Entrevista – Valderez de Almeida Donzelli

ENTREVISTA

“O enquadramento da Revista da SET na Lei Rouanet é um antigo sonho, que conseguimos realizar”
Por Gilmara Gelinski

Formada em Engenharia Eletrônica e Produção, em 1981, pela Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Valderez de Almeida Donzelli fez parte de importantes projetos e ajudou a transformá-los em realidade. O primeiro deles foi na área de bioengenharia do Instituto do Coração, quando participou da primeira cirurgia feita pelo hospital, ainda em construção. A partir de 1979 começou a atuar na área de Radiodifusão e sempre esteve ligada aos grupos de estudos das entidades do setor. Entre eles, a coordenação dos testes de TV digital, o de planejamento da canalização de TV digital, e o de rádio digital. Também faz parte da Comissão de Comunicação Brasileira (CBC) coordenada pela Anatel, integrando a delegação brasileira nas reuniões do grupo de radiodifusão da União internacional de telecomunicações (UIT). Acreditando no desempenho da engenheira, em 1992, o presidente da SET, à época, Carlos Eduardo de Oliveira Capellão, convidou Valderez para o cargo de diretora editorial e, desde então, ela passou pelas diretorias de Divulgação – atual Marketing – e de Ensino. Em 2010 foi reeleita diretora editorial e comemorou mais uma conquista: o enquadramento da Revista da SET na Lei Rouanet publicado no Diário Oficial no dia 18 de janeiro de 2011.

Reeleita para mais um biênio na diretoria editorial da SET, quais são as perspectivas para sua nova gestão?
Alguns de nossos projetos são implementar a parte editorial no site da SET, criando facilidades para o leitor com ferramentas de pesquisa dos conteúdo das edições anteriores, implantar a revista eletrônica on line, com informações, artigos, reportagens semanais ou diárias, e o SET Day by Day dos eventos regionais, além de retomar o jornal eletrônico do congresso. Na edição de nosso congresso em 2010, tivemos uma experiência em parceria com diversas empresas e estreamos a cobertura por entrevista gravada em vídeo e disponibilizando o conteúdo no site – http:// www.set.com.br/eventos/congresso/videos. htm – durante o próprio evento.

Quais são os produtos editoriais da SET?
Hoje a SET tem três publicações impressas – as revistas da SET, SET Edição Especial e a de Radiodifusão -, o SET Day by Day e o jornal SET News dedicado ao associado. Em sua 119o edição, a revista da SET tem o objetivo de divulgar assuntos de tecnologia do setor de radiodifusão, através de artigos, reportagens e tutoriais. A edição especial da revista da SET, voltada para o público internacional, é editada em português, inglês e espanhol e tem como pauta principal o acompanhamento e desenvolvimento da implantação do sistema brasileiro de TV digital, tanto no Brasil, como nos demais países que adotaram o mesmo sistema. A revista de Radiodifusão traz os anais do congresso e foi criada para divulgar os trabalhos acadêmicos. O jornal eletrônico SET Day by Day é uma publicação diária sobre a NAB e o SET e Trinta.

Qual a importância destas publicações para o setor de radiodifusão?
Possibilitam a troca de informações entre os profissionais do setor. Os artigos são escritos por especialistas sendo a maioria associados da SET. Buscamos ter artigos que tratam de temas do dia a dia, como também mostrar as tendências e perspectivas do setor, a médio e longo prazo. Podemos destacar os tutoriais e alguns artigos técnicos como conteúdo de treinamento para o leitor.

Quais foram os trabalhos desenvolvidos na sua gestão no tocante a linha editorial da SET?
Nós criamos a revista de Radiodifusão e a edição especial da revista da SET, em inglês, português e espanhol. Também aprimoramos a metodologia de produção da revista da SET, com uma pauta mais abrangente e com a implantação de tutoriais técnico – operacionais. A grande conquista e a mais recente foi a aprovação da Lei Rouanet para a revista da SET.

Você falou sobre a conquista da SET com relação a Lei Rouanet. O que é a Lei Rouanet?
O enquadramento da Revista da SET na Lei Rouanet é um antigo sonho. Trata-se de uma Lei Federal de Incentivo à Cultura que institui políticas públicas para incentivar a produção de cultura nacional. É a política de incentivos fiscais que possibilita empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoa fisíca) aplicarem uma parte do imposto de renda (IR) devido em ações culturais. Os percentuais dos incentivos fiscais são de 6% do IRPF para pessoas físicas e 4% de IRPJ para pessoas jurídicas.

Como se deu este processo para que a Revista da SET recebesse o benefício?
Demos início no processo em 2009, o projeto foi aprovado no final de 2010 e publicado no Diário Oficial em janeiro de 2011. A SET já está autorizada a captar recursos, mediante doações ou patrocínios, desde o dia 19 de janeiro de 2011. Os trabalhos começaram com a formação do grupo de trabalho coordenado pela diretoria editorial, contanto com os especialistas Celso Hatori e João Paulo Mesquita Rolim para a formatação do projeto para solicitar o enquadramento da revista da SET na Lei Rouanet. Também tivemos a participação do nosso diretor executivo José Munhoz para formalização do processo no Ministério da Cultura (Minc). O primeiro passo foi criar o projeto especial que em resumo diz: “A Revista da SET adequando-a aos moldes da Lei já prevendo a utilização de meios de comunicação impresso e eletrônico. O Planejamento editorial está voltado para o desenvolvimento de uma plataforma de comunicação que integra técnicos, produtores, pesquisadores e estudantes dos vários setores da produção audiovisual no país, com foco nas áreas relacionadas às tecnologias utilizadas em rádio, TV, internet, telefonia móvel, cinema digital e ambientes multimídia”.

