Loudness no Brasil

Nº 135 – Agosto 2013

Por Henrique Viana

ARTIGO

Como tudo começou? O que é Loudness? Porque o Loudness passou a conviver tão de perto com os broadcasters? Como se mede o Loudness? O que é “Loudness War”? Eu estou preparado para trabalhar com Loudness? Eu possuo os equipamentos necessários para essa nova realidade? Minha equipe tem todo o conhecimento necessário para trabalhar com Loudness? Como produzir minha programação respeitando as regras de Loudness? Como controlo o Loudness na programação ao vivo? O que vai mudar na cultura da operação de áudio na comercialização? O que temos que fazer para respeitar a lei brasileira de Loudness? O que diz a lei brasileira de Loudness? A partir de quando começa a vigorar a lei brasileira de Loudness? Como será a fiscalização? Quais são as punições para quem não cumprir a lei brasileira de Loudness? Como funciona o Loudness em outros países? Como são os padrões e recomendações de Loudness em outros países? Qual o padrão e limites que tenho que me adaptar?

Tabela 1: Diagrama em blocos simplificado do algorítimo de Loudness multicanal.

Se você não sabe a resposta para alguma dessas perguntas, espero que esse artigo contribua em seu conhecimento sobre esse importantíssimo desafio para os broadcasters brasileiros, o Loudness.
Em 9 de Maio de 2001 o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso sancionou a lei Nº 10.222, decretada pelo Congresso Nacional que padronizou o volume de áudio das transmissões de rádio e televisão. No artigo 1o compreende-se seu objetivo: “Os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens padronizarão seus sinais de áudio, de modo a que não haja, no momento da recepção, elevação injustificável de volume nos intervalos comerciais.”

No artigo 3 compreende-se a punição para quem não cumpri-la: “O descumprimento do disposto nesta lei sujeitará o infrator à pena de suspensão da atividade pelo prazo de trinta dias, triplicada em caso de reincidência.”

Tabela 2: O filtro K-weighting é composto por 2 estágios: o primeiro de pré-filtragem descreve o efeito acústico da cabeça humana.

Desde a publicação desta lei, muita discussão foi promovida por fóruns internacionais como NAB e AES, representantes do governo brasileiro, especialistas e broadcasters em todo o Brasil. As pessoas passaram a conhecer melhor o que realmente era Loudness, uma medida de intensidade subjetiva de áudio onde nem todos possuem percepção de sonoridade de forma equivalente, que existe correlação psicológica da intensidade física do sinal de áudio e, portanto uma variedade de técnicas tem sido utilizada para fornecer correlação entre o volume total do sinal. Diante desse contexto ainda convivemos com pessoas que discutem sobre a potencialidade dos sentidos dos homens e das mulheres onde a crença popular afirma que “os homens enxergam melhor à distância do que elas e têm maior habilidade motora-espacial. As mulheres apresentam melhor visão periférica, além de olfato e audição mais apurados.” Segundo a revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia em uma de suas pesquisas divulgou que não existe nenhuma diferença significativa na audição entre homens e mulheres.

Esses fatores poderiam influenciar na percepção de Loudness, uma vez que se trata de uma medida subjetiva.
Após a lei ser sancionada ficou pendente uma regulamentação que estabelecesse a metodologia de medição do Loudness. No dia 16 de maio de 2013 a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei 12.810/2013 que prevê mudanças na obrigatoriedade do Loudness. Considerando a dificuldade em controle de volume no padrão analógico, a lei tornou obrigatório o Loudness somente na tecnologia digital e também alterou as penalidades que serão remetidas para o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4117/62). A norma do Loudness determina que o áudio da programação e dos intervalos deve ser padronizado de forma que a diferença entre eles não ultrapasse 1 decibel.
Respeitando a portaria de nº 354/2012, a norma do Loudness passou a vigorar a partir de 12 de Julho de 2013.
A fiscalização será analisada por seis amostras de áudio de uma programação, cada uma contendo um bloco de programa e o intervalo comercial imediatamente posterior, dentro de um intervalo máximo de 48h. Será caracterizada como infração se pelo menos duas amostras tiverem intensidade média subjetiva do áudio superior ao limite estabelecido. As amostras de cada bloco de programa não poderão ter duração inferior a dez minutos e o intervalo comercial não poderá ter duração menor que dois minutos e trinta segundos. As vinhetas de início e fim de programas serão consideradas como parte integrante dos programas.
Descrita a parte da lei de Loudness, vamos passar para a parte técnica.

