COMEÇAM AS TRANSMISSÕES DIGITAIS NO BRASI

ESPECIAL
COMEÇAM AS TRANSMISSÕES DIGITAIS NO BRASIL
APÓS 16 ANOS DE ESTUDOS E APERFEIÇOAMENTOS DO SISTEMA BRASILEIRO DE TRANSMISSÃO DIGITAL TERRESTRE, A TV DIGITAL ESTRÉIA EM SÃO PAULO.
Da Redação
Domingo, 2 de dezembro de 2007 – Cinqüenta e sete anos após ser lançada no Brasil e trinta e cinco anos após ganhar cores, a televisão brasileira entra numa nova era, a era digital. Como palco desse marco histórico, a majestosa Sala São Paulo, que com um seleto grupo de convidados, inaugurou oficialmente a transmissão digital no Brasil.
Sob o olhar especial de jornalistas, radiodifusores, representantes da indústria de recepção, transmissão, universidades envolvidas no processo de desenvolvimento do sistema digital e do Governo Federal, Ricardo Boechat, da Bandeirantes; Heródoto Barbeiro, da TV Cultura; William Waack, da TV Globo; Marcos Hummel, da Record; Rodolfo Gamberini, da Rede TV e Carlos Nascimento, do SBT, conduziram juntos, numa representativa bancada de telejornal, a abertura do evento, dando breves explicações sobre a TV digital.
Ficou a cargo do ator Marco Marcondes, que interpreta o pai Fernando, da família
Durante pronunciamento em rede nacional, o presidente Lula anunciou incentivo de
R$ 1 bilhão para  implantação da  tecnologia digital.
Nascimento, ícone da campanha de divulgação da tecnologia digital, introduzir a fala do presidente da SET e do Fórum Brasileiro de TV Digital, Roberto Franco.

Num discurso emocionado, Roberto Franco lembrou todos que contribuíram para que a televisão brasileira fosse considerada uma das melhores do mundo e afirmou que o processo de implantação da TV digital no Brasil “prova que os interesses do povo podem estar acima de interesses particulares e implicações do mercado, cada vez mais competitivo e exigente”, além de ser fruto da “competência e do trabalho extraordinário” de entidades de diferentes setores.
Roberto Franco enfatizou o trabalho do Fórum Brasileiro de TV Digital, que em um ano escreveu mais de 2 mil páginas de normas e especificações e parabenizou a inteligência brasileira, pelo desenvolvimento de equipamentos de recepção, transmissão e aplicações, que permitiram o início das transmissões simultâneas de ao menos oito emissoras na data da estréia.
Em seguida, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, destacou, em rede nacional, o uso social da nova tecnologia, como por exemplo a possibilidade da população conseguir acompanhar a programação gratuita da televisão em alta qualidade pelo celular, no carro, ou em casa, sem fantasmas e sem chuviscos e ainda ter acesso ao envio e recebimento de informações, checar serviços públicos e marcar consultas médicas.

A ministra falou também da maturidade institucional alcançada pelo sistema brasileiro, em articulação entre o Conselho Interministerial de Desenvolvimento da TV Digital e o Fórum Brasileiro de TV Digital. “A capacidade demonstrada por esses dois organismos de somar esforços, agregar, respeitar interesses diferentes e superar com tenacidade os obstáculos, asseguram a continuidade do sistema e sua implantação, que será uma realidade nos próximos meses em todos os estados da federação”, concluiu.
O ministro Hélio Costa, figura sempre presente nos eventos da SET, prosseguiu no discurso em rede nacional, dando ênfase para a interatividade proposta pelo Sistema Brasileiro de TV Digital, que é o “mais avançado do mundo, com as melhores ferramentas dos padrões japonês, europeu e americano, e com a marca da criatividade brasileira”. De acordo com o ministro, a interatividade que ainda engatinha nos Estados Unidos e Europa, já é tecnicamente possível e se ampliará através de um sistema inovador de Internet de alta velocidade, que

Roberto Franco (SBT), Fernando Bittencourt (Globo) e Hélio Costa
(ministro das Comunicações) eufóricos com o lançamento da TV digital.
cobrirá todo o território nacional. “Os programas de educação à distância e comércio eletrônico, têm que ser desenvolvidos pelas nossas universidades e empresas, para atender às nossas necessidades”, pediu.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalizou o discurso afirmando que a TV exerce um papel decisivo na integração nacional, promovendo a comunicação em todas regiões do Brasil e a valorização da língua portuguesa, além de consolidar, ou mudar hábitos e costumes. “A era digital representa um passo à frente nessa caminhada e suas inovações podem fortalecer ainda mais a vocação integradora da TV. Para isso, é preciso que a nova TV digital preserve as características básicas da televisão brasileira: sinal aberto e gratuito. A TV não pode se tornar cara ou inacessível à maioria da população. Ela tem de ser sempre um fator de inclusão, nunca de exclusão”, disse.
Como forma de estimular a queda de preços dos conversores e permitir o acesso do maior número de pessoas à nova tecnologia, o presidente Lula anunciou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desenvolverá um programa de incentivo à implantação da TV digital, no valor de 1 bilhão de reais, para apoiar a rede varejista na redução dos custos dos conversores e, conseqüentemente, na ampliação das vendas e aumento da produção nacional.
O CAMINHO DA TV DIGITAL NO BRASIL
A TELEVISÃO BRASILEIRA PASSOU POR DIFERENTES ESTÁGIOS DE EVOLUÇÃO ATÉ CHEGAR AO MAIS AVANÇADO NÍVEL TECNOLÓGICO, PROPOSTO PELO SISTEMA NIPO-BRASILEIRO DE TV DIGITAL.
Da redação
Depois de conquistar a Europa, a Ásia e a América do Norte, a TV digital chega ao Brasil, mais especificamente à cidade de São Paulo, agregando valor a já habitual programação televisiva brasileira. Embora nasça com menos esplendor que a TV analógica na década de 50 – que fora cercada de maus prognósticos, porém superou a falta de recursos, ausência de público, fraco mercado publicitário e inexistência da indústria eletrônica para produzir os aparelhos, tornando-se símbolo de entretenimento e abrindo as portas para o desenvolvimento social – a TV digital traz consigo novos recursos para interatividade e mobilidade, além do conhecido aumento na qualidade da imagem e do som, para o consolidado e conceituado mercado de radiodifusão.
A TV digital apresenta-se num cenário diferente do enfrentado pelo sistema analógico, em 18 de setembro de 1950, quando Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira Neto, proprietário dos Diários Associados – rede nacional de jornais e emissoras de rádio – criou a primeira emissora de televisão da América Latina em São Paulo (TV Tupi) e transmitiu o primeiro programa (TV na Taba) através de 200 aparelhos importados por ele, espalhados pela cidade. Cenário diferente também do lançamento da TV colorida em 19 de fevereiro de 1972, que dispunha de aproximadamente 500 televisores aptos a receber a nova tecnologia. Hoje, o Brasil possui a melhor TV aberta do mundo, onde mais de 90%, dos cerca de 185 milhões de habitantes, segundo dados do IBGE, possuem TV em seus lares e estão ávidos por tecnologia e conteúdo de qualidade, estando, portanto, mais seletivos.

