DIRETORES DA SET COMEMORAM OS AVANÇOS DE 2010 E AGUARDAM 2011 COM BOAS PERSPECTIVAS TECNOLÓGICA

MERCADO

DIRETORES DA SET COMEMORAM OS AVANÇOS DE 2010 E AGUARDAM 2011 COM BOAS PERSPECTIVAS TECNOLÓGICAS

Por Gilmara Gelinski

De acordo com o relatório de Estabilidade Financeira, do Banco Central do Brasil (BCB), o crescimento da economia brasileira, retomado a partir do segundo trimestre de 2009, adquiriu maior vigor no segundo semestre de 2010, gerando sucessivos aumentos nas previsões de crescimento para este ano. No primeiro trimestre de 2010, o PIB cresceu 2,7%. Mesmo após a retirada dos incentivos fiscais adotados em 2009, em junho de 2010 as previsões do relatório trimestral de inflação do BCB referentes ao crescimento do PIB para 2010 foram revistas de 5,8% para 7,2%.

Este cenário da economia nacional trouxe bons resultados para o setor de telecomunicação. Os números apresentados pelo diretor de Conteúdo da SET e diretor de Engenharia de Produção, da Globo, Nelson Faria Junior, mostram que o ano de 2010 foi plenamente favorável ao mercado de radiodifusão e indústria, tanto em relação ao investimento das emissoras, quanto ao mercado consumidor, devido ao crescimento do poder aquisitivo da classe C, e, principalmente, ao fator Copa do Mundo de Futebol. “A TV aberta cresceu mais do que o mercado de mídia como um todo. Somados, TV aberta, jornais, revistas, TV paga, cinema, internet, rádio, mídia exterior, listas e revistas tiveram uma alta de 30% sobre o primeiro semestre de 2009. Com o crescimento superior as demais mídias, a TV aberta atingiu um patamar inédito de concentração de verbas publicitárias. Sua participação no mercado de mídia atingiu 63,9%. Isto é, de cada R$ 100 gastos em anúncios no Brasil, R$ 63,90 foram para a televisão aberta”, explica Nelson.

O diretor de Novas Mídias da SET e diretor executivo da Embratel, Antonio João Filho, compartilha da mesma opinião e com base em sua área afirma que 2010 foi o ano em que o mercado de TV por Assinatura mais cresceu, principalmente, com a entrada de novas empresas como a Embratel e Oi. Tendo em vista a economia mundial após uma crise econômica, o país ainda tem um saldo positivo. Pelo crescimento do setor em 2010, o Brasil é o país com a melhor performance neste campo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que o número de assinaturas é maior que o da população brasileira – 190,7 milhões – porque muitas pessoas compram mais de um serviço. Outro dado importante é que segundo a Anatel, em setembro de 2010, os serviços prestados via satélite (DTH) cresceram 4,1% ante uma evolução de 4,3% no mês anterior. O número de assinantes que recebem os serviços via TV a Cabo (TVC) cresceu 1,5% em setembro.

E para impulsionar ainda mais o setor, novas ações estão sendo defendidas. No site da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), através de sua assessoria de comunicação, foi publicado que Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado realizou este ano uma audiência pública para debater o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 116/10, que cria novas regras para o setor de TV por assinatura. Substitutivo ao PL 29/2007, o projeto regulamenta a produção, programação e distribuição de conteúdos audiovisuais.

Na proposta, os radiodifusores defendem a garantia da veiculação da programação local das emissoras de televisão aberta pelas operadoras de TV paga. De acordo com o diretor-geral da ABERT, Luís Roberto Antonik, “o sinal das geradoras locais de TV deve ser carregado pelas operadoras de TV paga, preservando a sua área de cobertura. Dessa forma, respeita-se o modelo federativo da radiodifusão brasileira, que cobre o país inteiro, levando conteúdo nacional, de forma aberta e gratuita a milhões de pessoas”.

