SETE MESES DEPOIS DA PRIMEIRA TRANSMISSÃO, O HDTV DESLANCHA DE VEZ

TV DIGITAL
SETE MESES DEPOIS DA PRIMEIRA TRANSMISSÃO, O HDTV DESLANCHA DE VEZ
Da Redação
Após muitos estudos – foram mais de 15 de anos em desenvolvimento –, trabalho e dedicação dos profissionais do setor, a TV Digital foi implantada no Brasil, começando pela região metropolitana de São Paulo, em dezembro de 2007.
Decorridos sete meses desde a inauguração, aos poucos o padrão digital vai ganhando corpo com mais emissoras colocando o sinal digital no ar. No início de agosto, por exemplo, a Rede Anhanguera, de Goiás, digitalizou o seu sinal – ela se antecipou em praticamente um ano. Provavelmente em outubro, várias emissoras afiliadas ao SBT estarão debutando simultaneamente (leia a matéria a seguir). Outras redes também se preparam para, ainda neste ano, digitalizar o sinal em várias comunidades e estados.
Com isso vão-se dissipando as antigas incertezas e já nada faz crer que todas as emissoras do país não estejam digitalizadas até 2016 – mesmo porque elas têm uma Lei a cumprir.
Do outro lado do balcão, o do consumidor, o cenário é um pouco menos risonho. O brasileiro ainda não conhece bem a TV Digital. É natural que assim o seja: até meados de agosto as vendas de conversores e de televisores Full HD estavam sendo feitas  apenas nas  regiões metropolitanas onde o sistema está estreando. Mas os usuários desses locais estão aprendendo, também aos poucos, a se beneficiar da gritante diferença de qualidade técnica, pois a imagem e o som são muito melhores do que no sistema analógico.
Neste departamento, ajuda muito a chegada de conversores digitais de baixo preço que, prometida para antes, só se tornou realidade em julho. Essa demora relativa causou desgaste de imagem no sistema como um todo, stress repercutido e aumentado pela imprensa. Açodados, jornais, revistas, portais e sites da internet não quiseram ver as coisas como elas são, pois o processo de implantação é gradativo e por isso mesmo aqui e acolá gritos e sussurros, atrasos e tropeços, são normais.Canalização
Ainda mais quando se tem de tratar de assuntos tão complexos como a canalização num aglomerado urbano do tamanho, por exemplo, do de São Paulo. “Foi realmente um desafio”, diz Ara Apkar Minassian, diretor da Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel. Na região metropolitana de São Paulo existe uma grande quantidade de canais de geração e retransmissão, com  instalações distribuídas ao longo da Avenida Paulista numa configuração que favorece as interferências pela ausência de co-localização dos sistemas irradiantes.
No entanto, de acordo com Minassian, o trabalho de planejamento tem sido amenizado pela coerência demonstrada pelo modelo de propagação adotado, apesar da impossibilidade de predição das reflexões horizontais decorrente da urbanização da área. “A cobertura constatada dos canais digitais condiz com os estudos teóricos realizados”, diz ele. Vale lembrar que a cobertura do sinal digital está dimensionada para equivaler-se à do sinal analógico. É possível que em certos lugares exista alguma dificuldade de recepção do sinal digital face à topografia da cidade, o que já era previsível. “Porém, com o uso de antenas externas, dimensionadas para a recepção da faixa de UHF, a qua-lidade do sinal será garantida”, acredita o diretor da Anatel.
Em outras capitais, principalmente naquelas com cobertura dificultada pelas características geográficas, como é o caso do Rio de Janeiro, a instalação de reforçadores de sinal digital fará com que partes da cidade hoje não atendidas pelo sinal analógico venham a usufruir dos benefícios de um sinal digital de qualidade. “Aliás, a possibilidade de utilização destes reforçadores digitais e a criação de redes de freqüência única (SFNs) foi um fator determinante na adoção do ISDB-T”, afirma Minassian.