Assim como a TV analógica, que teve pesquisas de desenvolvimento realizadas durante anos, para, enfim, passar a fazer parte de nosso dia-a-dia, a TV digital também teve um longo caminho percorrido. Sua trajetória teve início em 1970, quando a direção da rede pública de TV NHK (Nippon Hoso Kyokai), juntamente com um consórcio de 100 emissoras comerciais, deu o aval para que cientistas do NHK Science & Technical Research Laboratories desenvolvessem uma TV de alta definição. Os japoneses perceberam que os resultados não eram satisfatórios e que a transmissão de imagem e som de alta definição via sinal analógico não seria possível, visto que seria necessário dobrar o número de linhas do receptor (de 525 ou 625 para 1000 ou 1200) e isto não era fácil na plataforma analógica.
A partir daí, os pesquisadores alcançaram diversos avanços, tanto no Japão, quanto na União Européia e nos Estados Unidos e instituíram sistemas digitais, que vieram a ser estudados pelo Brasil, quando se tornou indispensável a decisão por um padrão que melhor atendesse às necessidades da população brasileira.Características dos Sistemas Internacionais

ATSC
O Comitê ATSC foi criado em 1982, por entidades que faziam parte do Joint Committee on Intersociety Cooperation (JCIC), tais como a National Association of Broadcasters (NAB), National Cable & Telecommunications Association (NCTA), Consumer Electronics Association (CEA), Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) e Society of Motion Picture and Television Engineers (SMPTE). A partir de 1987, o sistema ATSC (Advanced Television Systems Committee) passou a ser desenvolvido por um grupo de 58 indústrias de equipamentos eletroeletrônicos e priorizou a necessidade de melhorar a qualidade do som e da imagem oferecidos pela televisão analógica, adotando como objetivo principal a televisão de alta definição – HDTV. Em 1993, a Grande Aliança, formada por empresas do ramo, apresentou o padrão que foi adotado pelo Comitê de Sistemas de Televisão Avançados – ATSC, nos Estados Unidos. O sistema possui modulação 8VSB, middleware DASE, compressão Dolby AAC e MPEG-2 HDTV e é utilizado pelos EUA, Canadá, México e Coréia do Sul.

DVB-T

O DVB-T (Digital Video Broadcasting – Terrestrial) foi criado a partir da formação de um grupo europeu denominado ELG (European Lauching Group), em 1991, que hoje possui entre 250 e 300 integrantes. O sistema surgiu da necessidade de resolver o problema do congestionamento do espectro europeu e propiciar, aos telespectadores, variedade na programação. Para atender à primeira necessidade, o DVB-T adotou a modulação COFDM, que permite o reuso de freqüências, através de redes SFN (Single Frequency Network) e possibilita maior flexibilidade e robustez. Além disso, utiliza o middleware MHP, compressão MPEG-2 e MPEG-2 SDTV e trabalha com conteúdo audiovisual nas três configurações de qualidade de imagem: HDTV (1080 linhas), EDTV (480 linhas) e SDTV (480 linhas). O sistema abrange toda a Europa, Austrália, Cingapura e Taiwan.

ISDB-T

Text Box: Pesquisadores alcançaram diversos avanços, tanto no Japão, quanto na União Européia e nos Estados Unidos e instituíram sistemas digitais,   que vieram a ser estudados pelo Brasil.  O ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial) é uma evolução do sistema DVB-T e surgiu no final da década de 90, através do Grupo de Especialistas em Transmissão Digital (DiBEG), buscando resolver os desafios do mercado, como a mobilidade e a portabilidade. Dessa forma, além de utilizar a modulação COFDM, os japoneses decidiram adotar uma solução de divisão de 13 segmentos (modulação BST-OFDM), da banda de 6MHz, para permitir o envio de vários programas diferentes, usando mais de uma modulação digital ao mesmo tempo, como por exemplo QPSK, DQPSK, 16QAM e 64QAM. Além disso, foi acrescentado um “Interleaver” temporal para melhorar o desempenho na presença de interferências concentradas, como o ruído impulsivo. O sistema trabalha com o middleware ARIB, Payload de 19,3 Mbits/s e compressão MPEG-2 AAC e MPEG-2 HDTV e é utilizado no Japão.
A TV DIGITAL CHEGA AO BRASIL E A SET GRAVA O SEU NOME NA HISTÓRIA

Linha do Tempo

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Cientistas do NHK Science & Technical Research Laboratories iniciam as pesquisas de desenvolvimento da TV da alta definição.

1 9 8 2
Criação do Comitê ATSC para desenvolvimento do padrão norte-americano ATSC.

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Fundação da Sociedade Brasileira de Engenharia da Televisão (SET), com o objetivo de divulgar, expandir, estudar e aperfeiçoar os conhecimentos técnicos, operacionais e científicos da mídia eletrônica de massa.

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A SET lança a Revista de Engenharia de Televisão, que mais tarde veio a se chamar Revista da SET.

1 9 9 1
Formação do Grupo Europeu de desenvolvimento do sistema DVB-T, que hoje possui entre 250 e 300 integrantes.

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Início dos estudos sobre TV digital no Brasil, através da formação da COM-TV, para propor uma política de transmissão para HDTV e TVD.

1 9 9 4
Formação do Grupo ABERT/SET para planejar o ingresso dos radiodifusores na tecnologia de transmissão digital, bem como facilitar o processo de canalização de transmissão das emissoras.

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Criação do Grupo de Especialistas em Transmissão Digital (DiBEG), para promover o ISDB-T.

1 9 9 8
A Anatel passa a conduzir os estudos sobre a introdução da transmissão digital no Brasil, extinguindo, com isso, a COM-TV.

