Em marcha batida

Para Tadeu Moura, gerente técnico da TV Cidade Verde, o equipamento “muito antigo” motivou a rápida transição para o digital

A EXPANSÃO DA TV DIGITAL NO BRASIL MANTÉM A VELOCIDADE DE CRUZEIRO; SÓ EM MARÇO, QUATRO EMISSORAS NO SUDESTE E NORDESTE INICIARAM OFICIALMENTE AS TRANSMISSÕES.

A implantação da TV digital segue em marcha batida pelo país afora e, em março, ela teve um mês glorioso: nada menos do que quatro geradoras foram ao ar em alta definição. No dia 16, a TV Integração, de Uberlândia, Minas Gerais, inaugurou a safra. Dois dias depois foi a vez da geradora independente de São José do Rio Preto (Rede Vida), São Paulo, que não recebeu a reportagem da Revista da SET a tempo para esta edição. No dia 23 os ares de Teresina, Piauí, encheram- se de imagens e som digitais da TV Cidade Verde e, no dia 30, a TV Tribuna, de Santos, também em São Paulo, repetiu a dose.

Tal como outras afiliadas da Rede Globo, no projeto de digitalização a TV Integração, em linhas gerais, seguiu os ditames da cabeça de rede. Mas ela optou por alguns equipamentos diferentes e comprou, por exemplo, equipamentos de transmissão (controle mestre, transmissor, codificador, multiplexador) da Harris. A antena, slot, de oito fendas, é da Transtel.

Os estúdios de Uberlândia estão sendo reformados para o digital e estarão up to date com o que existe de mais moderno até o momento. Neles, os sinais serão trafegados em velocidade de 3 gbp/s. “Os equipamentos de áudio que temos aqui já são de uma versão mais nova. Algumas emissoras compraram, por exemplo, o ENC-A11. O nosso é ENC-A21, para 16 canais”, conta Paulo Feres, diretor de engenharia.

As câmeras e os equipamentos para edição digital ainda serão adquiridos. “Decidiremos a marca e os modelos na NAB 2009. Lá sempre tem novidades”, justifica Feres. Na NAB a emissora comprará equipamentos para o jornalismo da geradora de Juiz de Fora. Os atuais estão muito defasados.

Juiz de Fora terá o sinal digitalizado em 14 de Abril de 2010, quando a geradora completará 30 anos. O grupo, que sonha montar um novo canal em Uberaba, também no Triângulo Mineiro, conta ainda com geradoras em Araxá e Ituiutaba – as duas devem ser digitalizadas antes da Copa de 2010, pois o dinheiro para o investimento já está liberado – e três emissoras de rádio, além de um portal de internet, o Megaminas. Em termos de equipamentos de estúdios, o que for decidido para a “Manchester mineira” será copiado em todas as geradoras do grupo.

Reforma
A geradora de Uberlândia foi totalmente reformada. “Trocamos tudo”, afirma Feres. A parte elétrica é completamente nova e incorpora dois geradores de grande porte e dois nobreaks. O sistema é todo redundante. Agora, a empresa, que não trocou a antena nem o transmissor analógico e tampouco a torre, está preparada para não sair do ar, mesmo sob as piores condições.

A reforma – muito grand e mesmo – levou a emissora a jogar no chão parte do prédio antigo. “Havia muitas colunas, poucos grandes vãos, tivemos que atravessar vigas e isso sempre é um ponto muito crítico”, diz Feres, que contratou consultorias para ajudá-lo. “Aconselho a todos os que ainda não iniciaram o processo a cuidar da infraestrutura. Façam uma coisa sólida, para durar, e isso evitará problemas futuros”.

Mas o plano de digitalização vai bem além disso. As imagens da rede Integração chegam a 255 cidades – onde moram cerca de quatro milhões de habitantes – por micro-ondas. “Elas passarão do analógico para o digital. Estamos negociando equipamentos com os fabricantes e devemos começar os testes imediatamente”, revela Feres.

Fora isso, a empresa vai interligar suas geradoras por meio de uma rede de fibras ópticas, já contratada e a ser inaugurada nos próximos dias. “Poderemos trocar matérias e até mesmo introduzir, um pouco mais adiante, o remote casting”, afirma Feres.

