PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO DE ÁUDIO – PARTE 2

PRODUÇÃO DE PONTA A PONTA

PRODUÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO DE ÁUDIO – PARTE 2

Por Alexandre Dias Gomes Tauhata e Antonio Celso Mazzarelli

COMUNICAÇÃO
O sistema de comunicação também faz parte do sistema de áudio. Pode se dividir conceitualmente a entre as áreas internas ou externas. Como definição e para simplificar, pode-se dividir a comunicação em três tipos:

Intercom
Comunicação entre áreas operacionais. Feita com painéis de comunicação. Exemplo: comunicação entre o controle de estúdio e a Central Técnica. A comunicação por intercom é a comunicação ponto a ponto entre as áreas internas da emissora.

Comunicação operacional (party line)
Comunicação dos operadores e manutenção. Seria a comunicação de campo.
Exemplo: comunicação entre os operadores de câmera, operadores de mídia, operadores de estúdio e o diretor de TV. A comunicação por party line é uma comunicação operacional, onde algumas áreas e operadores estão compartilhando um mesmo canal. Todos ouvem e falam ao mesmo tempo. Este sistema serve para agilizar a troca de informações e é utilizado, por exemplo, entre o diretor de TV e os operadores de câmera.

Comunicação externa (4 fios)
Comunicação com áreas externas da emissora ou com fontes de áudio internas. É chamada de quatro fios, pois utiliza um par para enviar comunicação e outro par para receber comunicação. O meio de interligação pode ser via rádio ou linha de telefone privada (LP). Geralmente é utilizada para coordenar um evento, reportagem externa ou, simplesmente, para que áreas operacionais remotas possam se comunicar com a emissora.

Exemplo1
Um painel de comunicação em um evento externo conectado à uma linha telefônica dedicada que será interligado ao sistema de comunicação da Emissora.

Exemplo 2
Sistema de talk back dos estúdios. Os equipamentos auxiliares serão especificados especificados e quantificados de acordo com a topologia definida.

A quantidade de distribuidores de áudio é definida pela quantidade de fontes de áudio a serem distribuídas e pela quantidade de destinos do sinal. Do mesmo modo a quantidade de embedders e deembedders também será definida pela quantidade de fontes de áudio que já contém áudio multiplexado no vídeo ou que necessariamente precisam estar multiplexadas.

Os patchs de áudio devem ser especificados nas posições críticas do sistema onde alguns equipamentos podem ser “retirados” (bypassados) e assim restabelecer o fluxo do sinal. O patch é um recurso extremo de manobra sistêmica e só deve ser utilizado para garantir a integridade do fluxo de sinais. Os patchs “operacionais” não são uma boa prática de sistema e dificultam o entendimento do sistema e como foi dito no início, são os principais causadores da antipatia dos profissionais de vídeo pelos sistemas de áudio, pois sua prática é mais difundida nestes sistemas.

NORMALIZAÇÃO DO SISTEMA
Uma premissa essencialmente técnica é que tipo de sinal será trafegado. Será utilizado áudio analógico ou áudio digital? A distribuição dos sinais de áudio será independente ou será embedded com o vídeo? Depois da definição o sistema necessita ser normalizado, ou seja, todas as fontes de áudio devem ser configuradas para o padrão escolhido. O sinal de áudio pode ser analógico ou digital.

• Áudio analógico – balanceado ou desbalanceado, com diferentes níveis médios +4 dB, -6 dB, -10 dB.
• Áudio digital balanceado ou desbalanceado – Diferentes níveis de amplitudes. Pode possuir diferentes freqüências de amostragem como, por exemplo, 44.1 kHz e 48 kHz.
Escolha dos padrões
• Áudio digital balanceado – Todas as fontes de áudio analógico devem ser convertidas para digital balanceado, todas as fontes de áudio digital desbalanceado devem ser balanceadas e todas as fontes devem possuir freqüência de amostragem de 48 kHz (padrão de radiodifusão
• Áudio digital embedded – Todas as fontes de áudio analógico devem ser convertidas para digital, todas as fontes de áudio digital balanceadas devem ser desbalanceadas e todas as fontes de áudio digital devem possuir a mesma freqüência de amostragem de 48 kHz. Após as conversões e normalizações necessárias, cada fonte com os seus vários canais deve ser multiplexada com o seu respectivo sinal de vídeo digital.
• Áudio analógico – Todas as fontes de áudio analógico desbalanceadas devem ser balanceadas e todas as fontes de áudio digital, balanceadas ou não, devem ser convertidas para áudio analógico. Após as conversões necessárias, os sinais devem ser amplificados e calibrados para possuírem nível médio de +4 dB.

Exemplo 1: Microonda analógica a ser usada em um sistema com áudio embedded com vídeo HD.

O áudio de uma microonda analógica deve ser digitalizado por um conversor A/D, e depois ser multiplexado com o vídeo (digitalizado e “upconvertido“) por meio de um embedder. O conversor A/D deve possui uma saída balanceada para uma entrada balanceada de um embedder ou uma saída desbalanceada para uma entrada desbalanceada do embedder, caso contrário esta normalização deverá ser feita por balanceadores ou desbalanceadores.