Outro ponto defendido é as regras claras para a desagregação de redes, que tem como princípio o compartilhamento da infraestrutura das telecomunicações por outros serviços, permitindo que radiodifusores interessados em prestar também o serviço de televisão a cabo tenham condições simétricas de competir com as grandes prestadoras de serviços de telecomunicações. O projeto prevê ainda a exploração do serviço de TV a cabo pelas companhias telefônicas, a produção de conteúdo como atividade reservada apenas a empresas brasileiras e a possibilidade de as emissoras de TV aberta cobrarem das operadoras de acesso condicionado o uso de seu sinal digital.

O crescimento da TV paga foi o que mais se destacou este ano e deverá ter um crescimento de no mínino 30% na sua base de assinantes em relação a 2009. Há uma demanda grande e crescente, tanto por serviço de TV paga quanto por televisores mais sofisticados. O evento Copa do Mundo de Futebol foi o grande motivador para que houvesse um expressivo crescimento da venda dos televisores, assim como a disseminação da TV paga de alta definição. Já são mais de 750 mil usuários desta tecnologia no Brasil. Também no campo das novas mídias, começou a ser comercializado o produto televisor conectado, que dá uma nova utilidade a este terminal que hoje exibe a TV aberta, TV paga, DVD, Blu-ray e Vídeogames.

Segundo o vice-presidente da SET e diretor da Olympic Engenharia em Sistemas de Áudio e Vídeo, Olímpio José Franco, o ano de 2010 foi muito importante para radiodifusão brasileira porque o mercado está efervescente. “Há muitos investimentos nas emissoras que estão implantando novos sistemas em HDTV para produções e transmissões visando a transição tecnológica. As produtoras também estão investindo em novos sistemas para igualar tecnologicamente suas produções com os novos requisitos das emissoras. A constante busca por novidades e novas tecnologias agitam o mercado. Exige-se constantes atualizações de profissionais e dos demais componentes da cadeia do negócio broadcasting”.

Ações de mercado
Aproveitando a Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, este ano foram feitas muitas ações de mercado. Entre elas estão a geração dos sinais em HDTV e os experimentos em 3D durante o evento. A indústria de produtos de consumo vendeu muitas TVs de telas planas e dispositivos portáteis com capacidades de receber sinal de TV digital. Com o sucesso dessas ações bem sucedidas, espera-se o mesmo para os próximos futuros eventos que serão gerados em HDTV, como Fórmula 1, Olimpíadas em Londres e, no Brasil, Jogos Panamericanos e Copa do Mundo de Futebol.

Na opinião do diretor Industrial da SET e diretor geral da Tecsys, José Marcos Freire Martins, “o mercado está muito bem encaminhado. As indústrias nacionais estão suprindo as tecnologias de produto. Estamos trabalhando para reduzir os custos de equipamentos para a interiorização e investir na nacionalização dos mesmos. E o reconhecimento deste trabalho veio com a Premiação da SET. Duas empresas nacionais, que concorriam com multinacionais, ganharam o prêmio. A indústria brasileira está muito bem capacitada para atender a demanda com produtos de qualidade. É um trabalho muito importante que envolve todo o setor em ações conjuntas. Para a expansão do sistema digital, por exemplo, existe o incentivo das grandes emissoras que possibilita a indústria nacional criar soluções com financiamento, suporte de engenharia de aplicação na venda e no pós venda para as afilhadas com menor poder aquisitivo”.

Também atuante na diretoria do Fórum Nacional de TV Digital, José Marcos destaca uma crescente demanda pelos televisores com set-top box embutido. “Empresas como a Samsung, LG, Sony e Philips já dispõe deste equipamento. Nós estamos um passo à frente, oferecendo a solução completa. E no tocante a interatividade, nós da indústria de equipamentos já temos um equipamento nacional que insere a interatividade criada pela emissora. E existe emissora que já está transmitindo a interatividade em caráter experimental. Eu tenho certeza que a nossa transição do sistema analógico para o digital será mais rápida do que imaginamos e do que foi em outros países”.

