ENTREVISTA – LILIANA NAKONECHNYJ

ENTREVISTA – LILIANA NAKONECHNYJ

Reeleita presidente da SET para o biênio 2010/2012, Liliana Nakonechnyj tem a engenharia no sangue. Seguindo os passos do pai, o engenheiro elétrico Fernando Rodriguez, que era louco por matemática e trabalhou na implantação do primeiro computador eletrônico na “alma mater” – Pontifícia Universidade Católica – em 1960, Liliana formou-se em Engenharia Elétrica com ênfase em Telecomunicações, em 1980, na mesma instituição. Sua trajetória profissional começou na Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP), onde trabalhou como estagiária por um ano e meio na área de energias alternativas. Em 1979 foi estagiar na Rede Globo sob a supervisão do engenheiro Herbert Fiúza, que na época era diretor de Engenharia. Hoje eles trabalham juntos na diretoria da SET. Ela como Presidente e ele como Diretor Internacional.

Liliana acredita que tem muitos desafios pela frente, que a SET precisa ter uma estrutura operacional melhor e que a entidade só funciona graças a um pequeno grupo de pessoas super dedicadas. Nesta entrevista a Gilmara Gelinski, Liliana faz um balanço da sua primeira gestão, fala dos planos para o novo mandato, conta como foi sua trajetória profissional e relembra a sua história com a SET.

Como foi a sua trajetória profissional?
Iniciei minha carreira de engenheira fazendo parte da equipe que fazia a interiorização da TV analógica, buscando pontos para estabelecer as repetidoras e retransmissoras no interior do país. Naquela ocasião, cada emissora de TV só chegava às suas retransmissoras por rotas terrestres. A ligação entre as geradoras de TV era feita de forma ocasional, utilizando-se as rotas, também terrestres, da Embratel. Somente o Jornal Nacional era transmitido ao vivo, os demais programas eram através do tráfego de fitas. Participei da implantação da primeira distribuição de sinais Globo via satélite, em 1982, quando participavam da Rede apenas 25 geradoras. Em 1985, passei a ser responsável pela área de projetos e instalações de rádio frequência. De lá para cá, sempre continuei com essa área de RF, absorvendo ao longo do tempo outras responsabilidades, como o apoio de engenharia às emissoras que compõem a Rede. Ao longo desses trinta anos, cada dia trouxe novos desafios. Recentemente, o estudo, depois a introdução e agora a expansão das transmissões digitais no Brasil.

Desde quando é associada da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão?
Participei do grupo de trabalho que ajudou o engenheiro Adilson Pontes Malta a planejar a SET e, naturalmente, sou sócia fundadora.

O que a motivou a ser uma colaboradora do setor através da entidade?
A idéia de uma associação que ajude os profissionais de Engenharia de Televisão a manter-se atualizados e a atuar num círculo virtuoso para dotar a TV das mais modernas ferramentas e tecnologias para continuar oferecendo o que há de melhor à nossa população é a mola propulsora.

O que a incentivou a assumir a presidência da SET?
Participando ativamente da entidade desde sua fundação, sempre colaborei nas atividades e, entre outras funções, fui diretora de tecnologia por mais de um mandato. Fui também vice-presidente durante o período em que o Roberto Franco foi presidente. Acabou sendo natural candidatar-me a substituí-lo. Entretanto, ciente da responsabilidade que o cargo traz, minha decisão teve como pré-requisito que o Olímpio Franco fosse meu vice-presidente, por ter certeza de que poderia contar com seu apoio no dia-a-dia.

Qual o balanço que você faz do seu primeiro mandato?
O Roberto Franco levou a SET a um patamar de respeito nacional e internacional sem precedentes, em especial por liderar com maestria o processo de contribuição da SET à escolha do sistema de televisão digital brasileiro. Meu primeiro mandato foi dedicado a melhorar o desempenho da SET no tocante ao seu papel de disseminadora de conhecimentos, nacional e internacional, em especial na área de TV digital. Também foi dedicado a retomar estudos técnicos e a ampliar sua abrangência no tocante a setores convergentes nos negócios de entretenimento eletrônico audiovisual. Para tanto, foram mudados os formatos dos eventos regionais, incluindo minicursos e participação de palestrantes convidados, foram publicadas duas edições especiais da Revista SET, uma em Espanhol e uma em Inglês, foi modernizada a comunicação visual da SET e preparados materiais para comunicá-la melhor a novos entrantes. Foi criada a premiação SET inaugurada no congresso SET 2010, que contou também com um novo espaço para workshops e uma sessão de inovações voltada a iniciativas em interatividade. E foram criados novos grupos de estudos – o de Loudness e o de Melhores Práticas de TV digital.

