Base de clientes da TV por Assinatura deve chegar aos 20 milhões em 2014

Nº 144 – Agosto 2014

Por Fernando 

REPORTAGEM

O entusiasmo dos operadores de TV a Cabo na última edição da ABTA não era o de 2013, mas a base de clientes da TV por Assinatura continua crescendo no país. No entanto, os executivos do setor afirmam que é preciso investimentos e isonomia impositiva para que as operadoras continuem brindando um serviço de qualidade. Positivo, o estudo da Ancine que afirma que a indústria audiovisual brasileira já representa quase 0.5 % do PIB do país, um número muito relevante para o setor.


22ª edição da ABTA, evento da Associação Brasileira de TV por Assinatura, realizado de 5 a 7 de agosto no Transamérica Expo Center, na capital paulista, mostrou que o mercado de TV por Assinatura continua crescendo, mas que este já não é tão expressivo como em anos anteriores.
Oscar Simões, presidente da ABTA, afirmou na palestra de abertura da ABTA 2014, “Desafios da inclusão e da expansão dos serviços”, que o mercado de TV paga deve fechar 2014 com 20 milhões de assinantes. A base de assinantes do serviço em maio deste ano era de 18,8 milhões, um crescimento de 10,8% sobre o mesmo mês de 2013. “Um crescimento de dois dígitos é algo muito expressivo. Demonstra a força de um setor que a população efetivamente adotou”, disse Simões.

Estes números são parte de um estudo realizado pela entidade que afirma que a penetração do serviço por classe social chegava, ao final de 2013, a 34% da classe C, um avanço de dez pontos percentuais em relação a 2011 e de três pontos sobre 2012. Na classe B, o serviço chegava a 65% em 2013, contra 63% em 2012 e 51%, em 2011.
Já na classe A, o serviço perdeu espaço. Em 2013, 87% tinham TV por assinatura, uma queda de um ponto percentual sobre 2012, mas um avanço de nove pontos sobre 2011. “A classe C é formada por aproximadamente 30 milhões de domicílios. Se a TV paga chega a pouco mais de 1/3, são mais de 10 milhões de assinantes. A classe C já é a maioria da base de assinantes do setor”, aponta Simões.
Por outro lado, segundo explicou Simões à Revista da SET, a receita operacional bruta com mensalidade, banda larga e publicidade no primeiro trimestre de 2014 foi de R$ 7,5 bilhões, uma evolução de 15,4% sobre o mesmo período de 2013.

A queixa do setor continua a ser a isonomia regulatória e impositiva contínua, já que para Simões é impreterível que empresas como Netflix, serviço Overthe- top (OTT), tenha a mesma carga impositiva que as operadoras de TV por cabo no país e cumpra os mesmos requisitos legais, como, por exemplo, a inclusão de conteúdo nacional.
Simões afirma que no início “não vimos a Netflix causando problemas. Acho até que, hoje, ela é complementar ao serviço de TV por assinatura e de banda larga. Os OTTs não funcionam bem onde não há banda larga (…) Sabemos que é muito complexo impor regras aos fornecedores estrangeiros, mas ainda queremos a isonomia. Não é justo termos de cumprir a Lei 12485, e os OTTs não terem qualquer obrigação. Ainda aguardamos uma posição mais concreta do governo”.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, defendeu na palestra de abertura que o investimento na área de audiovisual é uma das estratégias para o desenvolvimento do país. “Caminhamos para o sucesso da TV por assinatura e do audiovisual no Brasil. Esta é a linguagem do século XXI”.
Para Marta, o audiovisual está ligado diretamente à economia criativa, “que é uma das que mais se expande no Mundo e tem a cultura como fundamental valor agregado”. Para ela, hoje “um filme vira um jogo, que vira um aplicativo, o jogo vira um filme e por aí vai, é uma engrenagem sem fim. A juventude consome este conteúdo nas TVs, cinemas e smartphones”, completou. “Por isso temos de criar conteúdos e formas para que isso chegue a todos”.
Na sessão de abertura, o presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Manoel Rangel, anunciou que em dois meses um estudo realizado em parceria entre a agência e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai apontar o peso do setor no PIB do Brasil, e antecipou que é preciso “comemorar” porque “o audiovisual é um exemplo de como é possível incluir a população aos serviços, de como o esforço coordenado de todas as esferas da sociedade pode trazer grandes benefícios ao país”.
E, não só, por que essa inclusão fez com que hoje, segundo esse estudo, “o setor audiovisual representa 0.46% do Produto Bruto Interno (PBI) Brasileiro em 2011, ou seja, para que se entenda, a indústria automotriz brasileira representa 1.82%; a indústria farmacêutica corresponde a 0.40% e a fabricação de produtos têxteis corresponde a 0.33%” o que mostra que o setor audiovisual tem “números muito expressivos, “temos de nos orgulhar do peso que tem nosso setor no volume geral da economia do país”.
A abertura contou também com a presença do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, do presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Rezende; e do presidente da Federação Brasileira de Telecomunicações (Febratel), José Formoso.
O Congresso ABTA 2014, o maior mercado de TV por assinatura, teve foco nas novas tecnologias e soluções de distribuição de conteúdo como vídeo sob-demanda, IPTV, plataformas over-the-top, publicidade, satélites, TI, além das crescentes inovações na distribuição de conteúdos lineares e em alta definição.