Nelson destaca a expansão da venda dos televisores a LED como uma das ações de mercado que mais se firmaram em 2010. “Esta tecnologia foi um dos fatores que elevou a qualidade e o nível de serviço aos telespectadores. Aliados à superior qualidade de imagem, alguns modelos em LED já trazem os recursos da sétima geração de televisores. Além das conexões USB 2.0, entradas HDMI, imagem full HD, som surround, decodificador para TV digital integrado e todos os apetrechos usuais, a geração 7 vem com o chamado media 2.0. Conhecido ainda como centro de mídia, este dispositivo sincroniza todo o conteúdo multimídia do computador via wireless, reproduz filmes direto da internet em alta definição e ainda possui navegadores em flash. Imagine algo que junta o Windows Media Center e uma série de aplicativos do computador na televisão?”

No tocante a venda dos receptores do sistema digital é certo que a transmissão digital da Copa da África do Sul foi especialmente proveitosa para os fabricantes brasileiros de aparelhos de TV. “A Eletros, entidade que representa a indústria de eletroeletrônicos, estima que em 2010 foram vendidos 12 milhões de aparelhos. É um número ousado, que significa aumento de 30% em relação a 2009. Dois fatores contribuíram para este aumento. O primeiro é a relação que o brasileiro tem com o futebol. O segundo é que, apesar da crise lá fora, a economia aqui dentro está aquecida, o emprego melhorou, o crédito ficou mais fácil e o comércio está oferecendo melhores condições de financiamento”, explica Nelson.

Considerando as opiniões acima, podemos afirmar que a relação entre os setores da radiodifusão, indústria e consumidor de TV digital está bem ajustada, pois existe uma demanda e ela está sendo atendida. Porém, para Olímpio, cabe a radiodifusão prover mais conteúdos programáticos que despertem a atenção dos consumidores. A TV por assinatura é um exemplo que deve ser seguido. Ela não possuía qualquer programação em HDTV antes do lançamento da TV digital, mas agora, após o arranque da TV digital terrestre, as operadoras de serviços de TV por assinatura terrestres e via satélite já possuem mais de 30 canais em HDTV em seus line-ups. Hoje, o nosso país possui um dos maiores mercados de produtos de consumo do mundo. Novos fabricantes estão vindo para o Brasil e a TV digital faz parte deste mercado”.

Olímpio lembra ainda que, “a indústria fez investimentos em P&D para atender aos requisitos do padrão de TV digital ISDB-TB incluindo-se sistemas de front-end e back–end, desde sistemas de RF, de decodificações de sinais de áudio e vídeo, de instruções enviadas pelo transmissor e de preparação para operar com o middleware Ginga. No tocante aos aparelhos de televisores e set-top box assim com em todo o mundo, no Brasil não foi diferente, o set-top box não despertou muito interesse do público. O que atrai mesmo o consumidor é a TV integrada sem complicações e com mais conexões para o usuário fazer e operar. O STB poderá ter importância mais na época do switch off”.

Do ponto de visto do diretor de Conteúdo da SET, considerando a sociedade contemporânea é possível observar a força que o meio de comunicação “televisão” possui no que tange a disseminação de informações, entretenimento e de comportamentos. “Vivemos a era da convergência midiática, que vem demonstrando o poder da intersecção entre as velhas e novas mídias”. A demanda está sendo atendida pela indústria que tem lançado televisores com muito mais do que imagem de alta definição. Os aparelhos tem conexão com à internet, reproduzem arquivos em pen drives, tem entrada para fones sem fio e Videogames de altíssima resolução e ainda servem de monitor de notebooks e PCs. Há muitas opções e a variação de preços é grande – proporcional aos recursos que cada modelo oferece.

A importância do rádio
Com relação ao Rádio digital, Olímpio defende a importância, a credibilidade e prestação de serviço que ele oferece à população, porém existe a necessidade de se definir a norma a ser adotada. “O setor de rádio vem sofrendo com isto, pois a tecnologia atual em Amplitude Modulada (AM) para Ondas Médias e Curtas são muito deficientes em qualidade e sofrem muitas interferências, comparadas com a Freqüência Modulada (FM). O rádio digital depende do governo decidir qual padrão será adotado”.