1 9 9 8

Grupo ABERT/SET firma Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Mackenzie, para a implantação de um laboratório e uma unidade móvel de pesquisas, para testes com os padrões de TV digital. O laboratório e a viatura foram dimensionados e equipados, sob o apoio financeiro da NEC do Brasil.

1 9 9 9
Com o início dos testes de campo, o CPqD é contratado pela Anatel para assessorar no acompanhamento técnico e na avaliação de todo o trabalho.

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Representantes dos padrões digitais ATSC e DVB, Robert Graves e Peter MacAvock visitam o Brasil.

2 0 0 0
Representantes do padrão japonês ISDB-T visitam o Brasil para, assim como os representantes dos padrões ATSC e DVB, validar os métodos de ensaio e os equipamentos utilizados nos testes.

2 0 0 0
Apresentação da primeira e da última parte do relatório de testes de laboratório elaborado pelo Grupo ABERT/SET, qualificando os sistemas de modulação utilizados nos padrões estudados.

2 0 0 0
O Grupo ABERT/SET apresenta na NAB o resultado dos testes que comparou os três sistemas, concluindo que o ISDB-T era o melhor para o Brasil.

2 0 0 1
Anatel emite a Consulta Pública
n° 291/01 e disponibiliza o relatório de análises dos testes efetuados pelo Grupo ABERT/SET e o relatório integrador dos aspectos técnicos e mercadológicos da televisão digital.

2 0 0 2
O ministro da Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, encaminha a EM 1247, propondo diretrizes para a TV digital.

2 0 0 2
O Grupo ABERT/SET firma novo Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Mackenzie, para avaliar a evolução dos três sistemas de TV digital.

2 0 0 3
O Sistema Brasileiro de TV Digital é Instituído através do Decreto 4901.

2 0 0 3
É criado o Comitê de Desenvolvimento, o Comitê Consultivo e o Grupo Gestor, vinculado à Presidência da República, para estabelecer diretrizes e estratégias para a implementação da tecnologia digital.

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O sistema japonês ISDB-T é definido como base para a tecnologia digital no Brasil, através do Decreto 5.820/06, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

2 0 0 6
Criação do Fórum Brasileiro de TV Digital, para assessorar o Comitê de Desenvolvimento na  definição de quais tecnologias brasileiras seriam incorporadas à tecnologia digital.

2 0 0 7

A TV digital entra no ar na cidade de São Paulo.
Da redação
Os estudos sobre a TVD no Brasil tiveram início no mês de junho de 1991, através da constituição, pelo Ministério das Comunicações, da Comissão Assessora de Assuntos de Televisão – COM-TV, a qual tinha por atribuição propor uma política do setor para HDTV (High Definition TV) e TVD. Em setembro de 1994, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão convidou a Sociedade de Engenharia de Televisão para formar o Grupo ABERT/SET, após um convite da NAB, para que todos os países participassem do desenvolvimento do padrão DVB. A partir daí, o Grupo passou a planejar o ingresso dos radiodifusores na tecnologia de transmissão digital e acompanhar o desenvolvimento do projeto COFDM (Coded Orthogonal Frequency Division Multiplexing) para um canal de 6MHz. Fizeram parte do Grupo as emissoras de TV Cultura, Globo, SBT, Bandeirantes, Record e Manchete – Rede TV, além do CPqD – Fundação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento.
Na época, a maior preocupação do Grupo ABERT/SET era a ameaça de disponibilidade de canalização para as transmissões simultâneas de televisão digital e analógica. Deste modo, o Grupo se propôs a aprofundar os resultados preliminares, a partir da contratação de serviços específicos de alocação de canais e, paralelamente, buscar a conscientização do órgão brasileiro gerenciador de freqüências, para que fossem reservados os canais necessários. Para tanto, foi criado o subgrupo de canalização, constituído por emissoras cabeça de rede, tais como: Cultura, SBT, Globo, Record, Bandeirantes, Manchete – Rede TV.
Após a promulgação da Lei Geral de Telecomunicações, em 16 de julho de 1997, e com a específica atribuição prevista no art. 211 – dispõe que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), criada em novembro de 1997, deve elaborar e manter os planos de distribuição de canais, levando em conta, inclusive, os aspectos concernentes à evolução tecnológica – a Anatel, através da Superintendência de Serviços de Comunicação de Massa, passa a conduzir, a partir de março de 1998, os estudos sobre a Introdução da Transmissão Terrestre Digital de Televisão no Brasil, extinguindo-se, conseqüentemente, a COM -TV.
Assim, após diversas reuniões, a Anatel emite, em julho de 1998, a Consulta Pública nº 65/98, a qual apresenta a Proposta de Procedimentos para Expedição de Autorização para Realização de Experiências com Sistemas de Televisão Digital e as condições de sua execução, o que resultou na Resolução nº 69/98, tornando efetiva a regulamentação dos procedimentos.
Conforme o artigo 7.1 da Resolução, as entidades interessadas em realizar testes com sistemas de transmissão digital de TV teriam 30 dias para solicitar a devida autorização da Anatel. Essas autorizações seriam válidas apenas até 30 de julho de 1999, quando os testes deveriam ser encerrados.
No total, 17 entidades solicitaram autorização para a realização dos testes de campo. Nessa ocasião, a Anatel apresentou a assessoria técnica que havia contratado para auxiliá-la na orientação, no acompanhamento e na avaliação de todo o trabalho: o CPqD – que deixou de integrar o Grupo ABERT/SET.
Em novembro de 1998, o grupo ABERT/SET – com o apoio das emissoras de televisão, engenheiros e representantes de centros de pesquisa e da indústria eletroeletrônica – firmou um Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, para a implantação de um laboratório de medidas e experiências de sinal de RF, mais uma unidade móvel de testes, por saber que o ambiente de aplicação do sistema digital no Brasil é diferente daqueles onde os sistemas ATSC e DVB-T foram testados e implantados, apresentando peculiaridades tanto de relevo, como de estruturação de cidades, como por exemplo na concentração de prédios altos, que poderiam acarretar resultados diversos. O projeto financiado pela NEC do Brasil teve custo estimado de 2,5 milhões de reais.
Os testes de laboratório tiveram início em meados de 1999, onde 17 empresas de comunicação realizaram testes com os sistemas de televisão digitais já existentes – o sistema ISDB-T passa a fazer parte dos testes – para comparar o desempenho e os requisitos de proteção com relação a canais adjacentes e canais “taboo” entre os sistemas digital X analógico (PAL-M), analógico X digital e digital X digital e indicar os pontos positivos e negativos de cada sistema. Esses testes tiveram seus sinais gerados a partir da estação principal do canal 34 (UHF), na torre da TV Cultura, na capital paulista.
Em 31 de janeiro de 2000, a Anatel, através da Resolução nº 210/00, prorrogou para 31 de março do mesmo ano o prazo para a realização dos testes previstos na Resolução Anatel n.º 69/98.
Em 9 de fevereiro de 2000, apresentou-se a primeira parte do relatório de testes de laboratório elaborado pelo grupo ABERT/SET, que qualificou os sistemas de modulação utilizados nos padrões. Esse relatório foi feito com base em testes de laboratório, sendo que, no período de execução, foram recebidas visitas de membros dos grupos internacionais que representavam os sistemas em teste. Em outubro de 1999, foi recebida a visita de representantes do grupo ATSC. Em dezembro de 1999, foi a vez do grupo DVB e, em janeiro de 2000, do grupo ISDB. O objetivo principal dessas visitas foi o de validação dos métodos de ensaio e dos equipamentos utilizados para a geração de resultados, de forma que estes resultados pudessem ser utilizados, internacionalmente, como elementos de comparação entre os sistemas em teste. Em decorrência desses estudos, a Anatel realizou a Consulta Pública nº 216/004.
Em virtude da divulgação do relatório de testes de campo do grupo ABERT/SET, a Anatel apresentou a Consulta Pública nº 229/005. Foi objeto dessa Consulta Pública o terceiro relatório parcial relativo aos testes em sistemas de televisão digital, realizados de acordo com o disposto na Resolução nº 69/98, bem como no Ato nº 4.609/99. Vale mencionar que esse relatório incluiu resultados de novos testes e consolidação de resultados de testes de laboratório e de campo realizados em diferentes implementações de receptores dos sistemas ATSC, DVB-T e ISDB-T. Além desses, incluiu resultados parciais de testes de campo realizados em condições domésticas de recepção, bem como os resultados completos dos testes realizados com a estação reforçadora de sinal (Gap Filler), instalada conforme a autorização constante do Ato nº 6.423/00, expedido pelo superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da Anatel. Foram previstos 50 pontos de testes em condições domésticas de recepção. Entretanto, os resultados incluídos no relatório foram os obtidos até 26 de março de 2000, quando haviam sido testados 39 pontos. A complementação do relatório final, encaminhada à Anatel em 15 de maio de 2000, apresentou os resultados completos desses testes, bem como a sua avaliação.
Conforme consignado nesse relatório, havia necessidade de serem considerados, além dos aspectos técnicos, outros, tais como o impacto que a adoção de cada sistema teria sobre a indústria nacional, as condições e facilidades de implementação de cada sistema, os prazos para sua disponibilidade comercial, o preço dos receptores para o consumidor, a expectativa de queda desses preços, de modo a possibilitar o acesso mais rápido a todas as camadas da população. Em junho de 2000, a Anatel divulgou a Consulta Pública nº 237/008, acerca do relatório final.

