Entrevista – Olímpio José Franco

ENTREVISTA

Entrevista

Em 2010 o grupo DVB divulgou um mapa sobre a implantação da TV digital terrestre no mundo, que mostra quais países aderiram aos novos sistemas de transmissão. O sistema europeu (DVB) é o mais difundido na Europa e também em alguns países da África, Ásia e Oceania. À época da pesquisa estava presente em 132 países. O sistema norte-americano está em oito países. O sis-tema nipo-brasileiro (ISDB-TB ) está presente na maioria dos países da América do Sul, em alguns países da América Central e da África. Conforme o mapa apresentado em 2010, ele está presente em 11 países. O sistema Chinês (DMB) estava presente em apenas três países: China, Macau e Hong Kong. De 2010 para cá, o que mudou neste cenário? Como está a implantação do sistema digital pelo mundo, bem como o switch off analógico. Nesta edição da Revista da SET convidamos o vice-presidente da entidade Olimpio José Franco para falar sobre o assunto. Ele que está à frente da escolha dos temas apresentados nos painéis do Congresso SET e do SET e Trinta, que acontece durante o Nab Show, em Las Vegas. Nascido em Botelhos, Minas Gerais, Olimpio com a referência de seu pai é um engenheiro nato. Formou-se em Engenharia Operacional, Elétrica/Eletrônica e depois em Engenharia de Produção na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), entre os anos de 1977 e 1983. Depois de passar pela TV Globo, TV Cultura, Abril Vídeo e TV Jovem Pan, atualmente ele divide seu tempo entre a área técnica da Rádio Jovem Pan, a dar aulas na FAAP, a sua empresa Olympic Engenharia Sistemas de Áudio e Vídeo e a SET, onde é sócio como gosta de lembrar de número 13. Olimpio dedica seu tempo ao setor desde 1969 e em 1988 ingressou na entidade como sócio, mas antes disso, havia tentado criar uma sessão do SMPTE no Brasil. Nesta entrevista Olimpio fala sobre a implantação da TV digital no mundo e dá sua opinião sobre os caminhos que este novo sistema está seguindo.

Por onde começaram as mudanças do sistema de transmissão de TV?
Começaram pela modulação digital, que permite maior capacidade, maior qualidade e maiores possibilidades de realizar outros serviços além de transmitir somente áudio e vídeo, também permite mudar parâmetros de transmissão, adequando-se as necessidades de cada emissora. Sem falar na transmissão de dados, que propicia a interatividade. Também devido à compressão MPEG-4 adotada conseguiu-se capacidade assegurada de transportar mais de um programa simultaneamente ainda com qualidade ou a transmissão de um programa com altíssima qualidade

Qual a necessidade de se fazer esta mudança?
As necessidades são a atualização tecnoló gica e o fato de poder competir com outras mídias em condições similares. É também garantir a sobrevivência e continuidade do negócio broadcasting.

Como está o cenário da TV digital no mundo?
Em evolução. Sistemas estão sendo atualizados em quase todo o mundo. É natural! Na Europa há movimento para mudar do DVB para DVB-T2, que possui maior capacidade, maior robustez e maiores possibilidades de parâmetros. Nos Estados Unidos da América, depois da introdução do canal para mobilidade, não aconteceram mais novidades. É possível que busquem outro padrão mais robusto e mais avançado. No Japão trabalha-se na direção do UHDTV que é um sistema muito mais avançado, que possui 4000 linhas e que requer ainda alta capacidade de banda. Atualmente o sinal do padrão ISDB-T no Japão é mais limitado, devido ao MPEG-2, em qualidade e capacidade, do que o ISDB-TB com o MPEG-4 e interatividade Ginga.

Qual a avaliação que o senhor faz entre os sistemas europeu, norte americano, japonês e nipo-brasileiro?
Posso assegurar que na época escolhemos o que havia de mais moderno, avançado e fle xível, baseado em testes de laboratório e em campo.

Quais são as grandes dificuldades ou os entraves da implantação do sistema de TV digital no mundo?
Depende de cada país e do planejamento de canalizações para TV digital. Sem espaço no espectro não existirão novos canais e nem TV digital. Além de depender muito da capacidade de planejamento e investimentos das redes de TV. A Europa vive um momento complicado, pois alguns países querem migrar para DVB-T2 , mas não existem espaços para novos canais. Exigirão remanejamentos de canais atuais para abrir novos canais.