“O mercado radiofônico brasileiro bate a casa das nove mil rádios devidamente cadastradas, isso sem contar àquelas que operam na ilegalidade. Por baixo, há aí público estimado em mais de 140 milhões de brasileiros que escutam rádio rotineiramente. Em 2009 uma agência de publicidade, a PROPEG, realizou uma pesquisa que mostrou que 73% dos brasileiros afirmaram que o rádio é a mídia com o maior índice de satisfação. Alem disso, outros índices mostram como a penetração do rádio na sociedade brasileira vem se diversificando e se intensificando. O número de ouvintes aumentou em 44% nos últimos 05 anos reforçando a credibilidade desta mídia. Como esses valores demonstram um nível respeitável dentro da sociedade, a questão que paira no ar é devido ao atraso enorme quanto a definição do padrão digital que será escolhido para as transmissões no país”, observa Nelson.

Se considerarmos que a grande maioria das rádios, num universo com mais de 9 mil, é pobre ou deficitária, teremos aí apenas umas 3 mil com possíveis recursos para investir entre US$ 50 mil a US$ 200 mil na digitalização, estimando-se um valor de US$ 300 milhões nos novos equipamentos. O investimento é alto, mas a nova tecnologia permitirá que a rádio AM fique parecida com a FM, preservando o longo alcance, e a rádio FM terá um som igual ao de um CD. No sistema digital, o rádio também passa a ter algumas funções de texto, como informar no painel do aparelho o título da música e o nome do cantor e do compositor. As emissoras também passarão a oferecer outros serviços de texto, como informações de trânsito, localização, previsão de tempo e resumo das notícias do dia. Esses serviços agregados também poderão ser fontes de novas receitas para as emissoras, com a venda de anúncios.

Na análise feita pelo diretor de Conteúdo da SET, o mercado do rádio é importante pela dimensão que ele tem no Brasil, presente em quase 90% dos domicílios do país. O principal ganho com a digitalização será a melhoria na qualidade do som e da recepção, com o fim dos chiados. A estimativa mais recente, feita em setembro pelo Ministério das Comunicações, era de que o anúncio da decisão do padrão da Rádio digital seria feito pelo governo até dezembro, mas não há perspectivas de quando a escolha será feita. As emissoras de Rádio tinham optado pelo padrão dos Estados Unidos sob o argumento que dá para manter na mesma frequência tanto o sinal digital quanto o analógico, sem precisar de um novo canal, como ocorre no caso da TV. O governo, porém, foi pressionado a pensar melhor sobre a questão, em virtude dos problemas detectados no padrão americano, como interferências entre sinais digitais e analógicos e redução no raio de alcance das emissoras.

Com relação à indústria, de olho na possibilidade de troca dos 200 milhões de receptores em funcionamento no país ela está esperando o “sinal verde” para começar suas ações, que provavelmente reaquecerão o mercado. Entre estes aparelhos de troca, estão desde o radinho de pilha até os equipamentos mais sofisticados, como os que vêm incorporados a aparelhos de home theater, por exemplo. Um importante mercado para a expansão do rádio digital é a indústria automobilística, uma vez que os novos veículos já sairiam da fábrica com o aparelho digital. O prazo previsto pela indústria é de cerca de um ano entre a definição das especificações até a colocação do produto na prateleira.

Tecnologia 3D
A tecnologia 3D foi um dos destaques da NAB 2010 e também do Congresso SET. No cinema as produções se preocupam cada vez mais em gerar filmes para o 3D. É possível encontrar no mercado brasileiro de varejo televisores com esta tecnologia, mas as primeiras produções chegam por meio de aparelhos reprodutores de Blu-ray e Videogames. “As emissoras de TV paga ainda estão estudando o modelo de negócios. Não vemos nenhuma movimentação intensa, apenas testes de tecnologia. Com relação à sua transmissão ela já virá na digital e dividirá espaço com a transmissão digital de alta definição.”, explica Antonio.