Subgrupos do Grupo ABERT/SET

Embora o Grupo ABERT/SET fosse composto de subgrupos dedicados a questões específicas, como canalização, estúdios, consumo, avaliação estratégica e medidas e testes, a partir de 1998, quando os estudos se aceleraram e o Grupo ABERT/SET começou a se preparar para a realização dos testes de laboratório e de campo dos padrões de transmissão digital, as atividades do subgrupo de medidas e testes, responsável pela definição dos testes e procedimentos necessários para as medições, ganhou ênfase, tornando-se fundamental.

Subgrupo de Medidas e Teste
Coordenação:
Valderez de Almeida Donzelli
Consultora Executiva:
Tereza Mondino
Consultor/coordenador executivo do laboratório:
Eduardo de Oliveira e Silva Bicudo
Planejamento administrativo:
Carlos de Brito Nogueira
Profissionais das emissoras:
Alfonso Aurin Palacin Junior, Maria Goretti Romeiro e Sizenando José Ferreira Filho, Roberto Aono, Edson Geraldo Benedito e Francisco Sergio Husni Ribeiro, Ana Eliza Faria e Silva, Daniel Lourenço Domingos, Fernando Wiktor Pietrukoviz Quinttela, Paulo Henrique Castro, Sidney Nogueira, Zilmaldo Correia Silva e Sandro Rodrigues
Profissionais do Mackenzie:
Ana Cecília Munhoz, Carlos Eduardo Dantas, Francisco Sukys, Ricardo Franzen, Luiz Tadeu, Cristiano Akamine, Daniel da Costa Diniz e Fábio Baiadori.
Coordenador da equipe do Mackenzie:
Luís Tadeu Raunheitte, apoiado por Fábio Baiadori.

