Delegação Brasileira tem evento especial no IBC 2010

IBC 2010
O interesse pelo Brasil está crescendo a cada ano e uma boa demonstração disto é o fato de uma parte da indústria de radiodifusão estar reforçando sua atividade em nosso país, com ampliação de quadros e investimento em eventos. Os espaços exclusivos para brasileiros em eventos internacionais são a prova disto. Admirados com o sucesso do café SET e Trinta, que acontece para a delegação brasileira na NAB, em Las Vegas, os organizadores do IBC 2010 (International Broadcast Center) seguiram o exemplo e ofereceram um espaço exclusivo para os brasileiros que participaram do evento este ano.

Foi um café da manhã com programa muito bem elaborado, com sessão de perguntas e respostas e a participação de representantes do IBC e da EBU (European Broadcasting Union). Também esteve presente o ilustre homenageado do evento, Manolo Romero. No encontro, foram discutidos os desafios de promover e realizar um evento como as Olimpíadas em nosso país. Na sessão de perguntas e respostas o foco se deu em torno de: “Como os broadcasters, no Brasil, podem se preparar para ajudá-los durante as olimpíadas? Qual o maior entrave para entrega de conteúdo 3D nas Olimpíadas de Londres. A produção ou a distribuição?”. O vice-presidente da SET, Olímpio Franco, afirma que, “dentro do que foi discutido e questionado, são bastante auspiciosas as perspectivas para as Olimpíadas de 2012, no entanto, não acredita-se em 3D em Olimpíadas com as tecnologias atuais”.

A presidente da SET, Liliana Nakonechnyj, descreve como foi o encontro: “Um dos organizadores do evento, Peter Owen, fez a abertura, dando um panorama geral sobre o evento e ressaltando os temas de maior interesse. Manolo Romero – responsável há muitos anos pela produção de televisão das Olimpíadas – falou sobre a importância dos Jogos Olímpicos e seu legado para os países anfitriões, os principais desafios que costuma enfrentar e algumas de suas expectativas para as Olimpíadas de Londres, em 2012, e as do Rio de Janeiro, em 2016. Em seguida, um representante da prefeitura de Amsterdam, que patrocinou o café-damanhã, nos mostrou a infraestrutura da cidade para receber visitantes, em especial durante o IBC, e deu boas vindas aos brasileiros”.

Segundo a diretora de eventos da SET, Daniela Souza, “é fundamental para o momento que vivemos as oportunidades criadas diante de dois grandes eventos que ocorrerão no Brasil: Copa do Mundo e as Olimpíadas 2016. Além disto, a reunião de brasileiros em um evento como o IBC fortalece nossa imagem como um país em desenvolvimento, que possui o melhor sistema de TV digital do mundo e está influenciando o processo de decisão de inúmeros outros países, além de ajudar na fomentação da indústria local”.

Para o vice-presidente da SET, Olímpio Franco, “é muito importante ter esses encontros em eventos internacionais. Primeiro por haver um ponto de encontro, com todas as vantagens que isto representa. E além de tudo, aproveitarmos os conteúdos de palestrantes europeus que nem sempre comparecem à NAB. Eventos como o SET e Trinta, na NAB, e agora, este do IBC, são oportunidades de acesso a muitos palestrantes, que dificilmente, viriam ao nosso país. Além de tudo, destacar o que a feira está mostrando”.

Liliana lembra que, “a SET tem como missão proporcionar aos profissionais de engenharia de televisão informações e conhecimento que lhes permitam, permanentemente, melhorar sua atuação profissional. Prover um ponto de encontro em um evento internacional do porte do IBC ajuda os associados a trocarem experiências sobre tecnologias interessantes em exposição, ou sobre palestras ou discussões especialmente úteis para o mercado brasileiro”. Cerca de cem profissionais brasileiros participaram do encontro que aconteceu nas instalações do IBC, entre os dias 09 e 14 de setembro, em Amsterdam.

O grande homenageado
O espanhol Manolo Romero, diretor executivo da Olympic Broadcasting Services, foi o grande homenageado do IBC 2010. Ele recebeu o maior prêmio da conferência, IBC International Honour for Excellency. Nascido em Sevilla, Manolo começou sua carreira como engenheiro da emissora nacional espanhola TVE, em 1965, e, em 1968, começou a fazer a cobertura televisa de todos os Jogos Olímpicos de Verão e Inverno. Atualmente, trabalha pelo Comitê Olímpico Internacional, orientando a emissora anfitriã para garantir a cobertura dos jogos para todos.