Para Olímpio, os radiodifusores veem a tecnologia 3D com muita cautela. “Exige muito investimento e dá muito trabalho de produção. Nem tudo é adequado fazer em 3D. Existem dificuldades operacionais e ainda depende da reação de cada indivíduo. Algumas pessoas sentem enjôos e náuseas. Além de tudo os óculos geram dificuldades para sua utilização, principalmente, para quem já usa óculos e para crianças que podem causar distúrbios devido distância intraocular e de também de elevada carga horária em frente às TVs. A indústria já lançou televisores em 3D, porém as produções só existem no exterior. Ainda não existe uma norma mundial definida. Isto exige investimentos e talvez por isso não há perspectivas imediatas das emissoras produzirem em 3D. Apesar de sua transmissão ser digital, mesmo assim depende de norma mais avançada que requeira mais banda do que a capacidade atual de transmissão digital. Do contrário a qualidade será prejudicada”.

Há um grande potencial para o consumo do conteúdo 3D, mas Nelson acredita que os meios mais adequados para a transmissão são os canais por cabo ou satélite e pela internet. Algumas emissoras estão fazendo testes em programas esportivos e eventos e aprendendo os melhores procedimentos para a captação e finalização de conteúdos 3D. Para se atingir um alto nível das melhores práticas ainda é necessário investir no desenvolvimento dos profissionais e no conhecimento do alinhamento dos sistemas. Inicialmente os Videogames e players Blu-ray 3D deverão ser os demandadores desta tecnologia. A TV digital terrestre permite esta tecnologia, mas ao custo de reduzir a qualidade da transmissão de alta definição. Já na transmissão analógica é possível utilizar a transmissão anaglífica com óculos coloridos, mas o resultado é de baixa qualidade e cria desconforto após algum tempo.

Para atender melhor o consumidor, as emissoras deverão continuar a estudar a operação em 3D, observar o que acontece no restante das mídias, como cinema, games, e outros, entender melhor este mercado e investir nesta tecnologia para transmissão a cabo, satélite ou internet. Pois os programas em três dimensões implicam em uma nova forma de filmar o esporte, os documentários e os eventos, e, sobretudo em um custo adicional de 30% a 50%. Para 2011 não há perspectiva de que as emissoras invistam em conteúdo próprio 3D, a não ser como teste e desenvolvimento no conhecimento da tecnologia.

A caminho da interatividade
Com relação a interatividade, na opinião de Olimpio, este tema deveria ter avançado mais. Hoje apenas algumas marcas e poucos modelos possuem a capacidade de rodar o middleware brasileiro Ginga. Por não ser ainda obrigatório que os fabricantes instalem o Ginga em seus sistemas isto tem retardado sua introdução, este cenário pode mudar se o Governo Brasileiro tornar mandatório no ano que vem. A interatividade depende também das emissoras produzirem programas com capacidade interativa. Existem muitos projetos já desenvolvidos pelas emissoras plenamente capazes de atender aos requisitos técnicos e operacionais de um sistema interativo.

Para Nelson, os televisores com o software Ginga integrados estão sendo comercializados e algumas emissoras já oferecem interatividade em esporte e telenovelas. Com os inserts publicitários divulgando a interatividade haverá maior demanda por este serviço. Estamos no início de uma tecnologia que exigirá ainda muito desenvolvimento. Mas a criatividade brasileira indica que, ainda que este serviço não seja sucesso em outros países, o brasileiro gosta de informações imediatas sobre o conteúdo dos produtos. Para a tecnologia de interatividade vingar é uma questão de tempo.

Segundo o diretor de Interatividade da SET e diretor da Quality Software, David Britto, a interatividade foi efetivamente lançada ao público com a oferta de dezenas de modelos de TVs com conversor integrado e com uma implementação DTVi. Entre eles estão os aparelhos da LG, Philips e Sony com modelos à venda em lojas e pela Internet e as perspectivas para 2011 são boas. Mais uma vez a Copa do Mundo de Futebol foi palco para novos experimentos. Vários aplicativos foram colocados à disposição do telespectador e quem experimentou gostou. Novelas, reality shows e o campeonato brasileiro também tiveram aplicações transmitidas e espera-se muito mais para 2011.