Subgrupo de Estúdio
Coordenação:
Roberto Franco

Subgrupo de Avaliação Estratégica
Coordenador:
Olímpio José Franco

Subgrupo de Canalização
Coordenação:
Liliana Nakonechnyj

Subgrupo de Consumo
Coordenação:
Alfonso Aurin Palacin Junior

O conjunto de testes de laboratório e de campo procurou atender às finalidades indicadas pela Anatel nos procedimentos estabelecidos, tais como: avaliação da melhoria da qualidade do serviço de radiodifusão de sons e imagens, pelo uso das tecnologias de transmissão digital de televisão atualmente disponíveis ou em desenvolvimento no mundo, como subsídio à tomada de decisão quanto ao padrão a ser adotado no Brasil; comparação entre a cobertura alcançada com o sistema analógico e a obtida com os sistemas digitais disponíveis, inclusive nas áreas de sombra existentes no interior do contorno protegido da estação analógica; análise da viabilidade de utilização pelos sistemas digitais disponíveis de redes de freqüência única na otimização da cobertura de uma emissora em sua área de serviço; aplicabilidade ao sistema PAL-M das relações de proteção indicadas nos procedimentos, no que respeita à interferência dos sistemas digitais sobre os analógicos; obtenção de dados de cada sistema digital disponível, que permitam avaliar as facilidades de planejamento para elaboração dos Planos Básicos de Distribuição de Canais de Televisão e de Retransmissão de Televisão, utilizando sistemas de transmissão digital, especialmente levando em consideração a prolongada coexistência do sistema digital que vier a ser implantado com o sistema analógico existente e a necessária ocorrência da ocupação de canais adjacentes por programações transmitidas no modo analógico e no digital, bem como de canais adjacentes transmitindo ambos no modo digital.
Em abril de 2001, a Anatel emitiu a Consulta Pública nº 291/01, sobre a utilização da tecnologia digital na transmissão terrestre de televisão. Como documentos de suporte, foram disponibilizados o relatório de análise dos testes efetuados pelo grupo ABERT/SET e o relatório integrador dos aspectos técnicos e mercadológicos da televisão digital. A Consulta Pública ficou aberta a contribuições durante 70 dias, incluindo a realização de uma Audiência Pública. Além disso, houve 10 dias para divulgação das contribuições e 25 dias para comentários às contribuições.
Na Consulta Pública, foram abordados como aspectos da introdução de TVD no país a avaliação técnica dos padrões de TVD terrestre; situação da TVD em outros países; evolução tecnológica e possibilidade de novas aplicações; dimensionamento do mercado potencial de equipamentos, de prestação de serviços e de infra-estrutura; desenvolvimento da produção industrial e padronização de equipamentos com vistas à universalização dos serviços; estimativa de investimentos, fontes de financiamentos, riscos e oportunidades comerciais bilaterais;  apreciação dos resultados das pesquisas mercadológicas sobre as preferências dos usuários brasileiros; expectativa quanto ao modelo de negócios; e requisitos para o modelo de transição.
Em 29 de maio de 2001, foi realizada uma Audiência Pública para elucidar dúvidas sobre o teor e o alcance dos aspectos tratados na Consulta Pública n.º 291/01, sugeridos pela Anatel para serem considerados na formulação de contribuições. Nos dias 30 e 31 de agosto de 2001, foi promovido pela Anatel o Seminário sobre o processo brasileiro de definição do padrão tecnológico.
Visando o planejamento de canalização de TV digital, a Anatel editou a Resolução nº 291/02, que aprovou a consolidação de características técnicas de canais do PBTV, PBRTV e PBTVA; suspendeu a análise de projetos de viabilidade de canais de TV e RTV protocolados ou com data de reserva posterior a 8 de outubro de 1999, para o Distrito Federal, regiões metropolitanas e localidades no estado de São Paulo a leste do meridiano 50ºW, até a aprovação do Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão Digital – PBTVD; suspendeu a análise de projetos de viabilidade de canais de TV e RTV protocolados ou com data de reserva posterior a 15 de fevereiro de 2002, para as demais localidades, até a aprovação do Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão Digital – PBTVD.
Em setembro de 2002, o ministro das Comunicações encaminha a Exposição de Motivos (EM) 1247, propondo as diretrizes para a televisão digital e, em novembro de 2002, o Grupo ABERT/SET firma um novo Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, para avaliar a evolução dos três sistemas de TV digital disponíveis. A parceria permitiu a realização de testes em um laboratório instalado nas dependências da Universidade.
No mês de novembro de 2003, o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD) é instituído através do Decreto nº 4901. Neste mesmo ano é criado o Comitê de Desenvolvimento, vinculado à Presidência da República, um Comitê Consultivo e um Grupo Gestor.
Comitê de Desenvolvimento: Composto por um representante do Ministério das Comunicações (presidência do Comitê de Desenvolvimento); Casa Civil da República; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Cultura, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério das Relações Exteriores e Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, o Comitê de Desenvolvimento deve fixar critérios e condições para a escolha das pesquisas e dos projetos a serem realizados para o desenvolvimento do SBTVD, bem como de seus participantes;  estabelecer as diretrizes e estratégias para a implementação da tecnologia digital no serviço de radiodifusão de sons e imagens; definir estratégias, planejar as ações necessárias e aprovar planos de aplicação para a condução da pesquisa e o desenvolvimento do SBTVD; controlar e acompanhar as ações e o desenvolvimento das pesquisas e dos projetos em tecnologias aplicáveis à televisão digital; supervisionar os trabalhos do Grupo Gestor; decidir sobre as propostas de desenvolvimento do SBTVD; fixar as diretrizes básicas para o adequado estabelecimento de modelos de negócios de televisão digital; e apresentar relatório contendo propostas referentes à definição do modelo de referência do sistema brasileiro de televisão digital, ao padrão de televisão digital a ser adotado no país, à forma de exploração do serviço de televisão digital, e ao período e modelo de transição do sistema analógico para o digital.

Text Box: Concessionárias   que realizaram testes dos sistemas digitais    Bandeirantes (RJ e SP)  CBI (SP)  CNT (PR)   EPTV (SP)    MTV (SP)   Rede Globo (RJ e SP)  Rede Mulher (SP)  Rede Record (SP) Rede TV (RJ)   Rede Vida (SP)   SBT (RJ e SP)  TV Alterosa (MG)  TV Brasília (DF)  TV Cultura (SP)  Comitê Consultivo: Presidido pelo presidente do Comitê de Desenvolvimento do SBTVD e integrado por um representante titular e respectivo suplente do Ministério das Comunicações (coordenação do Comitê Consultivo); Casa Civil da Presidência da República; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Ministério da Educação; Instituto Nacional de Tecnologia da Informação –ITI; Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, o Comitê Consultivo tem por finalidade propor as ações e as diretrizes fundamentais relativas ao SBTVD.
Grupo Gestor: Integrado por um representante, titular e respectivo suplente do Ministério das Comunicações (coordenação do Grupo Gestor); Casa Civil da Presidência da República; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da Cultura; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; VI Ministério da Educação; VII do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI; VIII da Agência Nacional de Telecomunicações ANATEL; e IX Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, o Grupo Gestor executa ações relativas à gestão operacional e administrativa voltadas para o cumprimento das estratégias e diretrizes estabelecidas pelo Comitê de Desenvolvimento do SBTVD e recebe apoio técnico e administrativo da Finep e da Fundação CPqD.
Em 10 de março de 2004 o governo estipula o prazo de um ano para que o país tenha uma resposta sobre qual o sistema será adotado. O Grupo Gestor fica encarregado de cuidar do Sistema Brasileiro de TV Digital. Foram então selecionadas diversas instituições para fazerem parte das pesquisas no desenvolvimento do sistema, através de 22 editais de concorrência. A partir de uma chamada pública, neste mesmo ano, os Ministérios da Comunicação, da Ciência e Tecnologia, a Finep e o Funttel selecionaram os melhores projetos para a criação de consórcios. Ao todo foram 70 de ensino e pesquisa, universidades e empresas participantes, envolvendo mais de mil pesquisadores e um orçamento de R$30 milhões, distribuídos em 22 consórcios. O Comitê  de Desenvolvimento do SBTVD foi responsável pela coordenação geral de todos os projetos, com o apoio técnico-financeiro da Finep e do CPqD.
No ano de 2005 o prazo determinado pelo presidente é revogado, passando, então, para 10 de fevereiro de 2006 a apresentação do novo sistema de transmissão.
Finalmente, no dia 29 de junho de 2006, passados 15 anos do início das discussões, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva define o padrão japonês, como base para tecnologia digital do Brasil, através do Decreto 5.820/06.

