O novo olhar da engenharia de TV

Nº 146 – Out/Nov 2014

por Chrystianne Rocha*

Artigo

A Revista da SET em parceria com alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie realizaram durante o Congresso SET 2014, uma serie de trabalhos de investigação com futuros engenheiros que participaram das seções e palestras e visitaram o SET EXPO 2014 com o objetivo de desenvolver pequenos papers de investigação sobre diversos temas de interesse das emissoras de TV e o mercado broadcast brasileiro. Em duas edições publicaremos os trabalhos desenvolvidos por estes alunos que tem como principal intuito mostrar novas miradas sobre o fenômeno da TV no Brasil e possíveis soluções aos problemas pelos quais o setor passa na atualidade.

Futuro da TV Digital Após o Switch-Off

ATV é um dos principais meios de comunicação, entretenimento e informação para a população. Pensando nisto, nos dias 24 a 27 de agosto a SET realizou o congresso e a feira com o intuito de discutir as principais novidades envolvidas no mercado, como também um assunto que vem preocupando os radiodifusores, principalmente os da TV terrestre: o switch-off da TV analógica.
Para tratar este tema vários painéis foram montados, onde os principais profissionais do setor proporão caminhos que deverão ser pensados e refletidos, tendo como ponto de partida o cronograma de desligamento proposto pelo governo por meio da Portaria nº 481 (Ministério das Comunicações, 2014).
Este cronograma está previsto para iniciar em 1º de janeiro de 2015, e com término para 31 de dezembro de 2018. A principal preocupação é se o tempo é suficiente, pois o sinal digital deverá ser responsável por 100% da transmissão terrestre de TV digital do país.
Diversos fatores são relevantes para que isto ocorra, como o plano de divulgação, cobertura da estação, qualificação e capacitação técnica, qualidade do sinal a ser recebido e monitoramento da cobertura deste sinal.
É importante informar a população os processos e mudanças que ocorrerão com este remanejamento, fazendo uma divulgação de forma adequada para cada público, proporcionando as informações de forma direcionada. Pois para muitos dos telespectadores, a TV digital está relacionada a TV à cabo, sendo difícil para o consumidor entender que no Brasil não há custo para o acesso à tecnologia digital.
A Figura 1 apresenta um gráfico que demonstra a migração do sistema analógico para o digital. É importante destacar a acentuada elevação da população que poderá ser prejudicada no último momento por não estar preparada e informada adequadamente.
Outro fator que deve ser destacado é o cenário internacional, para evitar que os mesmos problemas não ocorram no Brasil. Em 2012 Portugal terminou a redistribuição, onde aproximadamente 30% da população não estava preparada. Na América Latina a primeira cidade a realizar este processo foi Tijuana, no México. Muitos não sabiam e não estavam sabendo. O transtorno aumentou por ter sido realizado na época de eleição.
No cronograma brasileiro, algumas cidades desligarão em época eleitoral, como é o caso de Goiânia e Palmas, por exemplo. Em comparação, no Rio de Janeiro ocorrerá na época das Olimpíadas. Portanto, o Brasil está sujeito a enfrentar os mesmos problemas do cenário internacional. O custo também é um ponto de preocupação. No momento não há uma política de incentivo para que as prefeituras auxiliem na compra de equipamentos, pois os custos para este processo são altos, uma vez que em muitas cidades ainda são utilizados equipamentos analógicos.
Por outro lado, este remanejamento movimentará a economia, uma vez que surgirão novos empregos e consequentemente, novas oportunidades de rendas. Deste modo, novos modelos de negócio estarão em aberto, mas que ainda não foram explorados, como a reciclagem do cobre, por exemplo.
Porém, o setor deverá estar preparado para o descarte dos antigos equipamentos, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que retrata como deverá ser o remanejamento e a logística desta operação.
Deverá também ter um melhor aproveitamento dos serviços da TV digital. Atualmente, somente são aproveitadas a mobilidade e a alta definição, podendo também ser exploradas a interatividade e a multiprogramação, levando ao público uma experiência além da qualidade.
A monitoração da cobertura também é um ponto relevante, pois locais com áreas de sombra não recebem o sinal. A fim de eliminar estas áreas de sombra deverão ser instalados os gap fillers ou reforçadores de sinal.
No entanto, atualmente, testes de campo possuem um custo elevado, uma alternativa é a instalação de sensores para monitorar o espectro. Estes sensores podem atuar de duas formas: trabalhar diretamente com o gap filler, se tornando um gap filler adaptativo (ROCHA, 2014), ou trabalhar em redes SFN, formando redes cognitivas.
O que é pouco lembrado é que o switch-off foi mencionado pela primeira vez no Decreto nº 5820 (2006), assinado na época pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Portanto, este assunto vem sendo debatido há quase uma década.

Figura 1: Cronograma de desligamento da TV analógica. Fonte: (BRITTO, 2014).

Portanto, para que este remanejamento seja implementado de forma eficiente, evitando a ocorrência de grandes impactos na audiência, é importante realizar uma boa campanha de divulgação, explicando ao telespectador o que irá acontecer da forma mais clara o possível.
Além disso, é necessário avaliar a infraestrutura das emissoras e realizar o monitoramento da área de cobertura, proporcionando à população não somente a alta definição, mas todos os serviços disponíveis da TV digital, evitando assim, a tela preta.

Bibliografia
BRITTO, David. Considerações do Fórum SBTVD para o desligamento da TV Analógica. Set Expo 2014: 22 slides, color.
MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES. Portaria, n 481, de 9 de julho de 2014 ROCHA, Chrystianne et al. Adaptive Gap Filler For Digital Terrestrial Television. IEEE International Symposium On Broadband Multimedia Systems And Broadcasting (BMSB). Beijing, p. 1-6. jun. 2014.

Chrystianne Rocha é graduada em Engenharia Elétrica pela FESP (Faculdade de Engenharia São Paulo), e pós-graduada em Engenharia Elétrica pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Contato: [email protected]