ENGENHEIROS DISCUTEM TV DIGITAL EM SP

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ENGENHEIROS DISCUTEM TV DIGITAL EM SP
SEMINÁRIO REUNIU ESPECIALISTAS PARA DISCUTIR SOLUÇÕES PARA A MUDANÇA DIGITAL NO BRASIL; FORAM ANALISADOS OS IMPACTOS NA SOCIEDADE, NOS NEGÓCIOS E TAMBÉM NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, ACOMPANHE UM POUCO DO QUE FOI DISCUTIDO PELOS PROFISSIONAIS.

No mês de novembro (dias 16 e 17), o Instituto de Engenharia de São Paulo promoveu o evento “O Brasil na Era Digital – A Engenharia nas Comunicações”. Centenas de profissionais estiveram reunidos para discutir, entre outros assuntos, “Estratégias de Implantação”; “Legislação e Regulamentação do setor” e “A convergência dos meios”. O evento foi organizado por Eduardo Bicudo, diretor de Ensino da SET e entre os participantes estiveram integrantes da entidade como Roberto Franco, presidente da SET; Olímpio Franco, diretor da SET; Ronald Barbosa, diretor de Rádio da SET, representantes do governo, Joanilson Laércio Barbosa Ferreira, secretário do serviço de Comunicações do Ministério das Comunicações, Ara Apkar Minassian, superintendente da Anatel, entre outros.
Carlos de Brito Nogueira, da Central Globo de Engenharia, afirmou que apesar da TV ser a mídia mais presente nos lares brasileiros é a mais desatualizada tecnologicamente e a única que ainda permanece analógica. Todas as outras já são digitais, é o caso do rádio, das TVs a cabo e por satélite, telefonia, cinema e DVD. Com exceção do rádio, as outras mídias são pagas.
De acordo com ele, a TV que poderia levar grande parte dos benefícios da digitalização para todo o país está limitada tecnologicamente a oferecer apenas um tipo de conteúdo. “O telespectador terá a possibilidade de assistir gratuitamente a TV de forma limpa, em qualquer lugar, seja em um ônibus, em um barco, elevador ou metrô”, explicou. Ele defende também que o padrão digital permita a portabilidade (assistir de graça a TV pelo celular) e a interatividade que oferecerá conteúdos diferenciados e informações ligadas ao programa veiculado.
Roberto Franco, diretor de Engenharia do SBT e presidente da SET, falou sobre a mudança da plataforma de transmissão analógica para transmissão digital. Para ele, a importância desse processo é que a produção da TV brasileira será capaz de oferecer conteúdos mais ricos e dinâmicos do que tecnologia analógica possibilita hoje. Franco lembrou que o telespectador está pronto para consumir mais qualidade de imagem e conteúdo, mas isso exige um sistema robusto para que todos possam receber o sinal.
José Chavez de Oliveira, diretor técnico-operacional da TV Cultura, ressaltou que também é papel da engenharia apresentar soluções para viabilizar modelos de negócio e não apenas discutir questões tecnológicas. “Existem soluções híbridas que possibilitam tanto a transmissão em alta definição quanto a mobilidade e multigerações, esse é o modelo ideal para todos os broadcastings”, disse. Carlos Antonio Coelho, diretor técnico de transmissão e emissão de sinal do Grupo Bandeirantes de Comunicação, expôs a preocupação dos radiodifusores em relação ao modelo de negócio. “Precisamos refletir bastante em como os recursos da TV digital podem ser explorados. Este é o maior desafio do momento”, disse. E completou, “todas as teles têm liberdade para definir quais são os tipos de negócios agregados a telefonia celular, inclusive os conteúdos de TV. Só que é um modelo pago e o nosso modelo é gratuito. É imprescindível que se discuta essa questão com bastante profundidade, seriedade para chegarmos a uma boa conclusão”.

Visão empresarial
Frederico Nogueira, vice-presidente da ABRA, defendeu que o Brasil inverta o processo e, em vez de ficar estudando os sistemas hoje existentes no mercado, defina o que é melhor para o país. Segundo ele, a ABRA acredita que é necessário que o sistema digital brasileiro tenha mobilidade, portabilidade e robustez, como principais características. “A discussão sobre essa questão é antiga e espero que possamos optar pelo melhor sistema ainda no primeiro trimestre de 2006 e que o Brasil possa finalmente caminhar para a TV digital”, disse.