Como foi estar à frente da instituição num período em que a economia mundial estava em crise e ao mesmo tempo chegava a TV digital no Brasil?
Devo confessar que, de início, tive bastante receio e fiquei imaginando como fazer a SET atravessar a turbulência. Mas, logo em seguida, ficou patente que, num mundo em recessão, os olhos de muitos desenvolvedores e fornecedores de tecnologia se voltavam para o Brasil, em fase de implantação da TV digital e com um mercado interno em franca expansão.

Reeleita presidente, quais são os maiores desafios para os próximos dois anos?
A SET ainda funciona graças a um pequeno grupo de pessoas super dedicadas, e precisa ter uma estrutura operacional melhor. O maior desafio é profissionalizar a SET, para que ela possa crescer sua oferta de serviços para seus associados, cuja demanda está em franca expansão. Outro grande desafio é trazer para o fórum SET o intercâmbio entre setores convergentes – firmas de software, fabricantes de televisores e operadoras de telecomunicações. Por exemplo, as empresas de software, por seu papel no desenvolvimento da interatividade, e pela crescente utilização de servidores e tecnologias IP na televisão. Um terceiro é a internacionalização da SET com a criação de um ambiente que receba bem a contribuição de associados estrangeiros e de interação com entidades similares de outros países.

E quais são as ações para vencer estes desafios?
Precisaremos nos concentrar em ações de marketing e comunicação para divulgar o real valor agregado que a SET oferece aos seus patrocinadores em potencial, fazer do site um ponto maior de encontro e reestruturar operações.

Com a criação da Diretoria Internacional, quais serão as políticas a serem implantadas para a internacionalização da SET?
O primeiro desafio é criar um ambiente de fácil acesso a estrangeiros interessados em se associar à SET. Também precisamos criar mecanismos para estabelecer parcerias com entidades estrangeiras para colaboração técnica e de disseminação de conhecimento.

Como você avalia o mercado brasileiro atualmente? É um mercador promissor?
É um dos mercados mais ativos do mundo, para o qual muitas empresas estrangeiras estão atentas. Além da expansão da TV digital, que ocorrerá nos próximos anos, todo o setor de entretenimento audiovisual tende a aumentar, dado o crescimento da economia e do poder aquisitivo da população.

Como o mercado e o governo estão se organizando para absorver todas as tecnologias existentes e as que estão chegando? Exemplo: recentemente chegou a TV de Led, agora já tem a TV 3D. Como organizar isto para que o consumidor final saiba comprar e usar estas tecnologias?
A área de eletrônica de consumo é extremamente competitiva. Os fabricantes buscam novas tecnologias, que começam caras, mas que, graças à escala mundial, baixam rapidamente de preço e ficam acessíveis a todos. Os ciclos de vida dos produtos são cada vez mais curtos. O consumidor leigo fica cada vez mais confuso…

Em sua opinião esse “boom” acontece porque o Brasil está ou estava atrasado tecnologicamente? Ou o processo da evolução tecnológica é assim em qualquer lugar do mundo?
É o processo da evolução tecnológica, crescentemente globalizado.

Como o Brasil é visto em outros países?
Como um enorme mercado a ser explorado pelos desenvolvedores de tecnologia. Com a adoção do ISDB-T pela maioria dos países sulamericanos, o Brasil passou também a ser visto como uma base para a divulgação e comercialização de produtos de TV para outros países da América Latina. Quais são as novidades que vêm por aí? Os televisores híbridos, com recepção TV digital e também conectados à banda larga já estão chegando ao mercado. Um número crescente de dispositivos móveis, feito tablets, que se interconectam a qualquer rede, entre outras as de telecom, TV a cabo e TV aberta.

Gilmara é editora da Revista da SET. e-mail: gelinska@gmail .com