Parcerias que dão certo
O governo também é um grande aliado. As empresas ligadas ao setor tem financiamento do Finep, do BNDES, convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex -Brasil), em parceria com o Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel). “Em âmbito internacional nós estamos fazendo um trabalho em parceria com a APEX. Com o auxilio deste órgão é possível participar de vários eventos em países como os Estados Unidos da América, Argentina, Chile, e outros. Tem o Projeto Comprador que nos permite trazer possíveis clientes para conhecer nossa indústria, nossa estrutura, nossos equipamentos e nossas emissoras locais. Com o apoio do governo, nós estamos participando de todas as feiras com o pavilhão Indústria Nacional de Televisão. Este pavilhão abriga de 10 a 12 empresas brasileiras”, explica José Marcos.

Por ser um órgão que trabalha para promover as exportações de produtos e serviços brasileiros, apoiar a internacionalização das empresas e atrair investimentos estrangeiros para o país, a Apex-Brasil acredita que o setor de eletroeletrônicos é fundamental para a economia do país. Por isso investe no setor. “No Projeto Eletroeletrônicos Brasil, desenvolvido em parceria com o Sindvel e com o apoio da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o investimento total é de mais de R$ 7.180.065,64. Desse total, a Apex-Brasil participa com R$ 3 milhões aplicados em dois anos. A previsão é de que 90 empresas estejam participando deste projeto até o final de 2011”, explica consultor técnico da Apex-Brasil.

Para a Apex-Brasil diversos setores industriais fazem uso de equipamentos eletrônicos nos seus produtos e nas suas linhas de montagem e soluções. O Brasil participa hoje do mercado internacional de eletroeletrônicos com produtos de elevado índice de qualidade e inovação e vem conquistando posições importantes em diversos países, especialmente na América Latina. Os equipamentos brasileiros são cada vez mais aceitos pelo mercado. Durante a NAB 2010, em Las Vegas, um consultor ligado ao projeto do Sindvel realizou uma pesquisa para saber qual é a imagem do Brasil neste setor. Na avaliação dos resultados deste questionário, ficou claro que os países latino-americanos estão buscando nos produtos brasileiros, uma alternativa aos equipamentos e soluções produzidos nos Estados Unidos e na Europa, com o mesmo padrão de qualidade e funcionalidade.

Na opinião da equipe técnica da Apex, “o sistema de Televisão digital é um excelente exemplo da capacidade deste setor. Vários países da América Latina já fizeram a sua adesão ao padrão brasileiro de TV digital. Outros, que já haviam optado pelo padrão europeu e americano, estão revendo as suas decisões e considerando a possibilidade de seguir o padrão brasileiro. Isto significa uma excelente oportunidade para as empresas brasileiras nesses mercados”. O Projeto Eletroeletrônicos Brasil tem participado ativamente das ações desenvolvidas em de 2010. A intenção é que um número maior de empresas se junte ao projeto em de 2011.

O grande desafio colocado ao projeto é o de promover a imagem do Brasil como país produtor de tecnologia de ponta com o desenvolvimento de equipamentos com elevado grau de inovação. E o saldo das ações realizadas pela Apex-Brasil é positivo. Foram realizados diversos meios de promoção em 2010 atendendo os segmentos de energia, telecomunicações, automação, segurança, radiodifusão, tecnologia da informação e eletromecânicos. No total, o Brasil participou de sete feiras técnicas, nos Estados Unidos, Chile, Colômbia, Argentina e México, de três Projetos Compradores associados às principais feiras nacionais do setor e dois Projetos Vendedores na Colômbia e nos Estados Unidos.

