Especial NAB 2005

Quando algo acontece no mundo da mídia eletrônica
Acontece primeiro aqui!

Durante seis dias, o mundo pode acompanhar o mais grandioso evento do setor de broadcasting. mais 104 mil profissionais e cerca de 1,400 empresas, de 130 países estiveram em Las Vegas (EUA), para presenciar a consolidação do HD, o avanço no uso do IP e a convergência, entre outras tendências que farão parte do futuro.

Estar sempre com a primazia. Com esta promessa, a Associação Nacional de Radiodifusores (NAB, da sigla em inglês) organizou a NAB 2005, a maior conferência e exposição de mídia eletrônica do mundo. Anualmente, o evento apresenta o mais abrangente leque de novidades em tecnologias digitais de comunicações, incluindo todos os elementos do broadcasting para TV e rádio, produção e pós-produção de filmes e vídeos, bem como abordar os aspectos da produção de áudio, multimídia, Internet, serviços satelitais e de telecomunicações em geral.
A edição deste ano foi realizada entre os dias 16 e 21 de abril, no Las Vegas Convention Center, em Las Vegas (EUA).
Durante a cerimônia de abertura do evento, um dos depoimentos mais marcantes foi o do presidente e CEO da NAB, Eddie Fritts, que fez um discurso em tom de despedida e marcado pela emoção. Fritts está deixando a presidência da NAB e fez seu último discurso de abertura do evento como comandante da entidade.
Entre várias passagens e fatos lembrados po r Fritts, que está 23 anos à frente da instituição, ele destacou a liberdade do sistema de radiodifusão norte-americano, que foi uma condição conquistada por meio da atuação da NAB junto às autoridades governamentais dos Estados Unidos. Ele citou avanços no setor como a implementação do must-carry, incluído no Cable Act de 1992, bem como a transmissão dos canais locais pelo sistema DTH e a obrigatoriedade da transição para a TV digital. Fritts também ressaltou o bom momento financeiro da NAB, que hoje possui uma reserva de US$ 80 milhões.
Para o futuro, o presidente da NAB apontou quatro assuntos principais que exigem atenção imediata. O primeiro seria a revisão do Telecommunications Act, que foi implementado há uma década. Para Fritts, a questão envolve desafios e oportunidades, mas não pode haver erros nessa ação. Outro ponto considerado fundamental é o final do processo de conversão para a TV digital. A transição do rádio para o sistema digital também foi mencionada pelo presidente e CEO da NAB, bem como a questão do baixo nível da programação nos canais de TV. Fritts ainda alerta que todas essas questões terão que ser tratadas em um momento no qual há uma mudança de lideranças tanto nos comitês do Senado, quanto na Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos (FCC, da sigla em inglês). Esse aspecto sempre cria um clima de incertezas, conforme o presidente. Contudo, Fritts acredita que os broadcasters são parte vital da era digital e farão parte da plataforma tecnológica do futuro, mesmo com o avanço no uso de celulares, da Internet e de aparelhos wireless.

O congresso da NAB 2005 reuniu em uma série de palestras os principais temas relacionados ao setor. Nas apresentações, os profissionais tiveram a oportunidade de conhecer novos sistemas e recursos, além de aprimorar os conhecimentos nas tecnologias já existentes. As sessões abordaram temas como engenharia de tecnologias para broadcast, mídias digitais, pós-produção, cinema digital, integração de sistemas e gerenciamento de conteúdo, incluindo backup e armazenamento, entre outros. Também foram abordados os processos de edição de áudio e vídeo, bem como os de produção de vídeo, televisão e áudio.

A convergência também teve o seu espaço e repercutiu bastante na NAB 2005. As operadoras de TV a cabo oferecem serviços de telefonia, o rádio pode ser acessado por meio da Internet e a TV pode ser assistida nos menores receptores móveis ou nos maiores monitores de plasma. Essa realidade que existe hoje somente é possível devido aos sistemas de comunicação que estão embutidos em todos os aparelhos eletrônicos domésticos. Segundo o CEO da Verizon Communications, uma das maiores empresas de telefonia e serviços de telecomunicações dos Estados Unidos, Ivan Seidenberg, todos esses recursos são controlados por um novo tipo de usuário, que consome múltiplas mídias, com diversas funções. Para Seidenberg, esse consumidor deseja ter o que ele quer, onde ele está e no aparelho que estiver em suas mãos. “A convergência com esses aparelhos podem transformar usuários em broadcasters”, conjectura Seidenberg.