Modelo
A TV Integração é um modelo para as de seu porte. Isso se deve a Tubal Siqueira, o maior acionista, que não é de economizar. Se dependesse só de Siqueira, a TV Integração, que investiu nove milhões de reais no projeto de Uberlândia e planeja mais uns 20 milhões em toda a rede, teria sido a pioneira da era digital em todo o Brasil. Por força da legislação, houve atraso na liberação do canal, mas, mesmo assim, a TV Integração foi a primeira do interior mineiro a se digitalizar.

Por conta dessa sede de pioneirismo, se há algum lugar em que a TV digital tem tudo para emplacar rápido, este lugar é Uberlândia – a fim de não deixar a peteca cair, a empresa treinou 240 antenistas e os 100 lojistas da cidade. Além da disposição da geradora, há outro fator: o povo da cidade, ‘chegado numa novidade’ como ele só. “Nosso sinal móvel é um sucesso”, afirma Feres. “Na fase de testes, os telefones não paravam de tocar, com muita gente perguntando e reclamando do tira e põe no ar que fazíamos”.

Projeto contido
Não podendo contar com um mercado tão rico quanto o do Triângulo Mineiro, a TV Cidade Verde – pioneira no Piauí e entre as emissoras afiliadas ao SBT na digitalização do sinal – fez, acertadamente, um projeto contido. “Aproveitamos parte da estrutura existente e simplificamos ao máximo”, diz Tadeu Moura, gerente técnico, há 23 anos na geradora.

O projeto é para gerar o total da programação própria, de cinco horas diárias, em HD. “Nós partimos logo para o digital porque nosso equipamento era muito antigo, descontinuado e já havia a necessidade de novos investimentos”, explica Moura.

Ele envolve grandes custos, não revelados pela geradora, para uma emissora do tamanho da Cidade Verde, pois compreende Teresina e as retransmissoras – os sinais chegam a 105 cidades piauienses. Não há ainda um projeto envolvendo toda a rede. Mas assim que terminar Teresina serão iniciados os estudos visando a expansão às maiores cidades piauienses, que recebem o sinal via satélite.

Então, Moura terá dominado melhor o assunto e não terá tantas dificuldades técnicas a enfrentar como no início. “A maior era a tecnologia em si, ainda desconhecida pela maioria”, diz ele. Depois, o projeto foi terceirizado ao engenheiro Ismar Vale, também autor do projeto de geração analógica, e tudo ficou mais claro. A BCTV, de São Paulo, foi contratada para implantação dos sistemas de estúdio, switcher e qualificação dos profissionais.

Equipamentos nacionais
A geradora privilegiou os equipamentos nacionais. O transmissor é Linear, de 2,5 kW, com redundância. A antena, slot de oito fendas, da Mectrônica. “Nunca tivemos aborrecimentos com equipamentos nacionais e os que escolhemos agora se adequaram ao nosso projeto”, informa Moura, que colocou a estrutura do digital em cima do paralelo e economizou muito, pois não precisou fazer nenhuma grande reforma nas edificações; apenas construir três novos estúdios. O transmissor digital está na mesma instalação ocupada pelo analógico e divide com ele os equipamentos de refrigeração a ar. A torre antiga foi aproveitada. “Colocamos a antena digital sobre a analógica, sem interrupção das transmissões. O transmissor analógico também permanece o mesmo”, diz Moura.

Os equipamentos de estúdio e externa são Sony. “Os de externa contam com a tecnologia tapeless”, diz Moura. O switcher é composto por mesa e processadores For-a e mesa de áudio digital Yamaha. O controle mestre é da N-Vision com exibidores SpotWare e Multiview For-a.

Embora a solução adotada pela TV Cidade Verde seja econômica, o telespectador não sentirá diferença. É o que afirma Moura, confiante na concepção do estúdio, em que tudo, incluindo a edição, é digital e obedece às melhores especificações. Flávio Batista Cruz, gerente de projetos especiais da BCTV, exemplifica com o tráfego de sinais dentro do estúdio, feito a uma velocidade de até 3 Gbp/s. “Ademais, do estúdio para o switcher os sinais serão enviados por fibra óptica”.

Ainda de acordo com Moura, o resultado até agora é bom. Já foram realizadas medidas de campo que comprovam o atendimento de toda a área metropolitana de Teresina. “Confirmamos na prática contorno médio de cobertura de 35 km conforme definido em projeto”, conta Moura.

