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As redes Anhanguera (GO), Alterosa (MG) e Gazeta (ES) investem em soluções próprias para a digitalização
Da Redação


Depois de estrear no eixo São Paulo, Rio e Belo Horizonte, a TV Digital começa a se tornar realidade Brasil afora. Em 4 de Agosto, a TV Anhanguera, de Goiânia, foi ao ar em HD. Em outubro será a vez da TV Alterosa, de Belo Horizonte, que estreará em companhia de várias emissoras afiliadas ao SBT. A TV Gazeta, de Vitória, deverá estar no ar em janeiro de 2009, sem falar em outras emissoras. Essas três foram ouvidas pela Revista da SET. Cada uma delas desenvolveu soluções próprias na qual outras podem se espelhar. Acompanhe:
Leonel da Luz, diretor de tecnologia da Organização Jaime Câmara, dona da TV Anhanguera, rádio e outros veículos de comunicação, revela que a emissora investiu 12 milhões de reais no projeto. Entre outros equipamentos foram compradas 13 câmeras do tipo camcorders e 5 de estúdio.
Por quê a TV Anhanguera adiantou o cronograma se podia esperar mais?
“As instalações já estavam no ponto de renovação. Aproveitamos o custo-oportunidade”, justifica Leonel. “Além disso, era uma ótima hora para rever nossos workflows e começar antes da concorrência significa consolidar a liderança na área e na região.”
A Anhanguera praticamente construiu uma nova TV. Ela foi mais longe do que o necessário para atender aos padrões de qualidade da Rede Globo, da qual é afiliada e excedeu a encomenda, já visando o futuro. Por isso, construir e não mexer foi um dos parâmetros adotados no projeto, pois a instalação deverá se manter atual nos próximos 15 anos. Tudo foi refeito desde o início: da infra-estrutura e da arquitetura do projeto técnico ao workflow: o aterramento, a rede elétrica, etc. “Seria muito inconveniente ter um sistema com cabeça de ouro e pés de barro”, filosofa Leonel.


HDTV em 1080p
A Anhanguera, em outro ponto de destaque do projeto de digitalização, já pode trafegar vídeo em 3G – três gigabits por segundo. Com isso, dentro de cada geradora da rede (há mais sete geradoras em Goiás e em breve nas três do Tocantins), ela já trafega os sinais de vídeo em 1.080p. “O mesmo cabo que leva o vídeo leva também o áudio. É o chamado embedded”, diz Leonel. Mas o sistema de áudio que a geradora comprou e instalou é para 16 canais de áudio. Quer dizer, ela já tem como trafegar áudio e vídeo com mais qualidade e flexibilidade do que recebe. No mundo, esta tecnologia é muito nova e apenas algumas emissoras receberam estes equipamentos.
No momento  a Anhanguera só usa 8 canais de áudio. Os 16 canais serão usados, por exemplo, nos filmes e espe-ciais, mas isso só vai acontecer quando a Rede Globo passar a transmitir também em 16 canais. A empresa goiana vai gerar os telejornais e outros programas próprios em 8 canais e ainda transmitir a programação da Globo em 16 canais quando necessário. Ou seja, ela se antecipou ao futuro, pois mais dia, menos dia, a Globo passará a gerar e transmitir tudo em 16 canais. “Em poucos dias nós iremos estrear o conteúdo local gerado em alta definição”, acrescenta Leonel.
Um outro ponto que chama a atenção no projeto de digitalização da Anhanguera é que a transmissão para a rede é feita por microondas, UHF e fibra óptica. A conexão entre Goiânia e as geradoras, que têm conteúdo e comercialização local, se dá através de fibra óptica bidirecional. “Nós intercambiamos material em tempo real, mas como temos uma canalização forte de dados, também trocamos muitos arquivos entre os pontos”, diz Leonel. Mais uma diferenciação: o modelo centralizado de supervisão geral de sistemas da Rede Anhanguera. Ela é feita a partir de Goiânia. “Eu tenho como saber muitas coisas dos sistemas e da operação porque os aparelhos adquiridos podem ser monitorados e gerenciados externamente”, revela Leonel.

