JavaDTV é liberado pela Sun Microsystems e beneficia interatividade na TV Digital

Por Patrícia Cressoni Gomes, da consultoria Fábrica Interativa (produção de conteúdo interativo para TV Digital)

A Comissão Ginga-J, criada dentro do Grupo de Middleware do Fórum do Sistema de TV Digital Terrestre (SBTVD) recebeu, em novembro, de um grupo de trabalho conjunto formado por integrantes da Sun-Microsystems e do próprio Fórum, as especificações do JavaDTV, um equivalente funcional do GEM (Globally Executable MHP). “As especificações poderão ser adotadas pelo mundo todo e nos orgulhamos de ter participado do processo de criação”, destaca David Britto, membro do Conselho Deliberativo do Fórum SBTVD.

A entrega marca a excelência técnica dos brasileiros no mercado de TV Digital. Isso porque, além do grupo de trabalho NCL/ Lua, empresas nacionais tiveram participação direta na elaboração do JavaDTV. Equipes da Rede Globo, SBT, TQTVD, MOPA, Hirix, FUCAPI, STB e EITV, todas afiliadas ao Fórum SBTVD, trabalharam de maneira colaborativa com equipes da Sun Microsystems dos Estados Unidos e da Alemanha. A equipe de coordenação foi criada internamente pelo Fórum SBTVD, Módulos de Mercado, Técnico e Propriedade Intelectual, em dezembro de 2007.

As equipes não partiram do zero: parte da especificação já existia e era utilizada em celulares, principalmente a de Interface Gráfica. Desde o início outras foram desenvolvidas seguindo os requisitos estabelecidos pelo Fórum. “As especificações escritas em parceria com a Sun Microsystems, baseada em um padrão aberto, representam uma alternativa concreta livre de royalties, o que dá liberdade e maior segurança quanto ao futuro da TV Digital”, diz Britto, também diretor de interatividade da SET. Esse aspecto econômico é muito importante. A especificação do Java- DTV foi norteada por requisitos estabelecidos com o objetivo de criar uma alternativa livre de royalties e funcionalmente equivalente ao GEM.

Ainda de acordo com Britto, a Sun Microsystems entregou o JavaDTV livre de royalties com o objetivo principal de dar suporte à expansão da plataforma Java. “Além das especificações anteriormente existentes, JavaTV e JMF, a Sun cedeu gratuitamente as especificações do Java- DTV, que substitui as APIs (Application Programming Interface) existentes do GEM”.

Benefícios
Entre os benefícios do código aberto, o consumidor brasileiro poderá acessar os mais variados serviços interativos da TV digital sem pagar mais por isso. Britto garante que todas as aplicações que podem ser desenvolvidas utilizando os padrões internacionalmente existentes, como MHP ou ARIB, poderão também ser desenvolvidas com o JavaDTV, de forma mais simples. Além do conteúdo e dos serviços interativos, os fabricantes de equipamentos como televisores e conversores poderão vender seus produtos a um custo mais acessível, uma vez que o preço do software será menor. No primeiro momento, o público brasileiro deve ter maior interesse em adquirir settop boxes, mas, com o tempo, os televisores com conversor embutido serão alvo do consumidor, fora os dispositivos que já começam a aparecer no mercado com recepção de TV digital em alta definição para PC.

Há ainda outros fatores que influenciam positivamente a adoção da nova plataforma, como a grande comunidade de especialistas em Java no Brasil. O Java é uma linguagem que tem um grande número de desenvolvedores no mercado brasileiro. Segundo a Sun Microsystems, trata-se da maior comunidade do mundo, com cerca de 33 mil pessoas. Por isso, Britto enxerga um quadro positivo e defende que “teremos rapidamente condições de disponibilizar aplicações de qualidade que serão transmitidas aos radiodifusores”.

De uma forma geral, todos serão bene- ficiados com a nova especificação: as aplicações desenvolvidas pelas emissoras poderão seguir dois paradigmas diferentes: imperativo ou declarativo. Os desenvolvedores Java terão mais uma plataforma para aplicar seus conhecimentos, diz Britto, enquanto a Sun Microsystems continuará com sua estratégia de tornar o Java uma linguagem presente em diferentes dispositivos.

Contudo, mesmo finalizada, a especificação ainda precisa de pequenos ajustes para se adequar às Normas da ABNT. Assim, algumas extensões brasileiras serão reescritas, passando a fazer referência ao JavaDTV no lugar do GEM – também está nos planos do Fórum SBTVD desenvolver uma suíte de testes para a especificação. Isso piora ainda mais as coisas para o GEM, pois, por não ter um agente licenciador de patentes das várias APIs que o compõe, ele agora fica em desvantagem e perde espaço para o JavaDTV no desenvolvimento de aplicativos para TV digital.

Revista da SET – ed. 104