Entrevista – Hélio Costa

ENTREVISTA
Da Redação
Brasil ganha espaço no mundo digital

Considerado pelo presidente da SET, Roberto Franco, como o padrinho do Pavilhão Brasileiro NA NAB 2008, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, mostra-se disposto a ajudar no desenvolvimento de pequenas e médias indústrias brasileiras, fala sobre as possibilidades de implantação de uma fábrica de semicondutores no Brasil, interatividade, TV digital móvel, rádio digital e parabeniza a SET por sua contribuição no desenvolvimento da radiodifusão.

Como o senhor avalia a participação de nossas empresas num pavilhão genuinamente brasileiro, na NAB 2008?
Eu acho que, pela primeira vez, o Brasil apareceu na NAB, mostrando o quanto nós estamos trabalhando, junto com as empresas de radiodifusão e a indústria de eletroeletrônicos do Brasil. Nós apresentamos lá alguns produtos, competindo com produtos americanos. Por exemplo, nós tínhamos transmissores de televisão digital, de 10 kW, tínhamos compressores de áudio e vídeo e todos os equipamentos necessários para a digitalização do sistema de televisão. As pessoas parecem que não estão ainda muito informadas sobre o que está acontecendo no país nas pequenas, médias e grandes indústrias eletrônicas. Nós produzimos tudo para a TV digital aqui. Text Box: “(...) pela primeira vez o Brasil apareceu na NAB, mostrando o quanto nós estamos trabalhando, junto com as empresas de radiodifusão e a indústria de eletroeletrônicos do Brasil.”Mas como é que surge esse pavilhão? No ano anterior, nós vimos a dificuldade do expositor brasileiro, porque ele ficava meio sumido, meio perdido, dentro daquele enorme ambiente da NAB. Então eu e o Roberto Franco sugerimos que fosse criada uma estrutura capaz de juntar todos os empresários brasileiros em um pavilhão. E eu acho que foi, realmente, uma extraordinária idéia. Eu, particularmente, fiquei muito feliz e muito honrado de ver o Brasil tão presente nesta feira que tem repercussão mundial.

De acordo com o que pôde ser visto na feira, sobre equipamentos, o senhor diria então que o Brasil não deixa a desejar?
O Brasil, evidentemente, tem algumas limitações, quer dizer, nós ainda não produzimos o chip, não temos uma indústria de semicondutores, então vamos sempre ter que importar o semicondutor, mas estamos trabalhando nesse sentido. Estamos desenvolvendo uma relação com os japoneses, capaz de, eventualmente, nos dar condições até de colocar aqui o primeiro estágio de uma fábrica de semicondutores. Nós temos um projeto muito bem desenvolvido no Rio Grande do Sul, no CETEC e o governo federal tem colocado recursos para incentivar esse trabalho. O Fórum da TV Digital está permanentemente acompanhando esse procedimento com os japoneses. O Roberto Franco está indo para o Japão agora, participar de entendimentos da TV digital e, certamente, esse será um dos temas, então estamos muito bem. Nós produzimos transmissores, produzimos receptores e devemos continuar trabalhando para que no futuro possamos fazer televisores de Plasma e LCD aqui no Brasil. Então, como outros países, exceto Japão e Estados Unidos, nós estamos trabalhando muito intensamente, para ganharmos espaço dentro do mundo digital, mas, certamente, há algumas particularidades em que nós ainda não somos auto-suficientes.

O Pavilhão Brasileiro recebeu mais de 2 mil visitantes interessados nos produtos brasileiros. Nesse sentido, existe a possibilidade de incentivos do BNDES para que as empresas presentes possam atender ao possível aumento da demanda?
Todas as empresas que estavam lá, ou as que não estavam e que gostariam de ter estado, se tiverem alguma colocação a fazer com o BNDES, muito embora a área seja do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, eu me coloco como o interlocutor. O Ministério das Comunicações está de portas abertas. Todos sabem o nosso endereço e eu estou pronto para ajudar as pequenas indústrias a chegarem ao BNDES, ao Ministério da Indústria e Comércio, ao governo federal.
A telefonia celular está entre os serviços que mais crescem no Brasil e é considerado um ótimo mercado para a TV digital móvel. Existe a possibilidade de a indústria nacional receber incentivos fiscais, a fim de baratear os custos de produção desses equipamentos e popularizar a TV digital móvel em celulares no Brasil?
Um produtor de celulares, que na verdade faz mais uma montagem dos celulares na Zona Franca de Manaus, do que necessariamente a fabricação do celular aqui, tem um benefício fiscal da ordem de 250 milhões de reais, para produzir o melhor celular. O que estamos exigindo? Nós estamos exigindo que, nessa melhora do celular, ele inclua o chip da recepção da TV aberta. Outras empresas, mesmo sem esta vantagem tributária, já estão produzindo aparelhos de primeiríssima qualidade, como é o caso da Samsung e da Semp Toshiba e me parece que outras empresas estão se preparando para disputar esse mercado maravilhoso, que tem cerca de 130 milhões de potenciais consumidores para celulares que possam receber TV digital.