O que muda com a aprovação da Lei Rouanet?
O objetivo é aprimorar a revista. Com os recursos aprovados teremos a possibilidade de contratarmos articulistas especializados para o desenvolvimento de temáticas dedicadas ao setor, de aumentar o número de páginas e tiragem, e também aumentar a freqüência das edições passando de seis para oito o número por ano. Também estamos estudando a implantação da revista eletrônica, com informações atualizadas diariamente no site da SET.

Quais foram os princípios que guiaram a elaboração do projeto?
Para explicar melhor, vou citar dois trechos do projeto que sintetizam a importância da publicação para o setor e a importância da conquista da Lei Rouanet: “(…) A Revista da SET vem sendo produzida pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão há 20 anos. Focada inicialmente em Radiodifusão a revista vem ao longo dos anos expandindo o seu interesse editorial de forma a atender a crescente demanda por informação que os novos ambientes digitais de produção audiovisuais requerem. O profissional que transita neste novo mundo, de bits e bytes, necessita de uma sólida formação técnico científica e a atualização permanente de seus conhecimentos. Tem-se verificado ser cada vez menor o tempo de substituição de uma tecnologia por outra. Em geral a nova tecnologia é mais barata e eficiente e, portanto, passa a ser rapidamente adotada por toda a indústria (…). Frente a este cenário, a SET, como instituição atuante no universo das comunicações e da cultura audiovisual brasileira, vê com preocupação a necessidade de aprimoramento da mão-deobra que serve a este importante setor econômico. Como já foi destacado, é grande a abertura do mercado nacional e internacional a produtos audiovisuais de qualidade. A sede das empresas de comunicação por novos conteúdos é insaciável seja nos veículos tradicionais – rádio e TV – como nas novas mídias web, telefonia móvel, e-books, cinema digital e jogos eletrônicos (…)”.

Os benefícios se estendem aos demais produtos?
Este projeto é especifico para elaboração da Revista da SET.

Depois desta conquista no impresso, quais são os projetos para o site?
O site tem sido uma boa ferramenta de consulta para os associados da entidade? O site da SET traz informações de todos os produtos da entidade. Podemos pesquisar nele as notícias e conteúdo – histórico, fotos, palestras – de todos os eventos regionais, congresso da SET, NAB, SET e Trinta, IBC, verificando o palestrante e tema tratado, com possibilidade do associado ter acesso as palestras. Da parte editorial temos em HTML a Revista da SET desde a edição 80º, o acesso as versões eletrônicas da revista Radiodifusão e as edições especiais. Neste biênio, as diretorias estão trabalhando para uma reformulação do site para torná-lo mais dinâmico e interativo.

E a revista de Radiodifusão, quais são os planos para ela?
Estamos fazendo a produção na versão eletrônica no formato indicado pelo CAPES, o Sistema Eletrônico de Editoração de Revista (SEER). Este formato irá facilitar a pesquisa e também a indexação nos bancos de dados acadêmicos possibilitando assim a troca e disseminação de informação. Outro propósito é, em 2012, alterar a produção para duas edições por ano. Uma em cada semestre. A primeira com artigos acadêmicos endereçados à revista e a segunda ao Congresso SET.

Saindo do cenário editorial e analisando o setor de radiodifusão, pelo seu histórico, você sempre trabalhou pelo desenvolvimento do setor. Um marco foi o projeto do sistema da TV digital. Qual foi a sua contribuição para a implantação do Sistema Brasileiro de TV Digital?
Participei desde o início do processo de análise do padrão de TV digital no grupo formado pelas entidades: Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), emissoras de TV, Ministério das Comunicações (MC), Anatel e Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Coordenei o grupo de testes de TV digital, que analisou os três padrões existentes na época. Este estudo, através de um convênio com a NEC deu origem ao laboratório de TV digital da Universidade Mackenzie que disponibilizou uma equipe de professores, mestres e doutores especialistas em sistemas de TV, propagação e antenas. Com enfoque nos testes, o grupo apontou para o sistema, que depois foi adotado no país.

Quando você se refere ao início desta jornada, você quer dizer que os estudos sobre o sistema de TV digital começaram há quanto tempo?
Há pelo menos 16 anos. Diretores, especialistas e associados da SET formaram um grupo que vem trabalhando desde 1994 no planejamento da canalização de TV digital com o MC e Anatel. Este grupo, por parte da SET, é coordenado por Liliana Nakonechnyj, atual presidente da entidade. No início, bem antes da adoção do padrão, tivemos que estudar e definir muitos critérios técnicos de propagação, proteção e interferência, para garantir a compatibilidade entre os canais analógicos e digitais. Hoje, com a implantação da TV digital, vemos que o planejamento está sendo bem eficiente.

Gilmara é editora da Revista da SET. E-mail: [email protected]