Técnicos e autoridades do setor palestraram durante o evento.

Ivan Isola, consultor da presidência da Fundação Padre Anchieta, revelou que a maior preocupação refere-se aos conteúdos, não apenas em relação à produção, mas também à circulação e ao destino. Ele afirmou que a TV Cultura é uma televisão pública, portanto a TV digital é um instrumento importante de inclusão. “A questão tecnológica é menor porque é uma ferramenta como outra qualquer. Está se super valorizando a tecnologia e deixando de lado a discussão de uma série de outras questões mais importantes, como a circulação de conteúdo. Se optarmos pelo sistema norte-americano, por exemplo, gostaria de saber onde venderíamos o nosso conteúdo? Até porque os Estados Unidos não compram conteúdos dos outros. É o caso do cinema, menos de 1% dos filmes veiculados naquele país são estrangeiros”, disse.
E acrescentou: “Optar por um sistema restrito a poucas pessoas significa reduzirmos o alcance de nosso conteúdo como aconteceu com o Pal-M”. O consultor disse ainda que a interatividade é um recurso para que as pessoas passem a interferir no conteúdo dos programas.
Ronald Siqueira Barbosa, falou do papel das instituições que trabalham o Rádio digital. Falou sobre o espectro radioelétrico, como está sendo compartilhado e como será com a digitalização. Segundo ele, a troca da freqüência analógica para digital será lenta. Enquanto a indústria produzir receptores analógicos, a transmissão dos dois padrões será feita em conjunto, na mesma freqüência.
No campo da imprensa escrita, o jornalista Ricardo Anderáos, editor do caderno Link do jornal “O Estado de S. Paulo”, mostrou alguns números da indústria de jornais que apontam uma queda acentuada na circulação e o encolhimento do bolo publicitário. Ao mesmo tempo, percebe-se uma mudança de hábitos, de comportamento das pessoas que buscam novos meios de comunicação através da Internet e celulares, por exemplo. Segundo ele, no jornal existe a busca por novos meios para informar às pessoas e, ao mesmo tempo, permitir que o leitor participe da informação que está sendo produzida. Uma maneira de aproximar a mídia da comunidade e estimular a interatividade do leitor com o jornal já que ele pode participar mais diretamente.
João Amato Neto, professor da USP, também participou do evento e afirmou que a indústria eletrônica é extremamente revolucionária do ponto de vista da mudança tecnológica. Em particular, no segmento da eletrônica de consumo que é o caso da TV digital. Para ele, essa tecnologia não é apenas uma evolução da TV analógica, mas um produto diferente em função de novas características como portabilidade, interatividade, mobilidade, design e a alta qualidade de imagem e som. Nesse sentido, o professor acredita que há um desafio para a indústria brasileira. Ele chamou atenção para as mudanças na estrutura do mercado e na composição das empresas que atuam nessa área. “Não há espaço para empresas de médio e pequeno porte nesse mercado”, sentenciou.
Walter Duran, diretor de Tecnologia e pesquisa da Phillips do Brasil, disse que toda a indústria está muito preocupada com as definições em relação à TV digital. “Se essa grande oportunidade (tecnologia digital) não for controlada, provocará uma modificação drástica na maneira de se produzir e vender televisores no país. Para que essa transição aconteça de forma saudável, o modelo de negócio precisa ser estudado com muito cuidado e critério”, analisou. Ele chamou ainda atenção para o fato de que o Brasil é diferente da Austrália, Japão, Estados Unidos e isso significa que o modelo de negócio tem que ser adequado ao perfil sócio-econômico do consumidor brasileiro e ao perfil da indústria nacional. Kanato Yoshida, gerente de Engenharia da Sony, disse que a TV hoje tem que evoluir não só em tecnologia, mas também em equipamentos para que possa trabalhar bem no padrão digital. Yasunobu Yagyu, gerente-geral da Panasonic disse que a filosofia da empresa é satisfazer o consumidor e para isso existe um grande investimento em pesquisas para criar novos produtos.