Em outubro de 2010, dentro do Projeto Eletroeletrônicos Brasil, foi promovido o Projeto Vendedor, em Miami. Além disso, também foram abertos dois escritórios para as ações de prospecção dos mercados. Um no Centro de Negócios da Apex- Brasil, em Miami, e outro na Cidade do México. Esses escritórios terão a finalidade de representar as empresas do setor na identificação de oportunidades nos mercados das Américas e de buscar informações que permitam maior precisão na elaboração de estudos de inteligência comercial e competitiva.

Tendo em visto a crescente participação do Brasil no mercado de eletroeletrônicos os representantes da Apex-Brasil esperam que novas empresas entrem no projeto e que as exportações do setor possam reverter a tendência atual e diminuir a dependência do país na importação de insumos eletrônicos. “No ano de 2011, repetiremos as ações de 2010, buscando a consolidação dos mercados trabalhados e a ampliação na rede de representantes das empresas participantes. A ampliação no número de países que adotaram o padrão brasileiro de TV digital também poderá orientar as ações do projeto para a colocação dos produtos de radio difusão nestes mercados”.

Perspectivas otimistas
Em entrevista à revista Conjuntura Econômica, em junho deste ano, o diretor de Planejamento do BNDES, João Carlos Ferraz, disse que de acordo com o último levantamento do Banco Central vislumbra-se um crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo a uma taxa mais de três vezes superior à do crescimento do PIB, no período de 2010 a 2013. “Hoje, as perspectivas de investimentos na indústria e infraestrutura já são melhores do que antes da crise — o total esperado de 2009 a 2012 é de R$ 859 bilhões, contra R$ 781 bilhões, em agosto de 2008”.

Os dados acima e a preparação dos eventos da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e Olimpíadas em 2016 só reforçam a razão de o setor estar bastante otimista para a próxima década. A radiodifusão vive da publicidade e como o mercado publicitário continuará crescendo em 2011, pois a cada ponto percentual do PIB a publicidade cresce 3 pontos e como a estimativa de crescimento do PIB é de 4,5%, o investimento em publicidade deverá aumentar em 12%, o que resultará 2011 como mais um ano altamente promissor para os radiodifusores. “Os impactos econômicos também estarão devidamente refletidos no PIB brasileiro, que deverá apresentar crescimento mínimo de 1%, envolvendo um movimento de capital da ordem de 100 bilhões de reais ou mais. Até lá a Televisão digital estará disseminada no Brasil e estes eventos serão uma grande oportunidade para a utilização da tecnologia 3D”, resume Nelson.

Para Olimpio continuam boas e com possibilidades de crescimento, principalmente devido a Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas no Brasil. José Marcos: As previsões são bastante otimistas para os próximos anos, pois já há pelo menos quatro anos o setor industrial de equipamento começou a trabalhar no desenvolvimento de equipamentos para a TV digital, fazendo pesquisa, se interagindo do sistema, da implantação e agora da implementação. Até o ano passado os equipamentos eram importados e caros. A partir deste ano nós começamos a trabalhar com a interiorização do sistema e levar os sinais para regiões do interior.

Os trabalhos para a expansão do sistema digital vão além dos grandes centros. As concessões de frequência para a transmissão em digital terrestre estão sendo liberadas fora dos grandes centros, e de acordo com Nelson, o sinal já está chegando em 24 capitais e 25 cidades do interior. Conforme disposto na Portaria do Ministério das Comunicações no. 652 de 10 de outubro de 2006, até 2013 as demais geradoras e retransmissoras deverão ser convertidas para TV digital. Como são mais de 500 emissoras e 10.000 retransmissoras, há uma estimativa de que para digitalizar tudo isso demandará cerca de US$ 2 bilhões para as emissoras e mais US$ 7 bilhões para a substituição dos receptores analógicos.

No tocante à TV digital, o principal desafio é a redução do custo de produção e de distribuição do set-top box. Para o assessor especial da Casa Civil, André Barbosa, R$ 237 é um valor muito alto para o consumo das classes D e E. Ele calcula que, só para essas duas classes sociais, exista um mercado de 15 milhões de famílias para adquirir o equipamento. Segundo o Ministério das Comuni cações , o objetivo é que o equipamento a preços mais acessíveis comece a ser vendido no mercado entre março e abril de 2011.

