Mídia Social

Nº 142 – Junho 2014

Por Ronald Barbosa

Análise

A última NAB deixou claro a importância do Metadata, que a televisão passará por uma mudança importante indo para o Re-Pack, 4k e 8k; que o mundo caminha para a implantação de um sistema de rádio híbrido, e que a indústria broascast precisa olhar para novos negocios a través de novos modelos.

Sem dúvida alguma a NAB 2014 teve uma marca registrada chamada “Social Media”. O que é isso do ponto de vista norte-americano? A mídia social significa o compartilhamento por comunidades virtuais e redes que utilizam a Internet como forma de expressar sua criação, obter informação, trocar ideias, marcar encontros e ter o seu tempo despendido nessa forma de comunicação.
A radiodifusão não perde tempo e entende a mensagem que está na nova geração. Por isso o tema foi incluído em todas as discussões. O mais importante nessa discussão é que o conteúdo da radiodifusão precisa ser inserido na mídia social como instrumento de diálogo e ferramenta de trabalho para essa comunidade virtual. Isso é um desafio, pois a mídia social tende a buscar ferramentas que permitam utilizar sua própria criatividade, sua própria forma de se comunicar.
Mas quem tem conteúdo é a radiodifusão. Se o radiodifusor entender que o ‘metadata’ seria a forma de gerar conteúdo interativo no rádio e na televisão e isso serviria como modelo para a rede virtual estaria plenamente identificado e incluído na mídia social.
Como fazer isso? Precisamos primeiro identificar e classificar a mídia social. Internacionalmente, classificam- na da seguinte forma:
1. Projetos colaborativos
2. Blogs e microblogs (por exemplo: Twitter)
3. Sítios de redes sociais de notícias (por exemplo: Digg e Leakerned)
4. Conteúdo comunitário (por exemplo: YouTube)
5. Sítios de redes sociais (por exemplo: Facebook)
6. Jogos mundiais virtuais (por exemplo: World of Warcraft)
7. Mundo social virtual (por exemplo: Second Life)

Por que o Metadata é um importante instrumento de interação que virá a ser a interface de participação da radiodifusão nessa comunidade virtual?
Em princípio, através do Metadata pode-se criar um contrato de aquiescência ou conformidade, com isso uma distribuição de Digital Right Management (DRM) pode ser empregada em todas as instâncias. Outra facilidade é a possibilidade de inserção local de informação, serviço ou programa, ajudando na forma própria de se comunicar. Permite um controle maior na receita, nos lucros etc. Oportunidade de novos negócios.

As opções de câmeras 4K foram muitas, uma das mais inovadoras, foi a apresentada pela AJA, a CION.

Que tipos de Metadata são possíveis empregar?
O primeiro deles é relativo ao DPI (Dots por Polegada) relativo ao controle, nível fixo e variações que são possíveis nos pixels que serão explorados em telas de televisão ou em impressão por papel. O segundo deles é relativo a Identificadores de Conteúdo, onde a emissora pode ter controle de todo o seu conteúdo colocado na web.
O terceiro deles é relativo a Restrições de Entrega de Conteúdo, isso cria proteção para distribuição desenfreada ou para cópias abusivas ou ainda para recipientes que não são permitidos receber a informação.
O quarto é relativo a Dados Privados que serão disponibilizados na Internet.
A partir daí, pela sua flexibilidade, pode-se inserir a Metadata com a tecnologia disponível em qualquer parte da web. A sua validação será pontual e solicitada em todos os níveis que se deseja. Ela estará pronta para passar por distribuidores de toda a forma, interação entre consumidores e o que parece ser o mais importante que é gerar publicidade personalizada.

Televisão Re-Pack, 4K, 8K
Não há dúvidas que a televisão tem pela frente grandes transformações em seus requisitos de espectro, nas resoluções de transmissão e outros parâmetros que tanto os Estados Unidos quanto a Europa estão discutindo, procurando adaptar-se à situação de competitividade.
Preocupante mesmo é a questão de segurança e interfaceamento entre serviços e tecnologias, pois se no futuro os conteúdos deverão estar disponíveis em toda mídia e as tecnologias de produção, distribuição e armazenamento precisam padronizar formatos ou buscar formatos que sejam convenientes em todas as etapas. Por outro lado, os serviços que compartilham o mesmo espectro não podem ser fontes de interferências mútuas. 3840 x 2160 ou 7680 x 4320, o que é melhor? Sabemos que qualquer um deles é muito melhor que HDTV (1920 x 1080), o problema é implantar ou mal começar a implantar ter que rever sob pena de lançar no mercado tecnologia que se apresenta quase obsoleta.
Porém, se não passar por essas etapas como saber o que é melhor? Como corrigir os erros? Como caminhar em direção à mídia social? Essas questões não precisam apresentar respostas imediatas, mas precisam ser debatidas exaustivamente.

