Entrevista – Gunnar Bedicks Junior

ENTREVISTA

Congresso da SET mais valorizado

Gunnar Bedicks JuniorGunnar Bedicks Junior, diretor de ensino da SET, professor da escola de engenharia do Mackenzie e membro do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), fala sobre a importância do lançamento da Revista de Radiodifusão, que circulará, pela primeira vez, no Congresso da SET.

É a primeira vez que a SET publica a Revista de Radiodifusão, que corresponde ao conjunto de palestras de seu Congresso. O que esta publicação e a obtenção do ISSN  (International Standard Serial Number) representam para a SET?
A Revista de Radiodifusão é uma publicação técnica e científica, que contém os artigos técnicos voltados para a área de engenharia e radiodifusão. Esses artigos são produzidos, geralmente, por pessoas da área acadêmica, ou mesmo institutos de pesquisa. Um dos requisitos básicos, para um aluno de mestrado, ou de doutorado, é que ele tenha o seu trabalho divulgado numa publicação nacional e numa publicação internacional. O fato de a SET passar a publicar uma revista com esse cunho e com registro, dará aos alunos de mestrado e doutorado do Brasil, a opção de publicarem seus trabalhos ligados à radiodifusão. Não existe hoje, no país, nenhuma revista técnica focada especialmente em radiodifusão, esse é o primeiro periódico. Além disso, a Revista faz parte de um Congresso, que passará a ter maior importância, porque passa a ser um Congresso indexado, o que significa que os temas apresentados serão publicados na Revista de Radiodifusão. Isso não só mantém o histórico das apresentações, como também dá reconhecimento e valor acadêmico ao Congresso.

Então o Congresso também é valorizado com esse registro?
Sem dúvida, não só as apresentações acadêmicas, mas o Congresso como um todo será valorizado.

Por que um acadêmico precisa ter, pelo menos, um artigo de sua autoria publicado em nível nacional e internacional?
O primeiro motivo é que quando o aluno de mestrado ou de doutorado está desenvolvendo um trabalho de pesquisa, ele geralmente trabalha num tema que é novidade, ou seja, como ele está na área de pesquisa, ele busca identificar alguma coisa que ele possa desenvolver e para isso ele precisa apresentar idéias, comprovar cientificamente, realizar testes, para que esse projeto seja reconhecido, no final do curso, por uma banca, que vai julgar se ele é válido ou não. Se esse projeto for válido, inovador e não existir anterioridades, ele será aprovado, porque ele não pode copiar um projeto. E como é que um aluno registra esse projeto, como é que ele registra as idéias dele, para que tenha o registro e outra pessoa não use, ou copie sua idéia? Só através de publicações. Então, no momento em que ele publica uma idéia num congresso, ele torna pública a idéia de um trabalho. Não só torna público, como cria a autoria daquele trabalho. Nesse momento, ele está dizendo para a comunidade acadêmica: “Eu estou trabalhando nesse projeto, essas são as minhas linhas mestras e eu sou o autor”. A partir daí, se aparecer alguém no mercado com algum projeto que tenha sido copiado dele, ele pode, inclusive, entrar com uma ação por apropriação indébita, questões de propriedade intelectual, mesmo sem ter a patente da idéia. A publicação é muito importante porque registra a autoria de uma idéia, de um pensamento, de um raciocínio, ou mesmo de um sistema, ou de um trabalho que está acontecendo no mestrado, ou no doutorado.

Isso também acontece com os palestrantes que apresentam suas idéias no Congresso?
Somente com aqueles que estão na parte acadêmica, ou seja, aqueles que vão apresentar um paper com uma determinada idéia. Como a Revista é reconhecida, qualquer um que utilizar um trabalho como fonte pode fazer a citação do nome do autor, do título e o ISSN desse trabalho. Isso significa que uma revista nossa, toda vez que for publicada, terá que ser enviada para a Biblioteca Nacional, porque ela é um documento e serve como referência para qualquer um que quiser fazer uma consulta.

CapaDe que forma o Congresso passa a ter repercussão internacional?
É importante destacar que o Congresso que nós fazemos na SET é dividido em diversos blocos. O bloco acadêmico sim, passa a ter repercussão internacional, porque alguns blocos do Congresso tratam de outros assuntos. No futuro, nós podemos, inclusive, incluir esses outros módulos, para que o Congresso tenha reconhecimento internacional e passe a ser uma sociedade co-irmã da BTS (Broadcast Tecnology Society). A BTS é uma sociedade muito parecida com a SET, mas os papers publicados na SET, ainda não têm validade na BTS.

As universidades tiveram um importante papel na decisão do padrão de TV digital no Brasil. Como elas estão participando do Fórum?
Quando foi criado o Fórum de TV Digital, houve a abertura para que as universidades que contribuíram para o desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital pudessem participar como membros do Fórum, como reconhecimento de seus trabalhos. As universidades e institutos de pesquisa que tiveram interesse, depois de terminado os trabalhos do Sistema Brasileiro de TV Digital, entraram para o Fórum. Então, existem diversas universidades que estão participando do Fórum de TV Digital, algumas mais ativamente, como o Mackenzie, a Universidade Federal da Paraíba, a PUC do Rio de Janeiro, a USP, através do laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica e a Unicamp.

Estas universidades estão trabalhando mais ativamente de que forma?
Contribuindo na escrita e desenvolvimento das normas do Sistema Brasileiro de TV Digital. Muitos representantes dessas universidades que eu citei são coordenadores de normas do ISDB-Tb. Eu sou o coordenador, representando o Mackenzie, da norma N01, que diz respeito à transmissão.

E sobre o rádio digital, quais são as suas expectativas?
Quanto à escolha de padrão, cabe ao governo decidir, não cabe a nós legislar sobre um padrão ou outro, até porque ainda não foram divulgados os resultados de nenhum dos testes. Mas eu, olhando as características do Brasil, em termos de canalização e emissoras, acredito que o modelo IBOC, talvez seja o modelo mais adequado ao sistema de radiodifusão para rádio, já que transmite o canal digital na mesma freqüência. Se a gente tivesse que usar uma outra banda, não haveria banda disponível, nesse momento, para transmissão de um outro modelo digital. Minha proposta é que a transmissão digital fosse feita na mesma banda que o analógico, pois eu acredito que esse seja o caminho. É importante colocar que o mesmo padrão de áudio adotado para TV digital, o AAC-HE, é o usado no padrão IBOC de rádio digital, então há uma similaridade importante de ser notada.

E sobre o padrão para transmissão de ondas curtas?
Com relação à ondas curtas, considerando o DRM como opção, acredito que  o mundo esteja olhando para isso, porque as ondas curtas atravessam países, então, em tese, o mundo deveria ter o mesmo padrão para ondas curtas, porque hoje, se você sintoniza uma rádio de ondas curtas no Brasil, você consegue sintonizar a Rússia, Alemanha, Suíça. Agora, se o Brasil adotar um padrão diferente de outros países, quando essas ondas chegarem aqui, ninguém mais vai conseguir escutar. Uma das sugestões da ITU é que todo o mundo adote um mesmo padrão para ondas curtas, que talvez seja o DRM.