“Na NAB, o importante é checar as probabilidades das tendências tecnológicas”
Roberto Franco, presidente da SET

Feira de equipamentos
Todos os anos profissionais de diversos segmentos vão a Las Vegas acompanhar o evento da NAB e, ao final da jornada, devem voltar para suas respectivas empresas com informações primordiais e, por vezes, estratégicas sobre os procedimentos que serão adotados no futuro. Para isso, durante a NAB é preciso identificar os sinais para saber o que é real e o que não fará parte do futuro tecnológico. Segundo o presidente da SET, Roberto Franco, durante um evento como a NAB 2005, são expostas milhares de informações sobre novos recursos tecnológicos. Assim sendo, a chave para um melhor aproveitamento do evento é saber distinguir o que tem probabilidade de acontecer do que não será implementado com sucesso. “Este é o exercício que todo o ano a gente tem que fazer”, aponta Franco.
Para o engenheiro, o Brasil tem um cenário favorável, pois as grandes empresas fornecedoras estão presentes no País ou possuem representantes e distribuidores capacitados. Dessa forma, o fluxo de informações sobre o que surge de novidades é bom para os profissionais brasileiros. Contudo, a experiência proporcionada pela participação de um evento como o organizado pela NAB não deve ser descartada, pois lá é possível ter contato com pessoas que fizeram parte do processo de desenvolvimento dos produtos. “Isso facilita a percepção sobre qual tecnologia será realmente implementada e as que serão abandonadas”, analisa Franco.
Outro ponto importante durante a exposição e apresentação das novas tecnologias é poder observar o que vem sendo feito por pequenos fornecedores. Eles desenvolvem soluções e tecnologias emergentes e que, em muitos casos, não foram absorvidas pelos grandes fornecedores. Algumas dessas pequenas empresas demonstram produtos inovadores nos aspectos de qualidade, recursos ou baixo custo. Posteriormente, alguns desses produtos são incorporados pelos grandes fabricantes. No entanto, no Brasil não é possível ter esse contato, pois essas empresas não possuem representantes ou distribuidores no País.
Franco ainda ressalta a oportunidade de intercâmbio com profissionais do mundo inteiro como fator fundamental que sempre é possível em um evento de grandes proporções.
Os principais destaques da feira de exposições da NAB 2005 você acompanha na seção Novidades desta edição da Revista da SET.

Principais tendências
A NAB 2005 foi caracterizada mais pela consolidação de tecnologias apresentadas anteriormente do que por inovações. Nesse sentido, o sistema High-Definition (HD) foi o grande destaque. O HD é realidade nos Estados Unidos e tornou-se o padrão para os profissionais do setor. Dessa forma, qualquer equipamento de produção high end é HD e as indústrias fornecedoras não investem mais em projetos ou desenvolvimentos de produtos que não operem no sistema. A constatação de que isso é um fato fica evidente no aprimoramento dos produtos apresentados no evento. Os fabricantes, por exemplo, já trabalham visando a resolução em 4K, pois a resolução em 1080 linhas já é considerada padrão para a produção de alta qualidade.
A evolução dos equipamentos é clara. Produtos como ilhas de edição não linear, servidores, câmeras, monitores, VTs, unidades de captação em estado sólido e softwares de edição apresentam um aprimoramento que possibilita redução nos custos. Além disso, o aperfeiçoamento gera aparelhos mais compactos e fáceis de operar, com maior robustez e estabilidade. Outro aspecto que comprova o atual cenário é a venda de aparelhos de TV nos Estados Unidos. Neste ano, os consumidores norte-americanos devem comprar mais aparelhos de TV digital do que televisores convencionais. Durante uma das palestras do congresso da NAB 2005, o executivo da LG Electronics, John Taylor, afirmou que a maioria dos norte-americanos já comprou seu último aparelho de TV analógica.
A popularização do HD delineia um caminho de convergência. Segundo o diretor da 4S, Armando Moraes, a possibilidade de um recurso servir para a utilização em filme, vídeo, multimídia, bem como os seus meios de distribuição mudaram a concepção de Broadcast para Anycast. A opinião é compartilhada pelo chefe do Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da TV Cultura de São Paulo, Celso Hatori. “O padrão de produção HD atende o mercado de broadcast, vídeo profissional e produção de cinema”, analisa Hatori.
Seguindo a esteira dessa tendência, o HDV também assumiu a condição de tecnologia pronta, mesmo tendo poucos produtos lançados nessa linha.

Tapeless e TI
Além do HD, outro ponto que concentrou atenções durante a NAB 2005 foi o armazenamento de vídeo. Para Roberto Franco, o esforço pelo sistema tapeless continua muito forte, pois é um meio de armazenamento que apresenta um desenvolvimento bastante significativo e é muito barato, tanto em unidade ótica quanto em unidade de estado sólido. Esse caminho tem um futuro promissor, sendo um caminho claro desde a captação até o armazenamento, passando pela edição. A implementação pode ser feita tanto para jornalismo quanto para exibição.
Para o engenheiro e diretor regional do Sudeste na SET, Paulo Canno, as soluções de armazenamento em mídia óptica (DVD) e magnética (Hard Disk) são muito atrativas, principalmente, em relação ao custo.