O Sistema Brasileiro de TV Digital – SBTVD
Após a assinatura do Decreto 5.820/06, que instaurou a implantação da TV digital no Brasil, os radiodifusores, membros das principais entidades de comunicação do país, encontravam-se diante de um novo desafio: adaptar o padrão japonês à realidade brasileira. Para tanto, em 23 de novembro de 2006, criou-se o Fórum Brasileiro de TV Digital, formado por emissoras de radiodifusão, fabricantes de equipamentos de recepção e transmissão, indústrias de software e entidades de ensino e pesquisa, para assessorar o Comitê de Desenvolvimento na definição de quais inovações tecnológicas brasileiras seriam incorporadas à tecnologia digital, propiciando padrão e qualidade compatíveis com as exigências dos usuários. Não demorou muito o Fórum já contava com mais de 100 entidades associadas.

Estrutura do Fórum Brasileiro de TV Digital
Assembléia Geral: Congrega todos os sócios do Fórum, sendo que apenas membros plenos têm direito a voto e isonomia de participação na Assembléia. A Assembléia tem poder máximo de decisão, elege os membros do Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal e delibera sobre a gestão financeira, além de aprovar a contratação de diretorias independentes, propostas pelo Conselho Deliberativo.
Conselho Deliberativo: Órgão composto por 13 membros eleitos pela Assembléia Geral (quatro membros da radiodifusão, quatro membros da indústria de recepção, dois da indústria de transmissão, dois da academia e um da indústria de software) número imposto de forma proposital, para obrigar a construção de consensos. O Conselho Deliberativo conta ainda com sete representantes do poder executivo (Ministérios da Casa Civil, Relações Exteriores, Comunicações, Desenvolvimento Ind. e Com. Exterior, Fazenda, Ciência e Tecnologia e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) que fazem parte do Comitê de Desenvolvimento, com o objetivo de acelerar o processo de construção do sistema. Suas atribuições são: definir políticas gerais de ação e estratégia; definir, aprovar, criar, modificar e gerenciar os grupos de trabalho; deliberar sobre as propostas dos módulos de trabalho, ou seja, propostas de normas e ação e aprovar o relacionamento com outras organizações nacionais ou internacionais.
Módulos de trabalho: Órgãos do Fórum com representatividade semelhante ao do Conselho e divididos por temas. O módulo de mercado tem como principal atribuição a identificação de necessidades e oportunidades que existem no mercado. Especifica requisitos funcionais, bem como parâmetros de mercado e verifica a aderência das especificações técnicas propostas pelo módulo técnico que, por sua vez, tem como atribuições prover conhecimento técnico ao Fórum; identificar e definir os tópicos de pesquisas, necessidades de especificação técnica e disponibilidade de soluções técnicas; propor soluções ao Conselho Deliberativo; coordenar pesquisas e desenvolvimento; avaliar propostas de especificações enviadas por associados e propor soluções. O módulo de propriedade intelectual busca soluções e políticas de gestão de direitos autorais, em termos de royalties, patentes e direitos tratados através de licenças. O módulo de promoção deve coordenar os esforços referentes à promoção do Fórum, analisar e propor soluções de divulgação do sistema no mercado nacional e internacional.

ISDB-Tb
O sistema brasileiro de TV digital adota tecnologias nacionais e japonesas combinadas, como por exemplo o middleware nacional Ginga, resultado de um processo de pesquisa de mais de 20 anos e que reúne o middleware procedural Flex TV, desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mais o middleware declarativo Maestro, baseado em NCL e desenvolvido pela PUC-Rio, que permite a criação de novos formatos de programas, novas plataformas tecnológicas, novos modelos de negócios, novas aplicações e novas oportunidades, além de dar alma brasileira ao sistema.
A codificação de vídeo, que no sistema de modulação ISDB-T, no Japão, é MPEG-2, no Brasil é o MPEG-4 – adotado como forma de otimizar o espectro, através da redução de taxas de transmissão, em conjunto com o encoder de vídeo no padrão H.264. O MPEG-4 representa um ganho de eficiência de 50% em relação ao MPEG-2, o que significa que é possível dobrar o número de programas no canal, mantendo a mesma qualidade em cada um, ou então transmitir um único sinal em HDTV com muito mais qualidade.
A modulação do sistema ISDB permite utilizar taxas de 440 kbps para recepção portátil, suficiente para a transmissão de um ou dois programas de baixa resolução, ao mesmo tempo em que assegura a transmissão de 18 Mbps para recepção fixa, com maior robustez a multipercurso. Além disso, a modulação BST-OFDM é tão robusta que permite que os 18 Mbps, originalmente destinados às casas das pessoas, possam também ser recebidos em carros.
A base do sistema, portanto, é japonesa, mas a camada de enriquecimento é brasileira e mantém o modelo de negócios da TV aberta e gratuita.

Text Box: Patrocinadores dos testes para TV digital    Eletro Equip / Harris,   Eletros,  Linear,   LYS,   NEC do Brasil,   Nokia,   Phase Continental,   Rohde & Schwartz,   Sterling / Digital Vision, Transtel,   Tektronix,   Wandel Goltermann,   Zenith.  Mercado Internacional
A qualificação tecnológica alcançada pelo Brasil, permite a expansão do sistema nipo-brasileiro para níveis internacionais. Tanto que as contribuições brasileiras para o sistema ISDB-T, foram endossadas pelos japoneses, que confiaram na capacidade do Brasil em consolidar o padrão. Hoje não existe ninguém capaz de competir com o Brasil em qualidade técnica e esta excelência é bem-vinda na harmonização do padrão japonês com as inovações brasileiras, a fim de que o padrão nipo-brasileiro fique apto a adoções de outros países.
Nesse sentido, o Brasil, através do Itamaraty, iniciou uma estratégia de divulgação do sistema no final de 2006 e visitas foram agendadas nos países da América do Sul, com a participação de representantes dos Ministérios, da academia e da indústria, em parceria com o Japão. Nessas visitas foram ressaltadas as qualidades do sistema, como robustez e inovações que permitem maior inclusão digital. Portanto, existe a possibilidade de países de outros continentes, que ainda não adotaram um sistema, aderirem ao sistema nipo-brasileiro de TV digital, o que daria ao país a possibilidade de compartilhar com outros a necessidade do desenvolvimento e avanço do sistema.