Em seu discurso de agradecimento, Manolo disse: “Eu tenho muita sorte de trabalhar em vários eventos esportivos. Eu sou humilde, porque é só com a ajuda de muitos pioneiros e inovadores da nossa indústria que conseguimos o progresso e temos dado passos importantes no desenvolvimento da cobertura esportiva da televisão. Estou honrado de aceitar este prêmio, mas eu gostaria de dedicá-lo a todos os amigos e colegas que têm trabalhado em conjunto conosco ao longo dos anos. Obrigado!”.

Sobre a premiação de Manolo, Liliana elogia o homenageado. “A produção televisiva das Olimpíadas é um enorme desafio, pois dezenas de competições ocorrem simultaneamente e são exibidas por emissoras do mundo inteiro. Ou seja, é um evento de complexidade ímpar. Os Jogos Olímpicos ocorrem a cada dois anos – alternando Jogos Olímpicos de Verão com os de Inverno. Entre cada edição de jogos, ocorre a preparação para o próximo. Durante os jogos, são necessários dezenas de milhares de profissionais, que são recrutados no país anfitrião e treinados para trabalhar no evento. A atividade de Manolo Romero junta conhecimento tecnológico de ponta na área de produção e transmissão de televisão, um planejamento complexo e execução de treinamento, deixando um legado fantástico de conhecimento aos países onde ocorrem as Olimpíadas”.

Na opinião de Daniela, o fato de Manolo Romero receber esta homenagem é fantástico! “Não apenas pela importância que este profissional tem desde quando iniciou sua atividade como engenheiro, na Espanha, mas principalmente pela sensibilidade de entender que o maior evento mundial mobiliza milhares de profissionais e repercute nos quatro cantos do planeta tem um impacto social e econômico muito grande, principalmente, em nações menos favorecidas. Isso o obriga a pensar em cada projeto de engenharia de forma mais ampla, entendendo que o conteúdo deve chegar em formato próprio para o mundo, pois ainda há centenas de países transmitindo em analógico no formato 4:3”.

Este ano as discussões e exibições na IBC (International Broadcast Conference) giraram em torno do tema 3D. É um caminho sem volta. Foram exaustivamente debatidas e questões como problemas com dificuldade de percepção de imagens 3D em uma parcela da população não serão obstáculo à implantação da tecnologia, já validada e aprovada pelos consumidores nos cinemas; como atestam as filas para as sessões 3D…

Voltando a discussão para o software, no lado da estação o que se discutiu e foi mostrado na feira foram as adaptações nos softwares de suporte a edição e gestão de produção para suportar 3D. Porém, cabe chamar a atenção para uma iniciativa que me parece fundamental, pois, tem um impacto importante no bolso dos compradores e nos custos dos fornecedores. Esta iniciativa é uma tentativa de padronização de interfaces dos componentes usados no workflow de produção: codificadores, transcodificadores, softwares de edição, sistemas de arquivos, subsistemas de ingest, subsistemas de distribuição, etc. Gestado no contexto da Advanced Media Workflow Association (AMWA), o Framework for Interoperability of Media Services (FIMS) é uma tentativa de padronização dos serviços oferecidos por produtos de companhias como Adobe, Avid, BBC, Cinegy, IBM, Discovery, Harris, Sony, RedBee, entre outras. Estas companhias estão discutindo e propondo interfaces padronizadas que viabilizarão a integração de produtos de fornecedores diferentes em workflows de produção de conteúdo para televisão e cinema.

Na recepção, o cenário na Europa está, definitivamente, indefinido. Para entender as diferentes iniciativas que disputam o controle da distribuição de software para receptores de televisão é preciso discutir um pouco modelos de negócio. A plataforma de software instalada no receptor viabiliza a execução de aplicações na sala de estar, espaço até o momento ocupado, exclusivamente, pelos conteúdos audiovisuais. A questão que se coloca é qual será o valor de um serviço de distribuição de software para as salas de estar, de quem já possui computador, e para as casas de quem ainda não possui computador, com a conseqüente inclusão digital. Esse serviço, no futuro, poderá ter um papel importante como fonte complementar de receita para os radiodifusores . Então, as perguntas que se colocam são: quanto custará um serviço que viabilizará a distribuição e execução de um software, por exemplo, para 2 milhões de residências em São Paulo? E, como conseqüência, quem são os candidatos a prestar esse NOVO serviço?