Em outros estados, seguindo o cronograma estabelecido pelo Ministério das Comunicações, a Anatel já concluiu os estudos de reconfiguração da canalização digital para todas as capitais, por vezes ainda revendo a canalização analógica de forma a minimizar as possibilidades de interferências que surgem a cada passo por força da falta de co-localização das antenas .
“Para algumas capitais de menor porte ainda falta a publicação dos Atos de efetivação das alterações dos Planos Básicos, porém todas as consultas públicas já foram publicadas, dando margem a que as  transmissões digitais se iniciem brevemente”, diz Minassian.
Há algum tempo a Anatel tem também expandido o planejamento do PBTVD para o interior dos estados. Os estudos refe-rentes à maior parte do Estado de São Paulo estão concluídos e já foram iniciados os do interior de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. “A distribuição dos canais digitais deverá estar concluída em todo o território nacional até o fim de 2009”, revela Minassian.
Segundo ele, a realização de todos os trabalhos no prazo estabelecido está sendo possível graças à colaboração conjunta e ao bom entendimento que tem marcado o trabalho em grupo desenvolvido pelo corpo técnico das emissoras de televisão, por engenheiros autônomos e pela SET, por meio de suas consultorias contratadas, sob coordenação da Anatel e acompanhamento do Ministério das Comunicações.
Por aí dá para qualquer um perceber que a implantação da TV Digital é muito mais complicada do que foi, por exemplo, da TV em cores, nos anos de 1970. Ou seja, o processo da digitalização necessariamente é mais lento. “A questão é quem esperava o quê”, disse pouco tempo atrás Moris Arditti, vice-presidente do Fórum SBTVD. Não se poderia esperar sucesso da noite para o dia e vendas de televisores crescendo a galope desde então, ainda mais tendo a digitalização começado apenas por uma macrorregião. “Para nós, do Fórum, a implantação da TV Digital no Brasil é um sucesso”, resumiu Arditti. “O fato é que a expectativa da cobertura dos sinais, onde já foram implantados, suplantou o esperado e confirmou assim a alta qualidade técnica do padrão adotado no Brasil”, afirma Valderez Donzelli, da AD&TEC Consultoria.

Conversores
A taiwanesa Proview colocou seus set-top box à venda em todas as praças onde existe sinal digital (a brasileira EITV gostou: ela ganha dinheiro fornecendo o Playout Professional, um equipamento indispensável à interatividade, para as  geradoras) e agora Roberto Pinto Martins, secretário-geral do Ministério das Comunicações, revela o novo passo do Governo para popularizar a TV Digital: “vamos trabalhar para que o preço caia ainda mais por meio de tratamento tributário similar dado aos microcomputadores”.
O Brasil produzia cerca de 3 milhões de microcomputadores por ano e atualmente produz mais do que o dobro. Se houver equiparação fiscal, o conversor mais barato custaria por volta de R$ 130,00 (hoje é por volta de R$ 200,00). O mais caro, apto a todo tipo de interação, R$ 230,00 (R$ 290,00 na atualidade). “À vista, ou no crediário – em 10 ou mais prestações –, ninguém deixará de comprar”, avalia o secretário-geral.
Todavia, um conjunto de fatores, entre os quais o preço é o mais importante, continua inibindo a venda de aparelhos Full HD –- até a metade do ano menos de 50.000 deles foram comercializados. Só o  aumento da escala de produção permitirá a queda –- o televisor Full HD mais barato custa  por volta de R$ 4 mil.

Cronograma agressivo
Indiferentes a essas questões, as redes de TV continuam tocando seus planos normalmente.
“A despeito do pequeno número de aparelhos vendidos, não estamos segurando os investimentos e seguimos rigorosamente o cronograma de implantação”, diz Silvio Alimari, superintendente da TV Gazeta, de São Paulo.
