Congresso NAB: TV Híbrida também no mercado norte-americano
So Vang apresentou à reportagem da Revista da SET como funcionará a TV hibrida nos Estados Unidos. Esta prevê a personalização do conteúdo e da publicidade por gênero, idade e região
Nº 150 – Abril/Maio 2015
REPORTAGEM
De pequenas apresentações no congresso de 2014 para sessões e testes em 2015, o sistema híbrido de televisão vem ganhando destaque e já se mostra como grande tendência para a TV mundial
Durante o SET e trinta de 2014 a sessão “Desafios e oportunidades para a televisão” coordenada por Liliana Nakonechnyj (SET), abordou temas como a segunda tela e a evolução do padrão ATSC 3.0. Naquela ocasião, Rich Chernok, engenheiro da Triveni Digital e principal responsável pelos grupos de estudo do novo padrão americano, apresentava quais seriam as características do novo sistema.
Dentre eles, Chernok apontava para a possibilidade do novo padrão utilizar o sistema broadcast e broadband em emissões integradas, ou seja, a TV híbrida. De poucas apresentações como esta, o que se pode perceber no congresso NAB 2015 foi um aumento considerável nas discussões sobre este formato de transmissão.
Várias sessões abordaram as questões que envolvem a TV Híbrida, desde os aspectos técnicos, aos modelos de negócio diretamente ligados a ela.
A própria NAB em seu stand tecnológico, NAB LABS, apresentou um sistema híbrido que estará disponível para o público em 2016 quando o ATSC 3.0 for implementado. Este sistema integra a emissão tradicional pelo ar com a conectividade via rede, trazendo benefícios tanto para o emissor, quanto para o telespectador, principalmente pela personalização dos serviços oferecidos pela transmissão. Ao iniciar o sistema híbrido o usuário é convidado a informar seu gênero, idade e o CEP de seu endereço. Desta forma ele recebe publicidade direcionada para sua região, alertas de catástrofes e conteúdo interativo via segunda tela.
A FOX Sport preparou um conteúdo específico para esta apresentação com aplicações interativas para segunda tela, inclusive com anúncios publicitários diferenciados entre a programação broadcast e o conteúdo viabroadband.
Mas a TV norte-americana não é a primeira a apresentar sua solução híbrida para a radiodifusão. A NHK (Nihon Hoso Kyokai) desde 2013 já oferece seu sistema híbrido no Japão e vem aperfeiçoando o sistema para ser utilizado com as futuras transmissões em 4K e 8K, aproveitandose do tamanho dos aparelhos, com telas gigantes capazes de fornecer várias informações ao mesmo tempo e transmitindo simultaneamente imagens em Ultra Alta Definição e imagens broadband Full HD. O sistema apresentado por Shinya Takeuchi, engenheiro da NHK, utiliza a tecnologia de transmissão MMT – MPEG Media Transport – com especificação ISSO/IEC 32008-1 e ARIB STD-B60.
O sistema foi adotado como padrão para o transporte de mídia nos testes de satélite em 8K em 2016.
A emissora pública japonesa afirma que o sistema permite a integração entre os serviços broadcast ebroadband com baixa latência, sincronização otimizada, conteúdo para segunda tela e close-captioncom suporte a vários idiomas. A transmissão híbrida em telas de Ultra Alta Definição (UHD) permitirá acompanhar eventos em altíssima qualidade via transmissão broadcast e ao mesmo tempo imagem, viabroadband, em resolução menor do mesmo evento, mas em ângulos ou pontos de interesses diferentes da transmissão principal.
Além disso, as grandes telas permitirão o uso de textos de fácil leitura e assimilação com estatísticas, salas de bate-papo, mensagens de prestação de serviços, alertas e close-caption e, evidentemente, interatividade via conteúdo para segunda tela.
Além de soluções técnicas mais aprimoradas para o sistema híbrido de transmissão, o congresso este ano também apresentou alternativas para implantação de modelos de negócios associados à TV híbrida.
Ao integrar o mundo broadcast com o mundo IP, este novo canal de distribuição não pode ser visto apenas como uma nova plataforma de distribuição eficiente, de menor custo e de prestação de serviços. Ao utilizarem o mundobroadband para alcançar as audiências a indústria de televisão irá se deparar em um terreno novo, completamente diferente do espaço limitado ofertado pelo espectro.
E uma destes novos terrenos é a chamada Internet das Coisas.
