NAB – Digital Cinema Summit

Para sobreviver e continuar fazendo uma das melhores televisões do mundo, os radiodifusores brasileiros promoveram diversas adaptações e se adequaram aos custos de produção. O cinema, tal e qual, também seguiu esses passos ao migrar para a digitalização.

Na TV, primeiro veio o filme, depois “ao vivo”, em seguida o videotape. O alto custo da película e dos produtos de laboratório para revelação levaram até mesmo o telejornalismo, que resistia, ao passar do filme para o VT. No Brasil, a virada da década dos anos 1970 para a de 1980 foi um grande marco. Nessa época, aposentaram-se as Auricons e CP’s. E o U-Matic com VT’s portáteis dominou o mercado brasileiro e em paises em desenvolvimento, para não dizer pobres, no negócio TV.

Também na década de 1980 surgiram os primeiros protótipos do cinema digital, mas com a relutância dos cineastas em mudar a forma de captação e edição, aposentando as filmadoras e moviolas, o que, na opinião deles, poderia trazer mudanças na semiótica (do grego semeiotiké; significa “a arte dos sinais”) e o clamor de uma indústria secular iniciada na França com os irmãos Lumière.

Ter 1920×1080 linhas de definição, 12 megapixels por “frame” (fotograma)… começou a grande discussão. Qual a melhor mídia? HD, DVD, DVCam, DVCPRO ou Blu-Ray? Indiferente. Por quê? Os custos! Uma ótima premissa porque eles fazem a diferença. É o que vamos tentar mostrar diante do acompanhamento que fiz, nos últimos cinco anos, em Las Vegas, das conferências e fóruns deste tema apresentadas no Digital Cinema Summit. Lá, pude ver e ouvir diretores como James Cameron e outros como Ray, Putman, Claypool, Mandle, Huerta, Jon London, Burdick, Joshua Guer e Vince Pace. Eles justificam meu entusiasmo pela produção, captação, armazenamento, edição, finalização, distribuição e exibição digital, pois o mercado é crescente e as oportunidades de negócios são muitas.

Desenvolver a parte tecnológico-digital das câmeras até chegar à capacidade de 12 megapixels – em função dos chips -, que têm consumido a maior parte dos investimentos em novas tecnologias, não foi tão difícil.

Já a lente não acompanhou o desenvolvimento experimentado pela digitalização que a TV estava aproveitando, pois o cinema precisa de lentes de altíssima transparência e qualidade, fazendo com que os fabricantes desse produto dedicassem um grande esforço para melhorar esta parte tão importante quanto o restante da cadeia tecnológica, dando a mesma qualidade da captação, edição, pós-produção e finalização.

Carl Zeiss, Fujinon, Canon e outras marcas investiram muito no desenvolvimento de novas lentes, mas a linguagem do cinema persistiu apesar da mudança tecnológica. Continua-se usando o travelling – movimento de câmera em que ela se move sobre um carrinho, ou qualquer suporte móvel, num eixo horizontal e paralelo ao movimento do objeto filmado -, primeiro plano, plano secundário, 9 X 16, um primor artístico no olhar retratado pela qualidade da captação, parte que cabe ao diretor de fotografia.

Luz, câmera, ação! O cinema digital chegou para ficar e dominou os principais mercados produtores. Passada a primeira fase da aceitação, o foco passou a ser a distribuição, por satélite, broadband, fibra óptica, etc., e salas de exibição apropriadas, sem interferência de luz externa ou som, com temperatura ideal, em torno de 21º Celsius, com projetores de qualidade apresentando definição pura no contraste e colorimetria, tornando as 1920 X 1080 linhas tão atraentes quanto a película de 35 mm.

Hoje já são mais de mil salas de exibição totalmente digitais nos Estados Unidos (dado de janeiro de 2008). E o número delas deve ter aumentado, a despeito da crise econômica que afeta principalmente a economia americana, pois a digitalização do cinema é algo irreversível.

John Fithian, presidente da National Association of Theatre Owners, dos Estados Unidos, acredita que serão construídas novas salas e adaptadas as já existentes para a exibição digital. Isso vai tornar os preços competitivos e baixar os custos com o ganho em escala na venda dos equipamentos receptores, armazenadores e de projeção, dando maior segurança para os produtores em função das novas formas de distribuição. O sucesso do cinema digital é real, sua qualidade e custos vão gerar novos negócios e aquecer os já existentes neste segmento.