Possibilidades da TV digital
Ao contrário do que muitos pensam, televisão digital não é sinônimo de TV de alta definição (HDTV), mas apenas um entre os múltiplos avanços possibilitados pelas plataformas digitais de transmissão e recepção. A HDTV consiste num formato de vídeo com nitidez de imagem muito maior que a atual, contendo mais do que o dobro de linhas existentes nos padrões PAL, NTSC, ou SECAM.
O formato da tela na TV digital é mais adequado ao olho humano, com a proporção de 16:9, contra a de 4:3 atual, além de ter som surround 5.1, isto é, cinco canais digitais com mais um canal só para efeitos. O resultado disso é uma TV com som envolvente e qualidade de imagem só comparáveis ao que hoje temos no cinema.
A partir de agora, a tecnologia digital permitirá a integração de diversos aparelhos e criará novas aplicações, como a TV móvel e portátil. Logo será possível receber noticiários, informações ou programas de TV em telefones celulares de última geração, ou em Palmtops. A nova tecnologia também vai possibilitar a interatividade, múltiplos programas e acesso a informações adicionais  sobre a programação no televisor digital.
Através da interatividade, a TV digital vai permitir, em breve, que o telespectador veja diversos ângulos de câmera durante uma partida de futebol, ou saiba informações sobre o capítulo de uma novela assistido no dia anterior. Também será possível usar serviços como comércio eletrônico (t-commerce), home banking, ou acesso a e-mail.

Cronograma de implantação da TV digital
O cronograma nacional de implantação da TV digital no Brasil prevê condições que permitam a migração de tecnologia da população de forma gradativa. Através de conversores digitais (set-top boxes), todos terão a possibilidade de adequação por um período de 10 anos, onde o padrão digital e o padrão analógico devem coexistir.
Segundo o cronograma, depois da Grande São Paulo, as próximas cidades a terem o sinal digital disponibilizado para recepção são :
• Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA): de janeiro de 2008 a janeiro de 2010;
• Belém (PA), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE): de maio de 2008 a maio de 2010;
• Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), João Pessoa (PB), Maceió (AL), Natal (RN), São Luís (MA), Teresina (PI): de setembro de 2008 a setembro de 2010;
• Aracaju (SE), Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Macapá (AP), Palmas (TO), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), Vitória (ES): de janeiro de 2009 a janeiro de 2011;
• Demais municípios: de maio de 2009 a maio de 2011.

A ANATEL E A IMPLEMENTAÇÃO DA TV DIGITAL
Por Ara Apkar Minassian

Mais de 3.800 dias de intenso trabalho e muitos desafios antecederam o dia 2 de dezembro de 2007, marco histórico para a  televisão brasileira, com a inauguração, na cidade de São Paulo, da TV digital. Os obstáculos vencidos e o resultado satisfatório devem ser creditados ao trabalho unido do Poder Executivo e da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, órgão regulador das telecomunicações, instalado em novembro de 1997.
Os primeiros estudos foram iniciados em 1991, no âmbito do Ministério das Comunicações, graças ao empenho de um pequeno grupo de servidores, sob a denominação da COM-TV, ao qual a Anatel, reconhecendo a importância da matéria para o Brasil, deu continuidade de forma mais estruturada.
Inicialmente, a Agência apoiou os testes de campo e de laboratório realizados pelas cabeças de redes de televisão, no período de outubro de 1999 a maio de 2000, na cidade de São Paulo, envolvendo as três técnicas de modulação reconhecidas pela União Internacional de Telecomunicações – UIT. Os resultados desses testes foram disponibilizados ao conhecimento público, por meio das Consultas Públicas 216 e 237, no primeiro semestre de 2000.
Em abril de 2001, mais uma vez a Anatel submeteu à sociedade, por meio da Consulta Pública 291, um conjunto de documentos sobre TV digital, com o apoio da consultoria da Fundação CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, destacando o “Relatório Integrador que tratou dos Aspectos Técnicos e Mercadológicos da Televisão Digital” e o Relatório que apresentou a versão atualizada da “Análise dos Testes de Laboratório e de Campo dos Sistemas de Televisão Digital avaliados pelas equipes técnicas”.
Estes documentos foram bastante criticados pelos proprietários dos padrões de TV digital, porém a Anatel não se submeteu às pressões internacionais e reafirmou a seriedade e a preocupação com o Interesse Nacional Permanente, conduzindo esse trabalho com a participação de algumas universidades. Comprovou-se, na ocasião, que a decisão para a implementação da TV digital no Brasil, não poderia envolver apenas aspectos exclusivamente técnicos, mas também, os estratégicos, que requeriam o estabelecimento de uma política pública para a TV digital.
Suas primeiras diretrizes foram objeto das Exposições de Motivos MC n.º 1247, de 2002, e n.º 34, de 2003, culminando na edição do Decreto n.º 4.901, de 26 de novembro de 2003, que, dentre outras medidas, concentrou as ações da Anatel na difícil tarefa da definição da canalização digital.
Nesse período, a Anatel tomou uma decisão bastante arrojada, considerando o cenário da radiodifusão de sons e imagens brasileiras e diante de um espectro que apresentava sinais de saturação, editando, em fevereiro de 2002, a Resolução n.º 291. Foram então suspensas as análises de viabilidade técnica de alteração de canais de TV e de RTV, até a aprovação do Plano Básico de Distribuição de Canais de Televisão Digital – PBTVD.
Na continuidade dos trabalhos, os técnicos da Anatel contaram com o apoio do Conselho Diretor da Agência, do Poder Executivo e, o mais importante, dos técnicos das emissoras e do corpo técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão – SET. Em junho de 2005 foi editada a Resolução 407, que instituiu o Plano Básico de Distribuição de Canais Digitais – PBTVD, fixando os 1893 canais digitais para uso pela TV digital.
Com a edição do Decreto n.º 5.820, de 29 de junho de 2006, o PBTVD está sendo gradativamente ajustado, com a participação dos técnicos das emissoras de TV e em observância aos prazos constantes da Portaria MC 652, de 10 de outubro de 2006.
Hoje, os canais digitais que parearão os canais analógicos das geradoras de Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo encontram-se definidos com o conhecimento do Ministério das Comunicações, que tem, sob sua responsabilidade, a consignação a cada emissora do canal digital necessário para o período de transição analógico-digital dos sinais.
O dia 2 de dezembro é apenas um marco, pois ainda há muito a se fazer. Os desafios, porém, estão gradativamente sendo vencidos pela responsabilidade, empenho e dedicação dos técnicos da Anatel, da indústria e da sociedade, que juntos continuarão buscando soluções inovadoras, observando as recomendações nacionais, do Mercosul, da região das Américas (CITEL) e internacionais (UIT).