 

Para ele, ainda deve ser considerada a opção do cartão de memória, que apresenta vantagens operacionais indiscutíveis. Mas a consolidação dessa vertente deve acontecer apenas no médio ou longo prazo.
Celso Hatori lembra que o uso de tecnologias de TI podem ser muito úteis no armazenamento, mas também podem ser usadas na cenografia virtual e no controle de sistemas, bem como oferecem soluções para problemas de interoperabilidade, dando maior liberdade para a aquisição de equipamentos.
Para Armando Moraes, o uso de softwares e networks para armazenamento e gerenciamento de mídia está mudando a atividade dos broadcasters. “Diversos equipamentos como distribuidores de vídeo, switchers e VTRs estão sendo englobados por estruturas modernas que mais parecem intranet de áudio e vídeo”.
Contudo, a fita ainda tem o seu uso para arquivo garantido por algum tempo.

 

Plataforma IP
O Protocolo de Internet (IP) é um meio cada vez mais presente no mundo do broadcast e teve bastante espaço na NAB 2005, sendo que o maior volume de novidades da feira ficou por conta da transmissão de vídeo sobre rede de dados. “Uma das tendências que me chamaram à atenção foi a velocidade com a qual o IP invadiu o meio broadcast, incluindo novas tecnologias de compressão como o MPEG-4 AVC, analisa a diretora-executiva da AD Line Pro & Broadcast Solutions, Daniela Souza.
Um dos caminhos que serão trilhados será esse, pois a plataforma IP apresenta um desempenho bastante satisfatório para a distribuição de multimídia com áudio e vídeo. Esse é um dos aspectos que motiva cada vez mais o uso da banda larga. No entanto o IP também se mostra eficaz para a recepção via satélite. Tudo isso faz com que o IPTV seja uma tendência praticamente assegurada.
Considerando esse quadro, o principal aspecto nesse momento é a substituição do MPEG-2 pelo MPEG-4 ou pelo Windows Media High Definition Vídeo (WMV HD), que foi um dos fatores mais abordados durante a NAB 2005. No evento, ficou claro que estamos vivendo o momento em que alguns provedores de conteúdo e de plataforma de distribuição estão começando a adotar o WMV ou o MPEG-4 em cima do protocolo IP para começar a fazer as suas distribuições. Além disso, já estão sendo comercializados alguns equipamentos comerciais CODECS MPEG-4 ou WMV e com transmissão IP.

Balanço positivo
A NAB 2005 terminou no dia 21 de abril. Embora o número de empresas expositoras tenha diminuído de 1.392, em 2004, para 1.379 neste ano, as estatísticas apontam números ligeiramente positivos. A área de exposição do evento aumentou cerca de 2,8%, abrigando empresas de 130 países.
Contudo, o fator mais positivo foi a presença do público. Durante os seis dias de realização do evento, 104.427 pessoas passaram pelo Las Vegas Convention Center, sendo, registrando um aumento de 7% em relação a 2004, quando estiveram presentes 97.544 pessoas, com 22.320 estrangeiros. Do total de público neste ano, 23.401 eram profissionais de fora dos Estados Unidos, incluindo centenas de 200 brasileiros. Segundo a organização da NAB 2005, o público é um dos diferenciais do evento, pois 94% dos visitantes autorizam, especificam ou recomendam a compra de produtos e contratação de serviços durante suas atividades profissionais. Além disso, 30% dos presentes compareceram ao evento pela primeira vez.
No próximo ano, em abril, os profissionais de setor de broadcast se encontrarão novamente em Las Vegas, na NAB 2006.

Novas experiências para os visitantes

Neste ano, a organização da NAB 2005 preparou algumas novidades que permitiram aos visitantes ter um contato mais próximo com as inovações do setor. O público presente pôde conferir o funcionamento de vários sistemas na prática. A mostra foi dividida em cinco temas:

NAB-HD – Montado no pavilhão de exposições, o NAB-HD permitiu aos visitantes ver todos os equipamentos necessários para o funcionamento da TV digital reunidos em um só lugar, desde os aparelhos de captação até os de transmissão, passando pela fase de edição do material.

NextGen Home – Uma casa foi montada para que o público pudesse testemunhar o estágio mais evoluído das tecnologias de mídias eletrônicas. Alguns dos aparelhos para o consumidor final, das marcas mais conhecidas do mercado, estavam reunidos proporcionando aos presentes explorar o que um dia será a casa do futuro.

DTV Hot Spot – Todas as vantagens da TV digital podiam ser vivenciadas. Som, imagem e o dinamismo da TV digital, para que o público pudesse acompanhar o que é oferecido pelo Advanced Television Systems Committee (ATSC), o padrão desenvolvido nos Estados Unidos para a TV digital.

5.1 Pavilion – Nesse local, imperou o sistema de som de 5.1 canais surround sound. As principais empresas do segmento, que desenvolvem e vendem produtos com o sistema 5.1 apresentaram as suas novidades para os broadcasters, além dos profissionais de produção de áudio e vídeo.

Satellite Business & Technology Pavillion – Todas as novas aplicações e últimas tecnologias de transmissão de conteúdo puderam ser conferidas nesse espaço. Todos os equipamentos, do satélite à fibra ou da banda larga wireless ao DAB, estavam expostos nessa área.