O momento da regionalização

REGIONALIZAÇÃO
Por Júlio Prado

Tudo teve início em meados dos anos 1990, quando o Brasil começou a estudar os diferentes padrões de TV digital utilizados mundialmente. Naquela época debatia-se sobre o impacto que o modelo adotado causaria à população e os reflexos que ele traria para o desenvolvimento do País. Paralelamente a isto, começavam os primeiros testes de alcance do sinal, o que anos depois, em 2006, culminaria na escolha do padrão ISDB, posteriormente incrementado por técnicos do Brasil. Surgia ali o sistema nipo-brasileiro de TV digital, hoje adotado em praticamente toda a América do Sul e, no País, presente em mais de 400 municípios, segundo dados divulgados recentemente pelo Ministério das Comunicações.

Com o switch off do sinal analógico previsto para 2016, chegamos numa diferente etapa da implantação da tecnologia. A maioria das estações geradoras nos principais centros urbanos já se adaptou ao sistema, sendo necessário expandir o seu alcance, o que é sinônimo de regionalização e, por consequência, estratégias e investimentos diferenciados.

O que muito tem sido debatido até então é sobre o impacto que as tecnologias disponíveis hoje poderão causar ao modelo de negócios de cada emissora. Afinal, construir uma estrutura robusta e que atenda a múltiplas necessidades requer que todos os envolvidos no processo cheguem a um consenso quanto ao modelo escolhido e o melhor modo de gerenciá-lo, o que nem sempre é uma tarefa fácil.

Pelo o que temos estudado, a construção de redes de transmissão de dados poderá permitir as emissoras a economia de aproximadamente 50% ou mais da banda de satélite necessária e dos links de microondas utilizados para transmissão. Com relação a redes SFN (Single Frequency Network) em específico, a estimativa é de que 20 mil áreas diferentes sejam cobertas pela tecnologia com o processo de regionalização.

Inclusive, neste ponto sugiro que façamos um retrocesso para perceber como a implantação da TV digital no Brasil envolve aspectos e detalhes absolutamente diferentes daqueles utilizados pelo Japão, por exemplo. A dimensão territorial do País nos fez buscar diferentes alternativas, como a utilização massiva de redes de frequência única, uma vez que e a instalação de gap fillers para retransmitir o sinal não é viável para longas distâncias.

Ainda assim, como cada retransmissora conduzirá este processo ainda é um tanto incerto. O que a princípio parece ser o mais simples é transmitir apenas o sinal digital, uma vez que um transmissor dual-mode pode facilmente fazer a conversão entre este formato e o analógico; outra opção seria a utilização de redes IP nos links de microondas, uma opção que representa a otimização do sistema, uma vez que elas podem ser utilizadas tanto para a transmissão do sinal digital como para o tráfego de material entre os setores de jornalismo e na comunicação baseada na telefonia IP entre geradora e retransmissora.

No geral, apesar das cidades afastadas dos grandes centros urbanos estarem iniciando agora o processo de digitalização do sinal, o mercado dá claras demonstrações de que a tecnologia será aderida. Basta lembrar que a partir deste ano todos os televisores de 26 polegadas ou mais produzidos no País deverão ter o conversor embarcado. Com relação a 2010, mais de 6 milhões de dispositivos integrados com a TV digital foram vendidos no decorrer de todo o ano, três vezes mais do que o acumulado nos dois anos anteriores.

Adicionalmente, anunciantes e mercado publicitário demonstram cada vez maior interesse em divulgações no formato em HD, o que tem motivado muitas emissoras a antecipar os investimentos em estruturas digitais. Ou seja, temos um cenário amplamente favorável e soluções tecnológicas prontas para serem instaladas. Fora isso, lembrando que todo o país deverá estar coberto pelo sinal digital até o final de 2013, resta-nos pouco menos de três anos para transformar a TV digital brasileira numa realidade a toda população. Não tenho dúvidas de que saberemos lidar com a situação, mas também não podemos esperar. O momento é agora!

Júlio Prado é diretor comercial da Screen Service do Brasil. Email: [email protected]