O investimento dela é de 20 milhões de reais – não entram nesta conta o de afiliadas, mesma regra seguida pela Record e Globo, responsável apenas pelas emissoras próprias – Recife, Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
“A Rede Globo não divulga valores”, afirma Carlos Britto Nogueira, assessor de planejamento e projetos em engenharia da Globo. Mas ela também está seguindo um cronograma próprio, bem diferente dos prazos estabelecidos pelo governo via Ministério das Comunicações, pois prevê implantação mais rápida. O número de praças que receberão o sinal digital da Rede Globo ainda em 2008 chega a 11 – fora São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde o sinal já está disponível. “Continuaremos nos anos seguintes um cronograma agressivo de implantações”, diz Nogueira.
A Rede Record é outra a desembolsar uma expressiva quantia para se digitalizar. São R$ 10 milhões iniciais envolvendo a geração e transmissão em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e mais R$ 20 milhões no restante do país. Segundo o vice-diretor José Marcelo Amaral, o processo inteiro – em todos os estados – deve demorar em torno de 10 anos mas pode ser mais rápido se o governo ajudar. “Havendo algum incentivo, o tempo será menor”, afirma.

Complexidade
A Band, como as outras, dança conforme a música e continua investindo nos equipamentos de transmissão, prioridade do processo de digitalização. “A Band já investiu 50 milhões de reais em São Paulo e no Rio de Janeiro”, afirma Frederico Nogueira, vice-presidente da Band. Mas a maior parte do investimento é na área de geração e não de estrutura. O que custa caro são as ilhas de edição, os estúdios, as câmeras, a switcher (mesa de corte) e não as torres, a parte de estrutura.
A parte da retransmissão também levará uma boa grana. “Cerca de 80% dos equipamentos usados nas retransmissoras são nacionais”, diz Carlos Coelho, diretor de engenharia da Rede Bandeirantes de Televisão. Por falar nisso, com autorização do Ministério das Comunicações, a Band começou, em julho de 2008, a operação da primeira retransmissora digital do Brasil, em Campos de Jordão. “A implantação é para fins científicos”, afirma Coelho, sem oferecer mais detalhes.

Ainda neste ano, a Rede Bandeirantes deve estrear em digital em Belo Horizonte. Mas desde o início das transmissões digitais a Band disponibilizou o sinal a todo o país via satélite: apenas na Grande São Paulo se recebia o sinal aberto, terrestre. Só em 08 de agosto, na abertura das Olimpíadas, o Rio de Janeiro passou a receber o HDTV da Band via terrestre.
Pelo tamanho do país pode-se imaginar a implementação da TV Digital dando muito trabalho aos engenheiros. “Em cada cidade onde é feita a transição é necessário um projeto específico, o que torna o trabalho dos profissionais envolvidos ainda mais complexo”, lembra Nogueira. Por isso, de maneira geral, as redes reforçaram o time da engenharia e o de outros setores. “Temos mais enge-nheiros do que antes do HD”, diz o xará de Nogueira na Band.
Mesmo assim, certamente até o término de toda a migração e a transição final para o digital, que ocorrerá em 2016, os engenhei-ros de televisão e todos os demais funcionários das empresas envolvidas terão desafios diários a serem enfrentados. A dificuldade aumenta por conta de fazer a transição sem perder o padrão de qualidade do sinal analógico.

Retorno
A dinheirama investida e a complexidade levam a uma pergunta: valerá a pena? “O principal problema da digitalização é o investimento, muito pesado. E continuamos cobrando do anunciante a mesma coisa. Então, quem está pagando a conta?”, pergunta Nogueira, da Band. As emissoras, claro.
Elas dizem não saber ainda exatamente como vão ganhar dinheiro e obter o retorno dos investimentos. Alegam serem obrigadas a cumprir a lei. Alegam também que a televisão ou digitalizava o sinal, ou, perdia espaço para as novas mídias, como a internet e a telefonia celular, já digitalizadas. Portanto, antes de tudo o mais, investir na digitalização era  uma questão de sobrevivência no longo prazo.