Ara Apkar Minassian é superintendente de Serviços de Comunicação de Massa da Agência Nacional de Telecomunicações (SCM/Anatel)

ENTRE SANGUE E MUITO SUOR, ENFIM A TV DIGITAL
Por José Roberto Elias

Nós, profissionais, técnicos e especialistas voltados à engenharia da televisão, temos a grata satisfação de presenciar a chegada de mais uma importante fase da televisão brasileira.
A tão esperada era digital chega com toda sua força e na certeza da melhor escolha técnica, cientes dos estudos comparativos, testes exaustivos, visitas pelo mundo todo, pesquisa e desenvolvimento e, principalmente, definição de um padrão digital melhorado e baseado no que há de melhor em tecnologia e adaptado às exigências brasileiras.
O que muitos não vêem e, sem dúvida fez toda a diferença nos últimos segundos que antecederam a entrada no ar comercialmente da TV digital, foi a garra, o sofrimento, a criatividade, a privação, o estresse e a total entrega desses profissionais que atuam nos bastidores dessa grande festa que está apenas começando em dezembro deste ano. Esses profissionais lapidaram em granito para a eternidade, mais um capítulo da história da televisão brasileira.
Atrasos na preparação das obras de infra-estrutura, cálculos de reforço estrutural, falta de material, briga com fornecedores por prazo, atrasos de navios e aviões de carga, desembargo alfandegário, testes em fábrica ao redor do mundo, logísticas de transporte, segurança das pessoas envolvidas nas operações, seguros, levantamento de recursos financeiros adicionais ao planejado. No último minuto falta aquela peça, aquele parafuso, O-ring, adaptador, aquele dispositivo que só se encontra fora do país, e vamos dar aquele jeito com as empresas de entrega expressa, onde o tempo escoa mais rapidamente que o normal, enfim, detalhes e acontecimentos que presenciamos no campo, na sala de equipamentos, nas torres, no topo de prédios, sob chuva e sol, faça frio ou calor, sempre com um único objetivo em mente: 2 de dezembro de 2007.
E o pessoal de marketing preparando os releases, a festa já confirmada, autoridades e executivos convidados, pressão aumentando a cada minuto, ligações telefônicas intermináveis, aquele e-mail não lido com um detalhezinho que ninguém viu e somente quando o sistema estava em fase de implantação foi lembrado. Sistemas inoperantes, ajustes de imagem, tensões pré-digitais, overstress em todos os níveis da emissora, privação do conforto do lar e da família, aquele aniversário que passamos trabalhando (mais um), aquela festa que vai ficar pra nunca mais, aquele casamento que passou, e o gerenciamento da crise dos nossos casamentos, aquela filha que está noivando e a gente trabalhando. Adeus à vida social pelo menos neste instante, aliás, que vida social?
A determinação desses incansáveis profissionais colocando à prova sua experiência, seu conhecimento técnico e gerencial, sua capacidade de manter o equilíbrio sob as maiores pressões de nossas vidas, foi fundamental para que o sonho se tornasse concreto e para que os horizontes pudessem ser abertos para todos.
Equipamentos danificados no transporte; aquela caixa que escorrega e lá se vão 3 dB abaixo; fixação provisório-definitiva de cabos; vazamentos; encaminhamentos impossíveis; curvas perigosas; adaptações e ajustes intermináveis; cuidados com os reforços na torre com o sinal operante; soldas perto dos cabos que poderiam pulverizar a programação se não houvesse a proteção e vigilância contínua; cuidados com acidentes; peças e parafusos que caem; excesso de criatividade para controlar o incontrolável e o imprevisível.
E a chuva? Essa ninguém pode controlar. Inegavelmente todos os envolvidos viram meteorologistas de última hora e a paranóia do tempo atinge a todos. Quantos dias ficamos aguardando e apostando em melhoras no tempo, aproveitando cada minuto de trégua das águas para os trabalhos nas torres, passagens de cabos, içamento de antenas, ajustes no topo das torres.
Durante os içamentos mais tensão, adrenalina e nervosismo tomando conta de todos. Por alguns minutos aquela antena que levou meses para ser construída e testada está a mercê de um cabo de aço, pendendo ao vento e sob a torcida tensa de uma família de profissionais que só arredam pé do local após a certeza de que tudo está bem.
Somente quando ela rasga os céus e, finalmente, é posicionada, a pressão de todos volta momentaneamente ao normal. Porque no minuto seguinte, entram as outras atividades, até o sinal ficar no ar com a perfeição e qualidade projetada.
De repente aquele cabo de aço resvala na torre, aquele tapume é arrancado pelo vendaval, com seus parafusos arrancados pela força da natureza.
Mas o importante de tudo isso é que a TV digital virou realidade e foi inaugurada. E os profissionais que deram sua alma, seu suor e sua indiscutível contribuição, com orgulho presenciam os resultados de sua garra, e sabem que valeu a pena jamais desistir por piores que fossem os obstáculos, não ouvindo aqueles pessimistas, na certeza de estarem escrevendo o futuro, tão presente e tão real, transmitindo não somente imagens mais definidas mas, principalmente, a emoção a todos que estiverem preparados para receber a informação digital.
E quando as pessoas olharem os céus das cidades e notarem aquelas antenas com os mais variados formatos; quando a interatividade e a mobilidade se fizerem cada vez mais presentes em nossas vidas, alterando o comportamento e trazendo mais conforto, inclusão e diversão; quando estivermos diante de uma tela Full HD, som surround, poderemos sim, dizer que ajudamos a construir essa história.
A verdadeira história que passa, necessariamente, pelas calejadas mãos desses profissionais de televisão e pelos bastidores das emissoras até atingir sua plenitude operacional.
Parabéns a todos pela entrega de parte de suas vidas em prol da implementação da TV digital, para que hoje, orgulhosamente, o Brasil possa dizer ao mundo que sua avançada plataforma digital está no ar.

José Roberto Elias é colaborador da SET e Gerente de Broadcast da RFS
Email: [email protected]