Entrevista – Olímpio Franco

Mineiro de Botelhos, Olímpio José Franco é um dos mais respeitados e influentes engenheiros de televisão. Credenciais não lhe faltam: seu envolvimento com TV começou na Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa, de Santa Rita do Sapucaí-MG, a primeira dessa área na América Latina. Depois ele cursaria engenharia elétrica operacional, seguida pela de produção, com ênfase em eletrônica, na FEI. Além disso, tem um MBA pela FAAP; é membro da SMPTE (Society of Motion Pictures Engineering) desde 1980, do módulo técnico do Fórum SBTVD, e professoradjunto de Rádio e TV, Cinema, Publicidade e Propaganda da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado).
“Inicei minha carreira como estagiário na Rede Globo, em São Paulo, logo após concluir o curso técnico, em 1969”, conta Olímpio. À época, as instalações da Globo eram precárias e ela pagava com atraso de até 45 dias. Foi uma fase de vacas magras: Olímpio dividia um quarto de pensão com um amigo da época da escola técnica. “Só almoçávamos na pensão. Na maioria das vezes não jantávamos, comíamos alguma fruta, uma vitamina ou um pastel”.
A fase ruim acabou quando a TV Cultura, da Fundação Padre Anchieta, o contratou ainda em 1969. Na primeira transmissão no controle mestre da emissora, por falta de um operador de áudio naquele momento, ele desempenhou esse papel.
Na Cultura, de onde guarda grandes recordações, Olímpio trabalhou com ótimos profissionais e aprendeu muito. Isso, mais a dedicação, fez com que ele saísse de lá – 20 anos mais tarde e depois de passar por sete presidentes e igual número de governadores -, como diretor técnico.
Seu destino era a TV Jovem Pan. “Fui o primeiro funcionário e fiquei cinco anos”. Posteriormente, em 1993, a Globo contratou- o como consultor. Continua até hoje por lá, tendo participado de muitos projetos e instalações. No momento ele ajuda a desenvolver novos sistemas em HDTV na Globo-SP e na FAAP, para estúdios, gravações e exibições de programações. Ele também responde tecnicamente pelas emissoras de rádio da Jovem Pan. Na SET desde o início, Olímpio foi membro de todas as diretorias e presidente da entidade entre 1999 e 2002, quando a reorganizou criando novas diretorias e a levou a uma participação ativa nos testes de TV Digital. “Os testes viraram referência mundial”, destaca. Atualmente ele é o vice-presidente da SET e tem viajado ao exterior a fim de defender o nosso padrão de TV Digital. Foi para falar do seu papel na entidade e das viagens que ele concedeu a seguinte entrevista:

O senhor esteve em Miami e Buenos Aires para defender o SBTVD-T. Em cada uma das cidades, quem fazia parte da platéia?
Havia representantes tanto de governos como de empresas privadas, de emissoras de televisão e fabricantes de equipamentos. Em Miami eram cerca de 70 pessoas. Participei de três painéis. Em Bueno Aires, eram 80 pessoas no Congresso da Caper – a SET portenha – e outras 50 na Universidade Palermo, que ouviram as minhas intervenções num total de três painéis e uma demonstração do sistema. Houve direito a perguntas, réplicas e tréplicas em muitas questões. E foi melhor na Argentina do que em Miami.

Quem o convidou a falar nessas cidades?
O Luis Valle, da Universidade Palermo, de Buenos Aires, que já me conhecia. Ele foi contratado pela Frecuencia on Line para ser o coordenador do evento em Miami.

Sobre que aspecto o senhor foi mais questionado?
De tudo um pouco sobre a TV Digital. Há muita curiosidade em saber por que escolhemos o padrão ISDB-T, as modificações introduzidas, resultados e perspectivas. As maiores dúvidas que eles têm são os preços, talvez porque ainda são altos.

Como ficou o clima em Miami depois de Álvaro Gutiérrez, do DVB, atacar o SBTVD dizendo ser muito caro e que vai marginalizar grande parte da população brasileira?
Não chegou a ficar pesado. O Rafael Perez, da Toshiba mexicana, também falou pelo ISDB-T e o contestou imediatamente. Na verdade, o DVB muitas vezes mente muito e costuma pegar pesado. Mas Gutiérrez animou o painel e sua intervenção serviu ainda para acordar os mais desatentos. O lamentável é o DVB não falar que irão para o segundo switch off (desligamento) na Europa, pois o padrão atual, além de limitado, não permite HDTV e móvel simultâneos. Também não possui robustez razoável.