Mas elas têm, sim, meios de reaver o investimento. Os equipamentos  agora são todos HD. “Quem tem TV HD reconhece a qualidade. Estamos fazendo tudo em  HD e esperamos que o telespectador reconheça esta diferença, a da qualidade. Quem não tem a TV HD sente uma diferença e  quem tem  HD sente outra, maior”, diz Frederico Nogueira.
As emissoras vão buscar o seu pote de ouro em cima dessa percepção de qualidade, reforçada por duas novidades, uma já no ar, a portabilidade, e outra ainda por chegar, o e-commerce. O e-commerce, o maior subproduto da sonhada interatividade, proporcionará às redes um bom lucro na intermediação eletrônica das compras feitas pelo consumidor, que em troca terá informações sobre produtos, serviços e ainda poderá interagir com a emissora e seus programas.
O e-commerce será realidade quando o Ginga, o software desenvolvido pela PUC do Rio de Janeiro e pela Universidade Federal da Paraíba, estiver pronto em todos os seus detalhes e embutido nos conversores – à espera do Ginga estará  o canal de retorno, essencial para a interatividade,  já com a sua regulamentação definida segundo afirma Martins, do Ministério das Comunicações. Há duvidas no ar: “O Fórum SBTVD ainda não definiu a especificação técnica do canal de retorno para que possamos nos planejar. Estamos em fase de pesquisa e o nosso planejamento vai depender dessa especificação”, diz Nogueira, da Band.
Seja como for, a previsão para o Ginga estar operacional é, no mais tardar, janeiro de 2009. “Todas as características da TV Digital irão construir novos mercados e, por isso, demandarão tempo até que possamos dizer que tipo de receitas poderão trazer”, afirma Nogueira, o da Globo.
O departamento de pesquisa e desenvolvimento da Central Globo de Engenharia já se movimentou e testa a interatividade em mídias pagas como o DTH e o cabo, com forte participação das áreas de produção de conteúdo e videografismo da Central Globo de Produções e da Central Globo de Jornalismo. “Mesmo na TV aberta temos feito algumas experiências em alguns receptores com protótipos do Ginga. O certo é que tão logo tenhamos produtos no mercado a Globo disponibilizará aplicações interativas para sua audiência”, diz Nogueira.

Acervo
Por sua vez, a TV Gazeta, de acordo com Iuri Saharovsky, gerente de engenharia, já há algum tempo mantém equipe voltada para a criação e desenvolvimento de projetos de e-commerce e móbile. Mas ele não revela mais detalhes. Como nas outras, as mudanças estruturais na TV Gazeta não implicarão em demissões ou economia. Ao contrário, os custos, principalmente com cenografia, energia, figurinos e maquiagem, são maiores.
“A Band já está desenvolvendo programas interativos”, revela Nogueira. “Estamos fazendo pesquisas, mas ainda não temos massa critica e disso é que tudo depende. O mercado ainda não está pronto e também não temos esses programas prontos.”
Quando se passa de uma tecnologia a outra, uma das grandes questões é o que fazer das antigas máquinas, equipamentos e do acervo. A Gazeta encontrou boas soluções. “A rede está reavaliando o acervo para iniciar o processo de digitalização – os equipamentos analógicos serão aproveitados em estúdios secundários dos cursos de Rádio e TV da Faculdade Casper Líbero de Jornalismo, mantenedora da TV Gazeta, que também já tem estúdios, equipamentos e ilhas de edição em HD”, diz Alimari.
O vice-presidente da Band diz não saber dizer o que existe e nem quanto há de acervo, ”porque o arquivo de 70 anos de história do grupo está sendo digitalizado em HD”.
Na questão do que fazer com o acervo, a Globo vai pelo mesmo caminho: todo o conteúdo da TV Globo, produzido e acervado em formato analógico, está sendo recuperado e digitalizado para preservação e possivelmente futura distribuição em novas mídias – uma boa maneira de ganhar dinheiro.
