IBC – O que vai estar em nossa sala de estar nos próximos anos…

*Por Guido Lemos
O debate no IBC 2009 foi marcado pelo amadurecimento das discussões acerca da convergência de tecnologias de televisão, informática e telecomunicações na sala de estar, convergência essa materializada nos receptores de televisão digitais interativos. Espaço antes exclusivo dos sistemas de televisão, a sala de estar começa agora a ser também ocupada, de forma complementar, por outros serviços como vídeo sob demanda e aplicações interativas. Este movimento tem dois vetores principais, por um lado introduz formas alternativas de distribuição de vídeo e por outro também cria alternativas para distribuição de aplicações e oferta de novos serviços.
Com relação à distribuição de vídeo, os debates mostraram que a Internet entra como um canal complementar agregando duas possibilidades: vídeo sob demanda progressivo e um aumento na oferta de canais ao vivo de baixa ou média qualidade. Internet como canal de distribuição de vídeo de alta qualidade ainda é uma possibilidade distante das massas.
As interfaces apresentadas pela NDS, OpenTV, Nagra, entre outras, são fortemente baseadas em máquinas de busca sofisticadas que auxiliam, na maioria dos casos fazendo uso de técnicas de inteligência artificial, o usuário a “encontrar” os vídeos que deseja assistir, seja nos canais ofertados ao vivo ou em bases de dados de vídeos sob demanda fechadas em sistemas de TV pago ou abertas na Internet como o YouTube. Foi também consenso nas demonstrações dos desenvolvedores de soluções para software e hardware de aparelhos receptores de televisão a apresentação de soluções e interfaces para sistemas de vídeo sob demanda progressivo. Nestes sistemas, os vídeos requisitados são trazidos progressivamente para os receptores. O receptor calcula o momento a partir do qual a exibição pode ser iniciada de forma que possa ser concluída sem interrupção, considerando a relação entre a taxa de transmissão demandada pelo vídeo e a taxa disponível no canal de transmissão de vídeo sob demanda no sistema de TV paga ou na Internet.

Conexão à Internet
A conexão dos aparelhos receptores à Internet trás outra possibilidade: a sintonia em canais complementares baseada na transmissão, inclusive de eventos ao vivo de baixa e média qualidade. Esta possibilidade suscitou um debate interessante sobre a necessidade de padronização do formato desses vídeos. A BBC, que dita tendências na Europa, aposta na disseminação do iPlayer, software que está disponibilizando em código aberto para viabilizar o embarque e instalação em receptores do maior número possível de fabricantes. O movimento aqui obviamente caminha na mesma direção do feito pela Apple com o par iPod e iTunes, que tornaram a empresa um importante canal de distribuição de músicas. A abordagem da Apple para distribuição de músicas se mostrou muito mais sintonizada com o mundo digital e está provocando um redirecionamento importante do dinheiro que circula neste negócio para a empresa supracitada. Com a proposta de implementação e distribuição do iPlayer para diferentes plataformas (PC, celular, receptores de TV…) a BBC coloca a disposição do mercado um decodificador que tornaria possível a exibição de seu conteúdo em qualquer lugar e a qualquer tempo…

A convergência também abre possibilidades e debates sobre o formato e a forma de distribuição das aplicações interativas. Para viabilizar a execução de aplicação distribuídas no modelo de televisão, de uma fonte para muitos receptores, é preciso padronizar o formato, ou seja, as linguagens usadas para implementar as aplicações, e também é preciso que os receptores conectados ao sistema sejam capazes de entender a linguagem usada para codificar as aplicações para, em conseqüência, poderem executá-las. Padrão é a palavra-chave nesta arena. Neste caso, padrão de middleware. Neste ponto, nós aqui no Brasil estamos bem servidos com nosso Ginga. Não vi nada em termos de funcionalidades que não esteja presente em nosso middleware. E mais, na Europa a discussão, ao contrário do Brasil, não converge muito claramente para um único padrão. O MHP não é consenso, a BBC está propondo no projeto “Canvas”, cujo objetivo é “bring broadband and television together in one box” um ambiente baseado em Browser para suporte a aplicações interativas declarativas e iPlayer para exibição de vídeos. A Samsung mostrou um ambiente também baseado em Browser que viabiliza a distribuição e execução de aplicações inicialmente desenvolvidas pela companhia e, em um segundo momento, desenvolvidas também por parceiros. Em conclusão, o cenário lá continua indefinido…

Por fim, cabe comentar um pouco sobre inovações em interatividade.
Aqui as duas principais tendências são 3D e integração da TV nas redes residenciais. Ambas as funcionalidades previstas em nosso Ginga!

Interfaces 3D
As discussões em torno de tecnologias 3D mostraram claramente que ainda há muito que fazer. Os resultados mostrados apresentam problemas de qualidade e “motion sickness”, que precisam ser resolvidos para que se possa entrar mais fundo na fase de definição de padrões. Porém, todos os principais fornecedores de soluções para receptores começaram a mostrar suas armas apresentando as primeiras versões de suas interfaces 3D.

A integração da TV com outros dispositivos da residência: celulares, aparelhos de som, computadores etc. também foi lugar comum nas demonstrações. A NDS demonstrou uma ferramenta que viabiliza a transmissão de conteúdo audiovisual da TV para o celular e vice- versa. A OpenTV mostrou uma implementação da sua interface rodando em um iPhone. A Siemens em parceria com a Tandberg mostrou uma solução completa de integração de dispositivos em rede residencial, permitindo controlar a TV do celular, o celular da TV, o aparelho de som da TV ou do celular, isso com controle da movimentação de fluxos de áudio e vídeo entre esses dispositivos. Os japoneses da NHK mostraram também aplicações integrando a TV com PCs e outros dispositivos, demonstrando aplicações que eram executadas de forma distribuída, a interface rodando no receptor de TV e o processamento pesado, no caso, tradução de língua (Japonês para Inglês) rodando em um PC conectado ao receptor de TV. Ou seja, tudo o que pensamos e incluímos nas APIs do nosso Ginga está virando realidade fora do Brasil…

*Guido lemos, Coordenador do lAVID (laboratório de Aplicações de Vídeo Digital) e professor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) – [email protected]
Revista da SET – NO XXI – N.110 – OUT/NOV – 2009