Como foi sua reação à Gutiérrez? Tranqüila ou áspera?
Reagi com educação, firme e sem deixar de falar as verdades devidas.

Depois da sua exposição, para que lado a assistência pendeu? O do SBTVD ou o do DVB?
É difícil dizer, pois há tantos interesses em jogo… e muitos dos países ali representados possuem pouca informação e conhecimento a fundo do assunto. Tanto que só pensam em preços baixos como solução para adoção de um padrão.

Pela reação do público, o senhor diria que aplainou todas ou a maioria das dúvidas?
Pela quantidade de perguntas, posso dizer que gostaram. Eles mostraram sinais de admiração pela capacidade, robustez, qualidade do sistema e pelo Ginga.

Em quais países o nosso padrão de TV digital tem mais chances de emplacar? Peru? Chile? Outros?
No Peru irei a uma conferência, em dezembro, em companhia de outros brasileiros do Fórum SBTVD e Governo. Nosso sistema foi recentemente testado por lá com ótimos resultados. No Chile também há boas chances. No Uruguai já adotaram o DVB, bem como na Colômbia.

Que balanço faz da sua participação em Miami e Buenos Aires? Com as informações que passou, aumentaram as chances do SBTVD- T ser adotado?
Não depende só de mim. Mas posso dizer que muita coisa evoluiu na Argentina depois de três outras viagens.

Quais são as chances para os nossos engenheiros e consultores – caso realmente o SBTVD-T emplaque nesses países -, em termos de oportunidades de trabalho, projetos e treinamento de mão de obra?
Haverá boas oportunidades para todos. Mas não acredito numa grande quantidade, pois estes países são carentes de recursos de toda a ordem.

E para a nossa indústria?
Ela poderá ser a maior beneficiada. Principalmente quem fabrica equipamentos para transmissão, recepção e de aplicativos do Ginga. Mas não dá para dizer qual o potencial de negócios relativos à exportação de equipamentos, contratos de assistência técnica e softwares, já que eles estão em fase muito embrionária: nem planos de canalizações digitais possuem ainda.

Vamos falar agora sobre os seus planos para a SET. Qual será exatamente o papel que o senhor vai desempenhar à frente da vicepresidência?
Sempre me dediquei à SET independentemente das posições hierárquicas. Pretendo ajudar a Liliana no que for preciso, pois ela sempre me ajudou e agora é hora de retribuir. Temos muita afinidade de idéias e de propósitos.

A que áreas pretende se dedicar mais?
Penso que devemos dotar as sedes do Rio de Janeiro e de São Paulo de condições modernas para áudio e vídeo conferências, a fim de facilitar a interação diária entre elas e também para os eventos de curta duração. Penso também que as diretorias regionais devem participar interativamente destes eventos. Nosso site pode ser melhorado com acesso condicional para os sócios, em assuntos específicos, de modo que ele seja valorizado e diferenciado por ser sócio da SET.

Quanto ao Congresso da SET 2009, há alguma modificação importante em mente, que não seja o de encerrá- lo na manhã do dia de encerramento da Feira?
Sim. Pretendemos que ele comece um dia antes e termine um dia antes da Feira terminar. Vamos melhorar as comunicações visuais em espanhol e em inglês. Digo de folhetos, sinalizações, traduções simultâneas e anúncios no site e no mailing da SET.

Na área tecnológica, em sua opinião, o que de mais importante vai surgir no mundo nesses próximos cinco ou 10 anos na televisão?
A TV vem mudando de audiência linear para não-linear, com muita portabilidade e mobilidade e múltiplos meios de distribuições. A TV em 3D vem chegando mais rápido do que se imaginava. Sem falar em UHDTV, o ultra high definition TV, que exigirá novamente tudo novo. Portanto, o HDTV ficará para trás, tal e qual o SDTV ficou.

Em Buenos Aires e Miami o senhor disse que o nosso SBTVD é o sistema mais à prova de futuro. Podemos afirmar que o SBTVD evoluirá facilmente para atender aos requisitos desses sistemas?
Pelo menos por cerca de 30 anos. Porém, a velocidade da mudança poderá exigir um novo padrão mais rápido do que pensamos. Devemos reservar os futuros canais, que serão desocupados pelos canais analógicos, para o UHDTV.

Revista da SET – ed. 104