Revitalização do Rádio AM
Surpreendeu-nos a continuada discussão sobre a revitalização do Rádio AM na NAB/2014. Os americanos procuram dar ênfase a possíveis soluções que mantenham o Rádio AM com todas as suas funcionalidades.
Desde o ano passado, quando foi lançada a campanha em prol do Rádio AM, alguns pontos foram levantados:
• Radiodifusores americanos e a FCC discutem alternativas para o Rádio AM.
• Como no Brasil, os problemas do AM são os mesmos em qualquer lugar.
• Levantamento das questões insolúveis.
• Soluções técnicas e tecnológicas.
• FCC levanta a bandeira a favor das Rádios AM’s.

Um ano depois, os primeiros trabalhos começam a surgir no campo da engenharia. Um dos trabalhos citados foi sobre estudos da proximidade de torres de outros serviços a torres de Rádio AM e a distorção que causa em seu diagrama de radiação, afetando sua cobertura. Outro estudo fala do compartilhamento de sítios de transmissão AM, compreendendo também o uso compartilhado da infraestrutura de torres. A FCC continua se empenhando para que regras que dificultam o Rádio AM sejam substituídas, por outras que promovam ou facilitem a convivência do Rádio AM com outras mídias. Um último estudo foi apresentado pela Nautel que fala dos desafios da transmissão e as soluções para o Rádio AM com transmissão totalmente digital.

Rádio Digital
Poucas apresentações sobre rádio digital foram feitas durante a NAB/2014, particularmente no domingo, durante todo o dia tivemos apresentações sobre avanços da tecnologia, medidas de campo com o AM todo digital e uma apresentação sobre análise da situação do DAB/DAB+ na Alemanha.

Rádio Híbrido
O rádio híbrido nada mais é do que a possibilidade de combinação de serviços de radiodifusão sonora e serviços de radiocomunicação ou telecomunicação ou mesmo ainda integração de produtos disponíveis ao usuário final, permitindo que ele transite entre a Internet, programação de uma emissora no ar e mídias diferentes simultaneamente.

Oportunidades de Novos Negócios
O que são ‘Oportunidades de Novos Negócios’. A mobilidade é outro principal instrumento da mídia social. Assim, a mídia social tende a ser móvel. Isso completa o universo de entendimento para trabalho.
A mídia social móvel representa a combinação dos dispositivos móveis e da mídia social. Segundo Andreas Kaplan ela se divide em quatro aplicações: sensível a localização e ao tempo; sensível ao tempo; sensível à localização; e não sensível ao tempo e a localização. A NAB criou a NAB Labs que funciona como um laboratório para projetos e pesquisas que visam dar apoio e divulgação de novos projetos que intensifiquem o trabalho comum entre mídia tradicional e mídia social. Por exemplo, a empresa coreana ETRI (Electronics and Telecommunications Research Institute) desenvolveu a chamada tecnologia do aviso inteligente baseado no reconhecimento do público que assiste e sua inferência, quer seja diretamente pela radiodifusão terrestre ou pela Internet (Fixa ou Móvel) é possível reconhecer o público que está assistindo e também a sua idade e sexo. Com isso, uma publicidade mais objetiva, dirigida, pode ser feita naquele momento para esse público. É um primeiro passo para a publicidade dirigida. Outro importante trabalho da coreana ETRI é o que podemos chamar de ‘Tecnologia Ampliada para a Radiodifusão’ isso será para a próxima geração de Smart TV. Isso será muito importante para o radiodifusor.
Por exemplo, a convergência ideal da realidade ampliada permite ao telespectador selecionar o fornecedor (provedor) do conteúdo comercial de interesse. Na demonstração ele coloca um boneco muito conhecido da população coreana e através de sensores e metadas é possível fazer com o boneco fale conosco descrevendo a cena que aparece na tela. Isso como caráter educativo é muito bom para crianças. Para adultos seria como se tivéssemos diversos aplicativos sobre o programa na tela, mas todos de alguma forma vinculados ao programa. Isso permitiria ao telespectador buscar informações adicionais sobre patrocinadores, produtos e endereços. Essa verdadeiramente é uma proposta de oportunidade de novos negócios bem como é um novo modelo de negócio, pois além da satisfação de interagir com o usuário da tela (ou telespectador) o mantém ocupado na interatividade e dependendo dos aplicativos na própria educação do público.

