Novo satélite para o mercado brasileiro

Nº 132 – Abril 2013

Por Rodrigo Ramponi

ARTIGO

Diferente da maioria dos projetos, dimensionar, lançar e operar um satélite geoestacionário durante típicos 15 anos oferece desafios maiores que propriamente a tecnologia e a gestão do projeto. Ao longo desse artigo vamos abordar esta interessante missão do ponto de vista de uma operadora de satélite. Além dos desafios tecnológicos, dispor de muitas competências e criatividade é essencial para cumprir um bom plano de negócio e atender com satisfação o cliente final.

O Plano
Definir exatamente como será a configuração final e a cobertura de um novo satélite passou a ser um exercício tão complexo quanto o tecnológico. É necessário estar alinhado com o negócio dos atuais clientes, entender o crescimento e desenvolvimento econômico de países e regiões no médio e longo prazo, prever em que localidades haverá maior ou menor demanda, estar atento a novos potenciais mercados e finalmente fazer uma excelente análise da concorrência. E o mais difícil de tudo, extrapolar este estudo para os 18 anos futuros. Após aprovar um plano de negócio para um satélite, ainda é necessário esperar em média 3 anos, gastos entre a fabricação, lançamento e início efetivo do serviço que dura, em média, 15 anos.

A Missão
Muitas são as atividades ao longo do processo entre aprovar o projeto e lançar um satélite. Eis algumas das mais importantes:

– Definir a posição orbital e resolver as questões regulatórias.
– Contratação do foguete lançador e seguro.
– Confirmar as faixas de frequencias de operação e as áreas de cobertura.
– Plano de migração de clientes e/ou onde estará a nova capacidade a ser ofertada. – Teste em órbita (IOT – In Orbit Test).
Terminada a fabricação, o satélite é exaustivamente testado, integrado e enviado para a base onde será lançado. A Telesat trabalha neste momento no IOT de seu último lançamento bem sucedido – o ANIK G1 deve iniciar seu serviço em Maio de 2013.
Uma das coberturas mais importantes será a da América do Sul, que estão 100% dentro deste plano. O ANIK G1 é um exemplo típico de projeto de reposição mas que traz facilidades adicionais para os atuais e futuros clientes da Telesat.
Com a colocalização com o ANIK F1 na posição orbital de 107.3W e a extensão da capacidade hoje já ofertada, o ANIK G1 é uma opção representativa no mercado de televisão e mídia no Brasil. Além de garantir a continuidade dos serviços dos atuais clientes que hoje operam em banda C do ANIK F1 o novo ANIK G1 trará considerável quantidade de MHz para futuros projetos. Se um satélite tivesse um crachá de identificação, este seria o do ANIK G1 :

Coberturas
Também conhecido como footprint, os mapas de cobertura contendo as curvas de nível de potência ainda são a melhor forma de representação gráfica para entender como um satélite pode conectar localidades sobre a superfície terrestre através de redes de dados (SCPC ou VSAT) ou distribuição de sinais (broadcast).
Tipicamente procuramos por dois mapas: o que representa a vantagem de subida e o que representa a vantagem de descida. Na subida, podemos ver as curvas de nível que mostram o ganho que o satélite provê numa dada direção. O parâmetro utilizado é o G/T cuja unidade é o dB/K. Já no mapa de descida consideramos os valores de potência de saturação EIRP cuja unidade é o dBW. Ambos os parâmetros tem sua importância peculiar do dimensionamento de projetos e definem a melhor opção para uma determinada r ede.
Valores convencionais dessas curvas dependem da banda de operação (L, X, C, Ku, Ka), da potência dos transmissores e do tamanho das antenas a bordo do satélite. Não esquecendo também da estratégia de cobertura que cada operadora deseja ter. Uma regra vale para a maioria dos casos: Quanto maior a cobertura do feixe em área (Km2), menor são os valores de cobertura pois distribuir um potência finita sobre uma região maior significa reduzir proporcionalmente a densidade desta potência sobre a superfície da terra.

A tecnologia atual já permite uma grande flexibilidade na definição e distribuição desta potência dentro dos mapas de cobertura permitindo às operadoras a possibilidade de desenhar praticamente qualquer forma de mapa. Entretanto, depois de fabricado e lançado, pouco há o que fazer em relação a redistribuição desta potência no satélite. Há algumas alternativas e opções como o reposicionamento de feixes e utilização de satélites fora de suas posições orbitais originais, mas em linha geral, dificilmente consegue-se excelentes resultados em promover mudanças nas áreas de cobertura. Ou seja, as operadoras ficam comprometidas com as regiões originalmente previstas no plano. Funcionalidades de reconexão de amplificadores (transponderes) entre feixes é uma forma de aumentar a flexibilidade da oferta de segmento espacial, mas isto não significa que as coberturas serão modificadas em seu desenho original.

Rodrigo Ramponi M. da Silva, Pósgraduado em Gestão de Negócios no MBA do IBMec e pela PUC-RJ na curso LatuSensus de em Telecomunicaçõe, terminou sua graduação em Engenharia na UERJ em 1996. Técnico Eletrotécnico pelo CEFET-RJ, iniciou sua vida profissional já no ensino médio. Como engenheiro iniciou sua carreira no programa de trainee da TV Globo, onde posteriormente ficou por mais 5 anos atuando na Engenharia de Jornalismo. Como especialista em projetos de Telecom passou por empresas de grande porte como Impsat e Telemar e hoje é responsavél pela Engenharia da Telesat para a América Latina.