Olímpio acredita que para o próximo ano, as perspectivas de mercado para a TV digital sejam a continuidade das implantações das estações de transmissões, incluindo-se a interiorização das transmissões para cidade médias e pequenas. “Existe um Plano Nacional de Canalizações que possui canalizações digitais para serem pareadas com os atuais em, praticamente, todas as cidades do país. Basta que cada emissora apresente seu projeto de implantação”. Para Nelson, “uma vez que para 2011 a estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, é de 4,5%, o cenário é propício para a propagação da TV digital no Brasil”.

“Para o próximo ano as empresas esperam que 90% dos televisores saiam das fábricas já com o conversor. Além da maior produção dos aparelhos com conversores, as vendas de televisores seguirão com altas taxas de crescimento devido à queda dos preços dos produtos. Segundo dados do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre, desde o lançamento da TV digital, em dezembro de 2007, o valor dos receptores caiu cerca de 40%. Além disso, as empresas têm realizado ações nos pontos de venda para instruir a utilização dos novos aparelhos e mostrar ao público as diferenças entre os sinais analógico e digital”, explica Nelson.

Para Antonio João Filho, no próximo ano haverá cada vez mais demanda pela TV digital, seja ela aberta ou paga. O que será diferente é a velocidade de adoção, pois dos setores de TV paga aquele que mais cresce é o satelital Direct To Home (DTH) e que por definição já é digital e oferece grande quantidade de canais de alta definição. A tecnologia 3D que está chegando ao mercado também é uma oportunidade de oferta de novos serviços aos clientes. Mas ainda é preciso definir o modelo de negócios e o padrão técnico a ser utilizado. Os receptores de TV paga de alta definição já estão preparados para distribuir este tipo de conteúdo”.

Telecomunicação Se Destaca Em Pesquisa
Após dois anos e meio de trabalho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em outubro de 2010 os resultados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) realizada com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT. Na PINTEC 2008 os resultados foram divulgados segundo a nova classificação nacional de atividades econômicas – CNAE 2.0, tendo como universo de investigação as atividades das indústrias extrativas e de transformação, os serviços selecionados (edição, telecomunicações e informática) e o setor de pesquisa e desenvolvimento.

Pela primeira vez, na pesquisa considerouse a área de serviço e mostrou que o setor de telecomunicações foi um dos que mais investiu em inovação tecnológica. Essa é a quarta pesquisa de inovação realizada pelo IBGE que tem como objetivo fornecer informações para a construção de indicadores das atividades de inovação das empresas brasileiras. De acordo com representantes do IBGE, as informações da Pintec contribuem para ampliar o entendimento do processo de inovação tecnológica nas empresas brasileiras.

Os dados da pesquisa mostram que, com a economia favorável e crescente, mais empresas investiram em inovações tecnológicas no país entre 2006 e 2008. O percentual de empresas inovadoras atingiu 38,6%. O investimento total delas em atividades inovadoras alcançou R$ 54,1 bilhões em 2008, cerca de 2,85% do seu faturamento. Pela primeira vez, O IBGE pesquisou os segmentos de informática, telecomunicações e edição e constatou que 46,2% fizeram inovações tecnológicas.

Na indústria, os setores que gastaram proporcionalmente mais com inovação são: fabricação de outros equipamentos de transporte (5,1% do faturamento), fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (4,9%), impressão e reprodução de gravações (4,4%), fabricação de automóveis, camionetas e utilitários, caminhões e ônibus (4,2%), fabricação de produtos diversos (4,1%), fabricação de equipamentos de comunicação (3,8%), e fabricação de outros produtos eletrônicos e ópticos (3,6%).

Dos dez setores que mais gastaram, três são da área de serviços: tratamento de dados, hospedagem na internet e outras atividades relacionadas (6,5%), telecomunicações (4,6%), desenvolvimento e licenciamento de programas de computador (3,8%).

 

Gilmara é editora da Revista da SET. e-mail: [email protected]