Resta aguardar a resposta do telespectador. “Fizemos um filme mostrando tudo sobre TV digital e colocamos a campanha no ar no sistema analógico”, diz Moura. Como Teresina já tinha quatro emissoras em UHF, a geradora não treinou antenistas nem lojistas, mas vai dar suporte técnico aos telespectadores e passar informações aos lojistas. O portal da Cidade Verde também traz informações muito boas para a população.

Baixada Santista
Em Santos, na Baixada Santista (SP), a TV Tribuna, afiliada à Rede Globo de Televisão que também cobre o Vale da Ribeira, iniciou seu projeto de TV digital em meados de 2007. “Durante o processo de decisão, optamos em fazer o projeto e montagem com nossa própria equipe técnica”, diz José Meneses dos Santos, 52 anos de idade, gerente de operações da TV Tribuna.

Meneses, como é mais conhecido, a exemplo de Feres, acredita que um dos maiores desafios da implementação do digital é a preparação da infraestrutura. ”Como nosso prédio de transmissão é moderno e amplo e já havia sido projetado para receber transmissores digitais, não tivemos maiores problemas”.

Mesmo assim, os quadros elétricos foram rearranjados, bem como todo o cabeamento elétrico e dutos de passagem. Foram adquiridos, ainda, novos grupos geradores e novos nobreaks para o transmissor e o estúdio.

A refrigeração também foi revista e incrementada. “A novidade, para nós, é a instalação da tubulação de água, toda em aço inox”, afirma Meneses. A montagem exigiu cuidados a fim de evitar perda de material. “Antes do corte definitivo do inox nós gabaritamos todo o circuito de refrigeração com tubos de PVC. A maresia em Santos nos fez confinar os trocadores de calor em uma sala com ar tratado”.

A TV Tribuna preferiu seguir, em parte, a escolha de equipamentos que a Rede Globo fez para suas emissoras próprias. Ela adquiriu dois transmissores da NEC, de 1,2 kW cada, refrigerados a água, um STL com redundância, também da NEC, e sistema irradiante nacional. A antena é da Transtel.

A torre de transmissão não precisou ser alterada. Ela existe há oito anos e já havia sido concebida e dimensionada para receber as antenas do sistema digital.

Estúdio
O estúdio deu mais trabalho. Antes do digital, a TV Tribuna operava com uma mesa mestre analógica e com servidores espelhados para os comerciais. No digital, a planta de exibição foi totalmente substituída. “Nossa preocupação era com a interoperabilidade entre os equipamentos. Nesse caso, é melhor comprar router switchers, mesas e modulares de um mesmo fabricante”, ensina Meneses, sem revelar os equipamentos escolhidos.

Nesta nova tecnologia, aconselha Meneses, o sincronismo de áudio deve ser uma preocupação constante. Outro grande desafio é otimizar as CPUs. “São muitas, muito mais do que prevíamos em nosso projeto”, diz ele. Sua sugestão é o uso compartilhado delas e dos multiplexadores de teclados, monitores e mouses, pois, caso contrário, haveria dezenas de teclados sobre as mesas de operação e técnica.

Configuração
A parte mais complexa da instalação, porem, é a configuração do sistema. Uma boa parte dela é feita durante o comissionamento. Porém, geralmente são necessários ajustes adicionais e, para isso, é importante a documentação que acompanha o equipamento. Mas nem sempre os manuais trazem a informação que se necessita naquele momento. Quando isso aconteceu, Meneses apelou para o fabricante e tirou as dúvidas.

“O sinal digital é muito robusto e tem nos surpreendido frequentemente, pois o ganho é enorme”, conta Meneses. Santos é uma cidade de difícil cobertura por causa dos morros, mas nos testes preliminares já feitos, poucas são as áreas de sombra. “A performance do One Seg também é fantástica”.

A TV Tribuna esclareceu bem a população da Baixada Santista. O lançamento foi contemplado por matérias específicas diárias tanto nos telejornais quanto na mídia escrita do próprio grupo. Houve algumas palestras para os lojistas e vendedores esclarecendo as vantagens da nova tecnologia. “Além disso, fizemos quatro reuniões com antenistas”, explica Meneses.

Mas a empresa não ficará só nisso: “em uma nova e futura abordagem, devemos nos aproximar dos síndicos dos mais de 4.500 prédios da área central de Santos e explicar a importância da reestruturação dos sistemas coletivos em seus condomínios”, conta Meneses, que prevê a chegada dos sinais digitais rapidamente aos 29 municípios da área de cobertura da geradora – são aproximadamente dois milhões de telespectadores.

Revista da SET – ed. 106