Capacidade de armazenamento a custos mais baixos, utilização de efeitos mediante softwares da indústria de TV e do “JPEG 9000 Compression”, economia na captação trazida pela possibilidade de ver o que foi gravado imediatamente após a captura das imagens e estações de trabalho não-lineares. Adicionados a uma nova geração de talentos humanos, isso diminui drasticamente o tempo da captação até a distribuição.

É bom lembrar que a pós-produção do cinema difere da TV no “quality check” (sincronismo do áudio e vídeo), pois o som direto é pouco utilizado, primando mais pela dublagem, e a trilha incidental é colocada após a geração dos efeitos digitais. Isto também já esta ocorrendo na indústria televisiva com o advento da TV de Alta Definição em cenas captadas fora das cidades cenográficas para dar realismo, ou nos efeitos especiais para prender a atenção dos telespectadores, já que estes assistem a TV coletivamente numa sala de sua casa, com diferentes interferências de sons e luminosidade.

Cristalizada a nova tecnologia digital no cinema, é hora de fazer mais, pois está chegando o Digital Cinema 3D. Participar dos fóruns do cinema digital tem valido pelas novas técnicas, aprendizado e, principalmente, por poder assistir algumas exibições com óculos de três modelos diferentes – o principal é extremamente confortável -, tendo na formação da imagem diversas fotografias, com ângulos, textura, perspectiva visual com luz e sombra, profundidade e, principalmente, sentir-se dentro da aventura visual em ângulos inimagináveis aos olhos humanos.

Evolução do cinema digital e maior difusão mudaram a realidade dos EUA de hoje, onde existem 92 salas de exibição em 3D, multiplicando-as e espalhandoas rapidamente para outros continentes. Até o final do ano de 2008 era esperado que tivéssemos mais de 40 salas espalhadas pelos maiores centros do Brasil.

John Fithian acredita que, em cinco anos, teremos a recepção em TV de alta definição com aparelhos de TV com adaptações na tela, decoders e óculos especiais em canais premier, um novo negócio a ser explorado até chegar à TV aberta (que poderá ser quase simultânea nos países ricos). O Japão, antes da crise econômica mundial, previa para o fim deste ano um canal premium da NHK em 3D, pois o sistema já está pronto e pode ser visto nos EUA na NAB/2008. O próximo passo japonês é o UHDTV, a TV com 2.3 vezes mais qualidade que a HDTV. Sem dúvida alguma a NHK é um grande centro de pesquisa, onde nossos engenheiros, tendo possibilidade, devem fazer uma visita técnica para ver e sentir como os orientais buscam a excelência em tudo que fazem.

Mas nem tudo é rosa nesse mundo: hoje, uma das maiores preocupações é a do Direito Autoral – que terá de ser amplo e devidamente cumprido, pois a pirataria mata qualquer indústria.

Mesmo assim, vão em frente sonhadores talentosos, transpirando e realizando filmes digitais! Não esperem: façam! Este é o mandamento do agora da arte secular e milenar dos negócios. Portanto, a hora é agora. Chegou para ficar e continuar sua trajetória de crescimento, pois as pesquisas e avanços não param a demanda por novas produções, em qualidade e quantidade: é um leão faminto. De forma concomitante a TV passou a fazer Cinema Digital com o advento do HDTV, a maquilagem teve que ser aprimorada, a cenografia sem o menor defeito, enquadramentos semelhantes ao do cinema, o pouquíssimo uso do “zoom”, a valorização do contra-regra e operadores de câmera, somada à visão 16X9 com 1920X1080 linhas de definição cobrando dos diretores de cena e fotografia um rigor militar.

Desenvolver sempre. Isto é que faz a interatividade de uma indústria com a outra e a construção de novas oportunidades de negócio customizando recursos e gerando mais recursos para suas empresas.

*João Braz Borges é jornalista, advogado, diretor de marketing da SET e vice-presidente Jurídico e Ética da Associação Goiana de Emissoras de Rádio e Televisão.
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Revista da SET – ed. 106