A disputa pelo espectro também acontece em outros países?
Claro que sim. É uma disputa universal. As diretrizes sobre a utilização do espectro estão sendo debatidas e traçadas entre os radiodi fusores, organismos reguladores nacionais e internacionais e operadores de serviços de telecomunicações em todo mundo.

A ação das teles é igualmente em todos os países?
A ação é proporcional ao mercado potencial que os serviços de telecomunicações esperam para os seus serviços. Se há mercado a pressão cresce

Depois do japão outros países já realizaram o switch off analógico também? Quais são eles?
A Europa está bem avançada neste quesito. A previsão é que em 2012 quase todos os Esta dos membros cumpram os prazos do switch- -off analógico. As regiões mais adiantadas na transição já estão se programando para fazer um upgrade das suas redes para HD, 3-D. Em 2011, 14 países já haviam concluído o switch off. De acordo com analistas da HIS Screen Digest a previsão era que até o final de 2011 todos os países da Europa Ocidental tivessem território coberto com TV digital terrestre aci ma dos 90%. Os Estados Unidos concluíram a transição em 2009, o Japão em 2011 e os países da América Latina a previsão é 2022, sendo o Brasil a encabeçar a transição em 2016.

O processo do switch off é igual em todos os países?
Não. O switch off depende de cada país e a realidade da importância das redes de TV. Depende do número de televisores digitais em relação ao total existentes em analógicos e também do percentual de residências possuidoras destes receptores com capacidade de receber sinais digitais.

Como o senhor avalia o Brasil, em âmbito internacional, comparado a estes países mais avançados com relação à mudança do sistema de transmissão analógica para a digital?
No nosso caso o prazo estabelecido para 2016 é excessivamente otimista. A dificuldade para as emissoras reside no fato de não haver dinheiro novo para as redes de TV. Exige-se altos investimentos para equipamentos e sistemas de produção, exibição e de transmissão. Para cobrir as cidades do interior requer muito investimento em retransmissoras. As redes atuais foram construídas ao longo de 40 anos. Portanto não será fácil fazer esta transição. Requer planejamento, muito trabalho e altíssimos recursos financeiros. Financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) são difíceis e altamente burocráticos. Muitas das retransmissoras são de propriedades de prefeituras. Se não houver financiamentos, reduções de impostos e criação de mecanismos inteligentes para estas motivações, será muito difícil que o desligamento analógico ocorra no prazo mencionado. Sem falar da capacidade de cobertura nacional pela maioria das redes de TVs. A televisão aberta no Brasil possui uma importância de integração nacional que não deve ser esquecida.

Quais são as perspectivas mundiais para a transmissão digital de TV?
Não são diferentes de país para país. Quem não entrar nessa era estará fora do mercado, pois a concorrência de outras mídias está presente pegando mercado da TV tradicional. Novos sistemas com maiores resoluções de imagem e melhores resultados de robustez poderão requerer novos sistemas de transmissão ainda mais modernos e capazes.

A interatividade parece ser uma questão delicada em todo o mundo, tanto que um grupo europeu procurou o Brasil para conhecer melhor o sistema de interati vidade brasileiro. Como o senhor avalia esta iniciativa?
As dificuldades não são diferentes lá no exterior. Há também muita resistência dos fabricantes de TVs Conectadas que possuem acordos comerciais com provedores de conteúdos, portais de internet e outros provedo res de multimídia.

Qual é a grande dificuldade da implantação da interatividade? Faltam produtos ou a demanda é pequena?
Requer uniformidade de produtos de con sumo capazes de rodar conteúdos intera tivos. Assim assegura que as redes podem produzir conteúdos interativos e serem exibidos. Mas as redes necessitam ter produções interativas regulares para que o público se acostume e encontre valor nos conteúdos. O governo pretende, em breve, editar um PPB que tornará obrigatório o Ginga completo em todos os dispositivos. Assim, fabricantes de produtos terão que produzir mais aparelhos com recursos de interatividade em forma progressiva ao lon go dos próximos anos.

Quais são as expectativas, em âmbito internacional, para a implantação do sistema de TV digital?
As expectativas são de continuidade, esforços de padronizações em âmbito mundial com grandes possibilidades de fortalecimento da TV aberta conforme preceitos e ações que estão em curso pela FOBTV com apoio da maioria das grandes redes de TV.

Como o Brasil influenciou na mudança do sistema de transmissão de TV?
Escolhemos o que havia de mais moderno e capaz de realizar simultaneamente recep ção fixa e móvel. O Brasil foi um precursor na América Latina. Adaptou um sistema e o tornou melhor.