Na sessão “Broadband and the Internet of Things: Realities and Myths”, estes tópicos foram levantados e discutidos durante mais de uma hora e meia de sessão. Um dos principais pontos em comum entre os debatedores é que a Internet das Coisas é algo que irá fazer parte da vida das pessoas de uma maneira simples e desapercebida. Ela estará em nossos escritórios, casas, carros e se a televisão não incorporar esta realidade ela perderá valor para muitas pessoas. Principalmente a TV broadcaster, pois diversos dispositivos conectados à internet hoje e no futuro, irão oferecer o conteúdo antes transmitido apenas pela televisão terrestre. Pesquisas apontam que até 2020 a população mundial atinja a marca de 7.5 bilhões de pessoas e 85% delas (6.4 bilhões) serão afetadas diariamente pela Internet das Coisas.
Bob Harrison (Symphony Teleca) afirmou na sua alocução que a integração entre a televisão e a Internet das Coisas agrega valor para o espectador, para o radiodifusor e para o anunciante. Como? Para o espectador, fazendo a transmissão pelo ar fornecer uma experiência mais significativa do que a transmissão pelo cabo, satélite ou IP, com conteúdo interativo, personalizado e no momento desejado por ele e em qualquer lugar, sem a necessidade de aplicativos móveis e com a gratuidade do sistema broadcast. Para o radiodifusor, a possibilidade de controle e acumulo de informação de dados de uso dos espectadores o que pode alavancar o valor dos espaços comerciais com publicidade dirigida para espectadores anônimos ou logados nos sistemas. Para os anunciantes nacionais e locais, medição em tempo real das ações dos espectadores, ações crossmídia, mais pessoas frente à televisão com experiências personalizadas. Principalmente para os anunciantes locais, na opinião de Harrison.
Para o mercado norte-americano de televisão a TV híbrida pode representar uma virada nos negócios que envolvem a primeira e segunda tela.
Como naquele país o ecossistema da segunda tela é bem desenvolvido e já apresenta perspectiva de mercado de US$ 6 bilhões de dólares para 2017, a TV híbrida encontrará um ambiente muito favorável para adoção da audiência e das empresas que comercializam conteúdo para outros dispositivos, pois a segunda tela é parte integrante do sistema híbrido com conteúdo personalizado e interativo.
Não por acaso, algumas sessões realizadas no congresso já tratavam como TV híbrida qualquer interação entre o usuário e a televisão broadcastpromovida por ações via internet e não necessariamente uma transmissão simultânea como nos sistemas japonês (Hybridcast) e europeu (HbbTV).
Monetização das OTTs
Como forma de aproximar empresas desenvolvedoras de soluções de conteúdo e monetização, a NAB realizou a terceira edição da SPROCKIT.
Uma startup que vem promovendo empresas escolhidas por líderes da indústria broadcast para se apresentarem na feira. A SPROCKIT fornece a empresários ampla exposição e cria condições para que as empresas possam apresentar suas inovações focadas em novos formatos e modelos de negócios aplicados principalmente às plataformas digitais, on-demand, Over-the-Top (OTT) e segunda tela. Empresas como a Spot.tv que é uma plataforma de medição em tempo real da propaganda na TV nacional que mensura as ações digitais entre as principais plataformas de vídeo, redes sociais e de pesquisa.
Além da Videogram, uma plataforma que analisa qualquer arquivo de vídeo e gera novos arquivos com tamanho e resolução adequadas em sites, redes sociais, banners de anúncios, transmissões ao vivo, guias de programação e aplicativos aumentando o engajamento e otimizando o compartilhamento e monetização do vídeo online. Pequenos exemplos que demostram que não se pode tentar aplicar o modelo de negócios antigo das mídias de massa às novas plataformas de distribuição e ao mundo IP que está tomando forma.
É provável que todos os membros da delegação brasileira que se hospedaram em um dos hotéis cassinos de Las Vegas experimentaram a TV por IP disponível para os hóspedes.
Não há mais televisores ligados a cabos ou com set-top boxes nos quartos dos hotéis como em 2014.
A programação da TV é distribuída pela rede Ethernet e o aparelho de televisão é utilizado para serviços de checkout, vídeo on-demand, informações das condições do tempo, chegadas e partidas dos voos no aeroporto principal da cidade e um guia de canais com as principais emissoras nacionais e o canal local de Las Vegas. Não se trata de uma emissão híbrida, mas já demonstra que a televisão pelo ar nos Estados Unidos será cada vez mais pressionada a migrar para o mundo IP.