Como serão explorados os recursos da interatividade?
Primeiro eu quero estabelecer que a interatividade é uma ferramenta da TV digital, que o governo incluiu nas especificações aprovadas para o sistema brasileiro de TV digital. A partir do momento em que nós incluímos a ferramenta – ela foi desenvolvida usando técnicos da Universidade da Paraíba e da Universidade do Rio de Janeiro – nós procuramos encontrar uma fórmula para atender alguns problemas que são colocados pela sociedade brasileira. Não adianta trazer o programa de interatividade que se usa no Japão, porque eles usam para fazer pesquisas especializadas e nós queremos usar o programa de interatividade na saúde pública, na segurança pública, nós temos outros objetivos com a interatividade. Por isso que nós tivemos que desenvolver um projeto de interatividade brasileira. E esse projeto, lamentavelmente, incluía uma ferramenta do sistema europeu e quando nós estávamos para incorporá-lo, ou seja, o Ginga ser incorporado no conversor brasileiro, nós fomos informados que para usar aquela ferramenta, que era uma ferramenta terciária, ou seja, não era uma ferramenta fundamental, cada emissora no Brasil teria que pagar, por ano, 100 mil dólares para o detentor da patente. Então nós tivemos que paralisar todo o sistema. Uma equipe do Ministério das Comunicações e do Fórum de TV Digital foi até os EUA, para negociar com a Sun Microsystems. Usamos agora o sistema Java, para fazer rigorosamente a mesma coisa que essa ferramenta européia fazia, de graça. Isso atrasou um pouco a preparação do Ginga, para ele ser incorporado em nossos conversores.
Nós estamos para fazer um teste de interatividade, que deve ocorrer muito em breve, dentro de no máximo dois meses, porque a cidade de Hortolândia está toda com o sistema de Internet de alta velocidade, o Wimax. Nós estamos desenvolvendo um projeto para testarmos a TV digital em alta velocidade, com o sistema Wimax, vindo para a interatividade.

Como estão os trabalhos do Conselho Consultivo de Rádio, criado em 2007, para a decisão das bases técnicas do rádio digital?
O rádio digital está praticamente formatado, em todo o seu modelo. Nós não vamos adotar ou o sistema americano, ou o sistema europeu, ou japonês, ou coreano. Nós vamos dar as especificações técnicas, que atendem ao rádio digital brasileiro, ou seja, ele tem que ser um rádio digital que transmita no mesmo canal, tem que fazer rádio digital em Ondas Médias e FM. Quer dizer, se ele atender a isso, é evidente que ele pode se candidatar. Hoje existem dois ou três sistemas no mundo, que atendem a essas especificações. Eu acho que é por aí que nós vamos achar espaço para que, no futuro, se tivermos uma empresa brasileira capaz de desenvolver um sistema de rádio digital, ela tenha essas especificações.

Como está o andamento dos testes com o sistema DRM (Digital Radio Mondiale), visto que só ouvimos notícias de que as emissoras estão realizando testes com o sistema IBOC (In-Band On-Channel)?
Text Box: “O IBOC está muito bem posicionado junto às emissoras de rádio, porque eles praticamente cortaram todos os royalties que poderiam cobrar e não vão cobrar.”Bom, o DRM foi estudado sim, em parte, mas com deficiência. Até o mês passado, eles não tinham a permissão digital em FM, só tinham em AM. Então ele já ficou prejudicado, porque a nossa proposta para o sistema de rádio digital é atender AM e FM. Como ele só tinha o AM, ele não poderia participar do processo. Agora, no mês passado, eles anunciaram que também têm o FM. Então agora eles já podem fazer um projeto. Nós tentamos fazer uma aproximação, de modo a testar o rádio digital europeu, o DRM, aqui em São Paulo, que é o ambiente mais difícil. Lamentavelmente, nós não conseguimos fazer os contatos necessários. Eles ficaram de mandar um transmissor para nós e, infelizmente, acabou não chegando e quando chegou havia passado do prazo. Mas continuamos abertos. Esta é uma questão que envolve interesse muito específico da parte daqueles que detêm os direitos do sistema DRM. Eles têm que vir aqui, eles têm que se posicionar, trazer o transmissor e ajudar a fazer o teste, porque no que depender de nós irmos até a Europa, buscar o transmissor, trazer e testar, vai ser difícil. Quer dizer, eles precisam ter um pouco mais de agilidade nesse sentido.

E quanto ao IBOC, as negociações com o Consórcio iBiquity avançaram em relação a transferência de tecnologia e aos royalties?
O IBOC está muito bem posicionado junto às emissoras de rádio, porque eles praticamente cortaram todos os royalties que poderiam cobrar e não vão cobrar. Eles estão deixando claro que vão fazer uma transferência de tecnologia para os fabricantes de transmissores no Brasil e estão trabalhando com as emissoras de rádio, de modo a facilitar essa convergência, na hora que tiver que fazer a transição. Então, vamos dizer assim, eles são muito mais agressivos, porque enquanto os europeus são mais demorados em reagir e trazer os equipamentos, eles vêm logo, apresentam o transmissor, fazem os testes, participam. Eu acho que essa notada preferência dos radiodifusores pelo sistema americano é em função de uma relação mais detalhada, que ocorre há mais tempo e que por isso dá mais confiança.

Como o senhor avalia o papel da SET para o desenvolvimento do broadcast brasileiro nestes 20 anos de existência?
A SET tem sido absolutamente fundamental para o desenvolvimento do broadcast brasileiro. Sobretudo na implantação da TV digital, eu acho que sem a SET seria praticamente impossível, no governo, encaminhar a proposta, ter a participação dos mais importantes técnicos do setor, engenheiros, especialistas, professores universitários. A experiência que a SET tem e, sobretudo, porque ela traz a experiência de cada uma das empresas da radiodifusão brasileira, coordenada de forma absolutamente perfeita por seus engenheiros, que são defensores da TV digital e talvez, sem eles, nós não chegássemos aonde nós chegamos até agora. A SET está de parabéns!