SET 2007 – CINEMA DIGITAL

SET 2007CINEMA DIGITAL

Novas tecnologias, cinema 3D / MTF
Com a iminência da implantação da TV digital no Brasil, o cinema digital também está se atualizando e passa a utilizar satélites – tecnologia imbatível em aplicações multiponto e amplamente utilizado em broadcast – como ferramenta fundamental para as transmissões e exibições.
Segundo José Edio Gomes, diretor técnico da Hispamar, o papel do satélite na distribuição de conteúdos é importante na produção e exibição. Durante sua apresentação foi possível identificar o uso do satélite como de grande valia para o cinema digital brasileiro, pois permite distribuir o sinal para o Brasil inteiro, em diversas localidades, sem ter que contratar links terrestres, além de possuir utilização simples, rápida e com baixo custo de implantação.
Edio revelou a importância do File Transfer, utilizando o IP como modelo de exibição e produção em locações remotas e enfatizou que as antenas portáteis levadas à locação são mais baratas que a tecnologia de satélite SCPC.
A grande vantagem do cinema digital, a partir da transmissão via satélite, é a flexibilidade e a possibilidade de novos conteúdos. Com novos modelos de negócios é viável ter no cinema outros conteúdos e não apenas os filmes, como por exemplo eventos esportivos e shows, ou dividir a exibição para diferentes públicos.
A partir da convergência do satélite com redes menores será possível receber o sinal numa estação de uma grande metrópole e distribuir para as salas de cinema, através de tecnologia IMAX, ou IP, que tem custo mais vantajoso.
Larry Thorpe, diretor nacional de marketing na divisão broadcast e comunicação da Cannon, falou sobre contraste recebido versus resolução. Thorpe falou sobre MTF aplicados a câmeras e, segundo ele, para determinar o sharpness de uma imagem é necessário ter lentes MTF. Sendo assim, também se faz necessário uma lente que possa produzir MTF em dois ou quatro K. Outra consideração importante foi a comparação entre lentes e, de acordo com Thorpe, a lente SDTV segue o padrão de 32 linhas por milímetro, já a HDTV possui 81 linhas por milímetro, o que contribui para uma maior eficiência e produção da imagem.
DRM – gestão de direitos digitais
Quando se discute o tema gestão de Direitos Digitais está em jogo os interesses públicos e privados, em relação ao direito do autor, o copyright. Mas a questão não é tão simples como parece, pois o direito autoral, em qualquer país, permite ao autor do conteúdo o direito de impedir a sua distribuição não autorizada, o que não quer dizer que seja uma proteção infinita, pois funciona por um período específico, dependendo da legislação de cada país. O grande paradoxo é que esta mesma tecnologia que viabiliza distribuição de obras para um grande número de pessoas, também permite que estas obras sejam redistribuídas na Internet, sem a autorização dos autores.
A solução mais adequada para esse problema é o uso de dispositivos técnicos, a fim de controlar o acesso e impedir a reprodução de obras, ou seja, adoção de sistemas de informação sobre a gestão de direitos, proteção legal e sanções eficazes contra a neutralização dos dispositivos técnicos, a alteração das informações sobre a gestão de direitos, desenvolvimento e adoção de modelo de negócios adequados.
Para Steve Solot, da MPAA, “essas medidas sozinhas não são suficientes, mas vale tentar proteger os filmes, pois quatro entre dez filmes produzidos em Hollywood recuperam o custo de investimento na obra”. Com base no ano de 2004, a pirataria na Internet representava para a indústria cinematográfica uma perda de 6 bilhões de dólares. Sendo assim, Solot prepõe dois métodos básicos de proteção contra a redistribuição não autorizada de conteúdo na TV digital: o sinal na fonte e o sinal na recepção. O sinal na fonte já sai da emissora codificado com a proteção e não permite a distribuição na Internet. Já o sinal na recepção é mais complicado, sendo necessária a proteção por meio de uma marcação, como marca d´água.