Remote casting
Trata-se de um conceito novo, o remote casting. Por ele, o controle da automação de exibição e a supervisão se dão em Goiânia, com as filiais sendo acionadas por controle remoto. Todo o sistema de Goiânia é redundante.
Com esse sistema, se ganha na flexibilidade da ope-ração e na robustez do sistema, pois o remote casting pode ser convertido em localcasting ou centralcasting, em caso de necessidade. “No remote casting o hardware é deslocado para a ponta e de Goiânia o controlamos. Nós enviamos o comando; se houver interrupção, rodamos a lista local e se pifar o local, eu tenho todo o material dele aqui também. Se uma geradora falhar, basta converter a operação para centralcasting”, explica Leonel.
O resultado é um gerenciamento mais eficaz. A informação é muito mais precisa, segura e eficiente. “E se eu solicito alguma coisa, a informação aparece do lado de cá. Isso é controle”, diz Leonel.
Com a comunicação e a operacionalização em remote casting cada área específica faz o seu trabalho. Exemplo: se a área de Operação Comercial, a Opec, necessita saber o que foi exibido em determinada praça, ela mesmo acessa. Se por acaso  houver uma falha de comunicação, o pessoal da área de supervisão geral de sistemas vai receber um alerta e encontrar uma rota alternativa para que a Opec não fique sem informação.
Há vantagens paralelas. Uma delas é que se gasta muito menos com telefonia (por falar nisso, na Anhanguera todos os pontos se comunicam via VoIP – voz sobre protocolo de internet). Outra é que, ao invés da central enviar uma fita para uma filial, ela manda o conteúdo por fibra óptica. E vice-versa.
A área comercial também se beneficiou da digitalização. Muitas coisas foram alteradas por lá. A inte-gração da exibição com a Operações Comerciais, por exemplo. Agora a exibição importa a lista da Opec e retorna um relatório para a gestão dos comerciais. Tudo integrado com o ERP, o software de gestão da empresa, que rastreia o comercial até o faturamento. Após o pagamento, o sistema retorna confirmando crédito.
Adicionalmente, o sistema de automação, quando recebe conteúdo comercial, passa pelo processo de ingestão no servidor em alta definição ou padrão para exibição no ar. Simultaneamente a ingestão é feita em baixa resolução para uso interno do pessoal da Opec, que verifica tudo sobre o comercial: assinaturas, tempo, etc. Além disso, o sistema disponibiliza para a Opec uma lista e um controle de exibição automatizada para o material em baixa resolução. Assim, os funcionários da Opec podem checar, no computador, o bloco de comerciais antes de ele ir ao ar.
Por fim, a emissora decidiu não levar o Broadcast Transport Stream (BTS) do estúdio para o transmissor digital e sim o elementary stream – o BTS é montado no transmissor. “Nós temos microondas digitais e temos redundâncias em fibra óptica. Isso nos dá muito mais robustez e flexibilidade, pois a recepção do satélite e geração de elementary stream é feita nos estúdio e também pode ser feita no site de transmissão”, diz Leonel. Ou seja, se houver uma parada genera-lizada no estúdio, ainda se poderia manter a programação da Globo no ar sem interrupções.