Modelos de negócios
Já está definida, a Internet está inclusa. Um modelo de negócio é quanto à área de cobertura das emissoras, que permite um ‘handover’ com a área de cobertura da operadora de Telecom wireless ou móvel.
Nesse caso o serviço de radiodifusão móvel pode transitar entre a área de cobertura da rede de comunicação wireless (wifi, 3G e LTE) e a área de cobertura da estação de radiodifusão. Uma complementando a outra.
Por último, como modelo de negócio, um Sistema de Radiodifusão de Alerta de Emergência que tanto pode dar informações de carro roubado ou criança perdida, ou ainda tráfego impedido, como pode também informar sobre situações críticas de infraestruturas, dando informações sobre como proceder em calamidades públicas, isso pode ser um trabalho feito em parceria com os governos municipal, estadual e federal.
Esse serviço utiliza espaço entre canais de televisão digital, cerca de 620 kHz, entre canais adjacentes, que tanto pode ser feito no ATSC quanto no ISDBT.
Com essa largura de faixa é possível inserir em períodos não emergenciais informações de trânsito, geradas por emissoras de rádio, para pessoas que utilizam dispositivos móveis ou que estão se preparando para viajar ou mesmo sair de casa para um passeio ou ir a um supermercado.
Para as emissoras de rádio que tem interação ao vivo com o público, pode ser gerado uma forma dessa interação ser ao vivo, enquanto o locutor narra o programa e o público interage por telefone, por SMS, Whatsapp etc. Se for emissora da mesma rede de rádio, essa forma pode ter um código nacional que permita o reconhecimento em qualquer parte do País.
Na verdade, para que a radiodifusão esteja prepara para lidar com todos esses desafios é necessário que sua infraestrutura seja atualizada para o grande tráfego de dados que ameaçam transitar por seus estúdios, redes e sistemas.
Nos Estados Unidos foi declarada a morte do SDI (Serial Digital Interface) de áudio e vídeo, utilizado para transmissão de vídeo, que tem capacidade para transmissão de até 1,5 Gbits/s. Para os futuros requisitos das emissoras a Fibra Óptica tende a ser a substituta natural, onde possivelmente numa primeira etapa emissoras que queira acompanhar a mídia tradicional juntamente com a mídia social devem despender cerca entre 40 Gbits/s a 100 Gbits/s.
Outro ponto importante é a leveza de disponibilizar o Rádio e a Televisão na Nuvem. A Televisão segundo livro lançado ano passado na própria NAB não revolucionou, com a tecnologia digital, a maneira de se ver televisão. Por exemplo, a tecnologia do Touch Screen ainda não chegou às famílias, nas residências, apenas nos Iphones e Tablets isso está disponível.
A Nuvem representa uma revolução na forma de gerenciar uma rede, arquivar dados da própria emissora que podem ser acessados de diferentes locais e permitir que se tenha conteúdo a que a nova geração possa ter acesso sem necessidade da exibição pela emissora. O livro de, Frank A. Aycock e Adam Powers, ‘Television In The Cloud’ não é um livro, como ele mesmo diz, de um engenheiro de televisão envolvido com cloud computing, mas um livro para quem descobre o prazer de ver seu meio de comunicação ampliar sua audiência com acessos e performances que constituirão uma revolução na forma de ver e apresentar televisão.
O livro apresenta de início uma descrição do completo entendimento do que é o cloud, quais os tipos de cloud existem, quais são os benefícios do cloud e modelos de serviços do cloud.
Primeiro, o que queremos é ter uma programação de cloud que conduza a nova audiência para a mídia tradicional. Será que é isso que queremos?
Segundo, caso tenhamos essa pretensão precisaremos dar condições para aqueles que querem programas que se assistam de bermudas e chinelos e programas que se assistam nos ônibus e metrôs.
Não queremos esgotar o assunto, queremos discutir o assunto como fez a NAB. É necessário que as emissoras se preparem para o grande volume de transferência de dados, que pela tecnologia, já podem ser acessados por dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo.
No momento de transição nos Estados Unidos em que a re-embalagem da TV digital devido a Banda Larga 4G, com tecnologia LTE e a forte campanha para mudança na transmissão em 4k (ATSC 3.0) traz uma expectativa aos radiodifusores e às redes de televisão para estarem na mobilidade, na Internet e na Nuvem. Contudo, parece que o salto será ir direto para o 8k. Quem quer implantar 4k? Veja alguns dos anexos e das possibilidades.
No caso Rádio muitas foram as expectativas geradas pela revitalização do rádio AM e pelo chamado rádio híbrido. Na verdade a empresa Ibiquity sabe que a Internet será um instrumento que permitirá ao rádio ter serviços de acesso, tanto on-line quanto on-time.
Essa foi uma expressão muito usada durante a NAB, um ponto em destaque seria o crescimento do público que escuta rádio via Internet, esse número tem crescido e um gráfico foi apresentado durante palestras.
Pode se ver que o total anual de 244 milhões de ouvintes por horário, de 6 da manhã até meia-noite de segunda a domingo ainda escutam rádio da forma tradicional, mas o número anual dos que ouvem pela Internet aumentou para 94 milhões de ouvintes por semana ouvida e no mesmo horário.
O certo que o slide mostrado a seguir demonstra o crescimento e o investimento nas medições de audiência de rádio via Internet.
O conceito de rádio híbrido começa a tomar o tempo dos radiodifusores, pois significa uma mesclagem de informações complementares à musica, ao diálogo via rádio, à compra de produtos que só serão feitos via Internet através do que se tem chamado de ‘Tagstation’. Isso comporá o visual do display dos receptores de rádio.

Ronald Siqueira Barbosa Consultor de Tecnologia da Associação Brasileira de Radiodifusores – ABRA, e Prof. de Sistemas de Comunicação no IESB