Tabela 3: E o segundo estágio um pré-filtro de passa-altas.

O desafio foi transformar uma percepção subjetiva em uma técnica com métricas objetivas. Existem alguns padrões e recomendações de Loudness que temos que conhecer. O padrão ITU-R BS 1770 (Algorithms to measure audio programme loudness and true-peak audio level – International Telecommunication Union) (BS – Broadcasting Service (sound)) que encontra-se na terceira atualização (08/2012), especifica os algoritmos de medição de áudio com o propósito de determinação subjetiva do programa de Loudness e o nível de sinal true-peak.
O diagrama em blocos (Tabela 1) mostra os estágios do algoritmo com previsão para até 5 entradas de canais de áudio (left, centre, right, left surround and right surround), o canal LFE (low frequency effects) foi excluído da medição. No Brasil foi adotado somente os canais L e R para monitoração em transmissões estéreo ou multicanais e o canal mono para transmissões em áudio mono.
O filtro (K-weighting) é composto por dois estágios: o primeiro (Tabela 2) de pré-filtragem descreve o efeito acústico da cabeça humana. Esses diferentes filtros são usados para ajustar os modelos à percepção da sonoridade do ouvido humano. E o segundo estágio (Tabela 3) um pré-filtro passa-alta.

Obviamente, essa explicação matemática se segue detalhadamente por mais algumas integrais, fórmulas, gráficos e detalhamento de cada variável. O conteúdo completo pode ser encontrado no site da ITU.

Tabela 4: Tipos de medição. © Fonte: Loudness Unit (LU)

Os Estados Unidos adotaram o padrão ITU-R BS.1770 com a recomendação ATSC A/85 e aqui no Brasil trabalharemos também com o padrão ITU-R BS.1770, mas com a recomendação EBU R128, assim como França, Alemanha, Suíça, Áustria, Noruega e Espanha. Essa informação é muito importante porque deve ser a primeira configuração a ser realizada no instrumento de medida de Loudness, como mostra a tabela 4.

Gráfico 3: Medições de Loudness.

Medições de Loudness
As medições de Loudness nas emissoras obrigatoriamente serão bem mais criteriosas. As métricas de padrões e recomendações deverão ser associadas as sessões durante a programação e comercialização. Os instrumentos de medição de Loudness são capazes de fornecer leituras de curta duração (average short) com amostras de até aproximadamente 10 segundos e leituras de longa duração (average long or infinite) que consistirá em intervenções no instrumento para indicar intervalo de início e fim da amostra. Para esse controle, a emissora deverá treinar um profissional com a função de gerenciamento de todo o processo e se preocupará com todo o workflow de produção, distribuição e exibição.

Somando-se a esse desafio, a administração do tempo será mais um obstáculo a ser superado, sem considerar a programação ao vivo e materiais disponibilizados muito próximos à hora de serem veiculados.
Para facilitar esse processo, alguns fabricantes, estão integrando em seus instrumentos de medição de Loudness opções para automação e geração de relatórios periódicos.
Automatic Loudness Control, esse é o nome do equipamento que provavelmente toda emissora acrescentará a seus ativos. Dentro desse cenário, esse equipamento será imprescindível no dia-a-dia das emissoras.
Espero que as informações tenham mostrado um horizonte mais amplo e direcionado alguns caminhos aos amigos broadcasters.

Referências:
ABERT – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
www.abert.org.br
Tektronix – Audio Loudness Monitoring how to guide www.tek.com
Revista da Sociedade brasileira de Fonoaudiologia www.scielo.br
ITU – International Telecommunication Union www.itu.int
European Broadcasting Union (EBU) www.ebu.ch/

 

Henrique Da Cunha Viana
Application Engineer da Tektronik