Entrevista – Fernando Bittencourt

ENTREVISTA

“A televisão do futuro será em alta definição”
Faltando poucos dias para o início oficial das transmissões digitais no Brasil, convidamos o engenheiro Fernando Bittencourt, diretor de TV Aberta da SET e da Central Globo de Engenharia, para explicar de forma direta, a melhor forma das emissoras lidarem com a tecnologia digital e os benefícios sociais que ela trará a partir do dia 2 de dezembro.
Agora que o padrão digital já foi escolhido e algumas transmissões já começaram, quais os próximos passos da TV digital no Brasil?
Colocamos no ar o SBTVD num prazo recorde. Em 6 meses de trabalho fechamos as principais especificações do sistema brasileiro e entramos no ar menos de um ano após a assinatura do decreto que instituiu a TV digital. Tivemos a coragem de alterar aquele que já era o melhor sistema, introduzindo novas tecnologias e adaptando o ISDB às necessidades do Brasil. O principal foi feito, mas evidentemente ainda há muito a fazer. As emissoras vão aprimorar as técnicas de transmissão e operação, explorando mais o imenso potencial que esta tecnologia possibilita e a indústria deverá amadurecer e lançar novos produtos. Minha opinião é de que teremos novidades a cada momento no cenário da TV digital nos próximos anos.

O que você espera do mercado com a entrada da TV digital?
No momento em que muitas novas mídias estão crescendo e de alguma forma ameaçando o cenário dominante da TV aberta no Brasil, a TV digital chega trazendo novos ares para o mercado da televisão aberta. O maior prazer em assistir televisão em casa e a maior exposição com a mobilidade, são os principais impactos no mercado.

O padrão ISDB atende aos interesses da população em que sentido? Por que?
Alta definição junto com mobilidade e robustez só são possíveis com o padrão ISDB. Alta definição é a televisão do futuro; robustez permite receber televisão com facilidade e baixo custo; e mobilidade, sem ela não há sentido ocupar um espaço no valioso espectro eletromagnético. Tudo isto em benefício da sociedade e da população.

Em quanto tempo você acredita que a população brasileira estará preparada para, efetivamente, entrar na era digital? Por que?
Acho que no primeiro dia. A população brasileira é televisiva e vai desfrutar esta tecnologia. Claro que primeiramente as classes economicamente mais altas, mas acredito que muito rapidamente esta tecnologia será massificada, assim como foi o telefone celular e o DVD.

Como será a atuação da SET, a partir de 2 de dezembro?
A SET teve um papel decisivo em todo este processo. A televisão brasileira deve a SET o seu futuro. A tecnologia digital é dinâmica e continuará evoluindo e a SET tem a responsabilidade de continuar liderando e divulgando esta evolução.

Como as emissoras de TV devem trabalhar a questão da convergência e mobilidade?
A operação do “One-Seg” tem um grande potencial de convergência entre as emissoras e as teles, no aparelho celular. Elas vão descobrir isto muito rapidamente. A mobilidade será, talvez, o ganho mais imediato para as emissoras. Uma audiência que hoje elas não têm.

As emissoras terão como transmitir o mesmo conteúdo da TV aberta, numa mídia móvel? Como?
Entendo que por decreto a programação no “One-Seg” será a mesma que no TV fixo. Há gente que entende diferente. Para mim está claro que alguns programas não fazem sentido no “One-Seg”, como um longa metragem, por exemplo. Outros conteúdos como notícias, novelas e esporte serão sucesso.

Sabe-se que com a entrada da TV digital haverá uma enorme busca por conteúdos de qualidade, para aproveitar as características que o digital proporciona. Como fica a questão da concorrência nas emissoras?
Minha opinião, já expressada inúmeras vezes, é de que a televisão do futuro será em alta definição e como tal, será chamada simplesmente de televisão, assim como ocorreu com a televisão em cores. Quem não estiver em alta definição estará fora do mapa.

Os altos custos dos dispositivos para TV digital, bem como o representativo baixo poder aquisitivo do brasileiro não representam um entrave para a difusão da TV digital no Brasil?
Esta mesma pergunta foi feita quando lançaram os celulares que custavam 5 mil dólares e quando lançaram os DVDs que custavam 2 mil dólares. Hoje são mais de 100 milhões de um e 30 milhões de outro. Se há atratividade e agrega valor às pessoas, há a massificação e os custos baixam. Assim será com a TV digital.

Como o mundo analógico “sobreviverá” tecnicamente durante o período de transição?
Não haverá uma queda na qualidade de imagem?

Nos estúdios já não temos mais nada analógico. Com relação aos televisores, a perda de qualidade já começou. Todo e qualquer televisor de tela plana degrada a qualidade da TV analógica.

A SET está preparando algum produto específico para esta virada digital?
Os produtos da SET são os seus seminários, congressos e publicações. Todos eles devem continuar endereçando o assunto TV digital.

Quando a interatividade terá efeito real na TV digital do Brasil? Como será essa interatividade?
Espero termos interatividade durante o ano de 2008. Ela vai depender muito da criatividade das produções e do tipo de programa. Imagino que programas como Big Brother poderão explorar muito a interatividade. Jornalismo e esporte também são muito apropriados. Acredito muito na interatividade da TV no telefone celular. Tanto os aparelhos quanto os usuários já são digitais e interativos.

Na sua opinião, o cronograma de implementação do sistema digital no Brasil será cumprido? Por que?
O cronograma do Ministério das Comunicações é bastante desafiador. Há grande disposição das empresas em fazê-lo cumprir, mas não há duvidas de que o fator econômico será fundamental. Vai depender muito do crescimento econômico do país nestes próximos 10 anos, para saber se será possível cumprir o cronograma.