Exemplo 2: Uma fonte de áudio digital multiplexado com um vídeo HD que será utilizado em um Controle de Estúdio de Produção que utiliza áudio digital embedded em um programa ao vivo:
Como o sistema é embedded o sinal de áudio e vídeo é distribuído por um distribuidor de vídeo HD. Uma saída do distribuidor deve ser demultiplexada do vídeo por meio de um deembedder. Este sinal de áudio deve ser distribuído e enviado para os destinos: uma saída para o mixer titular e uma saída para o mixer de emergência.

PROJETO EXECUTIVO E INSTALAÇÃO
Depois de definida a topologia do sistema a tecnologia de áudio a ser utilizada e todos os equipamentos especificados é necessário fazer os diagramas executivos do sistema.

O projeto de um sistema de áudio abrange, além do projeto de áudio propriamente dito, o ambiente operacional e as infra estruturas necessárias como: ar-condicionado, mobiliário, acessórios, encaminhamento para cabeamento e energia elétrica.

Neste projeto deve constar todas as interligações de áudio e todas as indicações de como e onde instalar. Tem que ter o desenho da planta baixa da área operacional, posicionamento de iluminação operacional e de serviço, desenho das consoles operacionais, posicionamento das saídas e retorno de ar-condicionado, indicação onde cada equipamento será instalado, identificação, encaminhamentos de cabos.

Ao término da instalação do sistema um conjunto de diagramas e plantas deve ser organizado e ficar disponível para a área operacional a fim de que todos os recursos disponibilizados ao novo programa estejam documentados e que a manutenção possa utilizar como guia no momento de uma pane.

MONITORAÇÃO E MEDIDAS DOS SINAIS DE ÁUDIO
Deve-se garantir a integridade dos sinais em todo o sistema de áudio. Para isto os sinais de áudio devem ser monitorados e medidos em várias etapas do sistema.

Estes pontos de monitoração são normalmente compostos por um medidor de nível (VU) e um monitor para cada canal de áudio. É possível realizar uma avaliação subjetiva do áudio transmitido, em relação à qualidade de captação e distorções. Em sistemas estéreos ou multicanais utiliza-se um equipamento que monitora a fase e a distribuição espacial dos canais, com a finalidade de verificar a qualidade da mixagem, distribuição espacial e impedir qualquer inversão de fase entre os canais.

SINCRONISMO
A maioria dos sinais de áudio possui um sinal de vídeo associado. Para manter esta associação é necessário sincronismo entre o áudio e o vídeo. Um sinal externo de vídeo deve ser sincronizado por um frame synchronizer para poder ser utilizado no sistema de TV. Esse equipamento gera um atraso no sinal de vídeo e em função disso, o áudio fica adiantado. Para compensar esta diferença entre o áudio e o vídeo é necessário sincronizá-lo por meio de um equipamento externo chamado audio delay, que o atrasará até torná-lo síncrono com o sinal de vídeo. Muitos frame synchronizers já possuem a opção de ajuste de sincronismo do áudio, eliminando os áudio delays.
Para gravações com múltiplas fontes de áudio e vídeo, existe um sinal de sincronismo entre áudio e vídeo chamado time code. Trata-se de um sinal digital que possui a informação de hora, minuto, segundo e frame. Este sinal pode estar no sinal de vídeo ou no sinal de áudio.

Sinal de vídeo
Está inserido entre as linhas 16 a 19 do sinal de vídeo; denomina-se VITC (Vertical Interval Time Code).

Sinal de áudio
Gravado em um canal separado chamado LTC (Longitudinal ou Linear Time Code). O time code é gerado por um equipamento que sincronizará todas as máquinas de áudio e vídeo. Deste modo é possível sincronizar vários gravadores de áudio com os gravadores de vídeo. O áudio analógico é um sinal elétrico contínuo, não possuindo pulsos de início ou fim de sinal.

Deste modo não há necessidade de sincronismo entre as fontes de áudio analógico.

O áudio digital é um sinal serial onde cada bit possui uma posição definida e uma respectiva informação, por isto existe a necessidade de se sinalizar onde começa e onde termina a palavra digital.

Em um sistema de áudio digital todas as fontes devem ser síncronas, ou seja, todos os bits de cada canal de áudio devem começar ao mesmo tempo. Para isto existe um sinal de sincronismo chamado Word Clock ou Word Sync. Este sinal externo é um sinal digital que sincroniza todos os equipamentos de áudio digital. Utiliza-se também outro sinal de sincronismo chamado DARS (Digital Áudio Reference Signal) gerado por um Gerador de Pulso.

CONCLUSÃO
O sistema de áudio, como foi visto, tem como premissa principal o atendimento à demanda dos programas de uma emissora. Ao mesmo tempo tem que ser de fácil operação e manutenção. Para atingir este objetivo técnico, deve ser simplificado ao máximo.

O ambiente operacional deve ser igualmente bem projetado, respeitando a ergonomia, facilitando a monitoração e operação dos sinais e proporcionando conforto para os operadores. O ambiente operacional deve possuir boa parte acústica, iluminação operacional adequada e ar-condicionado eficiente.

A tecnologia jamais deve ser utilizada como um fim em si mesmo e sim um meio para que o sistema seja simples, de fácil operação e principalmente com o mais baixo custo possível.

Tauhata é Gerente de Projetos da TV Cultura de São Paulo e-mail: alexandretauhata@tvcultura .com .br
Celso é Sonoplasta da TV Cultura de São Paulo. email: mazzarelli@tvcultura .com .br