Congresso NAB 2015: FCC mantem compromisso com a radiodifusão dos Estados Unidos
NAB 2015
Paralelo as questões tecnológicas e econômicas, a regulamentação do uso do espectro é um problema mundial. Com desafios em várias frentes, a indústria broadcasting ainda tem pela frente algo que define sua própria existência: a transmissão terrestre pelo ar. Por isso, importantes setores do sistema broadcaster tem unido esforços para otimizar o uso de um espaço que é finito e muito valioso. Assim, quando ninguém menos de que o Chairman da Federal Communications Commission (FCC) profere seu discurso em um congresso da importância da NAB, os executivos mais importantes das maiores empresas mundiais envolvidas no ecossistema televisivo ouvem-lo, porque Tom Wheeler, tem sob seus ombros a responsabilidade do que virá a ser a televisão broadcaster no futuro. O que em alguns aspectos, também definirá o que virá a ser a televisão mundial. Sob a decisão da FCC está o futuro de uma indústria que emprega mais de 3 milhões de pessoas nos Estados Unidos e que fatura mais de 1 trilhão de dólares. E Wheeler disse aquilo que os radiodifusores norte- -americanos queriam ouvir. Principalmente no que diz respeito ao leilão marcado para 2016. “Após cinco anos de especulação sobre o Leilão de Incentivo, que está prestes a acontecer, eu não poderia estar mais satisfeito porque a indústria de radiodifusão, está envolvida em um diálogo produtivo com a FCC sobre isso. Nós estamos fazendo todos os esforços para fornecer informações sobre como vai funcionar, incluindo estimativas dos potenciais benefícios financeiros do participante. No ano passado, eu descrevi o leilão como uma oportunidade única, praticamente livre de risco para expandir o seu modelo de negócio. Eu não vejo nenhuma razão para alterar essa conclusão”, afirmou. Outro ponto que vai ao encontro do pensamento dos radiodifusores é quanto ao uso da televisão broadcaster como agente local de informação e nos sistemas de alertas.
“Emissoras locais de Radio e TV ainda são as mais importantes fontes de notícias em cidades e bairros. As emissoras são o primeiro lugar que nos voltamos em momentos de emergência. As emissoras também desempenham um papel fundamental na economia local, conectando as pessoas com as empresas e viceversa como poucos outros meios podem fazer. O broadcasting é uma parte importante do nosso futuro, assim como fora uma parte indispensável do nosso passado. A partir de uma perspectiva histórica, a radiodifusão tem contribuído imensamente para fornecer a nossa sociedade excepcionalmente diversa, um senso de comunidade e sentido de compartilhamento”.
Congresso NAB 2015: Impactos do MER debatidos por brasileiros em Las Vegas
A interiorização da TV Digital no Brasil foi tema de palestras durante uns dos principais congressos de engenheira do mundo, o Congresso NAB que se realiza anualmente em Las Vegas
NAB 2015
Na tarde de terça-feira, 14 de abril de 2015, José Frederico Rehme (diretor de Ensino da SET/RPC TV) ministrou a palestra “Influência do MER vs. Área de Cobertura” onde explicou aos presentes os motivos pelos quais durante muito tempo observou o impacto do TX MER na capacidade de recepção de TV Digital e como isso ajudou a emissora a “interiorizar a TV Digital no Estado do Paraná”
No marco do Broadcast Engineering Conferenceorganizada pela National Broadcasting Association (NAB) Rehme disse que a pesquisa permitiu estabelecer o error do vector que provoca a degradação do sinal de TV Digital. Para isso o engenheiro trabalhou o conceito do MER e discutiu que tipo de MER precisa ser recebida pelo telespectador para ter um boa sinal de TV Digital. No Las Vegas Convention Center, o pesquisador paranaense disse que foi preciso reduzir os parâmetros do MER para, entre outras coisas, evitar a distorção, e isso é possível mediante MER (Tx), MER (Rx), e no canal o que pode reduzir o MER e aumentar a eficiência energética dos equipamentos gerando um aumento do espaço, no tamanho do sinal e reduzindo os custos. O diretor de Ensino da SET afirmou na sua palestra em uma das salas do Congresso NAB 2015 que as emissoras precisam avaliar as condições de emissão e recepção e a partir disso tomar decisões sobre que tipo de MER deve ser transmitido. Para isso realizou estudos em laboratório e no campo em Curitiba, Paraná onde é Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações na RPC (Rede Paranaense de Comunicação), Curitiba, Paraná.
Rehme disse, ainda, que o mais “importante é ter uma meta numérica para os parâmetros técnicos, especialmente MER, e o conhecimento da influência deste número no desempenho global de TV Digital”, porque com isso podemos ter melhores resultados.