Contudo, a Gazeta não decidiu se terá ou não mais produções próprias e se realizará conteúdo interativo com ou sem parceria. “Temos conversado com empresas que podem se tornar parceiras, mas certamente teremos produções interativas próprias”, conta Saharovsky. “Quanto ao formato, ainda é cedo para se falar, até mesmo para proteger nossos modelos.”
“No aspecto comercial, nada mudou. Ainda não temos receita oriunda dessa nova mídia”, aponta Amaral. A Record sinaliza que o mercado publicitário, pelo menos por enquanto, continua com as verbas voltadas ao sistema analógico. “No longo prazo as verbas publicitárias, sustentadoras do nosso negócio, continuarão sendo as mesmas e com foco principal na transmissão analógica. A partir do momento que se comprove o aumento do mercado pela massificação da tecnologia digital, o cenário vai melhorar”, acredita o vice-diretor da emissora.

Portabilidade
A Record também não se arrisca a falar da maneira como poderá fazer dinheiro via digitalização. “Inicialmente os ganhos serão marginais. Eles virão das empresas que percebam valor nessa nova mídia e queiram ser reconhecidas como inovadoras, desenvolvedoras de novos formatos”, diz Amaral.
Todavia, todas as emissoras esperam que a portabilidade agregue uma nova legião de telespectadores. Idem com a mobilidade. Isso significa mais audiência e mais audiência significa o tilintar do dinheiro entrando no caixa. Principalmente em São Paulo, onde o trânsito já passou do estágio péssimo para o de horroroso durante todos os dias da semana.
A possibilidade de ver TV no carro, no trem ou em qualquer lugar onde se possa receber sinal de TV alimenta a esperança de retorno financeiro. “Acreditamos na portabilidade”, afirma Nogueira, da Band. “A consolidação do digital se dará por meio dela. Acreditamos também que esta é a primeira característica a ser desenvolvida. Os dispositivos para one seg vão vender mais que os conversores e  os televisores. Mas tudo ainda é muito prematuro em um lugar em que a HDTV  tem apenas sete meses. Por isso ainda pesquisamos como vamos explorar.”
A questão é o conteúdo e a grade. Adiantar o horário da exibição dos telejornais noturnos é uma das saídas. Mas pode ser insuficiente, pois há o restante do dia a considerar. “Acreditamos que o nosso conteúdo atual, apesar de ter uma grade pensada para uma audiência dentro de casa, é muito bom e se constituirá num importante fator de desenvolvimento do mercado de entretenimento móvel brasileiro”, diz Nogueira. “Com esse mercado maduro, e com o aprendizado até lá, será possível fazer as adaptações necessárias a fim de tornar o conteúdo ainda mais atrativo para a audiência da TV portátil.”
Já a Rede Record não parece muito otimista em relação à portabilidade. Ela existe há anos em outros países, donos de TV Digital mais madura. “Não temos informações de cases bem sucedidos. Dentro daquilo que a tecnologia permite, preten-demos explorar com conteúdos diferenciados e interativos”, afirma Amaral.

Confiança
Otimismo é o que não falta entre os fornecedores, revendedores e seus clientes. Com um pé no mercado digital e outro no analógico, a Linear, fabricante de transmissores e outros equipamentos para televisão instalada em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, é um bom exemplo. A empresa diz que hoje 20% das suas vendas já são de produtos digitais e eles estão em crescimento.
A empresa planejou crescer 30% em vendas neste ano e até agora está dentro da meta. “Desde a decisão brasileira pelo ISDB desenvolvemos, em prazo extremamente curto, solução completa para controle, transporte e distribuição de sinais de TV neste padrão”, conta Carlos Fructuoso, diretor de marketing da Linear.
Ou seja, a Linear está começando a colher os frutos da aposta que fez na digitalização da TV brasilei-ra. “Aumentamos muito, em quantidade e qualidade, nossa equipe de técnicos e engenhei-ros. Concluímos agora a obra que dobrou o espaço físico do nosso Departamento de Desenvolvimento e vamos ampliar ainda mais o quadro de pessoal.”
