“Minhocas” animadas

O primeiro longa brasileiro em stop motion estreou no Brasil, ainda que a técnica seja a mais velha do cinema. Nos primórdios da sétima arte, a técnica era utilizado para criar efeitos especiais. Esta produção brasileira de animação serviu para dar vida e movimento as personagens do filme.

Nº 139 – Dez 2013 e Jan 2014

Por Fernando Moura

Reportagem – Produção Nacional

Stop motion é a técnica de animação mais antiga que existe e consiste em fotografar um objeto ou modelo numa sequência de posições criando assim os movimentos. São necessários 24 quadros (frames) para criar um segundo de movimento. Segundo os especialistas, no princípio do cinema, o stop motion foi utilizado como ferramenta para criar efeitos especiais em filmes como King kong, Guerra nas Estrelas e Indiana Jones. Nos dias de hoje, a técnica de stop motion ficou restrita a um pequeno grupo de produtoras no mundo devido a sua complexidade. No stop motion, cada personagem, depois de desenhado, é esculpido como um boneco. Na sequência, os bonecos são fotografados diversas vezes em frente aos cenários do filme, em várias posições. A justaposição das imagens dá aos espectadores a ideia de que os personagens estão em movimento.

Robô especialmente criado para manipular a câmera no set do filme “Minhocas”, primeira longa de stop motion brasileira

Segundo explicou o diretor do filme “Minhocas”, Paolo Conti, em entrevista à Revista da SET, a técnica mistura disciplinas de cinema, animação, artes plásticas e engenharia. “Cada produtora especializada nessa técnica acaba criando seu próprio estilo visual, e isso tem tudo a ver com o processo de produção que é adotado durante a execução do filme. No caso do “Minhocas” trabalhamos com materiais como silicone, espuma, resina, plástico, madeira e metal na confecção de modelos em três escalas diferentes para os cenários e duas escalas para os bonecos. Essa decisão gerou um processo de composição de imagens, onde cada frame do filme foi composto por várias camadas fotografadas separadamente. Em alguns casos, mais de 30 camadas. Produzimos mais de 500.000 fotos. Essas fotos foram compostas num processo digital e resultaram nos 115.000 frames que vemos no filme”.
Para Policarpo Graciano, supervisor de produção geral de produção do filme, o “maior trabalho foi formar a equipe” porque “primeiro no Brasil são poucas as pessoas que talvez tenham passado pela experiência de fazer um filme de animação. Este tipo de filme demanda muita concentração e é preciso gostar porque as vezes a produção passa 18 horas no set”.

Captação

No stop motion, cada personagem, depois de desenhado, é esculpido como um boneco.

Para a realização e captação de imagens do filme “Minhocas” a produção utilizou câmeras e lentes da Nikon D3 na captação das imagens do filme. “Cada frame do filme tem 4256×2832 com 12 megapixéis. Depois de fotografadas, as imagens foram reduzidas para o formato que assistimos no cinema 2k – 1.85 (1998×1080),” explicou Conti.
Para criar os movimentos de câmera “desenvolvemos internamente um robô (Motion Control) que é capaz de posicionar a câmera seguindo um repertório de movimento criado por computador. Esse equipamento possibilitou a execução de cenas que seriam impossíveis de serem realizadas de outra forma”.
Conti explicou à Revista da SET que ainda foi utilizado o “processo de prototipagem industrial em vários modelos do filme, e principalmente para a face dos personagens. As expressões e bocas destes foram criadas no computador e depois produzidas pela prototipadora. Foram produzidas mais de 1500 expressões para os 40 personagens do filme. Esse processo trouxe para os personagens uma plástica e um movimento que os animadores utilizaram para convencer em suas interpretações”.

Durante a filmagem foi utilizado primeiro After Efects e depois Nuke para a edição do filme.

Finalização e correção de cor
Como o filme foi animado em camadas, após cada camada ser animada, foi preciso juntar as partes e criar os movimentos. “Acompanhava pessoalmente a pré montagem de cada cena (off-line) que consistia em compor as camadas diferentes e checar se tudo estava funcionando conforme o previsto. Essa primeira montagem foi feita no After Efects”, explicou Conti.
Uma vez aprovada, “seguia para a equipe de composição e servia de referência para o trabalho com as imagens em alta resolução que foi realizada principalmente no NUKE. Nessa etapa era feito o primeiro trata mento de cor, rotoscopia, e composição das camadas.
Em seguida, as cenas que precisavam de efeitos em computação gráfica (ex. partículas e fumaça) receberam uma camada adicional”, explicou.
Uma vez finalizada a montagem e edição do filme, a produção fez uma correção de cor final que “teve o objetivo de valorizar ainda mais as cores que já existiam no filme. Nesse processo tomamos cuidado para que as cores que estavam impressas nos frames originais pudessem ser reproduzidas de forma fiel na pelicula”.

O filme

Para criar os movimentos de câmera, foi criado um robô (Motion Control).

“Minhocas” conta a divertida história de Júnior, uma minhoca que vive a famosa crise da pré-adolescência. Tentando se exibir para os colegas, Júnior é capturado por uma escavadeira e levado para um lugar muito distante onde as minhocas são controladas por um terrível tatu-bola que quer dominar o mundo. Junto com os amigos Nico e Linda – também minhocas – ele viverá incríveis aventuras para derrotar o vilão e conseguir voltar para casa, sem que tatu-bola transforme todas as minhocas do mundo em zumbis escravos.
Para o diretor, a animação é um gênero que viaja pelo mundo e é muito forte no Brasil. “Apesar de ter sido produzido com uma técnica restrita a poucas produtoras no mundo, o filme é uma animação como qualquer outra que vemos nos cinemas. Procuramos fazer um filme universal com uma história que pudesse encantar famílias do mundo inteiro. “Minhocas” é um filme que mistura ação e comedia dentro da estrutura clássica da “jornada do herói” presente em todas as animações internacionais,” concluí.
O “Minhocas” estreou nos cinemas brasileiros em dezembro de 2013 nas versões pelicula e digital, formato 1.85. O suporte de captação é NEF 4256 x2832 / digital – 12 megapixeis. O filme foi realizado com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual e com o patrocínio de Porto Seguro, Goodyear, Petrobras, C&A, Montcalm, Cinemark, MCM. O filme contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo por meio do PROAC e da Agência Nacional de Cinema (ANCINE).