Quanto ao custo, é difícil nesse momento estimar valores, porém, em minha opinião se aproximará do valor hoje praticado para distribuir e exibir publicidade audiovisual. Mas, essa é minha opinião… Quanto aos candidatos temos os radiodifusores, operadores de televisão paga e fabricantes de receptores.

Começando de trás para frente, a Apple criou um modelo de distribuição de software e conteúdo para suas plataformas de hardware que é um esplendoroso sucesso. É obvio que todos os que fabricam receptores ou software para receptores queiram seguir o exemplo, implementando suas “lojas”, que, no fundo, são uma interface para suas respectivas infraestruturas de armazenamento e distribuição de software. Algumas dessas lojas são baseadas em plataformas de programação proprietárias, neste caso, só parceiros dos fabricantes conseguem desenvolver e distribuir aplicações. Outras são baseadas em plataformas abertas como Android e Ginga. Nestas a distribuição das aplicações é controlada e é preciso remunerar a loja pelo serviço. Este modelo tem uma variante que é a “TV Conectada” onde o usuário navega – “porém nem tanto” – em sites controlados pelo fabricante dos receptores.

Os operadores de televisão paga ao escolherem os fornecedores de hardware e software dos receptores que usam em suas redes e, portanto, definem se liberam esse serviço para os fabricantes ou se eles mesmos o controlam criando suas próprias infraestruturas de distribuição e execução de aplicações.

Por fim, os radiodifusores. Estes, em países como o Brasil, possuem um trunfo que é a escala de distribuição. Só eles conseguem distribuir software instantaneamente para milhões de receptores em uma cidade, estado ou país. Porém, “não adianta falar para quem não consegue escutar”. Ou seja, se os receptores não forem capazes de entender e executar o software distribuído, nada acontece! Assim, a distribuição feita pelos radiodifusores só tem “valor financeiro” se os receptores forem “interativos”. Para viabilizar o negócio é necessário que seja definido, implementado e divulgado um novo produto: o receptor interativo. Se a polução que é responsável pelo investimento na compra do receptor, efetivamente comprar esse produto, ai sim, o ativo está criado e os radiodifusores terão um novo e precioso produto para comercializar: a distribuição de software em suas áreas de concessão.

Na Europa o cenário está completamente inde- finido. Várias iniciativas distintas estão em competição aberta pela conquista de espaço: o MHP (Multimedia Home Platform) é usado na Itália, Áustria, Noruega e Espanha; França e Alemanha trabalham no lançamento de plataformas baseadas no HbbTV (Hybrid broadcast broadband TV); os Ingleses trabalham com MHEG-5 (Multimedia and Hypermedia Expert Group – Part 5) e Canvas; a Google, primeiro gingante da Internet a entrar na “disputa pela sala de estar”, anunciou o Google TV embarcado em receptores de parceiros; por sua vez, os fabricantes de receptores continuam buscando espaço com plataformas proprietárias, na tentativa de transformá-las em padrões de facto…

Em artigo publicado no “IBC Daily News”, Peter MackAvock, agora trabalhando para a EBU (European Broadcasting Union) resumiu: “Well I had a dream – a single pan-European set of standards that addressed the different market requirements” – que em português quer dizer “Bem, eu tive um sonho – um padrão pan-Europeu único que enderece os diferentes requisitos do mercado”. Lá o sonho está longe de virar realidade.

No Brasil e nos países, que seguem adotando o Ginga, ainda há esperança para os radiodifusores. O padrão de jure está definido e publicado na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e no ITU (International Telecommunication Union). Os primeiros produtos começam a chegar ao mercado. Resta agora convencer a população que vale a pena comprar os receptores Ginga. Se isso for feito os radiodifusores terão um novo ativo para comercializar: a distribuição de software para a sala de estar!

Guido é professor do Departamento de Informática da Universidade Federal da Paraíba e coordenador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAVID). email: [email protected]