (gap fillers) provavelmente não precisarão ser comprados. “O sinal, tanto full-seg quanto one-seg, está muito bom. Até em áreas como a do Beach Park ou da Praia do Futuro, onde o analógico pega com dificuldade. A cidade tem uma área plana muito grande”, explica a equipe técnica da emissora. Um software que faz o mapeamento da cobertura foi usado no projeto para determinar o alcance e a irradiação do sinal.
A transmissão do sinal analógico demanda muito mais potência do que o digital, permitindo uma ‘economia’ da potência dos transmissores. “No analógico, usamos 30 kW de potência. Com o digital, da NEC, usamos 7,5 kW (uma combinação de dois transmissores regulados a uma potência de 3,8 kW cada)”, explica a equipe técnica. Ainda estão em análise os investimentos na aquisição de equipamentos para armazenamento e produção de conteúdo. “Harris, Grass Valley e Sony trouxeram equipamentos para demonstração; a Sony trouxe a ilha de edição e também a câmera Sony XDcam”.

Projeto próprio
A equipe da TV Verdes Mares – são quatro engenheiros e sete técnicos – não precisou de ajuda de fora para criar sua solução. “Bastou seguir as recomendações dos fabricantes, que ministraram treinamento quando da chegada dos aparelhos”. Mesmo assim, fizeram cursos em São Paulo. Foram vários módulos de três ou quatro dias, ministrados pelos engenheiros da Rede Globo, nos quais cada um abordava uma etapa da transmissão HDTV.
O projeto lançado no primeiro trimestre de 2008 andou rápido. As compras de equipamentos começaram já em agosto do ano passado, assim como a construção de uma nova estrutura para abrigar os transmissores e o sistema de no-break. Há uma sala para os equipamentos analógicos e outra para os digitais. A intenção é que o sistema continue funcionando mesmo se ocorrerem problemas de energia elétrica. “Temos quatro geradores de 390 kVA cada, para os dois sistemas”.
A antena slot de 12 fendas exigiu um reforço na torre de mais de 90 metros de altura, instalada em um local bem acima do nível do mar. “Em janeiro já tínhamos tudo (equipamentos) no pátio. Em 21 de fevereiro, estávamos no ar com o sinal de testes e no Carnaval fizemos a medição de campo”, recorda a equipe da emissora, que começou a montagem do controle mestre digital também em fevereiro. Apesar da relativa facilidade até aqui, problemas ainda podem acontecer. “Quando a população for adquirindo os aparelhos, é possível que comecem a ligar apontando falhas no sinal. Aí teremos que mandar alguém no local”, explicam os técnicos, ressaltando que, em casos como esse, uma consultoria será dada pela emissora a quem a procurar.
O comprometimento da Verdes Mares com a difusão do sinal digital é grande até para conseguir um retorno mais rápido do investimento feito. Em abril, foi promovido um encontro para explicar ao público, principalmente vendedores do varejo, e profissionais de agências de publicidade e produtoras, o que é a TV digital. “Levávamos o celular, o conversor, o televisor e mostrávamos na prática as diferenças entre analógico e digital. E realizamos também encontros com produtores de conteúdo comercial, explicando o formato de entrega do material para ser veiculado no sistema HDTV”.

TV Vitória afasta incertezas
A NAB de 2008 foi decisiva para que a TV Vitória, do Espírito Santo, confirmasse a sua jornada rumo à transmissão digital. Antes disso, a emissora carregava algumas incertezas sobre o tema, como conta o engenheiro Jorge Abrão Neto. “Começamos o processo no primeiro trimestre do ano passado, fazendo pesquisa junto aos fornecedores de equipamentos e finalizamos após a NAB, onde conseguimos dirimir nossas dúvidas e decidir a finalização do nosso projeto”.
Para a operação da central técnica foram adquiridos master, link digital e transmissor. “A nossa plataforma foi toda baseada nos equipamentos da Harris. Adquirimos algumas câmeras HD da Panasonic e ilhas de edição Mac Pró e Edius”, detalha o engenheiro. Até o momento, os investimentos da TV Vitória para colocar o sinal digital no ar já consumiram US$ 1,2 milhão. “A previsão é de chegarmos a US$ 1,8 milhão”, estima Jorge Abrão.