Outra grande preocupação é a preservação da viabilidade da TV aberta no futuro, por meio dos dispositivos de proteção previstos nas normas de DRM. A televisão aberta está ameaçada antes mesmo de começar e a preocupação gira em torno do conteúdo, caso seja permitida a livre distribuição na Internet. Se não houver proteção, será impossível a comercialização futura entre as emissoras, porque uma emissora estrangeira não venderá um programa para a TV aberta brasileira, se não houver proteção, o que significará uma fuga da TV aberta para outras plataformas mais seguras, fuga de publicidade e fuga de telespectadores.
No Brasil, o mercado entende que a codificação do sistema digital irá impedir o usuário de fazer cópia em casa, o que não é verdade, pois o sistema será codificado e protegido, para que esse conteúdo não seja distribuído na Internet, preservando, assim, os direitos autorais da obra audiovisual.
Direção de fotografia: o cinema digital na prática
O painel moderado por Alex Pimentel, da SET e Casablanca, contou com a participação de diretores de fotografia da ABC (Associação Brasileira de Cinematografia) e focou, entre outras coisas, a parceria entre a ABC e a SET, que realizaram, pela primeira vez, um painel em conjunto no Congresso da SET, para discutir a engenharia do cinema, na era digital.
De acordo com os componentes da mesa, a intermediação digital trouxe novas ferramentas e técnicas, que abrem muitas possibilidades de erro e merecem atenção redobrada na finalização de um trabalho, o que multiplica a responsabilidade e o grau de controle do diretor de fotografia, que antes cuidava mais da ambientação e marcação de luz, mas hoje precisa se preocupar, também, com as cópias finais.
Segundo Carlos Ebert, a parceria entre SET e ABC definirá a funcionalidade dentro do processo de produção. “A responsabilidade pela engenharia de imagem será dividida e nós, diretores de fotografia, poderemos desempenhar nosso trabalho de criação e captação de imagem com mais dedicação”, comemorou.
set 2007 - CINEMA DIGITALPara Lauro Escorel, a tecnologia digital trouxe a necessidade de recriar a metodologia de trabalho no cinema, que hoje é muito mais complexa do que era no passado. “Sentia falta da engenharia para construir um sistema de acompanhamento do percurso das imagens, mas agora, com o apoio da SET aos diretores de fotografia, conseguiremos evitar os desvios de imagem, comuns em nosso trabalho. Assim, poderemos assumir o controle para o exercício pleno de nossa função, alcançando a imagem almejada”, explicou.
Lúcio Kodato afirma que, com a chegada do digital ao cinema, o diretor de fotografia é contatado numa fase anterior à produção e, na maioria dos casos, tem a responsabilidade de formatar o filme tecnicamente. Qualquer falha no sistema, que muitas vezes utiliza plataformas diferentes, pode comprometer a viabilidade do filme. Além disso, o diretor de fotografia passa a ter responsabilidade até nos custos e no tempo para produção.
O painel expôs ainda a experiência prática dos participantes com a nova tecnologia digital para a cinematografia, além de apontar aspectos importantes do mercado nacional e internacional, através da interação com a platéia que, entre outras coisas elogiou o trabalho dos diretores de fotografia, afirmando que ”a televisão brasileira e o seu produto principal, a novela, chegou aonde chegou, porque os diretores de fotografia foram para dentro do estúdio de produção e levaram, dentre outros mil conceitos de qualidade, a contraluz, que trouxe o diferencial, para o que existia antes na televisão”, exaltando a importância do profissional para a qualidade da TV digital no Brasil.
A platéia também reagiu ao fato de os produtores, no Brasil, ainda não saberem qual a melhor utilização para a tecnologia digital, onde vão armazenar o filme – película, ou DLT – e, muito menos, pensarem no futuro das filmagens em HD, para que estas possam ser utilizadas posteriormente.
Os textos desta seção tiveram a colaboração de Moacyr Bezzani Neto – Metodista