Casa Conectada
Uma das apresentações interessantes do Congresso da ABTA 2014 foi a realizada pelo diretor Regional da Nagra para a América do Sul, Thierry Martin, para quem já é possível, “Tornar a Casa Conectada uma Realidade”.
Segundo ele, mediantes algumas implementações do connectware OpenTV 5, com tecnologia HTML5, junto a operadoras de TV por assinatura no Brasil permitem que o aparelho de TV deixe de ser um instrumento único para a sala senão que a televisão possa sair com o usuário onde quer que este vá, já que na “Casa Conectada, TV, internet e OTT podem ser utilizados simultaneamente dentro e fora de casa por várias pessoas em vários equipamentos diferentes (SmartTV, smartphone, notebook, tablet, PC, videogame) sem perder a qualidade do sinal”.
Martin afirmou estar muito satisfeito em demonstrar as implementações do OpenTV 5. “Porque esta plataforma permitirá aos assinantes brasileiros estarem entre os primeiros do mundo a realmente experimentar esta nova realidade, porque há muito tempo se fala da casa conectada e apenas agora ela será oferecida ao público por várias operadoras de TV por assinatura no Brasil e no mundo”.
Desenvolvido no sistema operacional Linux, o connectware OpenTV 5 é “uma solução completa que utiliza HTML5 e componentes de código aberto onde for necessário”, afirma Martin. Combinado com os principais componentes de TV Digital da Nagra, como o MediaLive e o JoinIn, oferece uma solução robusta para ajudar a acelerar o lançamento de serviços multi-telas protegidos para a casa conectada e criar uma experiência intuitiva ao usuário em diferentes equipamentos, como Smart- TVs, smartphones, tablets, computadores e videogames.
Em entrevista à Revista da SET, Martin disse que as “multi-telas são uma tendência do mercado de consumo e o que as produtoras de conteúdos precisam desenvolver e como rentabilizar isso, porque hoje dificilmente são uma oportunidade de negócio porque ainda é difícil cobrar pelo serviço. De fato, as telas múltiplas estão acontecendo inevitavelmente, o que precisamos fazer é entender isso e tentar rentabilizá-lo”.

Set-top-box híbrido, uma nova tendência na TV por Assinatura
A iON TV, serviço de TV por assinatura da Unotel destinado a provedores de Internet (ISPs) já descrito nesta revista, fez a sua primeira aparição pública em um evento de grandes proporções.
O CEO da iON, Alexandre Britto, afirmou à Revista da SET que o balanço foi muito positivo, “na feira tivemos a oportunidade de demonstrar nosso produto e nossa tecnologia ao mercado específico de TV e participar de painéis relevantes. Inclusive fechamos alguns contratos com mais alguns parceiros na própria feira”. O lançamento comercial da iON TV está previsto para ainda este ano. “Mas iniciamos no mês passado a nossa fase de testes através dos nossos parceiros, os operadores regionais de telecom que estão sendo realizados por clientes convidados, técnicos e também familiares dos empreendedores, por isso recebe o nome de Family & Friends (família e amigos). A receptividade tem sido boa, pois o nosso produto é o único no mercado brasileiro a gravar até 4 canais simultaneamente (2 canais da TV paga e 2 da TV aberta digital). Os nossos pacotes contarão com canais HD desde o primeiro pacote, e ainda temos o diferencial da porta IP que transformará uma TV convencional em smartTV”.

Como já descrito com exclusividade na edição 131 da Revista da SET, a iON chegará ao mercado brasileiro com um set-top-box híbrido desenhado por investigadores brasileiros que permitirá aos seus clientes ter acesso a IPTV ou DTH, e TV Digital através do mesmo dispositivo. O receptor foi criado pensando no Switch-off.
Esta plataforma utiliza tecnologia da Media Networks Latin America e da Nagra que permite o acesso a IP, satélite e TV Digital terrestre (DTV) com proteção do conteúdo pela tecnologia Nagra MediaAccess. Como explicou Therry Martin, o middleware OpenTV5 da Nagra na plataforma Media Networks, poderá, futuramente, suportar a aplicações interativas GINGA para que os radiodifusores possam ofertar interatividade para os clientes por meio dos sinais de TV aberta.

Big Data na TV por Assinatura
O fenômeno da inclusão de estratégias de Big Data está na ordem do dia dos executivos de emissoras de TV e programadores de TV por Assinatura. A Revista da SET conversou na ABTA 2014 com Manuel Briseño, diretor Regional para América Latina e o Caribe de AMDOCS, uma empresa de inteligência de mercado que considera que o futuro da TV por Assinatura passa, entre outras coisas, por um bom atendimento proativo ao cliente.
Briseño afirmou que um estudo da empresa infere que “62% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais por uma experiência excelente na área de conteúdo de TV paga” e que o “importante é como o cliente é atendido, como a operadora de TV a cabo ou fornecedora de serviços over-the-top (OTT) conhece o cliente e as suas preferências. Em um mundo cada dia mais segmentado, a única forma de avançar é conhecendo o cliente e as suas necessidades e preferências”, afirma.
Isso porque, segundo Briseño, o cliente está disposto a pagar 10% a mais por: uma experiência integrada de conteúdo (62%); disponibilização em múltiplas plataformas (44%); interface amigável (30%); melhor atendimento ao cliente (25%). “O que demostra que o que importa nem sempre é o valor da assinatura, mas sim o serviço prestado”.
Briseño vislumbra que o serviço de TV paga ideal seria o que incluísse oferta adicional de vídeo game online, acesso a redes sociais, serviço de música, e conteúdos gerados pelos próprios usuários.