Curso do Inatel
A empresa investiu na capacitação da equipe responsável pela digitalização. O curso de treinamento ficou por conta do Inatel. Mas o engenheiro faz questão de enfatizar a maturidade dos profissionais. “Felizmente nosso corpo técnico é muito bom e estava bem informado, pois eles acompanhavam de perto o que está acontecendo nesse novo mercado”.
O avanço da tecnologia sempre exige um processo de adaptação, uma vez que muda muito mais rápido que os hábitos do dia-a-dia. Jorge Abrão afirma que há mudanças perceptíveis com o advento digital na TV Vitória “A maior mudança sentida foi o fim da ‘chavinha’ para ajuste de equipamento, que foi totalmente substituída pelo ‘mouse’”, brinca. A maior dificuldade encontrada foi a mudança total de filosofia de trabalho com o sistema, do sinal analógico para SD e HD. “Essas mudanças alteraram o conceito dos profissionais envolvidos, despertando maior sensibilidade no uso de enquadramento de câmera, operação de controlo mestre, inserção de GC, iluminação e maquiagem”, acentua Abrão.

TVC digital pública
Há um ano, a TVC, do Ceará, deu o primeiro passo para ser pioneira na digitalização das emissoras públicas. Nesse período, foram várias fases até a emissora alcançar a digitalização. “No começo, a prioridade foi a aquisição do sistema de transmissão, com o sistema irradiante, antena slot, cabo, transmissor e demais equipamentos como encoder e multiplexer”, conta Gilberto Moura, da engenharia responsável pelo projeto digital na emissora, que recebeu a consignação em maio de 2009. O projeto incluía as instalações elétricas para o novo transmissor, como reforma, adequação física e elétrica do site para a instalação do novo equipamento, e também desenvolver o suporte para colocação da antena slot no topo da torre.
Os aparelhos foram adquiridos respeitando o processo de licitação, ganho por Rhode & Schwartz, para o transmissor, e Harris, para a codificação. A primeira empresa forneceu o transmissor com uma potência de 7,2 kW refrigerado a líquido no canal 28, com dimensões físicas reduzidas a apenas três racks, onde estão todos os módulos de potência, dois excitadores e o sistema de gerenciamento incorporado. O equipamento tem duas bombas de refrigeração redundantes, sistema de GPS e transformador isolador de tensão. Moura destaca o fato de o equipamento ser ecologicamente correto, uma vez que economiza 30% de energia elétrica. “O transmissor pode ser monitorado remotamente por internet, o que facilita a manutenção”. O equipamento NETVX, fornecido pela Harris, é composto de dois encoders one-seg, dois encoders HD/SD e dois multiplexers, modulares com distribuidores de sinais de áudio e vídeo com saídas e entradas em SDI. “Esse equipamento recebe o sinal de áudio e video composto, faz up-converter e envia para o transmissor por cabo coaxial com áudio embedded”. A antena é de fabricação da Transtel omnidirecional, de oito fendas instaladas no topo da torre de 94 metros de altura.

Em 2010
Na previsão da engenharia, em meados de 2010 a TV Ceará deve encerrar o processo de digitalização, embora ainda falte digitalizar controle de produção, controle mestre, estúdio, externa, armazenamento, edição e captação. O investimento até aqui foi de R$ 3 milhões, segundo Moura. As empresas vencedoras ficaram encarregadas de realizar o treinamento técnico e operacional de pessoal da emissora já que essa obrigação era constante no processo de licitação. “É uma garantia de que todos os operadores, técnicos e engenheiros tomem conhecimento ou aprendam a trabalhar com o equipamento”.
Depois de concluído o trabalho de instalação e montagem do novo transmissor, foram feitas medidas preliminares de intensidade de campo para avaliar a performance da intensidade do sinal na cidade de Fortaleza. “Verificamos que o sinal é muito robusto tanto no one-seg, quanto na transmissão HD/SD, mesmo com o transmissor trabalhando com uma potência de 5,8 kW, ou seja, a cobertura do sinal está bem acima de nossas expectativas, pois imaginávamos que muito provavelmente teríamos que instalar gap fillers para as regiões de sombra, o que não se faz necessário”, conclui Moura.