Turn key
Em Belo Horizonte, a TV Alterosa, dos Diários e Emissoras Associados, se prepara para, nos próximos 60 dias, colocar o sinal digital do SBT no ar. A empresa tem geradoras em Juiz de Fora, Varginha e Divinópolis e uma rede de repetidoras que cobrem 839 dos 853 municípios mineiros. A programação própria deverá entrar no mesmo dia.
“Investimos cerca de R$5 milhões só para a Grande Belo Horizonte”, diz Luis Eduardo Leão, gerente técnico da Alterosa. O investimento no interior, ainda não dimensionado, certamente superará o da capital. A Alterosa adquiriu nove câmeras camcor-ders –- as de estúdio ainda não foram compradas –, além de sistemas de edição.
A Alterosa se juntou a algumas afiliadas do SBT para negociar a compra dos transmissores de um só fabricante, a Toshiba, o que baixou o custo unitário. Todas devem estrear em HD na mesma data. “Com a compra, no sistema turn key, num único pacote definimos também as questões relativas à encorder, microondas e multiplex”, diz Luis Eduardo.
O sistema de transmissão da emissora, instalado na Serra do Curral, é novo, independente do sistema analógico e com 100% de redundância. Não era a opção mais econômica, mas levou-se em conta o planejamento futuro da empresa. Na sede da TV, só se vai trocar equipamentos e estúdio.
A empresa optou por uma antena da Transtel, autora de um estudo customizado que levou em conta a topografia de Belo Horizonte, de relevo acidentado. “A Serra do Curral é alta. Há um desnível muito grande em relação ao nível médio da cidade”, diz Geraldo Cardoso de Melo, consultor da Alterosa em transmissão. “O estudo eliminou o risco do sinal passar acima da área urbana”.
A digitalização da emissora é parte de um ambicioso projeto de mídia convergente. Luís Eduardo deixa escapar que as redações de todos os veículos – jornais, rádio, TV e portal – contarão com um software único. “A idéia é uma mesma equipe gerar conteúdo para todos”.
Um segundo ponto importante do projeto da Alterosa é relativo à expansão da rede digitalizada. A emissora está colocando suas fichas na possibilidade da freqüência única. Ou seja, a freqüência de Belo Horizonte seria a mesma em outras cidades – até onde for possível, na maioria dos municípios.
Até agora, os estudos da Alterosa apontam para a viabilidade dessa alternativa. “Se ela se mostrar realmente factível, haverá um ganho e uma comodidade muito grandes. Sem falar na economia de espectro”, diz Geraldo.

Comutação
A Alterosa não definiu como será a digitalização das emissoras da rede do interior. “Estamos ana-lisando. O investimento é muitogrande e temos de ter cautela”, diz Geraldo.
Tampouco como será a interligação delas com a capital. A empresa tem rotas de microondas para as três cidades – só Juiz de Fora conta com recepção via satélite. “Da fibra óptica não há como fugir. Teremos de adotá-la”, diz Geraldo.
De todo modo, hoje, no padrão standard, a Alterosa já tem todo o tráfico de sinais em SDI. Isso facilita bastante, porque quando a emissora estiver transmitindo em digital ela não terá, ao menos de início, toda a programação em HD.
A operação em padrão standard e HD exigirá algumas soluções de comutação. Segundo Luis Eduardo, a empresa deverá montar um master paralelo. “Eviden-temente, vamos privilegiar o padrão Standard Definition até que o HD ganhe massa crítica”.

Polarização elíptica
A Rede Gazeta, de Vitória, faz parte do maior grupo de comunicação do Espírito Santo. Ele conta com quatro emissoras de TV. Além de Vitória, há emissoras em Cachoeiro do Itapemirim, Linhares e Colatina.
“Decidimos começar o processo no início de 2008 pela TV Gazeta de Vitória. Nossa meta é ter o sinal digitalizado em 1 de janeiro de 2009”, diz Paulo R. M. Canno, diretor de tecnologia da Rede Gazeta.
Todos os equipamentos já foram adquiridos. Atualmente a empresa negocia com o fornecedor da antena, para a qual foi especificada a polarização elíptica, já visando atender melhor os receptores móveis e portáteis.
Embora, em 2008, o foco das transmissões digitais seja apenas a Grande Vitória, a Rede Gazeta inseriu no pacote de investimentos desse ano, de R$ 7 milhões, a infra-estrutura digital de distribuição e contribuição entre as quatro emissoras. “Esperamos que até o início de 2011 as quatro geradoras estejam transmitindo em HD”, diz Canno.
O grupo pretende finalizar o processo no começo de 2013, com o sinal digital em todos os postos retransmissores e com os gap-fillers (cobertura de área de sombra) mais importantes em operação. “Prevemos um investimento adicional de aproximadamente 10 milhões de reais até 2013,” explica Paulo.
Até o momento, a interatividade não é, da parte da TV Gazeta, objeto de extrema atenção – tampouco da Alterosa e Anhangüera. “Estamos apenas observando o desenvolvimento da tecnologia e as abordagens estratégicas relativas ao assunto”, diz Paulo.
A Rede Gazeta entende que os equipamentos não são os únicos players do processo de digitalização. “Temos uma preocupação acentuada em relação às pessoas. Por isso iniciamos, em agosto, um curso, in company, para nossos técnicos e engenheiros ministrado pelo Inatel. Ele trata dos vários aspectos da TV Digital e terá a duração de 6 meses”, finaliza Canno.