Outra indústria confiante é a Transtel, fabricante de antenas. “Desde 1997 não tínhamos um ano tão aquecido como o de 2008”, disse Dante Conti, presidente da Transtel. Segundo ele, mais de 95% dos canais digitais a serem liberados são em UHF. Ou seja, quem transmite em VHS terá de introduzir uma nova antena para a transmissão digital. Existem também os casos das emissoras que não estão obrigadas a isso. Todavia, muitas antenas estão implantadas país afora há mais de 20 anos. “Suas proprietárias vão aproveitar a oportunidade e fazer a troca”, acredita Conti.
Se a indústria está confiante, os importadores e revendedores de equipamentos para TV mais ainda. Um exemplo é a BCTV, de São Paulo. De acordo com Rambert Cadima, dono da BCTV, as vendas de câmeras HD, em junho e julho, “apresentaram uma alta bem interessante”.
O motivo? Algumas produtoras de vídeo estão envolvidas nas filmagens das campanhas políticas dos candidatos a prefeito e vereadores.  “Digamos que uns 20% das nossas vendas totais em julho foram relativas à campanha. Mas eu calculo que, em todo o ano, as vendas vão crescer cerca de 30% sobre o ano passado”, diz Cadima. Segundo ele, as produtoras médias já estariam começando a adotar câmeras e ilhas de edição de alta definição.
“Com os investimentos das grandes redes sendo seguidos pelas afiliadas, nós temos uma perspectiva de crescimento de vendas de 25% para o ano que vem. Mas tudo vai depender do dólar, quer dizer, da manutenção das atuais condições da nossa economia. Quanto a este ano, garantimos um crescimento de vendas de 100%. Superamos nossas expectativas. Vamos nos aposentar em júbilo”, brinca Wagner Mancz, um dos donos da Brasvídeo, de São Paulo.
O mercado brasileiro de produtos e equipamentos de televisão já é suficientemente grande para atrair a atenção de quem não o disputava. É o caso da chinesa Osee Digital, fabricante de vídeo e áudio de Pequim, especialista em Broadcast TV. Ela produz corretores e sincronizadores, vídeo delays, chroma keyer e outros produtos. Recentemente a Osee nomeou um representante, a Boreal, de Campinas. “Embora o mercado esteja muito aquecido –- vamos dobrar as vendas em relação ao ano passado –, não conseguimos ainda vender produtos da Osee”, diz Luiz Duque, presidente da Boreal. “Mas é só uma questão de tempo”.
De onde vem tanta demanda? Além das emissoras pequenas, como as pertencentes às Igrejas, e outras, mais independentes, ela vem das produtoras, retransmissoras, governos, universidades e portais de internet.
Entre as maiores produtoras de vídeo do país está a TV 1 Vídeo, de São Paulo. De acordo com Leo Strauss, diretor de vídeo da empresa, uma agência de comunicação por imagem do Grupo TV1, ela já tem quatro ilhas de edição HD e pretende comprar mais duas nos próximos meses. Câmeras, não – são alugadas. “O nosso foco está no mercado corporativo. Mas já produzimos vários filmes em alta definição para agências de publicidade”. Segundo Strauss, por enquanto as agências de publicidade não estão especificando qualidade HD nos vídeos. Mas já pedem, costumeiramente, orçamentos para digital e analógico a fim de que os clientes decidam. No mercado corporativo também inexiste uma cultura disseminada de comprar serviços em alta definição. Mas a TV1 sempre propõe esse formato porque um dos seus maiores ativos é o banco de imagens e esse precisa ser renovado. “A gente sempre sugere o HD. Fora isso, vídeos para eventos, em função das mega produções e das telas múltiplas, exigem produção em alta qualidade. Por causa disso investimos até em um núcleo de cenografia”, finaliza Strauss. Ou seja, embora a TV Digital não seja ainda um sucesso de público, ela já movimenta milhões e por isso mesmo, mais dia, menos dia, vai emplacar de vez.