TV RBA sai na frente
Pioneira no estado do Pará e a primeira afiliada da Rede Bandeirantes em todo o Brasil a transmitir o sinal digital no padrão ISDB-TB, com serviços de HDTV e one-seg em julho deste ano. Esse é o retrospecto da paraense TV RBA, de Belém, que deu início ao projeto de digitalização em outubro do ano passado. No início, diretoria e engenharia da RBA visitaram outras emissoras com sinal digital já implantado a fim de fazer um consulta técnica sobre os procedimentos e equipamentos necessários, como os de transmissão, sistemas irradiantes, codificadores e up/down conversores SD/HD/SD SDI.
“As participações em eventos como congressos e seminários da Abert e SET foram decisivos na escolha dos equipamentos para a digitalização da emissora, para as áreas e jornalismo, produção, edição, grafismo, arquivamento e equipamentos de medição”, conta o engenheiro Daniel Rodrigues, responsável pelo projeto.


Preparação e operação

O preparo estrutural da emissora respeitou o cronograma do Ministério das Comunicações. Após a liberação do canal digital (35) a RBA começou a preparar a infraestrutura de torre, sala de transmissores, energia e refrigeração para receber os novos equipamentos. A escolha do Transmissor da Linear com potência de 4,1 kW se deu “devido ao seu desempenho, qualidade e porque atende todos os parâmetros técnicos do padrão ISDBT B; pelo excelente relacionamento pós-venda e treinamento da área técnica em fábrica e na emissora”.
As antenas são Ideal, escolhidas segundo os mesmos critérios. Na parte de captação/produção foram adquiridas câmeras Panasonic – P2 HD, do modelo AG-HPX500P, recomendadas pela própria rede. Na edição, foram utilizadas ilhas com plataforma Machintosh, tanto em baixa como em alta resolução. O sistema de TV é da Harris, assim como o controle mestre, matrizes, multiviewers e servidor de vídeo.
Rodrigues explica ainda a chegada do digital estimulou os técnicos, de forma que a equipe passou a estudar melhorias no serviço de operação, produção e jornalismo. “Vamos comprar um sistema integrado que contemple todas nossas áreas de trabalho. Estamos negociando um pacote da Vizrt que atende estes requisitos.”, anuncia ele. Para quem fazer TV digital sem instrumentação adequada é navegar no escuro sem direção. “Por isso também estamos adquirindo analisadores de TS e de espectro já com o padrão ISDB-T embarcado”.
O conhecimento para implantação e operação da nova tecnologia na RBA foi obtido por meio de cursos de transmissão digital pela Unisat, Abert, SET e na fabrica da Linear. “Temos também um grande apoio da Band e da engenharia da Linear. É muito importante que o departamento técnico já esteja familiarizado com as normas do ISDB-TB, tabelas, PID’s e parâmetros da modulação COFDM e principalmente que os fornecedores sejam parceiros e não abandonem seus clientes nestas horas. Em nossas escolhas ainda não houve decepção”, acentua Rodrigues, acrescentando que na região não há muitos anos não há formação para a área e que ele mesmo por meio da TV vai treinar novos profissionais (estagiários de engenharia e técnicos) para este novo mercado que surgiu.

* Pedro é jornalista e colaborador da Revista da SET – [email protected]
Raphael é repórter da Revista da Set – raphael@ embrasec.com.br

Revista da SET – ANO XXI – N.110 – OUT/NOV – 2009